Você está na página 1de 8

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ


CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU
DADOS DO PROCESSO
Nº Processo: 0010261-04.2016.8.14.0000
Comarca: BELÉM
Instância: 2º GRAU
Vara: TRIBUNAL PLENO
Gabinete: GABINETE DE DESEMBARGADOR LEONARDO DE NORONHA TAVARES
Data da Distribuição: 25/08/2016

DADOS DO DOCUMENTO
Nº do Documento: 2016.04801411-36

CONTEÚDO
SECRETARIA JUDICIÁRIA
COMARCA DE BELÉM/PA
MANDADO DE SEGURANÇA N.º 0010261-04.2016.814.0000
IMPETRANTE: WALTER COSTA
AUTORIDADE APONTADA COMO COATORA: PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
RELATOR: DES. LEONARDO DE NORONHA TAVARES

DECISÃO

O EXMO. SR. DESEMBARGADOR LEONARDO DE NORONHA TAVARES (RELATOR):


WALTER COSTA impetrou MANDADO DE SEGURANÇA com pedido de liminar, em que apontou como autoridade coatora o
PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ, Desembargador Constantino Augusto Guerreiro.
Narrou que é titular do 2º Ofício de Registro de Imóveis da Capital foi submetido a Processo Administrativo Disciplinar tendo sido
apenado com a perda de delegação do cartório pelo não recolhimento das taxas relativas ao FRJ (Fundo de Reaparelhamento do
Judiciário) e FRC (Fundo de Apoio ao Registro Civil).
Teceu comentários acerca do Processo Administrativo Disciplinar.
Enfatizou não ser objeto do writ a discussão de provas, a revisão delas, ou mesmo as nulidades perpetradas no PAD, pois este
debate será travado em momento oportuno no instrumento próprio, seja administrativo, seja judicial.
Afirmou que se discutirá a proporcionalidade e razoabilidade da pena aplicada e o não cumprimento do disposto na Lei n.º 8.935/94 e
demais fundamentos da decisão atacada para a sua aplicação.
Discorreu acerca do cabimento do mandado de segurança em decorrência da ausência de efeito suspensivo do Recurso
Administrativo previsto no art. 28, VII, a do RITJPA, da decisão do Exmo. Presidente.
Citou julgados do STJ que entende aplicáveis ao caso em tela.
Ponderou que o Tribunal de Justiça do Estado do Pará elaborou em 2015 o Código de Normas dos Serviços Notariais e de Registros
do Estado do Pará, objetivando compilar em um único documento as normas de serviços relativas à execução das atividades
notariais e de registro, os seus procedimentos materiais e formais e a disciplina necessária ao exercício da função correcional.
Analisou que a gravíssima infração administrativa vem identificada na conclusão da decisão do Exmo. Sr. Presidente.
Aludiu ser fácil notar que a aplicação da desproporcional penalidade se deu com o fundamento numa única infração, qual seja o não
recolhimento de taxas.
Defendeu que não recolhimento de taxas, por ser uma atividade acessória que em nada interfere na atividade fim, não pode ser
classificada como infração gravíssima passível de perda de uma delegação de quase 30 (trinta) anos, pois seria uma conclusão um
tanto quanto exagerada e conflitante com os próprios princípios que regem o PAD no caso em análise, explícitos no art. 1075 do
Código de Normas dos Serviços Notariais e de Registros do Estado do Pará.
Sustentou que apesar de não concordar com a instauração, instrução e da própria conclusão do PAD, esta não é a via adequada
para essa discussão, que em processo oportuno será trazida ao Judiciário e, mediante dilação probatória, comprovará que o Oficial
não agiu com culpa, tendo sido vítima de um erro no sistema que impossibilitou o cumprimento de suas obrigações acessórias, como
juntado ao PAD em anexo, por declaração da própria empresa prestadora de serviços, reconhecida nacionalmente.
Repisou que o mandamus limita-se a partir da prática imputada à aplicação da pena. Ou seja, se está diante de uma pena
absolutamente desproporcional à conduta imputada, que, frise-se em nada comprometeu a atividade fim da delegação pública
conferida.

1
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

Discorreu acerca das razões de decidir da autoridade coatora.


Afirmou que o Exmo. Presidente ao fazer a subsunção da norma ao fato atuou com clara desproporcionalidade.
Sustentou que em decorrência do art. 1086 do Código de Normas dos Serviços Notariais e de Registros do Estado do Pará, as
condenações administrativas e a reiteração de conduta ilícita de mesma natureza só podem ser consideradas circunstâncias
agravantes para a majoração da pena após o devido transito em julgado, o que reforça a afastamento do item III da decisão
guerreada, pois os antecedentes apontados estão sendo ainda discutidos seja na esfera administrativa, seja judicialmente.
Deu ênfase ao fato de que a maior parte dos expedientes juntados na Certidão de fls. 399/401 do PAD, citados como antecedentes
pelo Exmo. Presidente estão arquivados ou em andamento, não havendo qualquer punição transitada em julgado, o que fere
sobremaneira a presunção de inocência garantida constitucionalmente.
Discorreu acerca dos atos que são considerados atividades fim de sua atividade e estão capitulados nos arts. 1º e 12 da Lei nº
8.935/94, transcrevendo os respectivos artigos.
Asseverou que qualquer outra imputação que fuja a esta esfera, faz parte de atividades acessórias, que devem sim ser cumpridas
pelo Oficial, mas não atingem a gravidade suficiente para a aplicação da norma mais severa, como a aplicada no caso dos presentes
autos.
Suscitou que o débito pode sequer nem existir mais, haja vista que de forma irregular, não vem recebendo os vencimentos que tem
direito por Lei, assim como o interventor pagou ou deveria ter pago parte considerável do débito, já que só recebe o teto como
remuneração.
Defendeu que a administração pública não pode ter dois pesos e duas medidas. Pois o Conselho Superior da Magistratura, o qual a
autoridade apontada como coatora preside, em caso análogo, onde houve cobrança a maior dos emolumentos ao cidadão, porém a
pena corretamente aplicada foi de multa.
Citou julgado do Superior Tribunal de Justiça que entende se aplicar ao caso.
Concluiu que tal decisão permite que no mérito deste mandamus, determine seja reapreciada somente a pena, vedando a aplicação
daquela mais severa, que seja, in casu, a perda da delegação.
Explanou que o provimento conjunto, das Corregedorias desta Corte, nº 017/2014-CJRMB/CJCI estabeleceu de forma clara e direta
que a sanção aplicável ao não recolhimento das taxas devidas é o pagamento de multa, na forma, prazo e com as correções
estabelecidas no instrumento.
Ponderou que a própria decisão guerreada em parte se fundamenta explicitamente no provimento, mas não atenta que o mesmo se
apresenta como verdadeira normatização específica à conduta tipificada de não recolhimento das taxas e, portanto, deve se sobrepor
às normatizações genéricas. E que esta interpretação evita o administrador haja sem legalidade, de forma subjetiva. O que aumenta
o risco de desvio de finalidade.
Repisou que para o caso em tela existe norma especificamente criada, instituidora das devidas sanções, com as respectivas
gradações e toda a forma procedimental de sua aplicação.
Defendeu estarem presentes os requisitos para a concessão da medida liminar, pois está em curso um concurso público para o
preenchimento de serventias vagas e o cartório do impetrante foi incluso neste rol, ainda que a decisão ora guerreada esteja sendo
discutida administrativamente, e agora na via judicial.
Acrescentou que a concessão da medida decorre também da necessidade de se evitar o envolvimento inclusive de terceiros
estranhos ao processo, mas que possam se tornar interessados na medida em que o concurso se realize com a presença da
serventia do impetrante no rol dos cartórios vagos.
Explicitou que até o presente momento, desde o afastamento cautelar até a absurda perda de delegação, o interventor, hoje interino,
nomeado pelo Sr. Presidente, não pagou os 50% da renda líquida e tão pouco abriu conta para o depósito do restante, o que fez com

2
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

que o impetrante reclamasse no CNJ, aguardando decisão.


Declinou ser presumido seu dano, pois o cartório é seu mecanismo de subsistência e sem ele não possui renda.
Criticou a nomeação do interventor como interino, pois afronta o princípio da moralidade pública, pois ao interventor é dada
atribuições como a fiscalização das atividades, tendo o próprio ‘legislado em causa própria’, ou seja, era o principal interessado na
perda da delegação do impetrante, o que vicia sobremaneira as provas por este produzida.
Enfatizou que em 30 anos de atividade cartorária apenas agora vem sofrendo com questões de natureza disciplinar acessórias,
enquanto o interventor, nos 90 (noventa) dias, já descumpriu a legislação cartorária ao deixar de repassar ao titular afastado metade
da renda líquida da serventia, ex vi do art. 36, § 2º da Lei nº 8.935/94.
Afirmou que ainda que substituído em tempo, ainda assim a nomeação não cumpre com o estabelecido pelo CNJ.
Discorreu acerca da Resolução nº 080/2009 do CNJ que trata do momento em que há vacância no Cartório.
Pugnou pela concessão da medida liminar para conceder efeito suspensivo a decisão atacada e determinar seu retorno as suas
atividades e a imediata retirada do cartório do rol de cartórios aptos ao concurso público ou alternativamente determine que
autoridade coatora nomeie o substituto mais antigo em seu lugar, até julgamento de mérito, mas como a retirada imediata do cartório
do rol de cartórios aptos ao concurso público em andamento.
Requereu a intimação da autoridade coatora para oferecer informações e no mesmo ato apresentar o débito do impetrante junto a
este Eg. Tribunal, assim como o faturamento do cartório desde o afastamento até o presente mês, para verificar se o débito de fato
persiste, apresentando desde já, garantia para o cumprimento do débito, devendo V. Exa. oficiar ao cartório responsável acerca da
constrição do bem, até que seja realizado o pagamento ou informado pela autoridade coatora que o mesmo já foi efetuado,
garantindo-se assim este juízo.
Requereram ao final a concessão da segurança, para que seja a penalidade revista, sendo vedado a aplicação da pena de perda de
delegação.
Acostou documentos (fls. 25/524).
À fl. 525 coube-me a relatoria do feito.
À fl. 527 me reservei para análise da liminar após as informações da autoridade coatora, bem como determinei que fosse dado
ciência a Procuradoria Geral do Estado para que querendo ingressasse no feito.
À fl. 535 o Estado do Pará requereu seu ingresso na lide, pugnando pelo indeferimento da liminar, bem como pela denegação da
segurança.
Às 537/554 a autoridade coatora, o Exmo. Presidente desta Corte prestou as informações, realizou uma breve retrospectiva dos fatos
alegados na inicial.
Sustentou que inexiste qualquer direito líquido qualquer direito que assista ao impetrante, devendo ser indeferida a liminar e
denegada a segurança.
Explicou que o Sr. Walter Costa foi corretamente apenado com a pena de perda da delegação, em atenção à gravidade da conduta e
a reiteração de faltas no exercício da titularidade do 2º Ofício do Cartório de Registro de Imóveis de Belém.
Rememorou que o PAD combatido no presente writ teve origem nos seguintes fatos:
· Pendência no envio das prestações de contas e inadimplência da Taxa de Fiscalização – FRJ e Taxa de Custeio –FRC nos
meses de janeiro, fevereiro, março, maio, junho e julho do ano de 2015, sendo que como a Serventia não encaminhou a prestação de
contas dos referidos lotes, não era possível saber os valores devidos aos Fundos;
· Inadimplência da Taxa de Fiscalização – FRJ e Taxa de Custeio – FRC relativas a abril do ano de 2015, sendo que pelo
Lote em atraso o valor devido é de R$-146.410,74 a título de FRJ, e de R$-35.758,07 de FRC;
· Pendência do recolhimento da Multa prevista no art. 3 do Provimento 017/2014, recepcionada pelo art. 133 do Código de

3
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

Normas, nos meses de dezembro/2014, fevereiro e março do ano de 2015, totalizando o valor devido ao FRJ, pelo período, de
R$-213.183,35;
· Pendências verificadas nas fiscalizações realizadas in loco, ocasionando boletos complementares de taxas FRJ e FRC a
serem recolhidos relativos ao período compreendido entre outubro/2008 a dezembro/2013, totalizando o valor de R$-615.874,78
devido ao FRJ e R$-91.207,22 devidos ao FRC.
Ponderou ao fato de que desde 2005 o impetrante respondeu a 20 (vinte) sindicâncias ou processos administrativos disciplinares,
sendo que daqueles já finalizados, 05 (cinco) resultaram em aplicação de sanções variadas. Mesmo após a aplicação da pena de
perda da delegação, dois novos PAD’s foram instaurados em desfavor do impetrante, ainda em andamento, tudo nos termos da
Certidão anexa, expedida pela Corregedoria de Justiça da Região Metropolitana de Belém.
Enfatizou que o impetrante vem reiteradamente recorrendo ao Conselho Nacional de Justiça, sem sucesso. No pedido de
providências nº 0000358-33.2016.2.00.0000 questionou a designação do Sr. LUIZIEL HENDERSON DE OLIVEIRA para responder
como interventor em caráter preventivo, incidente julgado improcedente. No pedido de providências nº 0000361-85.2016.20.00.0000
questionou a oferta de sua serventia no Edital do concurso público aberto pelo TJE/
PA, feito arquivado. Já o Pedido de Providências nº 0001986-57.2016.2.00.0000 que questionava a indicação de interino para
responder pelos Serviços de Registro de Imóveis do Segundo Ofício da Capital, com pedido de retorno do ora impetrante ao cartório
ou, alternativamente, a designação do substituto mais antigo para responder pela serventia, restou igualmente arquivado, sendo
consignado que a pretensão alternativa não poderia prosperar, pois o substituto mais antigo, a Sra. MARIA BELÉM COSTA DA
FONSECA, é irmã do requerente (vide anexos), o que resultaria, na prática, na continuidade do Sr. WALTER COSTA na atividade.
Concluiu que o Sr. WALTER COSTA é reiterado descumpridor dos deveres e encargos atribuídos por lei aos registradores, tendo
causado inúmeros e graves prejuízos ao Poder Judiciário e à coletividade de usuários dos serviços registrais em geral, não havendo
que se falar em desproporcionalidade ou falta de razoabilidade na aplicação da pena de perda da delegação.
Sustentou em sede de preliminar a ausência de direito líquido e certo em decorrência da necessidade de dilação probatória, pois sua
pretensão exige o revolvimento do contexto fático-probatório relativo ao PAD. Pois o impetrante em vários trechos da inicial tenta
desqualificar as faltas apuradas no PAD, chegando a apresentar certidão da empresa que serviria para demonstrar falhas no sistema,
suposta justificativa para o não recolhimento dos valores devidos.
Ponderou que ao atacar servidores designados para responder como interventor e, posteriormente, como interino na serventia, o
impetrante afirma que não possuiriam qualificação para o exercício desses cargos, novas alegações que demandariam dilação
probatória.
Defendeu que igual sorte deve ser atribuída ao pedido relativo à imposição de ordem para que a autoridade reputada como coatora
apresente o débito do impetrante junto ao TJE/PA, assim como o faturamento do cartório desde o afastamento, para que verifique se
o débito de fato persiste. Esses elementos podem facilmente ser acessados pelo impetrante ou por terceiros, com base na legislação
que rege o direito à informação, não servindo o writ como exibição de documento.
No mérito asseverou não ser possível ao Poder Judiciário se imiscuir no mérito administrativo do que fora decidido no Processo
Administrativo Disciplinar.
Enfatizou somente ser possível a averiguação da legalidade do procedimento.
Citou jurisprudências acerca do tema.
Defendeu que a penalidade aplicada atendeu aos Princípios da Proporcionalidade e da Razoabilidade.
Repisou os fatos que ensejaram a instauração do PAD.
Declinou a legislação aplicável ao caso concreto, qual seja a Lei nº 8.935/1994, art. 31, 32, 33, 34, 35 e 36.
Pontificou que um dos argumentos desenvolvidos pelo impetrante residiria na circunstância de ser o recolhimento de taxas mera

4
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

atividade acessória dentre as atribuídas ao cargo de oficial registrador e que tal afirmação é descabida.
Pois considerando a previsão do art. 31, I da Lei nº 8.935/1994 são infrações disciplinares que sujeitam os notários e os oficiais de
registro às penalidades previstas nesta lei, a inobservância das prescrições legais ou normativas.
Apontou que a Lei Complementar Estadual nº 21/1994 criou o fundo de reaparelhamento do judiciário, cuja finalidade é fortalecer a
dotação orçamentária do Poder Judiciário do Estado do Pará, com recursos complementares para atender, em especial, aos
objetivos enumerados em seu art. 2 e respectivos incisos. Dentre as fontes de recursos do Fundo de Reaparelhamento do Judiciário
destaca-se a prevista no art. 3º, inciso XV da LC 21/1994.
Continuou alegando que o Provimento Conjunto nº 003/2008 determina em seu art. 18 que a taxa de fiscalização instituída pelo art.
3º, inc. XV da LC 21/1994 deverá ser recolhida mensalmente, até o dia 05 (cinco) do mês subsequente e que os responsáveis pelo
recolhimento da Taxa enviarão Boletim de Emolumentos à Coordenação Geral de Arrecadação, até o dia 05 (cinco) de cada mês,
nos termos do art. 20
Asseverou que quanto a Taxa de Custeio do Fundo de Registro Civil – FRC, a Lei Estadual nº 6.831/2006 criou o Fundo de Apoio ao
Registro Civil do Estado do Pará, objetivando promover a gratuidade dos atos praticados pelos Registradores Civis de Pessoas
Naturais na forma da lei, captar recursos para assegurar a gratuidade de tais atos e assegurar renda mínima aos Titulares dos
Ofícios de Registro Civil das Pessoas Naturais considerados deficitários para manutenção dos respectivos serviços. Dentre as
diversas fontes de receitas do Fundo de Registro Civil – FRC, destaca-se a prevista no art. 3, inc. IV da Lei Estadual nº 6.831/2006.
Acrescentou que a Taxa de Custeio do FRC, deve-se destacar que a mesma deverá ser repassada ao fundo até o dia 10 (dez) de
cada mês, nos termos do art. 3º, § 1º da referida lei estadual.
Enfatizou que não há como admitir que o recolhimento das taxas em comento caracterizaria mera ‘obrigação acessória’, pois
representa aspecto central das atividades exercidas pelo registrador. Nos termos do art. 236 da Constituição da República, os
serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público, devendo o oficial registrador, por
óbvio, cumprir a normativa inerente à sua atividade e observar aos deveres que lhe são impostos.
Elencou que a taxa de fiscalização do FRJ e a Taxa de Custeio do FRC, previstas em lei, possuem nítida natureza tributária, sendo o
seu recolhimento obrigatório, bem assim a sua sonegação caracterizando, em tese, crime contra a ordem tributária, além de ato de
improbidade administrativa.
Repisou que o impetrante não observou os comandos dos atos normativos acima referidos, por diversas deixando de enviar o
Boletim de Emolumentos ao setor competente e, com isso, deixando de pagar a Taxa de Fiscalização do FRJ e a Taxa de Custeio do
FRC, considerando que o boleto de pagamento das taxas em questão é emitido apenas após a prestação de contas dos atos
praticados e dos emolumentos arrecadados, existindo ainda situações nas quais, em que pese ter feito a remessa do Boletim de
Emolumentos, deixou de efetuar o pagamento respectivo.
Explanou que os valores repassados, considerados os períodos de janeiro a março e maio a dezembro de 2015, totalizaram R$-
1.416.498,16 (um milhão, quatrocentos e dezesseis mil, quatrocentos e noventa e oito reais e dezesseis centavos) relativos à Taxa
de fiscalização do FRJ e R$-353.397,21 (trezentos e cinquenta e três mil, trezentos e setenta e nove reais e vinte e um centavos) de
Taxa de Custeio do FRC, sendo tal valor apenas a obrigação principal, sem incidência de juros, correção monetária e eventuais
multas pela inadimplência, prejudicando sobremaneira os fundos em questão.
Aduziu que segundo informações pela Coordenadora Geral de Arrecadação do TJE/PA o débito da serventia, atualizado até
31/08/2016, totalizava R$-3.323.023,14 (três milhões, trezentos e vinte e três mil, vinte e três reais e catorze centavos), em que pese
o Sr. LUIZIEL GUEDES, na qualidade de interventor, ter regularizado o envio das prestações do ano de 2015 que estavam
pendentes, tornando líquidos os valores e efetuando o pagamento da Taxa de Fiscalização e das multas por atraso no envio dos
meses de janeiro, fevereiro, março e abril, totalizando pagamentos da ordem de R$-777.161,24 (setecentos e setenta e sete mil,

5
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

cento e sessenta e um reais e vinte e quatro centavos)


Explicou que o Provimento Conjunto nº 017/2014 CJRMB/CJCI regulamenta a multa, enquanto umas das sanções passíveis de
aplicação aos notários e registradores do Estado do Pará, sem excluir as demais sanções, aplicáveis segundo as características e
circunstâncias da conduta e do caso concreto.
Argumentou que somente por lei poderá ser disciplinada a responsabilidade civil e criminal dos notários, dos oficiais de registro e de
seus prepostos. De resto, o art. 22, inc. XXV da CRFB/88 reserva à competência privativa da União legislar sobre registros públicos.
Ou seja, cabe à lei federal prever normas gerais sobre as sanções aplicáveis aos notários e registradores, o que é feito pelos arts.
31-36 da Lei nº 8.935/1994. Qualquer atividade dos Estados Membros será meramente complementar e regulamentadora.
Reafirmou que é indiscutível que o impetrante praticou grave infração administrativa, consistente no descumprimento das obrigações
referentes ao pagamento da Taxa de Fiscalização do FRJ e da Taxa Custeio do FRC, violando os arts. 18 e 20 do Provimento
Conjunto nº 003/2008-CJRMB/CJICI, os arts. 2º e 3º do Provimento Conjunto nº 017/2014 CJRMB/CJCI, o art. 3º, inc. XV da LC nº
21/1994, o art. 3º, inc. IV da Lei Estadual nº 6.831/2006, os arts. 1º e 31, inc. I da Lei nº 8.935/1994 (Lei dos Cartórios) e o art. 1º da
Lei nº 6.015/1973(Lei de Registros Públicos).
Sustentou que fora realizada de forma correta a dosimetria da pena, pois as infrações anteriormente cometidas pelo impetrante
poderiam e deveriam ser utilizadas, pois existe clara confusão de conceitos na inicial a respeito da necessidade de trânsito em
julgado das decisões administrativas, ora referindo-se à existência de recursos administrativos, ora à judicialização das questões.
Ponderou que considerando o Direito Administrativo Sancionador guarda nítida relação com o Direito Penal e Processual Penal, não
pode ser ignorado o acórdão proferido pelo STF no julgamento do HC 126.292, tendo aquela Corte Superior concluído que a
possibilidade de início da execução da pena condenatória após a confirmação da sentença em segundo grau não ofende ao princípio
constitucional da presunção de inocência.
Transcreveu o referido julgado.
Rememorou que a gravidade dos fatos justificou, inclusive a remessa de cópia da decisão ao Conselho Nacional de Justiça e ao
Ministério Público Estadual, este último para fins de eventual apuração de crimes contra a administração ou à ordem tributária, bem
como possível ajuizamento de ação civil por improbidade administrativa. Nessa linha, a sanção de perda de delegação é legal,
proporcional e razoável.
Citou julgados que entende se amoldarem ao caso concreto.
Afirmou que a serventia foi incluída no concurso com a ressalva de encontra-se sub judice e que o certame se encontra em suas
fases finais, com Prova Oral marcada para 01/10/2016.
Declinou que a pretensão do impetrante, no presente writ consiste na revisão da pena de perda da delegação. Não há
desenvolvimento específico relativo à necessidade de retirada da serventia do rol do concurso público (causa de pedir), ou mesmo
pedido relacionado à questão, no mérito.
Pontificou que o impetrante ataca os servidores nomeados para exercer as figuras de interventor e interino, requerendo a designação
do substituto mais antigo, que vem a ser a Sra. Maria de Belém Costa da Fonseca, irmã do titular. A pretensão já foi rechaçada pelo
CNJ, estando em total descompasso com a jurisprudência do c. STJ, que afirma o caráter discricionário do ato de nomeação para os
cargos em questão.
Transcreveu julgados acerca do tema e concluiu que a designação da irmã do impetrante para o cargo de interventora certamente
resultará no prejuízo das apurações ainda em andamento a respeito das irregularidades praticadas.
Concluiu que inexistem os defeitos apontados na inicial, sendo a sanção aplicada ao impetrante adequada sob os prismas
constitucional e legal, além de perfeitamente compatível com os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, devendo ser
denegada a segurança.

6
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

Clamou pelo indeferimento da medida liminar por entender não estarem preenchidos os requisitos necessários.
No mérito pugnou pela denegação da segurança.
Juntou documentos às fls. 555/571.
É o relatório.
DECIDO.
Para a concessão da liminar devem concorrer os dois pressupostos essenciais, ou seja, a relevância dos motivos em que se assenta
o pedido na inicial e a possibilidade da ocorrência de lesão irreparável ao direito do impetrante, se vier a ser reconhecido na decisão
de mérito, conforme se observa no art. 7, III, da Lei 12.016/2009.
Verifica-se que, no presente caso, em cognição sumária, não se depreende a relevância do pedido, na medida em que, numa análise
superficial, verificado inclusive a decisão da autoridade coatora foi devidamente fundamentada, levando em conta as peculiaridades
do caso concreto.
À fl. 471 consta a fundamentação da autoridade coatora:
Para aplicação de pena deve-se considerar as seguintes circunstâncias do caso concreto:
i) gravidade elevada da conduta, relevada através do nítido objetivo requerido de reter quantias vultuosas que deveriam ser
recolhidas aos fundos de reaparelhamento do judiciário e de registro civil, descumprindo clara determinação legal e inviabilizando até
a segurança jurídica dos atos praticados pelo oficial;
ii) prejuízo claro ao erário público, tendo em vista a redução de verbas relacionadas a fundo gerido pelo Poder Judiciário;
iii) histórico funcional de infrações administrativas praticadas pelo requerido, consoante certidão de fls. 399/401-v, donde se
verifica que o mesmo já possui antecedentes de aplicação de sanções administrativas de outra natureza.
Contudo, o acerto ou desacerto da dosimetria da pena há de ser analisado quando do julgamento de mérito pelo Pleno, sob pena
esgotamento do objeto da presente ação constitucional já em sede de medida liminar, contrariando o § 3º do art. 1º da Lei nº 8.437
/92 que preceitua:
§ 3° Não será cabível medida liminar que esgote, no todo ou em qualquer parte, o objeto da ação
Todavia entendo perfeitamente aplicável o poder geral de cautela, corolário da garantia constitucional da tutela jurisdicional adequada
(artigo 5º, XXXV, da CF/88) para determinar a retirada da lista de serventias vagas a serem preenchidas por Concurso o Cartório do
2º Ofício de Registro de Imóveis.
Pois caso o Pleno entenda que a pena fora desproporcional e conceda a segurança, o risco de irreversibilidade é maior do que
eventualmente ofertar a serventia num próximo concurso, já que tais certames devem ser realizados a cada 6 meses, segundo
previsão constitucional, § 3º do art. 236:
§ 3º O ingresso na atividade notarial e de registro depende de concurso público de provas e títulos, não se permitindo que qualquer
serventia fique vaga, sem abertura de concurso de provimento ou de remoção, por mais de seis meses.
Isto posto, concedo a liminar, tão somente para determinar a retirada da serventia do Cartório do 2º Ofício de Registro de Imóveis da
lista das serventias vagas a serem preenchidas em concurso público, até o julgamento de mérito da presente ação constitucional.
Independemente do transcurso do prazo recursal, remetam-se os autos ao Ministério Público do Estado do Pará, para que se
manifeste na qualidade de custus legis.
Oficie-se em caráter de urgência.

Belém (PA), 29 de novembro de 2016.

7
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARÁ
CONSULTA DE PROCESSOS DO 1º GRAU

LEONARDO DE NORONHA TAVARES


RELATOR

Você também pode gostar