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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
EU
Nº 70084277268 (Nº CNJ: 0066085-60.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO PÚBLICO


NÃO ESPECIFICADO. FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTO. MENOR DE IDADE.
COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO JUIZADO DA
INFÂNCIA E JUVENTUDE. ARTS. 148, IV, E 209 DO
ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
Em se tratando de ação ajuizada por menor de idade
objetivando o fornecimento de medicamento, o Juizado
da Infância e da Juventude detém competência absoluta
para a causa, nos termos do art. 148, IV e 209 do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO.

AGRAVO DE INSTRUMENTO QUARTA CÂMARA CÍVEL

Nº 70084277268 (Nº CNJ: 0066085- COMARCA DE VIAMÃO


60.2020.8.21.7000)

M.D.M. AGRAVANTE
..
E.R.G.S. AGRAVADO
..
M.V. AGRAVADO
..

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Quarta Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar provimento ao agravo de instrumento.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores
DES. FRANCESCO CONTI E DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA.
Porto Alegre, 24 de setembro de 2020.

DES. EDUARDO UHLEIN,


Relator.

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

@ (PROCESSO ELETRÔNICO)
EU
Nº 70084277268 (Nº CNJ: 0066085-60.2020.8.21.7000)
2020/CÍVEL

RELATÓRIO
DES. EDUARDO UHLEIN (RELATOR)
Trata-se de agravo de instrumento interposto por M. D. M. representada por
sua genitora, contra a decisão proferida pelo MM. Juízo do Juizado da Infância e da
Juventude que, nos autos da ação ajuizada em face do ESTADO DO RIO GRANDE DO
SUL e do MUNICÍPIO DE VIAMÃO, declarou a incompetência e declinou da
competência para o Juizado Especial da Fazenda Pública.
Em suas razões sustentou, em síntese, que pela leitura do Estatuto da Criança
e do Adolescente, o Juizado da Infância e da Juventude possui competência absoluta para
processar e julgar as causas em que se tutela direitos inerentes aos sujeitos da relação.
Referiu que o incapaz não pode ser parte nos processos que tramitam no Juizado Especial da
Fazenda Pública. Requereu a concessão do efeito suspensivo e, ao final, o provimento do
recurso.
Recebido o recurso, restou deferido o efeito suspensivo.
Intimado, o agravado deixou de apresentar contrarrazões.
Com vista dos autos, o Ministério Público opinou pelo conhecimento e
desprovimento do recurso.
É o relatório.

VOTOS
DES. EDUARDO UHLEIN (RELATOR)
Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do recurso
Investe o agravante contra a decisão que declinou da competência ao Juizado
Especial da Fazenda Pública.
A inconformidade merece prosperar.
De fato, o caso em tela difere do precedente utilizado pelo julgador a quo
para reconhecer a competência do Juizado Especial da Fazenda Pública.

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No AgReg no AREsp nº 674299/MG, o Superior Tribunal de Justiça


reconheceu a competência do Juizado Especial da Fazenda Pública nas demandas em que se
objetiva o fornecimento de medicamentos, cujo valor da causa seja inferior a 60 salários
mínimos, ainda que o autor da ação seja o Ministério Público. Confira-se a emenda do
referido julgado:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL NO


AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. ARGUMENTOS
INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO
ATACADA. FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS.
VALOR DA CAUSA DE ATÉ 60 SALÁRIOS MÍNIMOS. RITO
DOS JUIZADOS ESPECIAIS. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.
83/STJ. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973.
APLICABILIDADE.
I - Consoante o decidido pelo Plenário desta Corte na sessão
realizada em 09.03.2016, o regime recursal será determinado pela
data da publicação do provimento jurisdicional impugnado. Assim
sendo, in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de 1973.
II - É pacífico o entendimento no Superior Tribunal de Justiça
segundo o qual é possível submeter ao rito dos Juizados
Especiais, as causas que envolvem fornecimento de
medicamentos, cujo valor seja de até 60 salários mínimos,
ajuizadas pelo Ministério Público em favor de pessoa
determinada.
III - O recurso especial, interposto pelas alíneas a e/ou c do inciso
III do art. 105 da Constituição da República, não merece prosperar
quando o acórdão recorrido encontra-se em sintonia com a
jurisprudência desta Corte, a teor da Súmula n. 83/STJ.
IV - A Agravante não apresenta, no regimental, argumentos
suficientes para desconstituir a decisão agravada.
V - Agravo Regimental improvido.
(AgRg no AREsp 374.299/MG, Rel. Ministra REGINA HELENA
COSTA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/10/2016, DJe
21/11/2016)

Ocorre, no entanto, que embora na presente demanda se busque o


fornecimento de procedimento cirúrgico e que a causa tenha valor inferior a 60 salários
mínimos, diversamente daquele precedente, aqui, a ação foi ajuizada por menor de
idade, representado por sua genitora, tramitando perante o Juizado Especializado da
Infância e Juventude, nos termos do art. 148 e 209 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, in verbis:

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Art. 148. A Justiça da Infância e Juventude é competente para:


[...]
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses individuais,
difusos ou coletivos, afetos à criança e ao adolescente, observado o
disposto no art. 209;

Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas no foro


do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo
juízo terá competência absoluta para processar a causa, ressalvadas
a competência da Justiça Federal e a competência originária dos
tribunais superiores.

Ora, o ECA é lex specialis e, portanto, prevalece sobre a regra geral de


competência das Varas de Fazenda Pública, e por consequência, do Juizado Especial da
Fazenda Pública, justamente porque a matéria objeto da ação diz com direitos e
garantias fundamentais do menor.
Vale destacar, a propósito do thema, o seguinte precedente do Superior
Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. INTERESSES


INDIVIDUAIS, DIFUSOS OU COLETIVOS VINCULADOS À
CRIANÇA E AO ADOLESCENTE. VIOLAÇÃO AO ART. 535.
ALEGAÇÕES GENÉRICAS. SÚMULA 284. ACÓRDÃO QUE
SE FUNDA EM LEI LOCAL. SÚMULA 280 DO STF.
JURISPRUDÊNCIA DO STJ QUE RECONHECE A
COMPETÊNCIA ABSOLUTA DA VARA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE.
1. O julgado proferido na origem foi publicado na vigência do
CPC/1973, razão pela qual os requisitos de admissibilidade do
apelo nobre devem seguir a sistemática processual correspondente,
nos termos do Enunciado Administrativo n. 2/STJ. 2. As razões
recursais não indicam de forma percuciente qual seria a omissão
verificada, tampouco a maneira como teria ocorrido a violação
sustentada; ao revés, mostram-se genéricas e destituídas de
concretude, pelo que é inadmissível o Recurso Especial. Aplicação
da Súmula 284/STF.
3. Inviável discussão em Recurso Especial acerca de suposta
ofensa a dispositivo constitucional, porquanto seu exame é de
competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal, conforme
dispõe o art. 102, III, da Constituição. Não se pode, portanto,
conhecer do apelo em relação à contrariedade ao art. 5º, XXXVII,
da Constituição Federal.
4. A análise da pretensão recursal pressupõe necessariamente a
apreciação de norma de direito local, na medida que o Tribunal de
origem baseou seu decisum na Lei Complementar Estadual

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14/1991, o Código de Divisão e Organização Judiciária do


Maranhão. Aplica-se, pois o óbice da Súmula 280/STF, in verbis:
"por ofensa a direito local não cabe recurso extraordinário". 5.
Ainda que se conhecesse do mérito recursal, melhor sorte não
assistiria ao recorrente, pois a competência da Vara da
Infância e da Juventude é absoluta e justifica-se pelo relevante
interesse social e pela importância do bem jurídico a ser
tutelado, nos termos do art. 208, VII do ECA, bem como por se
tratar de questão afeta a direitos individuais, difusos ou
coletivos do infante, nos termos dos arts. 148, inciso IV, e 209,
do Estatuto da Criança e do Adolescente. Precedentes do STJ.
6. O Estatuto da Criança e Adolescente é lex specialis e
prevalece sobre a regra geral de competência das Varas de
Fazenda Pública, quando o feito envolver Ação Civil Pública
em favor da criança ou adolescente, na qual se pleiteia acesso
às ações ou serviços e saúde, independentemente de a criança
ou o adolescente estar em situação de abandono ou risco (REsp
1251578/SE, Relator Ministro Herman Benjamin, Segunda
Turma, DJe 10/10/2012).
7. Recurso Especial não conhecido.
(REsp 1684694/MA, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 21/11/2017, DJe 19/12/2017).
(grifo nosso)

E, também, desta Corte de Justiça:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. VAGA EM CRECHE.


TURNO INTEGRAL. COMPETÊNCIA ABSOLUTA DO
JUIZADO ESPECIAL DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE.
RECONHECIMENTO DE OFÍCIO. INTELIGÊNCIA DOS
ARTS. 148, IV, e 209, DO ECA. PRECEDENTES. CASO
CONCRETO. 1. Com efeito, em se tratando de demanda em que a
parte autora, menor de idade, objetiva a concessão de vaga em
creche municipal, com fulcro na alegação de omissão do Estado, é
competente para o processamento e julgamento a Vara do Juizado
Especial da Infância e da Juventude, em conformidade com o que
preconizam os artigos 148, IV, e 209 do ECA. 2. Cabível o
reconhecimento, de ofício, da competência da Vara do Juizado
Especial da Infância e da Juventude, por se tratar de matéria de
ordem pública. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA
ACOLHIDO, DEVENDO O PROCESSO SER REDISTRIBUÍDO
À VARA DO JUIZADO ESPECIAL DA INFÂNCIA E DA
JUVENTUDE DA COMARCA DE RIO GRANDE. (Conflito de
competência, Nº 70081915308, Vigésima Quinta Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Léo Romi Pilau Júnior,
Julgado em: 24-09-2019)

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUÍZO DA INFÂ


NCIA E JUVENTUDE, JUÍZO ESPECIAL DA FAZENDA PÚB
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LICA E JUÍZO CÍVEL. 1. A competência da Justiça


da Infância e Juventude é ditada pelo art. 148 do ECA, estando ali
elencadas as ações civis fundadas em interesses individuais,
difusos ou coletivos afetos à criança e ao adolescente. 2. É
competente para julgar as ações que envolvem garantir o direito à
saúde de crianças e adolescentes
o Juizado da Infância e Juventude ou pelas varas cíveis que
têm competência na jurisdição em direito
da infância e juventude. Conflito acolhido.
(Conflito de competência, Nº 70082505264, Sétima Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de
Vasconcellos Chaves, Julgado em: 25-09-2019)

Nesse cenário, mostra-se imperioso o reconhecimento da competência


absoluta do Juizado da Infância e Juventude para o processamento e julgamento da demanda.

O voto, pois, na esteira do que exposto, é no sentido de dar provimento ao


agravo de instrumento para determinar o prosseguimento do feito perante o Juizado da
Infância e Juventude da Comarca de Viamão.

DES. FRANCESCO CONTI - De acordo com o(a) Relator(a).


DES. ANTONIO VINICIUS AMARO DA SILVEIRA - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. ALEXANDRE MUSSOI MOREIRA - Presidente - Agravo de Instrumento nº


70084277268, Comarca de Viamão: "DERAM PROVIMENTO AO AGRAVO DE
INSTRUMENTO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: CARINE LABRES

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