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PROJUDI - Processo: 0003939-47.2015.8.16.0064 - Ref. mov. 59.

1 - Assinado digitalmente por Joao Conrado Blum Junior:03682097929,


26/10/2015: JUNTADA DE IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO. Arq: Impug contest

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJTPR 99T3C AX8SG P898R
EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO DA
VARA CÍVEL DA COMARCA DE CASTRO-PR.

PROJUDI n.º 3939-47.2015.8.16.0064

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO
ESTADO DO PARANÁ, através de seu órgão de execução abaixo
assinado, no uso de suas atribuições legais, vem apresentar
IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO inserida no movimento
56, nos seguintes termos:

01. SÍNTESE PROCESSUAL

Trata-se de ação civil pública ajuizada


pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ contra o
ESTADO DO PARANÁ, visando compelir o réu na obrigação de
abstenção de manutenção de presos condenados em definitivo na
cadeia pública de Castro, promovendo, ademais, a remoção de todos
os que eventualmente se encontrarem nesta situação aos
estabelecimentos previstos na Lei de Execuções Penais. Houve pedido
liminar no mesmo sentido.

Este douto Juízo deferiu a liminar,


determinando a remoção dos presos definitivos no prazo de 05 dias e
estipulando multa diária à pessoa física do gestor da política estadual
de execução penal.

3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Castro - 1


PROJUDI - Processo: 0003939-47.2015.8.16.0064 - Ref. mov. 59.1 - Assinado digitalmente por Joao Conrado Blum Junior:03682097929,
26/10/2015: JUNTADA DE IMPUGNAÇÃO À CONTESTAÇÃO. Arq: Impug contest

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Com algum atraso e após requerimentos
do Parquet, o réu informou o cumprimento parcial da liminar, dizendo
que ainda restam 05 presos a serem transferidos para penitenciárias
estaduais (mov. 55.1).

Regularmente citado, o réu apresentou


contestação. Arguiu, em sede preliminar, a impossibilidade jurídica do
pedido. No mérito, defendeu que desde o ano de 2012 vem adotando
providências para a solução da caótica questão carcerária do Estado
do Paraná, que inexistem vagas em outros estabelecimentos
prisionais, que não houve violação à Lei de Execuções Penais, que o
pleito ministerial e a decisão liminar ofendem o princípio constitucional
da separação dos poderes e que as astreintes não podem ser
cominadas na pessoa física do Governador do Estado ou de gestor da
política estadual penitenciária.

Vieram os autos com vista ao


Ministério Público.

É o sucinto relatório. Passa-se à análise.

Os argumentos invocados, contudo, não


prosperam.

02. QUESTÃO DE ORDEM

O réu relatou no movimento 55.1 que


ainda não cumpriu totalmente a decisão liminar, restando pendente a
transferência de 05 detentos condenados em definitivo para
estabelecimentos prisionais adequados.

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Além de não haver cumprimento integral
à liminar, o requerido sequer comprovou efetivamente que até
momento transferiu a maioria dos condenados. Ora, como este
membro do Parquet não tem a área de execução penal como
atribuição, não se sabe, nem por ouvir dizer, a quanta anda a questão
da remoção dos presos definitivos em Castro.

Assim, como já decorridos mais de


02 meses da intimação da decisão antecipatória de tutela (mov.
15), deve haver a intimação do ESTADO DO PARANÁ para que,
com urgência, demonstre, através de documentos hábeis a isso
(declaração do chefe do DEPEN local, por exemplo), quais presos
foram transferidos até o momento e quantos presos condenados
em definitivo ainda cumprem ilegalmente pena na cadeia pública
de Castro.

Ressalte-se, por outro lado, que o atraso


injustificado do réu no cumprimento da liminar poderá ensejar, a
qualquer momento, o ajuizamento de execução contra os gestores da
política de execução penal paranaense, além de implicações pelo
crime de desobediência.

03. PRELIMINAR

3.1. Impossibilidade jurídica do


pedido

Sustentou o requerido que a imposição


de prestações positivas ao planejamento estratégico do Estado do

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Paraná não encontra previsão no ordenamento jurídico, cabendo tal
definição de prioridades exclusivamente ao Poder Executivo estadual.

O Parquet não faz qualquer ressalva a


esta afirmação, tanto que a ação civil pública sob análise se refere
apenas ao descumprimento evidente, pelo réu, da Lei Federal n.
7.210/1984, a conhecida Lei de Execuções Penais.

Ora, a causa de pedir se sustenta no


texto expresso dos artigos 84, 87, 91 e 102 da Lei aludida, todos
transcritos no corpo da petição inicial. Basicamente, o que se defende
é aplicação da lei, segundo a ideia legal de que apenas presos
provisórios devem ser mantidos em cadeias públicas. Em outras
palavras, na cadeia pública de Castro não deve haver presos
condenados em definitivo, que terão a destinação da penitenciária, das
colônias agrícolas, industriais ou similares e das casas de albergado,
conforme definido na Lei de Execuções Penais.

Assim, vê-se que o MINISTÉRIO


PÚBLICO não busca que o ESTADO DO PARANÁ seja judicialmente
compelido a fazer ou deixar de fazer algo não previsto em Lei. Pede-se
tão-somente aquilo que a legislação pátria prevê desde 19851.

Tem-se, desse modo, que o Parquet


teve tolerância de longos 30 anos para adotar a medida extremada,
judicializando a questão, restando convencido de que, se não o
fizesse, o réu demoraria outro tanto para mover uma palha ou adotar
alguma medida emergencial e paliativa.

1
Quando entraram em vigor as Leis n. 7.209/1984 e n. 7.210/1984.
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Destarte, de todo descabida a
alegação de impossibilidade jurídica do pedido, havendo mais
coerência no entendimento pela impossibilidade jurídica desse
argumento, pois completamente destoante do objeto desta
demanda.

04. DO MÉRITO

De fato, verifica-se através da mídia que


o réu vem adotando algumas medidas para resolver o problema
carcerário estadual. Contudo, o que se vê nas Comarcas,
principalmente do interior do Estado, é um completo descaso para com
a questão, o que tem suscitado sucessivas rebeliões e fugas, tendo
como consequência danos ao patrimônio público, prejuízos à
segurança pública pelo deslocamento de equipes policiais militares até
os estabelecimentos penais em conflito e muito descrédito ao Poder
Judiciário, que se vê acuado entre um Estado inerte, inoperante e
ineficiente e uma criminalidade cada vez mais organizada e
preponderante. Claramente o réu, não só nesta gestão, mas também
em todas as outras anteriores da era pós-1988, vem se preocupando
muito mais em publicar lindas peças de marketing, floreadas por
pessoas felizes e eventos obreiros exitosos, do que em resolver as
pendências que realmente interessam à melhoria da sociedade. Ainda
assim, num contexto onde as prioridades político-estatais são
distorcidas e enviesadas de proselitismo, o Parquet move a presente
demanda calcado em base legal, não discutindo se o ESTADO DO
PARANÁ deve ou não investir mais em políticas de segurança pública
ou do sistema penitenciário. Como ressaltado, busca-se apenas o
cumprimento da legislação, seja qual a maneira encontrada pelos
gestores de plantão para fazê-lo.

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Sabe-se, ademais, que as vagas são
escassas ou mesmo inexistentes em estabelecimentos prisionais em
todo o Estado do Paraná. No entanto, isso não confere um passe
“mágico”, para usar uma palavra muito “cara” na peça defensiva do
réu, a que o caos seja mantido tal como se encontra, e crescendo a
todo o momento!

Mais uma vez, conforme já referido


implicitamente na análise da questão preliminar, não há falar em
violação ao princípio constitucional da separação dos poderes. Isso
porque a demanda se funda na Lei de Execuções Penais,
regularmente aprovada pelo Poder Legislativo Federal e sancionada
pelo Poder Executivo Federal. Dito de outro modo, o Parquet tem a
presente ação baseada na legislação aplicável ao tema e não está
inventando/criando nenhuma obrigação ao réu. Vale dizer, a mora
estatal é longa, perniciosa à sociedade, facilmente constatável e
demanda medidas enérgicas por parte do Poder Judiciário.

Fica claro que a contestação se


constitui, com a devida vênia, num “chapão” utilizado indistintamente
para defesas em ações civis públicas, informações em mandados de
segurança e suspensões de liminar ou de segurança. Isso explica o
“descolamento” do seu conteúdo em relação ao contido na petição
inicial em tela.

E a violação aos preceitos antes


mencionados da Lei Federal n. 7.210/1984 revela-se patente, já que
existem diversos presos condenados em definitivos internalizados
ilegalmente na cadeia pública de Castro, fato notório e amplamente

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demonstrado com os documentos anexados à exordial. Não há
necessidade de maiores ilações quanto a isso!

Além disso, o autor desafia a parte ré a


provar que inexiste violação legal no caso tela. Tanto isso é verdade
que o réu nem se utilizou do expediente corriqueiro da suspensão de
liminar junto ao egrégio Tribunal de Justiça, medida judicial muito
comum quando o Estado do Paraná se acha impelido a fazer ou deixar
de fazer algo em paradoxo para com a separação de poderes.

Outrossim, todos os precedentes


jurisprudenciais trazidos pelo réu no corpo de sua peça defensiva não
são idênticos e nem semelhantes ao caso em análise, já que partem
de premissas fáticas e, portanto, de causa de pedir, bem diversas, nas
quais se revela realmente discutível a imposição judicial (como a
determinação de reforma de estabelecimento prisional).

Por fim, nada de antijurídico configura a


fixação de astreintes em desfavor da pessoa física do administrador
público, visto que seria complementa ilógico, contraproducente, lesivo
aos cofres públicos e até imoral determinar que a multa diária, acaso
exigida, partisse dos combalidos cofres públicos estaduais. Ademais, a
responsabilização do gestor pela omissão ilegal, como no caso, é
inerente ao sistema constitucional republicano brasileiro.

05. CONCLUSÃO

Ante o exposto, o MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ:

3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Castro - 7


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5.1. impugna a contestação apresentada
pelo réu;

5.2. diante do acervo probatório já


colhido e não havendo a necessidade de se produzir prova em
audiência, requer o julgamento antecipado da lide, com fulcro no artigo
330, inciso I, do Código de Processo Civil;

5.3. nos termos do item 02 desta


peça, requer seja determinado ao réu que demonstre, através de
documentos hábeis a isso (declaração do chefe do DEPEN local,
por exemplo), quais presos foram transferidos até o momento e
quantos presos condenados em definitivo ainda cumprem
ilegalmente pena na cadeia pública de Castro.

Castro, 26 de outubro de 2015.


(com assinatura eletrônica)
JOÃO CONRADO BLUM JÚNIOR
Promotor de Justiça

3ª Promotoria de Justiça da Comarca de Castro - 8

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