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DIREITO PROCESSUAL PENAL

O Direito Penal é o conjunto de regras que preveem uma conduta como ilícita
e a identificam como crime quando vinculam a prática daquela conduta prevista
em lei a uma determinada sanção.
O que caracteriza ordinariamente o Direito Penal é a sanção representada
pela pena privativa de liberdade.
O Estado, ao exercer a sua pretensão punitiva, ou seja, de punir as pessoas
que realizam comportamentos socialmente inadequados e que encontram previsão, seja no Código
Penal ou em legislação material extravagante, ele necessariamente deve se valer de um conjunto de
regras, procedimentos, que possibilitem a defesa e também a segurança jurídica, sob pena de não se
reconhecer a
legitimidade da punição aplicada.
O Processo Penal é justamente a possibilidade de materialização desse
direito abstrato do Estado, de aplicar a sanção penal a quem comete um crime,
e encontra resguardo tanto na Constituição Federal (CF) quanto na legislação
ordinária, no Código do Processo Penal e também nas Convenções Internacionais das quais o Brasil
é signatário.

CONCEITO
O Processo Penal é o ramo do direito público que regula a atividade de jurisdição do Estado, para
aplicação das normas de Direito Penal, no julgamento do
acusado de praticar um crime.
Não existe materialização do Direito Penal, assim como não existe sanção
penal, a não ser por meio do processo. Logo, o Direito Penal material e o
Direito Processual, também conhecido como direito adjetivo, estão umbilicalmente ligados, um não
existe sem o outro.
A sanção penal prevista na norma material, no Direito Penal – como, por
exemplo, “matar alguém”, prevista no artigo 121, caput, cuja pena é a reclusão
de 6 a 20 anos –, para efetivamente ser aplicada em concreto ao autor de um
crime de homicídio doloso, necessariamente, essa manifestação do direito punitivo do Estado passa
pelo processo.
O processo é o conjunto de regras e procedimentos para que se possa aplicar a sanção penal. É
necessário que o órgão legitimado ofereça a ação penal a
partir de uma investigação que a antecede, sendo também garantido, durante a
instrução processual, o contraditório e a ampla defesa e, por fim, que se obtenha
uma decisão judicial fundamentada nas provas dos autos.
Portanto, o processo é o conjunto de elementos, procedimentos, garantias,
formas, que poderão materializar, com a efetiva aplicação da pena ao autor do
crime de homicídio doloso, aquilo que lhe é devido de acordo com a sua culpabilidade.
Não existe materialização do Direito Penal a não ser por meio do processo
penal. O processo penal é o meio necessário para a aplicação da sanção penal
a alguém.

FINALIDADE
A sanção penal tem diversas finalidades. Uma delas é a finalidade retributiva,
quando o mal causado pelo autor da conduta proibida é retribuído com outro mal,
que é a sanção penal, ou seja, a restrição do direito fundamental de liberdade.
Há também, em contrapartida, a possibilidade de se restabelecer a harmonia
social, o convívio em comunidade de maneira pacífica, por meio da solução de
um conflito de interesse.
O processo penal possui 2 finalidades:
• Mediata – pacificação social com a solução do conflito.
Conflito: em processo penal, conflito é colocar em posições contrarias. De
um lado está quem quer exercer o seu poder punitivo, que decorre da soberania
estatal, e que é legítimo, pois quem viola a lei penal está sujeito à aplicação de
uma sanção penal por parte do Estado; e de outro lado está um cidadão que,
embora cometendo um fato ilícito, deve ter respeitado uma série de direitos,
como um processo justo, critério objetivo de escolha do órgão acusador e do
órgão julgador, o direito de contra argumentar diante de evidências que são trazidas, por exemplo,
pela acusação.
Esse conflito que se apresenta no processo penal justamente se dá entre
o Estado – que oferece a ação penal, requerendo a aplicação de uma sanção
penal a alguém – e aquela pessoa acusada do cometimento de um crime e que
quer manter íntegro o seu direito fundamental de liberdade ou, ainda que confesse a autoria de um
delito, quer tentar evitar ao máximo uma restrição indevida.
• Imediata – aplicação do Direito Penal (material) ao caso em concreto.
Na relação jurídico-material, basicamente, relação de tipicidade, há uma
relação de subsunção ou de adequação típica, quando o fato em concreto se
adequa a todos os elementos previstos em um determinado tipo penal (elementos objetos, subjetivos
e normativos). Uma vez identificada essa relação de
subsunção, surge para o Estado o poder/dever de ajuizar a ação penal e, justamente em razão dessa
adequação típica, aplicar a consequência da verificação
em concreto daquela conduta que, inicialmente, é prevista única e exclusivamente em abstrato.
O preceito primário “matar alguém”, previsto no artigo 121 (CP), traz uma
sanção, em abstrato, que vale para todo mundo, indistintamente, que é a reclusão
de 6 a 20 anos (exceto as hipóteses de justificação; exemplo: legítima defesa).
Quando há um caso em concreto (João matou José durante uma discussão,
por exemplo), comparando-o com a hipótese abstrata prevista no artigo 121 do
CP, verifica-se que o ocorrido se adequa perfeitamente à forma. Havendo, então,
relação de tipicidade, a partir dela surge a pretensão legítima do Estado em aplicar sanção penal
àquela pessoa que, em princípio, é autora do fato cometido
contra a vítima (João que matou José).
PACIFICAÇÃO SOCIAL
A finalidade mediata do processo penal é a pacificação social e a finalidade
imediata é a aplicação da sanção penal ao suposto autor da conduta delitiva.

Aplicação do Direito com a solução do Penal (material) ao conflito (caso em


concreto).
CARACTERÍSTICAS
• Autonomia: o processo penal não se submete ao direito penal, possuindo
princípios e regras próprias.
Os crimes são previstos no Código Penal ordinariamente. A exceção é a chamada legislação
extravagante, que é aquela que, no caso do direito material,
prevê crime, mas que não é o Código Penal e nem o altera, tem existência própria, como, por
exemplo, a Lei n. 11.343/2006 (Lei de Tóxicos), com procedimentos próprios e especiais em
relação aos procedimentos previstos no Código de
Processo Penal.
Exemplo: a Lei de Tóxicos, ao prever e tipificar a conduta do tráfego de drogas,
também prevê o procedimento exigido para se aplicar a sanção penal ao traficante (artigo 33), por
exemplo.
• Instrumentalidade: o processo penal é o meio para fazer atuar o direito
penal (material);
O Processo Penal é o instrumento por meio do qual se pode aplicar a sanção
penal a alguém.
Não existe direito fora do processo. Se uma pessoa tem um direito e pretende
fazer valer esse direito em relação a outra pessoa, não se pode compelir, por
meio de constrangimento ilegal, essa outra pessoa a cumprir o que deve, pois
caracterizaria um crime arbitrário das próprias razões, ou seja, quando o cidadão
quer realizar a justiça pelas próprias mãos.
A justiça somente se faz por meio do Estado, do processo.

Quando existe uma pretensão legítima e alguém deseja que esta seja adimplida, por exemplo, por
um devedor, tal adimplemento somente poderá ser obtido
por meio do Estado, pois só existe sanção por meio do processo, que possui
regras.
Atenção!
No Estado Democrático de Direito, o Processo Penal, previsto tanto no Código
de Processo Penal quanto na Constituição Federal, é a única forma de aplicação
da justiça.
• Normatividade: cuida-se de disciplina normativa, com codificação própria
(CPP e legislação extravagante).
É o CPP que se aplicará, como regra, a todos os crimes que encontrem nele
previsão ou em legislação extravagante.
Outro exemplo de legislação extravagante material, penal: Código de Defesa
do Consumidor (CDC).
O procedimento a ser adotado para a aplicação da sanção penal por um
crime previsto no CDC, as regras para essa aplicação estarão no CPP.
Há determinadas normas que preveem especialidade em relação ao CPP.
Existem tipos penais, como os previstos na Lei de Tóxicos, por exemplo, na qual,
em detrimento da norma geral, que é o CPP, segue-se um procedimento específico para
determinados tipos de crimes.

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