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Excelentíssima Senhora Corregedora-Geral da Justiça,

Trata-se de procedimento autuado a partir do recebimento de decisão da Excelentíssima


Ministra Cármen Lúcia em sede da Reclamação n. 49643/SC, com determinação ao
Desembargador Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina e à
Desembargadora Corregedora-Geral da Justiça para que adotassem providências
para garantir a integral e pronta execução do provimento judicial (doc 5866592).

Em apertada síntese a Reclamação trata de prisão ocorrida em 08/09/2021, na


Comarca de Caxias do Sul/RS, por mandado de prisão emitido pelo juízo da Vara
Única da Comarca de São Lourenço do Oeste/SC (Pedido de Prisão Preventiva n.
50021724520218240066), acerca da qual não teria se realizado audiência de
custódia no prazo legal, em nenhuma das comarcas.

Em 28/09/2021 a Defensoria Pública do Estado de Santa Catarina impetrou Reclamação


em face do Juízo da Vara Única da Comarca de São Lourenço do Oeste, perante o
Supremo Tribunal Federal, requerendo liminarmente o relaxamento da prisão preventiva ou,
subsidiariamente, concessão de habeas corpus de ofício para o mesmo fim.

O pedido foi despachado pela Excelentíssima Relatora Ministra Cármen Lúcia em


29/09/2021, determinando a colheita de informações do juízo reclamado, no prazo de 48
horas, nos seguintes termos:

Oficie-se ao juízo da Vara Única da Comarca de São Lourenço do Oeste/SC, para, no prazo
máximo de quarenta e oito horas, prestar informações pormenorizadas sobre o alegado na
presente reclamação, esclarecendo especialmente a situação prisional do reclamante, se
seria de grupo de risco da Covid-19, se teria sido realizada audiência de custódia, de forma
presencial ou virtual, e as medidas adotadas para preservar o estado de saúde do
reclamante e evitar a disseminação do vírus da Covid-19 no local onde está recluso.

O juízo de São Lourenço do Oeste, por sua vez, no bojo dos Inquérito Policial n.
50023802920218240066 prestou as informações Supremo Tribunal Federal, da qual se
extrai a conclusão:

Sendo assim, esse Juízo não tem informações sobre a situação prisional do Reclamante,
uma vez que está recluso em outro Estado, nem se seria de grupo de risco da Covid-19, ou
se teria sido realizada audiência de custódia, de forma presencial ou virtual, e as medidas
adotadas para preservar o estado de saúde do reclamante e evitar a disseminação do vírus
da Covid-19 no local onde está recluso, haja vista que, reitero, a prisão não foi realizada
nessa Comarca, sequer nesse Estado, apenas os mandados teriam sido expedidos por este
Juízo.
Na sequência sobreveio a decisão da Ministra Relatora (doc. 5866592) em que é
determinada a imediata realização da audiência de custódia pelo juízo de São Lourenço do
Oeste, bem como a cientificação do ocorrido ao Excelentíssimo Senhor Presidente e à
Corregedora-Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina, para
adoção das providências cabíveis, conforme comando que ora se transcreve:

Pelo exposto, julgo parcialmente procedente a presente reclamação (§ 1º do art. 21 e


parágrafo único do art. 161 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal), para
determinar ao juízo da Vara Única da Comarca de São Lourenço do Oeste/SC realizar, de
imediato, com observância dos cuidados indispensáveis e empregando os esforços para
disponibilização dos recursos tecnológicos necessários, audiência de custódia, física ou
virtual, com a presença do reclamante, da defesa técnica e do órgão do Ministério Público,
observadas as peculiaridades locais da prestação jurisdicional em razão da pandemia da
Covid-19, e decidir como de direito sobre a manutenção ou não da prisão cautelar.

Anoto que, se necessário para o cumprimento da presente decisão, deverá a autoridade


reclamada diligenciar junto ao juízo de Caxias do Sul/RS da localidade em que cumprido o
mandado de prisão para obter informações sobre a situação prisional do reclamante.

Oficie-se, com urgência, ao juízo da Vara Única da Comarca de São Lourenço do Oeste/SC
para ciência e cumprimento desta decisão, enviando, com urgência e por meio eletrônico,
cópia desta decisão.

Oficie-se, com urgência, ao Presidente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina e ao


Desembargador Corregedor daquele Tribunal para ciência e adoção de providências para
garantir a integral e pronta execução desta decisão, remetendo-se a ambos cópias da inicial
desta reclamação e desta decisão.

Nessa perspectiva, verifica-se que a providência mais urgente foi adotada pelo Juízo de
São Lourenço do Oeste, que realizou a audiência de custódia, por videoconferência, em
sede do Inquérito Policial n. 5002380-29.2021.8.24.006, na data de 15/10/2021 (vide
documento 5872435), informação que, salvo melhor juízo, deve ser encaminhada com
urgência aos autos da Reclamação n. 49643/SC.

Para além do cumprimento imediato e singular da decisão, entretanto, não é


possível olvidar que os acontecimentos narrados neste feito dão conta de
consequências severas, que culminaram em comando expresso para que as
informações prestadas pelo magistrado fossem encaminhadas à Corregedoria
Nacional da Justiça, vinculada ao Conselho Nacional de Justiça.

Não obstante a determinação para apuração em seara nacional, parece inescusável que
Corregedoria-Geral da Justiça também promova análise dos fatos na esfera estadual,
sobretudo visando evitar que situações como as registradas neste processo tornem a
ocorrer.

Primeiramente, é oportuno notar que no caso ventilado a controvérsia parece ter se


originado no entendimento do magistrado de São Lourenço do Oeste, de que o juízo não
seria competente para realizar audiência de custódia, porquanto o cumprimento do
mandado se deu fora dos limites territoriais de sua jurisdição.

Como é de conhecimento comum, a Resolução CNJ n. 213 estabelece que a competência,


para os casos de cumprimento de mandado de prisão em unidade territorial diversa da que
expediu a ordem, deve ser definida pela regulamentação local:

Art. 13. A apresentação à autoridade judicial no prazo de 24 horas também será assegurada
às pessoas presas em decorrência de cumprimento de mandados de prisão cautelar ou
definitiva, aplicando-se, no que couber, os procedimentos previstos nesta Resolução.

Parágrafo único. Todos os mandados de prisão deverão conter, expressamente, a


determinação para que, no momento de seu cumprimento, a pessoa presa seja
imediatamente apresentada à autoridade judicial que determinou a expedição da ordem de
custódia ou, nos casos em que forem cumpridos fora da jurisdição do juiz processante, à
autoridade judicial competente, conforme lei de organização judiciária local.

A normativa mais recente sobre a realização de audiências de custódia no âmbito do


primeiro grau de jurisdição do Tribunal de Justiça de Santa Catarina é a Resolução n. 10, de
14 de junho de 2021, do Conselho da Magistratura, que dispõe no caput do art. 2º:

Art. 2º A audiência de custódia por videoconferência de que trata esta resolução será
realizada, em caso de prisão em flagrante, pelo juízo competente para o processamento da
respectiva ação penal e, em caso de cumprimento de mandado de prisão, pelo juízo que
emitiu a ordem de custódia.

Contudo, na Comarca de São Lourenço do Oeste, os órgãos do Poder Executivo local ainda
não foram providos com recursos tecnológicos para realização de audiências por
videoconferência, situação que será sanada em breve (autos 0044629-25.2020.8.24.0710)
e para qual por ora se aplica a disciplina da Resolução GP/CGJ n. 17/2020, que
estabelece apenas a competência do juízo do local da prisão em flagrante.

Ocorre que, o caso em tela retrata cumprimento do mandado em outro Estado da


federação, conjuntura para qual não há regulamentação na seara estadual e para o qual,
teor da já avocada Resolução CNJ n. 213, a resolução dependeria da organização
judiciária do tribunal em que se deu o cumprimento.

Com efeito, caso o juízo da comarca na qual se efetivou a prisão esteja realizando as
audiências de custódia de forma presencial, há até mesmo a possibilidade de aplicação do
entendimento anterior do Superior Tribunal de Justiça, que ao julgar o Conflito de
Competência 168.522, assentou:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PROCESSUAL PENAL. MANDADO DE PRISÃO


PREVENTIVA. CUMPRIMENTO EM UNIDADE JURISDICIONAL DIVERSA. AUDIÊNCIA
DE CUSTÓDIA. REALIZAÇÃO. COMPETÊNCIA. JUÍZO DA LOCALIDADE EM QUE
EFETIVADA A PRISÃO. REALIZAÇÃO POR MEIO DE VIDEOCONFERÊNCIA PELO
JUÍZO ORDENADOR DA PRISÃO. DESCABIMENTO. PREVISÃO LEGAL. INEXISTÊNCIA.
CONFLITO CONHECIDO PARA DECLARAR COMPETENTE O JUÍZO SUSCITANTE.
1. A audiência de custódia, no caso de mandado de prisão preventiva cumprido fora
do âmbito territorial da jurisdição do Juízo que a determinou, deve ser efetivada por
meio da condução do preso à autoridade judicial competente na localidade em que
ocorreu a prisão. Não se admite, por ausência de previsão legal, a sua realização por meio
de videoconferência, ainda que pelo Juízo que decretou a custódia cautelar.

2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo Federal da Vara da Seção Judiciária
do Paraná, o Suscitante.

Sem embargo do acima aventado, é oportuno acrescer que o art. 2º, § 2º: da própria
Resolução CM n. 10/2021 contém regramento para a situação inversa, de cumprimento do
mandado de prisão originário de outro Estado,

§ 2º Em caso de cumprimento de mandado de prisão oriundo de outro tribunal, a


administração prisional comunicará a prisão ao juízo que emitiu a ordem de custódia,
informando dispor de sistema para realização de audiência de custódia por
videoconferência, nos termos dos incisos I, II e III do § 2º do art. 19 da Resolução n. 329, de
30 de julho de 2020, do Conselho Nacional de Justiça, para o que será necessário
agendamento com a unidade prisional.

É verdade que, muito embora não seja expresso, o normativo dispõe de regra análoga,
indicando que, na situação inversa, o juízo expedidor poderá contatar a administração do
local da custódia para verificar os trâmites para realização da audiência.

Todavia, é igualmente irrefutável que o mero indicativo do procedimento a ser tomado seja
suficiente, notadamente face aos expressivos desdobramentos experimentados no caso
concreto, de modo que a emissão de um comunicado aos Magistrados se desvela medida
de maior efetividade. Indica-se, ainda, que o comunicado não faça menção a quaisquer
outras peças deste processo ou eventos discutidos nos autos.

Por fim, verifico que o presente feito foi autuado com

Ante o exposto, opina-se:

1) Pela comunicação à Presidência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina que a


audiência de custódia foi realizada em 15/10/2021;

2) Pela emissão de comunicado aos Magistrados do primeiro grau de jurisdição, orientando


que, ao serem comunicados do cumprimento de mandado de prisão expedido pelo seu juízo
em unidade vinculada a outro tribunal, indaguem o juízo ou a administração prisional
acerca dos procedimentos para realização de audiência de custódia;

3) Ante a natureza das informações constantes dos autos, pela alteração do nível de acesso
do feito, de "público" para "restrito"; e

4) Diante do comando da Excelentíssima Senhora Ministra Relatoria para que informações


prestadas pelo magistrado fossem encaminhadas à Corregedoria Nacional da
Justiça, pela remessa do feito ao Núcleo I - Procedimentos Administrativos Disciplinares
e Processo de Vitaliciamento.

É o parecer que se submete à apreciação de Vossa Excelência.

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