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05/02/2024

EMENTA: Nulidades (Teoria Geral e Nulidades em Espécie), Recursos (Teoria Geral e


Recursos em Espécie) e Ações Autônomas (Revisão Criminal, Habeas Corpus e Mandado
de Segurança).
NULIDADES
O ordenamento jurídico prevê regras que devem ser observadas para que determinado
ato seja considerado válido (ato jurídico perfeito).
Conforme o grau de desrespeito ao ordenamento, temos quatro categorias:
a) Meras irregularidades;
b) Nulidades relativas;
c) Nulidades absolutas;
d) Ato inexistente;
As regras gerais sobre nulidades estão previstas nos arts. 563 a 573 do CPP, com exceção
do art. 564 que traz as nulidades em espécie.
MERAS IRREGULARIDADES
Ocorrem quando existir defeitos de mínima relevância para o processo, que não afeta a
validade do ato. Ocorre geralmente nas hipóteses de falhas materiais irrelevantes, que
permite compreender o texto correto, bem como quando a irregularidade não traz
consequência relevante a princípio processual ou constitucional. Não cabe recurso nas
hipóteses de meras irregularidades.
NULIDADES
São classificadas em duas categorias, absolutas e relativas e têm como características a
produção de efeitos do ato enquanto não houver decisão que reconheça a nulidade.
Haverá nulidade absoluta quando:
a) Ocorrer violação de norma cogente que proteja interesse público;
b) Quando o ato violar princípio constitucional (regra);
c) Tem como característica o fato de poder ser declarada de ofício ou mediante
invocação da parte interessada;
d) O prejuízo é presumido, ou seja, não exige sua comprovação, pois em tese o ato
não atinge seus fins;
e) Esta nulidade é insanável, pois não se convalida, não sendo alcançada pela
preclusão ou afastada pelo trânsito em julgado.
Prevalece o entendimento que a nulidade absoluta em razão da sua gravidade não
prejudica apenas as partes, mas todo o processo.
As nulidades relativas ocorrem também em desrespeito ao ordenamento jurídico vigente,
mas cujas consequências são de menor gravidade, repercutindo somente nas partes.
Portanto, essa nulidade viola norma que protege interesse privado, essencialmente
interesse das partes.
Há divergência na doutrina e na jurisprudência sobre a possibilidade de seu
reconhecimento de ofício, sendo pacífica a possibilidade de reconhecê-la quando
alegada por uma das partes.
Esta forma de nulidade admite convalidação, ou seja, se não alegada em momento
oportuno (art. 571 do CPP), será considerado afastado o prejuízo para a parte.
A nulidade relativa exige demonstração do prejuízo sofrido, conforme art. 563 do CPP
(somente se aplica nas nulidades relativas, e não das nulidades absolutas).
ATO INEXISTENTE
Ocorre quando o ato praticado possuir defeito tão grave que se torna aquela realização
como um ato que não existiu. Também recebe o nome de “não atos” ou fantasmas
verbais. Exemplos: sentença prolatada pelo escrevente.
A principal diferença do ato inexistente para o ato nulo é que o primeiro não deve
produzir efeitos e sequer exige uma declaração judicial para que seja afastada.
NULIDADES EM ESPÉCIES
ART. 564 DO CCP
CASOS DE INCOMPETÊNCIA, SUSPEIÇÃO OU SUBORNO DO JUIZ
Quando a nulidade se referir à incompetência em razão da matéria, temos nulidade
absoluta. Caso a incompetência ocorra em desrespeito ao art. 70 do CPP (competência
territorial), haverá nulidade relativa e, portanto, se não alegada na primeira oportunidade
teremos a convalidação da nulidade.
Também haverá nulidade nos casos de suspeição, os quais estão previstos no art. 254 do
CPP. Também haverá nulidade quando restar demonstrado que o magistrado obteve
qualquer vantagem ou aceitou para adotar determinada decisão.
ILEGITIMIDADE DE PARTE
Haverá nulidade por ilegitimidade de parte, seja do polo passivo ou ativo da relação
processual. Se o autor da ação não pode figurar como subscritor da inicial, faltar-lhe-á
legitimidade, e, portanto, deverá o juiz rejeitar a exordial, conforme inciso II do art. 395 do
CPP.
Também não pode figurar como réu o menor de 18 anos e aquele que não tenha sido o
agente criminoso do fato apurado.
“Pas de nullité sans grief”: art. 563, CPP (não há nulidade sem prejuízo).
Haverá nulidade pela falta de preenchimento dos requisitos legais, ou ter ausência das
seguintes peças.
Considera-se nulo no processo quando for iniciado sem a apresentação de denúncia ou
queixa, bem como quando não forem preenchidos os requisitos da inicial previstos no
art. 41 do CPP.
Determinados ilícitos penais exigem como condição de procedibilidade (autorização para
o Delegado de Polícia e o MP atuarem) manifestação inequívoca de representação da
vítima e de seu representante legal da vítima e que deseja a responsabilização do agente
criminoso.
A representação é ato jurídico não solene, significa que não têm requisitos legais para sua
validade, devendo apenas ser uma manifestação inequívoca do interesse na punição do
criminoso. Portanto, a falta de representação ou na eventualidade do ato não deixar
evidente a intenção de punição do acusado, acarretará nulidade.
A falta de representação quando exigida por lei, é causa de rejeição da inicial, conforme
inciso II do art. 395 do CPP.
NULIDADES CONFORME O STF E O STJ
- Não se admite condenação baseada exclusivamente em declarações informais
prestadas aos policiais no momento da prisão em flagrante. Exemplo: Caso Miranda.
- É desnecessária a comprovação de prejuízo para o reconhecimento da nulidade
decorrente da não observância do rito previsto no art. 400 do CPP, o qual determina que
o interrogatório do acusado seja o último ato a ser realizado.
- Para o STF, a inquirição direta da testemunha pelo juiz gera nulidade relativa na
audiência de instrução e julgamento.
- Não há ausência de defesa, não cabendo cogitar nulidade absoluta, quando a
sustentação oral possui curta duração (apenas 3 minutos), sendo necessária a
demonstração de efetivo prejuízo.
- É imprescindível que durante o interrogatório do réu delator, além do seu advogado,
esteja presente o advogado do réu que será delatado.
- A ausência do defensor validamente intimado da realização da sessão de julgamento
não acarreta, por si só, a nulidade do processo.
- De acordo com o art. 403 do CPP, o prazo legal para a apresentação de alegações finais
é comum aos corréus, entretanto, se algum deles tiver firmado acordo de colaboração
premiada, é direito do réu não colaborador a apresentação de suas alegações finais
depois dos réus colaboradores. No mesmo sentido, o parágrafo 10-A, do art. 4° da Lei n°
12.850/2013, que garante que o réu delatado, em todas as fases processuais, seja ouvido
após o réu delator.
19/02/2024
NULIDADES
1. CLASSIFICAÇÃO
1.1 NULIDADE ABSOLUTA:
a) Interesse violado: A nulidade absoluta viola interesse público.
b) Prejuízo: Pelo princípio do pas de nulité sans grief (não há nulidade sem prejuízo),
nenhum ato será declarado nulo, se da nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou
para a defesa (art. 563, CPP).
Em se tratando de nulidade absoluta, o prejuízo é presumido (desnecessária a
comprovação do prejuízo). Há uma inversão do ônus da prova, razão pela qual a parte
que argui a nulidade está dispensada de demonstrar o prejuízo.
* Sem embargo do entendimento doutrinário de que o prejuízo é presumido, o STF possui
diversos precedentes no sentido de que o prejuízo deve ser comprovado pela parte
interessada, mesmo nas hipóteses de nulidade absoluta. (STF, 2ª Turma, RHC 110.623/DF;
STF, 1ª Turma, HC 107.769).
Portanto, na doutrina majoritária prevalece o entendimento que na nulidade absoluta o
prejuízo é presumido, não havendo a necessidade de comprovação. No entanto, há
posicionamentos em nossas Cortes Superiores (STF e STJ) de que o prejuízo deve ser
comprovado, mesmo nas hipóteses de nulidade absoluta.
c) Momento de arguição: Pode ser arguida a qualquer momento, mesmo após o trânsito
em julgado da sentença condenatória. Nessa hipótese, deve-se utilizar a “Revisão
Criminal”. Ressalta-se que a revisão criminal só é possível em casos de sentença penal
condenatória, e não absolutória. Nesse caso, a nulidade absoluta se convalida (torna
válido ato jurídico a que faltavam certos requisitos legais), uma vez que não é “pro
societate” e sim “in dubio pro reo”.
1.2 NULIDADE RELATIVA:
a) Interesse violado: A nulidade relativa viola norma de natureza infraconstitucional que
tutela interesses preponderantes das partes.
b) Prejuízo: O reconhecimento da nulidade relativa está condicionado à comprovação do
prejuízo decorrente da inobservância da forma prescrita em lei (art. 563, CPP). PS: Não há
discordância em relação a doutrina e jurisprudências, a regra é de que o prejuízo deve ser
comprovado.
c) Momento de arguição: A nulidade relativa deve ser arguida no momento oportuno (art.
571, CPP), sob pena de preclusão e, consequentemente, convalidação da nulidade. Deve
ser arguida no primeiro momento processual em que a parte prejudicada se manifeste
nos autos.
2. NULIDADES EM ESPÉCIE
2.1 INTRODUÇÃO
O art. 564 do CPP traz um rol exemplificativo de nulidades, ora de natureza absoluta, ora
de natureza relativa.
2.2. ARTIGO 564, CPP
2.2.1. Incompetência (art. 564, I do CPP)
A incompetência absoluta é causa de nulidade absoluta. Assim, pode ser arguida a
qualquer momento e o prejuízo é presumido. Por outro lado, a incompetência relativa é
causa de nulidade relativa, razão pela qual deve ser arguida no momento oportuno
(resposta à acusação), sob pena de preclusão e o prejuízo deve ser comprovado.
2.2.2. Suspeição (art. 564, I do CPP)
As causas de suspeição estão previstas no artigo 254 do CPP, que traz um rol de
circunstâncias subjetivas relacionadas a fatos externos ao processo capazes de prejudicar
a imparcialidade do magistrado. Há controvérsia sobre a natureza da nulidade.
2.2.3. Suborno (art. 564, I do CPP)
Não existe um conceito técnico de suborno. Assim, a expressão tem sido compreendida
como a possível prática do crime de concussão, de corrupção passiva e, até mesmo, de
prevaricação. Trata-se de hipótese de nulidade absoluta.
Concussão: Art.316 - Exigir, para si ou para outrem,direta ou indiretamente, ainda que fora
da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida: Pena - reclusão,
de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Prevaricação: Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou
praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento
pessoal: (Vide ADPF 881) Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.
2.2.4. Ilegitimidade (art. 564, II do CPP)
Legitimidade é condição da ação penal. É causa de rejeição da denúncia ou queixa-crime
(art. 395, II do CPP). A ilegitimidade ativa ou passiva é causa de nulidade absoluta.
2.2.5. Falta da denúncia, da queixa, da representação e da requisição do Ministro da
Justiça (art. 564, III, “a” do CPP)
A parte final do dispositivo (portaria ou auto de prisão em flagrante), não foi recepcionada
pela CF/88, pois esta adotou o sistema acusatório, sendo inconstitucional o chamado
processo judicialiforme.
Trata-se de hipótese de nulidade absoluta. Ocorre apenas nas hipóteses de ausência das
peças processuais ali elencadas. Quando tais peças, embora presentes, não preencham
os requisitos legais, deve ser aplicado o disposto no art. 564, IV do CPP, que se refere à
omissão de formalidade que constitua elemento essencial do ato.
Ex.: Estelionato passou a ser, em regra, crime de ação penal pública condicionada à
representação. Se a ação for iniciada sem a representação, haverá esta nulidade.
2.2.6. Ausência de exame de corpo de delito (art. 564, III, "b" do CPP)
O exame de corpo de delito é diligência obrigatória naqueles delitos que deixam vestígios
(delitos não transeuntes), sob pena de nulidade relativa. Assim, deve ser alegado
oportunamente, sob pena de preclusão.
É dispensável o exame quando houverem desaparecidos os vestígios e os demais
elementos probatórios suprirem a falta.
CPP. Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
CPP. Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido
os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.
Lesões corporais ocorridas no âmbito de violência doméstica e familiar contra a mulher
O exame de corpo de delito poderá, em determinadas situações, ser dispensado para a
configuração de lesão corporal ocorrida em âmbito doméstico, na hipótese de
subsistirem outras provas idôneas da materialidade do crime.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 2.078.054-DF, Rel. Min. Messod Azulay Neto, julgado em
23/5/2023 (Info 777).
04/03/2024
* Professor não passou o material desta aula (princípios dos recursos no Processo Penal)
11/03/2023

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