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DADOS DO DOCUMENTO
Nº do Documento: 2016.04801411-36
CONTEÚDO
SECRETARIA JUDICIÁRIA
COMARCA DE BELÉM/PA
MANDADO DE SEGURANÇA N.º 0010261-04.2016.814.0000
IMPETRANTE: WALTER COSTA
AUTORIDADE APONTADA COMO COATORA: PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
RELATOR: DES. LEONARDO DE NORONHA TAVARES
DECISÃO
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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU
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Normas, nos meses de dezembro/2014, fevereiro e março do ano de 2015, totalizando o valor devido ao FRJ, pelo período, de
R$-213.183,35;
· Pendências verificadas nas fiscalizações realizadas in loco, ocasionando boletos complementares de taxas FRJ e FRC a
serem recolhidos relativos ao período compreendido entre outubro/2008 a dezembro/2013, totalizando o valor de R$-615.874,78
devido ao FRJ e R$-91.207,22 devidos ao FRC.
Ponderou ao fato de que desde 2005 o impetrante respondeu a 20 (vinte) sindicâncias ou processos administrativos disciplinares,
sendo que daqueles já finalizados, 05 (cinco) resultaram em aplicação de sanções variadas. Mesmo após a aplicação da pena de
perda da delegação, dois novos PAD’s foram instaurados em desfavor do impetrante, ainda em andamento, tudo nos termos da
Certidão anexa, expedida pela Corregedoria de Justiça da Região Metropolitana de Belém.
Enfatizou que o impetrante vem reiteradamente recorrendo ao Conselho Nacional de Justiça, sem sucesso. No pedido de
providências nº 0000358-33.2016.2.00.0000 questionou a designação do Sr. LUIZIEL HENDERSON DE OLIVEIRA para responder
como interventor em caráter preventivo, incidente julgado improcedente. No pedido de providências nº 0000361-85.2016.20.00.0000
questionou a oferta de sua serventia no Edital do concurso público aberto pelo TJE/
PA, feito arquivado. Já o Pedido de Providências nº 0001986-57.2016.2.00.0000 que questionava a indicação de interino para
responder pelos Serviços de Registro de Imóveis do Segundo Ofício da Capital, com pedido de retorno do ora impetrante ao cartório
ou, alternativamente, a designação do substituto mais antigo para responder pela serventia, restou igualmente arquivado, sendo
consignado que a pretensão alternativa não poderia prosperar, pois o substituto mais antigo, a Sra. MARIA BELÉM COSTA DA
FONSECA, é irmã do requerente (vide anexos), o que resultaria, na prática, na continuidade do Sr. WALTER COSTA na atividade.
Concluiu que o Sr. WALTER COSTA é reiterado descumpridor dos deveres e encargos atribuídos por lei aos registradores, tendo
causado inúmeros e graves prejuízos ao Poder Judiciário e à coletividade de usuários dos serviços registrais em geral, não havendo
que se falar em desproporcionalidade ou falta de razoabilidade na aplicação da pena de perda da delegação.
Sustentou em sede de preliminar a ausência de direito líquido e certo em decorrência da necessidade de dilação probatória, pois sua
pretensão exige o revolvimento do contexto fático-probatório relativo ao PAD. Pois o impetrante em vários trechos da inicial tenta
desqualificar as faltas apuradas no PAD, chegando a apresentar certidão da empresa que serviria para demonstrar falhas no sistema,
suposta justificativa para o não recolhimento dos valores devidos.
Ponderou que ao atacar servidores designados para responder como interventor e, posteriormente, como interino na serventia, o
impetrante afirma que não possuiriam qualificação para o exercício desses cargos, novas alegações que demandariam dilação
probatória.
Defendeu que igual sorte deve ser atribuída ao pedido relativo à imposição de ordem para que a autoridade reputada como coatora
apresente o débito do impetrante junto ao TJE/PA, assim como o faturamento do cartório desde o afastamento, para que verifique se
o débito de fato persiste. Esses elementos podem facilmente ser acessados pelo impetrante ou por terceiros, com base na legislação
que rege o direito à informação, não servindo o writ como exibição de documento.
No mérito asseverou não ser possível ao Poder Judiciário se imiscuir no mérito administrativo do que fora decidido no Processo
Administrativo Disciplinar.
Enfatizou somente ser possível a averiguação da legalidade do procedimento.
Citou jurisprudências acerca do tema.
Defendeu que a penalidade aplicada atendeu aos Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade.
Repisou os fatos que ensejaram a instauração do PAD.
Declinou a legislação aplicável ao caso concreto, qual seja a Lei nº 8.935/1994, art. 31, 32, 33, 34, 35 e 36.
Pontificou que um dos argumentos desenvolvidos pelo impetrante residiria na circunstância de ser o recolhimento de taxas mera
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atividade acessória dentre as atribuídas ao cargo de oficial registrador e que tal afirmação é descabida.
Pois considerando a previsão do art. 31, I da Lei nº 8.935/1994 são infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de
registro às penalidades previstas nesta lei, a inobservância das prescrições legais ou normativas.
Apontou que a Lei Complementar Estadual nº 21/1994 criou o fundo de reaparelhamento do judiciário, cuja finalidade é fortalecer a
dotação orçamentária do Poder Judiciário do Estado do Pará, com recursos complementares para atender, em especial, aos
objetivos enumerados em seu art. 2 e respectivos incisos. Dentre as fontes de recursos do Fundo de Reaparelhamento do Judiciário
destaca-se a prevista no art. 3º, inciso XV da LC 21/1994.
Continuou alegando que o Provimento Conjunto nº 003/2008 determina em seu art. 18 que a taxa de fiscalização instituída pelo art.
3º, inc. XV da LC 21/1994 deverá ser recolhida mensalmente, até o dia 05 (cinco) do mês subsequente e que os responsáveis pelo
recolhimento da Taxa enviarão Boletim de Emolumentos à Coordenação Geral de Arrecadação, até o dia 05 (cinco) de cada mês,
nos termos do art. 20
Asseverou que quanto a Taxa de Custeio do Fundo de Registro Civil – FRC, a Lei Estadual nº 6.831/2006 criou o Fundo de Apoio ao
Registro Civil do Estado do Pará, objetivando promover a gratuidade dos atos praticados pelos Registradores Civis de Pessoas
Naturais na forma da lei, captar recursos para assegurar a gratuidade de tais atos e assegurar renda mínima aos Titulares dos
Ofícios de Registro Civil das Pessoas Naturais considerados deficitários para manutenção dos respectivos serviços. Dentre as
diversas fontes de receitas do Fundo de Registro Civil – FRC, destaca-se a prevista no art. 3, inc. IV da Lei Estadual nº 6.831/2006.
Acrescentou que a Taxa de Custeio do FRC, deve-se destacar que a mesma deverá ser repassada ao fundo até o dia 10 (dez) de
cada mês, nos termos do art. 3º, § 1º da referida lei estadual.
Enfatizou que não há como admitir que o recolhimento das taxas em comento caracterizaria mera ‘obrigação acessória’, pois
representa aspecto central das atividades exercidas pelo registrador. Nos termos do art. 236 da Constituição da República, os
serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, devendo o oficial registrador, por
óbvio, cumprir a normativa inerente à sua atividade e observar aos deveres que lhe são impostos.
Elencou que a taxa de fiscalização do FRJ e a Taxa de Custeio do FRC, previstas em lei, possuem nítida natureza tributária, sendo o
seu recolhimento obrigatório, bem assim a sua sonegação caracterizando, em tese, crime contra a ordem tributária, além de ato de
improbidade administrativa.
Repisou que o impetrante não observou os comandos dos atos normativos acima referidos, por diversas deixando de enviar o
Boletim de Emolumentos ao setor competente e, com isso, deixando de pagar a Taxa de Fiscalização do FRJ e a Taxa de Custeio do
FRC, considerando que o boleto de pagamento das taxas em questão é emitido apenas após a prestação de contas dos atos
praticados e dos emolumentos arrecadados, existindo ainda situações nas quais, em que pese ter feito a remessa do Boletim de
Emolumentos, deixou de efetuar o pagamento respectivo.
Explanou que os valores repassados, considerados os períodos de janeiro a março e maio a dezembro de 2015, totalizaram R$-
1.416.498,16 (um milhão, quatrocentos e dezesseis mil, quatrocentos e noventa e oito reais e dezesseis centavos) relativos à Taxa
de fiscalização do FRJ e R$-353.397,21 (trezentos e cinquenta e três mil, trezentos e setenta e nove reais e vinte e um centavos) de
Taxa de Custeio do FRC, sendo tal valor apenas a obrigação principal, sem incidência de juros, correção monetária e eventuais
multas pela inadimplência, prejudicando sobremaneira os fundos em questão.
Aduziu que segundo informações pela Coordenadora Geral de Arrecadação do TJE/PA o débito da serventia, atualizado até
31/08/2016, totalizava R$-3.323.023,14 (três milhões, trezentos e vinte e três mil, vinte e três reais e catorze centavos), em que pese
o Sr. LUIZIEL GUEDES, na qualidade de interventor, ter regularizado o envio das prestações do ano de 2015 que estavam
pendentes, tornando líquidos os valores e efetuando o pagamento da Taxa de Fiscalização e das multas por atraso no envio dos
meses de janeiro, fevereiro, março e abril, totalizando pagamentos da ordem de R$-777.161,24 (setecentos e setenta e sete mil,
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Clamou pelo indeferimento da medida liminar por entender não estarem preenchidos os requisitos necessários.
No mérito pugnou pela denegação da segurança.
Juntou documentos às fls. 555/571.
É o relatório.
DECIDO.
Para a concessão da liminar devem concorrer os dois pressupostos essenciais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta
o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na decisão
de mérito, conforme se observa no art. 7, III, da Lei 12.016/2009.
Verifica-se que, no presente caso, em cognição sumária, não se depreende a relevância do pedido, na medida em que, numa análise
superficial, verificado inclusive a decisão da autoridade coatora foi devidamente fundamentada, levando em conta as peculiaridades
do caso concreto.
À fl. 471 consta a fundamentação da autoridade coatora:
Para aplicação de pena deve-se considerar as seguintes circunstâncias do caso concreto:
i) gravidade elevada da conduta, relevada através do nítido objetivo requerido de reter quantias vultuosas que deveriam ser
recolhidas aos fundos de reaparelhamento do judiciário e de registro civil, descumprindo clara determinação legal e inviabilizando até
a segurança jurídica dos atos praticados pelo oficial;
ii) prejuízo claro ao erário público, tendo em vista a redução de verbas relacionadas a fundo gerido pelo Poder Judiciário;
iii) histórico funcional de infrações administrativas praticadas pelo requerido, consoante certidão de fls. 399/401-v, donde se
verifica que o mesmo já possui antecedentes de aplicação de sanções administrativas de outra natureza.
Contudo, o acerto ou desacerto da dosimetria da pena há de ser analisado quando do julgamento de mérito pelo Pleno, sob pena
esgotamento do objeto da presente ação constitucional já em sede de medida liminar, contrariando o § 3º do art. 1º da Lei nº 8.437
/92 que preceitua:
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto da ação
Todavia entendo perfeitamente aplicável o poder geral de cautela, corolário da garantia constitucional da tutela jurisdicional adequada
(artigo 5º, XXXV, da CF/88) para determinar a retirada da lista de serventias vagas a serem preenchidas por Concurso o Cartório do
2º Ofício de Registro de Imóveis.
Pois caso o Pleno entenda que a pena fora desproporcional e conceda a segurança, o risco de irreversibilidade é maior do que
eventualmente ofertar a serventia num próximo concurso, já que tais certames devem ser realizados a cada 6 meses, segundo
previsão constitucional, § 3º do art. 236:
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer
serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.
Isto posto, concedo a liminar, tão somente para determinar a retirada da serventia do Cartório do 2º Ofício de Registro de Imóveis da
lista das serventias vagas a serem preenchidas em concurso público, até o julgamento de mérito da presente ação constitucional.
Independemente do transcurso do prazo recursal, remetam-se os autos ao Ministério Público do Estado do Pará, para que se
manifeste na qualidade de custus legis.
Oficie-se em caráter de urgência.
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