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Psicologia Política é uma área da Psicologia que estuda o comportamento político.

A
expressão indica-se que a psicologia não se encontra à margem da política, mas afirma que a
própria Psicologia contém implícita ou explicitamente pressupostos ideológicos.
Psicologia Política configura-se como uma disciplina emergente na Psicologia. Possui
múltiplas e distintas definições. Práticas, pesquisas e estudos desta disciplina abarcam temas
como a participação e o comportamento político, assim como consciência política, a
intersecção entre subjetividade e movimentos sociais e o papel do pensamento humano, as
emoções e fatores sociais como determinantes do comportamento político. Trata-se de um
campo interdisciplinar que utiliza teorias psicossociais e sociais para analisar o mundo da
política e o comportamento coletivo e individual numa sociedade referenciada pelo Estado.
É possível dizer que toda psicologia é política, mas a psicologia política reúne e
evidencia, em sua concepção e em seu núcleo de análise, que não existem disciplinas
assépticas. Por isso, a psicologia política incomoda e movimenta o campo da psicologia: pois
coloca em contexto e tensiona aquilo que assumido por enfoques reducionistas que legitimam
as ordens sociais.
Todas as relações sociais estão atravessadas por ordens políticas e a participação
política em diferentes âmbitos deve buscar a emancipação dos poderes legitimados. É possível
pontual também que a psicologia política deve trabalha para emancipação ou ficará presa nos
labirintos dos circuitos academicistas, que apenas contribuem para o edifício científico que que
situa a política e o político no psicólogo e em termos cientificistas.
A perspectiva dos movimentos sociais e dos sujeitos sociais, que não se conciliam com
o status quo, fomentou o surgimento de correntes inovadoras nas ciências sociais, como a
Psicologia Política Latino-Americana, ou Psicologia Política-Crítica. Esses movimentos, tão
importantes para o desenvolvimento dessas ciências, sempre sofreram com a patologização e
tentativa de controle por parte dos Estado-nações. A Psicologia Política busca compreender
tais movimentos não para controlá-los, mas para potencializá-los.
A potencialidade da psicologia política vem de sua capacidade de articular em seu
repertório interpretativo contribuições teóricas e técnicas da Psicologia, das Ciências políticas,
da Sociologia e de áreas afins. Outra parte importante vem da sua relação com os movimentos
sociais. Especialmente na América latina, a psicologia política oferece uma perspectiva plural e
múltipla dos fenômenos psicossociais, não se restringindo a um psicologismo do social, ou a
um sociologismo do psíquico.
Esse campo é tão forte na América latina por termos histórias parecidas, por termos
sido colônias de exploração e termos passado por ditaduras, por exemplo. Isso diz muito sobre
como nossa subjetividade se forma e pode ser notado na submissão da população que sofre
com a retirada de direitos e com a violência, por exemplo e faz muito pouco a respeito disso.
Essa observação pode ser vista como uma construção subjetiva que temos por conta desse
histórico de opressão.
A psicologia política pode ajudar a melhorar o panorama de opressões no cenário atual
a partir do estímulo de discussões, por exemplo. Pode-se dizer que a educação formal tem um
papel importante nisso, pois, apesar de se discutir política nas universidades, uma parcela
muito pequena da população chega nesse local e a grande massa que fica de fora tem o
ensino básico defasado nesse sentido, ainda mais com as propostas atuais de retirada de
filosofia e sociologia do currículo básico, por exemplo, pois elas também estão envolvidas com
política e são importantes para entendermos as relações de poder e opressão do cotidiano,
como machismo, racismo, feminicídio. A psicologia política também se debruça sobre essas
questões.
Muitos assuntos clássicos da psicologia dominante, como agressividade e violência por
exemplo, são discutidos pela psicologia política, pois nota-se que queixas de saúde e questões
relacionadas à saúde mental dos sujeitos podem ter origem em relações de poder, como
marido/mulher, pai/filhos, patrões/empregados e isso cabe à psicologia política estudar.
A psicologia política ainda é um campo recente e em construção no brasil, entretanto,
sua maior importância está no fato de, após diversas lutas sociais latino-americanas, a
psicologia brasileira deixou de ser um espaço exclusivamente dedicado às problemáticas da
classe média e das elites e passou a dedicar mais atenção para setores populares, o que está
expresso em suas interfaces com as políticas sociais nas áreas da saúde e assistência social.
É impossível falar de psicologia política sem citar Salvador Sandoval, pois ele criou o
modelo analítico para o estudo da consciência política que tem sido bastante utilizado e tem
obtido sucesso na análise de processos de mobilização e desmobilização política nos estudos
das ações coletivas e dos movimentos sociais. Frente às limitações presentes nas diferentes
teorias que buscam explicar fenômenos de comportamento político coletivo, Sandoval propõe
uma articulação que permite superar visões conceitualmente parciais. Seu modelo combina
diferentes dimensões de compreensão do fenômeno do engajamento na política, com teorias
sobre a identidade (seja ela social, coletiva, política ou cultural), crenças e valores; etc.
Falar de psicologia política também é falar sobre consciência política. William Gamson
(1992) diz que a consciência política não é inata, mas construída mediante as relações entre
sujeitos. Ele pontua que essa consciência é feita a partir das significações que cada sujeito faz
em seu mundo cotidiano, através da mediação de instituições como a família, a escola e a
igreja, por exemplo. Nesse sentido, a consciência política emerge de um espaço intersubjetivo
no qual acontece a interação entre o universo cultural em que o sujeito está inserido e suas
estruturas de cognição.
A psicologia política sempre foi um tema de interesse entre os estudiosos das ditas
humanidades, mas como área de conhecimento, apenas se fortalece no final dos anos 1960 e
começo dos 1970 nos Estados Unidos. Essa área se expandiu no período entre guerras, pois
os pesquisadores buscavam entender a personalidade de figuras autoritárias da época, como
Hitler, Stalin e Mussolini, como também compreender o comportamento das pessoas estavam
ou não sendo usadas como massa de manobra para fortalecer aqueles regimes políticos. É
campo muito voltado a pesquisar comportamento político, comportamento eleitoral, movimento
de massas, lideranças e também, como já citado acima, movimentos sociais.
No Brasil, nos anos 1970 já era possível encontrar conteúdos em psicologia política
relacionados à Guerrilha Farroupilha no Rio Grande do Sul, por exemplo. Hoje, boa parte do
material produzido se deve à Associação Brasileira de Psicologia Política, que é responsável
por divulgar, fortalecer e difundir conhecimentos do meio. Para além disso, a ABPP também é
responsável pela organização de eventos como simpósios, colóquios e encontros à nível
regional e internacional.
Por ser considerada uma área de conhecimento pluri/inter/multidisciplinar, a psicologia
política, apesar de atuar principalmente em ensino e pesquisa, tem base de conhecimento
teórico para atuar com saúde coletiva, saúde pública, políticas públicas, assistência social, etc.
Atualmente, existe apenas um especialização em psicologia política na Escola de Artes,
Ciências e Humanidades da USP-leste.

Referências:

GAMSON, William A. Talking Politics. Londres: Cambrigde University Press, 1992.

MARTÍN-BARÓ, Ignácio. El método en psicología política; Fernando Lacerda, trad. O


Método em Psicologia Política. PSICOLOGIA POLÍTICA. VOL. 13. Nº 28. PP. 575-592. SET.
– DEZ. 2013.

SILVA, Alessandro Soares. A Psicologia Política no Brasil: lembranças e percursos sobre


a constituição de um campo interdisciplinar. São Paulo: PSICOLOGIA POLÍTICA. VOL. 12.
Nº 25. PP. 409-425. SET. – DEZ. 2012.

HUR, Domenico. Uhng.; LACERDA JÚNIOR, Fernando. Psicologia, políticas e movimentos


sociais. Petrópolis, RJ: Vozes, 2016.

PSICOLOGIA POLÍTICA. Disponível em: <https://psicologiapolitica.org.br/> Acesso em: 24 de


maio de 2019.

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