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C APÍTULO 3

R e p r e s e n ta ç ã o P o l i c i a l
e R e l at ó r i o
Policial Conclusivo

3.1.  ESTRUTURA BÁSICA DE UMA REPRESENTAÇÃO POLICIAL OU DE


UM RELATÓRIO POLICIAL CONCLUSIVO

A ntes de começarmos a falar destas duas importantes peças jurídicas, é


necessário frisar que entre elas há algo em comum: a estrutura. Parece
estranho, mas é isso mesmo! Por mais que as referidas peças tenham
funções distintas, a estrutura delas se funda na mesma arquitetura.
Embora a função do relatório final seja pormenorizar tudo o que foi
colhido no curso da investigação policial e a da representação policial se
referir a um pedido de medida dirigido à autoridade judiciária competente,
ambas possuem uma estrutura assemelhada.
Os elementos essenciais dessas duas peças são: o vocativo, a
contextualização da demanda, os fatos apurados, a fundamentação legal
e, ao final, o pedido ou a conclusão. Por isso, dizemos que os referidos
documentos terão, essencialmente, o mesmo esqueleto.

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peças iniciais da investigação policial: Capítulo 3
o auto de prisão em flagrante e a portaria

3 cm

Vocativo.

Contextualização

Dos Fatos Apurados


3 cm 2 cm

Das Provas e dos Elementos


de Informação

Pedido ou Conclusão

(Fundamentação legal)

2 cm

O vocativo é direcionado ao magistrado, pois a ele cabe a decisão


acerca dos pedidos encerrados na representação policial, bem como é o
destinatário da remessa do Inquérito Policial finalizado, nos termos do
art. 10, § 1º, do Código de Processo Penal.

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Adriano Costa & Laudelina Inácio Prática Policial Sistematizada

A contextualização diz respeito aos dados que precisam constar da


peça para que o magistrado possa compreender a circunstância fática
na qual está inserida a representação ou o relatório policial final que lhe
está sendo submetido. É nesse ponto que se faz menção à peça inicial da
investigação (APF ou Portaria), à capitulação provisória do fato, bem como
quem são os suspeitos e a vítima do fato em comento.
Após isso, é necessário que passemos por uma fase de pormenorização
de tudo o que fora descoberto na investigação, ou seja, dos fatos apurados.
A expressão “fatos apurados” deriva da própria inteligência que se faz do
art. 10, § 1º, do Código de Processo Penal1.
É oportuno dizer que, conquanto essa terminologia tenha sido
mencionada no contexto do relatório final, nada impede que este mesmo
termo seja empregado também quando da confecção de uma representação
policial, até porque a necessidade de se discorrer sobre o que se apurou
nas investigações é comum a essas duas peças.
Continuando nossa caminhada, passemos agora a discorrer sobre
o tópico das provas e dos elementos de informação (ou elementos
de convicção), os quais visam a dar sustentação jurídica ao que foi
mencionado no tópico DOS FATOS APURADOS.
Há uma nítida interligação entre esses dois últimos blocos analisados,
vez que o segundo acaba validando juridicamente o primeiro. Dizemos
isso pois meros fatos apurados, sem a mínima comprovação (com base
em provas e elementos de informação), têm pouquíssima importância no
contexto da investigação policial.
Outro ponto a ser esclarecido é que a terminologia adotada neste
tópico (Provas e Elementos de Informação) não está errada. Há pessoas
que acreditam que no curso do inquérito não são produzidas provas, mas
só elementos de informação. Isso não é verdade. É perfeitamente possível
que provas sejam produzidas nessa fase, precipuamente no caso de
contraditório postergado ou mesmo antecipado. Por isso, havendo provas
cautelares, irrepetíveis e antecipadas (consoante art. 155 do Código de
Processo Penal) produzidas no bojo do inquérito policial, elas devem ser
arroladas nesse tópico como provas, e não como elementos de informação.
Por fim, é necessário que o delegado finalize a peça com um pedido (no
caso da representação) ou com uma conclusão (no caso do relatório
policial conclusivo). É nesse momento que o candidato deve aduzir suas

1  Art. 10. § 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente. (Código de Processo Penal)

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peças iniciais da investigação policial: Capítulo 3
o auto de prisão em flagrante e a portaria

razões jurídicas (fundamentação), apondo os dispositivos de legitimação


profissional, bem como aqueles que amparam a ação ou o pedido que ele
está a encaminhar ao magistrado.

3.2.  RELATÓRIO POLICIAL FINAL

A pós as valiosas informações gerais sobre a estrutura comum do


relatório e da representação policial, passaremos agora a estudar
mais minudentemente o relatório policial final.
Pois bem, a função do relatório final é sintetizar tudo o que foi apurado
no curso do inquérito policial para que, assim, o magistrado e o titular da
ação penal2 possam, de forma mais fácil e inteligível, inteirar-se de tudo o
que de relevante fora descoberto.
Na verdade, o relatório é um grande instrumento facilitador no que
tange à cadeia de custódia das informações da investigação policial,
fazendo com que elas cheguem de forma mais conectada e ordenada ao
titular da ação penal e ao magistrado.
É inegável que, nesse primeiro momento, o relatório facilitará muito
mais o trabalho do promotor de Justiça (ou do querelante), pois ele tem,
em tese, pouco tempo para o oferecimento da petição inicial. A função para
o magistrado, nesse primeiro instante, é reduzida.
Entretanto, isso não pode levar o aluno a acreditar que o destinatário
imediato do inquérito e do respectivo relatório policial é, por conseguinte, o
Parquet. A nossa lei processual é clara no sentido de que o IP é encaminhado
ao juiz3, e não ao Ministério Público. Portanto, é fundamental que
o vocativo da peça se refira ao magistrado competente, e não ao
promotor. Cuidado com esse peguinha!

2  É mais comum que o titular da ação penal seja o Ministério Público. Entretanto, não podemos negar que
idêntico procedimento de remessa de autos seja aplicável quando o fato se refira a crime de ação penal
privada. Nesses termos, consoante a lei, o inquérito, com relatório final anexado, também é encaminhado
ao Poder Judiciário com o fito de aguardar a iniciativa processual do ofendido ou de seu representação
legal. Vejamos: Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão
remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu representante legal,
ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante traslado. (Código de Processo Penal)
3  Vejamos, então, o que fala nossa legislação sobre isso: Art. 10. § 1o A autoridade fará minucioso
relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz competente. (Código de Processo Penal)

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Adriano Costa & Laudelina Inácio Prática Policial Sistematizada

Outro tópico a ser sobrelevado é que podem haver questões incidentais4


na investigação que deverão ser alocadas no bojo do relatório policial,
por exemplo, a destinação das coisas apreendidas, o indiciamento, uma
eventual representação etc...
É aqui que geralmente surgem as dúvidas dos alunos. Onde devem
ser colocados esses tópicos? Pois bem, lembre-se de que não há uma
normativa legal sobre a estrutura desse tipo de peça, por isso não
há aqui uma receita de bolo a se seguir. Contudo, sugerimos que essas
questões incidentais sejam alocadas entre o tópico das provas e elementos
de informação e a conclusão.
Urge frisar ainda que, quando da conclusão da peça, será necessário que
algumas informações essenciais também sejam ali inseridas. Por exemplo,
se alguma testemunha não tiver sido ouvida no curso da investigação
policial (em virtude do exíguo prazo de conclusão das investigações),
é fundamental que essa circunstância esteja mencionada no final do
relatório, bem como o paradeiro dela5.
Além disso, é possível que a autoridade policial tenha a intenção de
ainda realizar algumas diligências imprescindíveis e, para tanto, solicite
a dilação de prazo para a continuidade das investigações6. Isso é bem
costumeiro!
No que tange à dilação de prazo, o Código de Processo Penal deixou claro
que a prorrogação nesses casos só se dará se o fato for de difícil elucidação,
bem como se o indiciado estiver solto. Nesse jaez, o magistrado, após ouvir
o Ministério Público, concederá o prazo que achar suficiente para que o
delegado dê continuidade às investigações respectivas. Aqui é que está o
problema!

4  No caso da Lei de Drogas é essencial que o candidato mencione, em um tópico distinto, sobre a
capitulação jurídica provisória dada ao fato, demonstrando conhecimento acerca do teor do artigo 52 da
Lei nº 11.343/2006. Vejamos o que diz o referido dispositivo: Art. 52.  Findos os prazos a que se refere o
art. 51 desta Lei, a autoridade de polícia judiciária, remetendo os autos do inquérito ao juízo: I - relatará
sumariamente as circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do
delito, indicando a quantidade e natureza da substância ou do produto apreendido, o local e as
condições em que se desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a
qualificação e os antecedentes do agente. (Lei nº 11.343/2006)
5  Artigo 10. § 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas. (Código de Processo Penal).
6  Recorde-se que o Código de Processo Penal não trata de assunto da mesma forma que fazem outras
legislações mais específicas, como, por exemplo, o artigo 51 da Lei 11.343/2006. Na lei de drogas pode
haver dilação de prazo, mesmo que o réu esteja preso. Para o Código de Processo Penal, não pode
haver prorrogação, no caso de réu preso. Vejamos o que diz a lei adjetiva brasileira no seu artigo 10. § 3o:
Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá requerer ao juiz a
devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas no prazo marcado pelo juiz.

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peças iniciais da investigação policial: Capítulo 3
o auto de prisão em flagrante e a portaria

A prática policial é muito diferente disso. São comuns as dilações de


prazo, mesmo com réu preso, o que acaba deixando o candidato confuso.
Nossa dica é: siga o que está na lei, pois é sempre possível fundamentar
eventual recurso. A prática costumeira, infelizmente, nem sempre respeita
a estrita legalidade.
Após tudo o que fora exposto acima, vamos analisar dois modelos
sintéticos de relatório policial, respectivamente, um sem indiciamento do
suspeito e outro com.

3.2.1.  Modelo de relatório policial sem indiciamento (excludente de ilicitude)

RELATÓRIO POLICIAL

Meritíssimo(a) Juiz(íza), Vocativo

Trata-se de Inquérito Policial de nº _______, instaurado mediante __(citar peça inicial),


visando a averiguar as circunstâncias do fato típico capitulado, em tese, no artigo
_____ da Lei nº ________, perpetrado por ______________________ em desfavor de
________________________.

Contextualização

DOS FATOS APURADOS


Tal conduta típica fora praticada (expor o fato delituoso com todas as suas
circunstâncias, inclusive o local, a data, a hora, os meios de execução, os motivos e
as consequências) _________________________________________________________.

DAS PROVAS E DOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO


As testemunhas __________, dando maior credibilidade a essa sintética narrativa dos
fatos, contaram que _______________________.
Esses elementos subjetivos, supracitados, são corroborados por provas objetivas, quais
sejam: _(citar as provas cautelares, irrepetíveis ou antecipadas, colhidas no curso da
investigação, que corroboram a autoria e a materialidade do fato típico em apuração).
Pelo breve relato supracitado é possível perceber que houve a prática de um fato típico
por parte do ora investigado, qual seja o capitulado, em tese, no artigo _________ da
Lei nº _______.

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Adriano Costa & Laudelina Inácio Prática Policial Sistematizada

Entretanto, a apuração policial também constatou que existem incontestáveis


elementos acerca do amparo dessa conduta por uma causa excludente de ilicitude
(citar qual a excludente aplicável ao caso concreto). Portanto, é possível concluir que
o ora investigado praticara um fato típico, mas não ilícito, o que impede que falemos
na existência, aqui, de um crime.

Questão Incidental

DO NÃO INDICIAMENTO DO AUTOR DO FATO


Para um olhar desatento, até pode parecer que o delegado, ao analisar eventual
ocorrência concreta de causa excludente de ilicitude, estaria atropelando as
atribuições do Ministério Público (o qual detém a legítima opinio delicti). Com certeza,
nesse caso, não há qualquer usurpação de tarefas.
Em verdade, para que promovamos o indiciamento (ou não) do autor do fato, é
essencial que o delegado averigue se houve ou não um delito.
Importante lembrar que, sob qualquer conceito analítico de crime que estivéssemos a
aferir o fato em questão, não há que se falar em delito se a conduta não for ao menos
típica e ilícita.
Em epítome, deixaremos de indiciar o autor do fato por não estarem presentes
indícios da prática de crime algum. In casu, como dito anteriormente, visualizamos
um fato típico, mas não a ilicitude da referida conduta.
Entretanto, a Polícia Investigativa não se contentou com a análise da mera existência
de uma causa justificante no caso concreto (mencionar qual a excludente de
ilicitude), mas também buscou averiguar se houve eventual excesso nessa causa, ou
seja, se o(a) autor(a) do fato utilizou-se com moderação dessa conduta defensiva (ou
agressiva) permitida pelo Direito.
Para demonstrar ter havido proporcionalidade na conduta do(a) autor(a) do fato,
citamos (mencionar elementos que indicam moderação nos meios e na intensidade,
quando da conduta).
Essencial foi mostrarmos que houve detalhada análise sobre esse ponto em específico,
pois, se tivesse ocorrido excesso, a Autoridade Policial subscritora indiciaria o(a)
autor(a) do fato com base no teor do art. 23, parágrafo único, do Código Penal.
De posse de todo o exposto acima, com base na análise técnico-jurídica preconizada
no art. 2º, § 6º, da Lei nº 12.830/2013, deixamos de indiciar o Sr(a). _______________
_____________________ como incurso nas penas do fato ilícito em questão.

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peças iniciais da investigação policial: Capítulo 3
o auto de prisão em flagrante e a portaria

CONCLUSÃO
Por derradeiro, encaminhamos os autos do presente inquérito policial a Vossa Excelência
com a constatação de que, salvo melhor juízo, não há infração penal a se punir.
Não concordando com o que fora mencionado acima, requeremos que volvam os
autos a esta Autoridade Policial, com a respectiva dilação de prazo por ________
dias, consoante teor do art. 10, § 3º, do Código de Processo Penal, com menção
pormenorizada das diligências investigatórias que devem ser realizadas para o
deslinde do presente feito.
É o relatório.
Local e Data
Delegado(a) de Polícia

3.2.2.  Modelo de relatório policial com indiciamento

RELATÓRIO POLICIAL
Meritíssimo(a) Juiz(íza),
Trata-se de Inquérito Policial de nº _______, instaurado mediante __(citar peça inicial
– Portaria ou Auto de Prisão em Flagrante), visando a averiguar as circunstâncias do
fato típico capitulado, em tese, no artigo _____ da Lei nº ________, perpetrado por
_____________________________ em desfavor de __________________________.

DOS FATOS APURADOS


Tal conduta típica fora praticada (expor o fato delituoso com todas as suas
circunstâncias, inclusive o local, a data, a hora, os meios de execução, os motivos e
as consequências).

DAS PROVAS E DOS ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO


As testemunhas __________, dando maior credibilidade a essa sintética narrativa dos
fatos, contaram que _______________________.
Esses elementos subjetivos, supracitados, são corroborados por provas objetivas,
quais sejam: _(citar as provas cautelares, irrepetíveis ou antecipadas, colhidas no
curso da investigação, as quais corroboram a autoria e a materialidade da prática
criminosa em apuração).
Por todo o exposto, de acordo com os elementos de convicção pinçados acima, inegável
que há fortes indícios acerca do envolvimento do suspeito na empreita criminosa em
apuração, ficando delineadas, inclusive, as demais circunstâncias da prática criminosa,
quais sejam: (pormenorizar circunstâncias da prática criminosa, inclusive as que figurem
como majorantes, como minorantes, como qualificadoras e como privilégio etc.).

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Adriano Costa & Laudelina Inácio Prática Policial Sistematizada

DO INDICIAMENTO
Então, com fundamento em análise técnico-jurídica sobre tudo o que fora
mencionado acima, nos termos do art. 2º, § 6º, da Lei nº 12.830/2013, indiciamos o(a)
Sr(a) ______________________________ pela prática da conduta tipificada, em tese,
no artigo ________ da Lei nº ________________.

DOS OBJETOS VINCULADOS AO INQUÉRITO


Ademais, em relação aos objetos vinculados à presente investigação, informamos que
os produtos do crime foram restituídos à vítima, mediante termo de entrega (às fls.).
Em relação ao instrumento do crime, qual seja o(a) _________________, em razão de
ter sido encaminhado para realização do exame pericial previsto no art. 175 do Código
de Processo Penal, o qual ainda pende de resultado, não será possível sua remessa
imediata ao Poder Judiciário, nos termos do art. 11 do Código de Processo Penal.

CONCLUSÃO
Em arremate, encaminham-se os presentes autos de inquérito policial a Vossa
Excelência, com fulcro no art. 10, §  1º, do Código de Processo Penal, com a
solicitação de dilação de prazo (nos termos do art. 10, § 3º, do CPP) para a realização
das diligências pendentes, dentre elas a oitiva da testemunha _______________,
a qual pode ser encontrada em _______________________.
É o relatório.

Local e Data
Delegado(a) de Polícia

3.3.  ASPECTOS GERAIS DA REPRESENTAÇÃO POLICIAL

P or mais que a autoridade policial não seja parte da ação penal que
futuramente será intentada em desfavor do investigado, a legislação
concede ao delegado a faculdade de provocar o Poder Judiciário no que
tange à decretação de algumas medidas essenciais à persecução penal.
Nessa senda, citamos as medidas cautelares pessoais, as assecuratórias e
as probatórias, as quais serão melhor esmiuçadas nos tópicos a seguir.
A lei confere essa atribuição ao delegado por acreditar que, sendo ele
a primeira autoridade jurídica a tomar pé dos fatos criminosos ocorridos,
poderá agir de forma mais eficaz e rápida (do ponto de vista da persecução
penal) até mesmo do que o próprio titular da ação penal.
É por meio de uma representação policial que o delegado de Polícia
incita a deliberação do magistrado sobre essas medidas, e não por meio
de um ofício. Isso precisa ficar claro, pois o candidato que optar por

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peças iniciais da investigação policial: Capítulo 3
o auto de prisão em flagrante e a portaria

representar à autoridade judiciária por meio de um ofício fustigará a boa


técnica e provavelmente será eliminado do certame que estiver a prestar.
Não obstante o exposto acima, mesmo que seja inconteste a função da
representação policial no contexto da persecutio criminis, não pode ela ser
confundida com o requerimento das partes acusadoras (ministério público
e querelante).
No caso do requerimento, por ser originário de uma parte da futura
ação penal, é possível haver a interposição de recurso caso o pleito
seja indeferido pelo juiz. Na hipótese de ocorrer o indeferimento da
representação formulada pelo delegado de Polícia, isso não será possível.
De tal sorte, por mais que a autoridade policial possa provocar o
magistrado a decretar uma medida (nos casos em que a lei assim permite),
se esse pleito não for atendido, não caberá qualquer recurso7 a ser
interposto pela referida autoridade, já que ela não tem essa capacidade
postulatória em juízo.
É claro que, no caso de indeferimento da representação policial, não há
qualquer vedação ao pedido de reconsideração formulado pelo delegado
de Polícia. Além disso, não há nada que impeça (com base em fatos novos)
uma nova representação policial. Entretanto, essas duas possibilidades não
podem ser confundidas com o pedido de reforma da decisão denegatória
anterior (recurso), faculdade esta cabível somente às partes.
Pois bem, após esse breve introito, passaremos a analisar alguns pontos
que devem ser abordados quando da confecção de uma representação
policial. Vamos lá! O primeiro ponto é que deve ser feito, sempre que
possível, um cabeçalho que indique o endereçamento da peça ao magistrado
com atribuição para decidir sobre o pedido.
Por óbvio, se o examinador não tiver mencionado nada acerca do juízo
competente, não há que se inventar nenhum dado sobre isso. Nesse caso,
recomendável que se deixem lacunas para evitar a identificação da peça.
Ademais, os outros tópicos (do vocativo, da contextualização, dos
fatos apurados e das provas e dos elementos de informação) devem ser
preenchidos atendendo-se à estrutura ditada no item anterior (relatório
policial).

7  A doutrina diz que o parecer favorável do Ministério Público acerca da representação formulada pelo
delegado de polícia é suficiente para legitimar o Parquet a recorrer em caso de suposta denegação de tal
pleito. Curioso, então, é que, mesmo sem que tenha o pedido saído das mãos de um promotor, haveria a
possibilidade de recurso, com base somente em um parecer opinativo por ele exarado. Em outros termos,
é como se esse parecer se equiparasse a um requerimento dele acerca da mesma medida.

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Adriano Costa & Laudelina Inácio Prática Policial Sistematizada

Quanto à fundamentação jurídica para a decretação de uma ou outra


medida, é necessário que o delegado entenda que terá que trabalhar dois
blocos distintos. O primeiro bloco conterá os fundamentos atinentes aos
aspectos legais que devem estar presentes no caso concreto para que
aquela medida pleiteada seja conferida pelo magistrado (fundamentos
para decretação); já o segundo bloco conterá os dispositivos legais que
legitimam o delegado a pedir aquela medida em específico (fundamentos
de legitimação8).
Esses dois grupos de fundamentos podem ser colocados em um tópico
único, nominando-o “da fundamentação legal”, o qual se situaria entre as
Provas e os Elementos de Informação e o Pedido. Há manuais, contudo, que
ensinam que a fundamentação para a decretação da medida e os requisitos
de legitimação deveriam ser mencionados dentro do tópico dos pedidos.
Por fim, há quem prefira conjugar essas duas formatações (o nosso caso).
De uma ou de outra forma, o aluno não errará! É só uma questão de opção.
Na verdade, pouco importa a estrutura adotada na peça, desde que essas
duas fundamentações se façam presentes.
Não se pode esquecer que outras questões incidentais também podem
ser alocadas no bojo da referida representação, consoante veremos no
modelo adiante.
Ao final da peça, o candidato deverá finalizar a representação com os
derradeiros pedidos, fechando seu trabalho apondo a data e a assinatura.
É claro que, no caso de peça prática para certames públicos, o candidato
deve se abster de assinar a peça, fazendo, unicamente, menção ao seu
pretenso cargo: Delegado(a) de Polícia.
Vejamos, agora, um modelo de uma representação policial para facilitar
o aprendizado sobre os ensinamentos supracitados.

8  Para exemplificar o que estamos a narrar, citamos o artigo 144, §4º, da Constituição Federal, o artigo
13, inciso IV, e o artigo 311, do Código de Processo Penal. Esses três dispositivos legitimam o delegado a
representar pela decretação da prisão preventiva. Não há nesses dispositivos enfoque direto nos requisitos
para a decretação da medida (requisitos de decretação), mas somente dados sobre quem seria legitimado
para requerê-la. Vejamos: Artigo 144. § 4º, da Constituição Federal: – às polícias civis, dirigidas por
delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia
judiciária e a apuração de infrações penais, exceto os militares. Art.  13.  Incumbirá ainda à autoridade
policial: IV – representar acerca da prisão preventiva. (Código de Processo Penal) Art. 311.  Em qualquer
fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão preventiva decretada pelo juiz, de
ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento do Ministério Público, do querelante ou do assistente,
ou por representação da autoridade policial. (Código de Processo Penal).

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