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Vícios dos Atos Processuais

1. INTRODUÇÃO
Antes de adentrarmos o conceito de ato processual, fundamental relembrar o conceito de ato
jurídico strictu sensu, matéria classicamente vinculada ao direito civil.
Segundo Marcos Bernardes de Mello[1], ato jurídico stricto sensu é um “fato jurídico que tem
por elemento nuclear do suporte fático a manifestação ou declaração unilateral de vontade
cujos efeitos jurídicos são prefixados pelas normas jurídicas e invariáveis, não cabendo às
pessoas qualquer poder de escolha da categoria jurídica ou de estruturação do conteúdo das
relações respectivas”.
O ato processual é uma espécie de ato jurídico, uma vez que a lei estabelece determinada
forma para a sua prática, cujo desrespeito pode gerar sua ineficácia, nulidade ou inexistência. O
vício do ato processual ocorre, portanto, quando existir a inobservância das determinações
legais a ele relacionados, cujas consequências de tal imperfeição dependerá diretamente de
sua gravidade, além da própria natureza do ato processual.
Para a correta análise do ato processual, devem ser examinados os três planos concebidos
pelo grande jurista Pontes de Miranda, através de sua teoria denominada “Escada Ponteana”:
a existência, a validade, e a eficácia.
O plano da existência refere-se aos fatos jurídicos, e deve ser o primeiro a ser analisado, uma
vez que, se o ato processual não existir juridicamente, pela lógica, não poderá ter qualquer
validade, uma vez que não pode ter validade algo que sequer existe. Apesar da impossibilidade
de um ato processual inexistente ter validade, é plenamente possível que haja eficácia, como se
existente e válido fosse; somente sendo cessada tal eficácia quando da declaração judicial do
vício.
Para ilustrar esta possibilidade, imaginemos uma sentença proferida por um juiz aposentado,
ato processual inexistente, uma vez que faltou o pressuposto processual subjetivo da
investidura. A parte vencedora poderá executar tal sentença, e caso o executado não se
manifeste requerendo a declaração de inexistência do ato, é possível imaginar tal execução
chegando ao seu final com a satisfação do direito do exequente.
O plano da validade diz respeito à eficiência com que o cumprimento dos requisitos legais para
sua prática tenha sido preenchido. O ato inválido é o ato viciado, que não vale em razão de sua
imperfeição formal, mas que pode gerar efeitos.
O sistema das invalidades processuais, lembra Fredie Didier Jr.[2], é construído para que não
haja invalidades. A nulidade de um ato processual ou do procedimento é encarado pelo direito
processual como algo nocivo. A invalidação do ato deve ser vista como a última opção, tomada
apenas quando não for possível ignorar o defeito, aproveitando o ato praticado, ou aceitar o ato
como se fosse outro (fungibilidade), ou, enfim, determinar sua correção.
Finalmente, quanto ao plano da eficácia, importante consignar que todo ato processual
defeituoso produz efeitos até a decretação da sua invalidade, inexistindo, portanto, invalidade
processual de pleno direito, como ocorre nas invalidades do direito civil.

2. VÍCIO E NULIDADE
Não se pode confundir o vício do ato processual com o efeito consequente de sua presença,
qual seja, a sua nulidade. Em síntese, ato viciado é o que se vê, enquanto o ato anulado
decorre do reconhecimento do defeito pelo magistrado, com a consequente destruição do ato. O
primeiro é o ato defeituoso, enquanto o segundo é o ato defeituoso atingido pela nulidade.
Apesar de ser esta a regra do sistema processual, nem sempre um ato defeituoso gerará sua
nulidade, isso porque o próprio sistema pode excluir determinadas espécies de vícios do âmbito
das nulidades, como ocorre com os defeitos mínimos chamados de meras irregularidades, que
apesar de tornar o ato defeituoso, não gera sua nulidade.
É a gravidade do dano causado pela irregularidade que determinará a forma pela qual a
nulidade será procedimentalmente tratada, indicando quem poderá alega-la, em qual momento,
de que maneira, etc. As diferentes espécies de vícios podem gerar, ou não, a nulidade do ato
processual.
Fica evidente, portanto, a diferença entre o objeto (ato viciado) e seu efeito (nulidade).

3. CLASSIFICAÇÃO
Existem diversas causas de invalidade processual e o tratamento procedimental de invalidação
dos atos nem sempre é o mesmo. Desse modo, é necessário distinguir os diferentes tipos de
defeitos processuais, de modo a permitir diferentes tratamentos procedimentais de aplicação de
invalidação.
Considerando a gravidade do vício e a natureza do ato processual, a doutrina majoritária divide
os defeitos do ato jurídico em quatro categorias: meras irregularidades, nulidades
relativas, nulidades absolutas e inexistência.

4. MERA IRREGULARIDADE
Os vícios classificados como meras irregularidades são aqueles que possuem um menor nível
de gravidade, estando relacionados com a inobservância de regra não relevante,
superficialmente formal, que não guarda qualquer relação com a produção do resultado
pretendido, não gerando, portanto, qualquer prejuízo às partes ou ao processo.
Este vício não gera a nulidade do ato processual, permanecendo plenamente válido e eficaz.
Isso não significa que não existam outras sanções aplicáveis na ocorrência de tal defeito
processual. Em determinadas situações, esta imperfeição pode gerar sanções na esfera da
responsabilidade civil ou certas punições disciplinares a juízes, auxiliares da justiça, partes, ou
mesmo ao advogado.
São exemplos de meras irregularidades a utilização de língua estrangeira nas petições, desde
que não torne a petição incompreensível, rasuras sem a devida ressalva, desde que for possível
concluir pela sua inequívoca autenticidade.

5. NULIDADE RELATIVA
A lei prevê a forma com que determinados atos processuais deverão ser praticados, em
cumprimento a garantia constitucional do devido processo legal, o que traz segurança jurídica
aos litigantes, possibilitando a previsibilidade (efeito) de cada ato possível de ser praticado em
um determinado momento. A nulidade relativa do ato processual é encontrada quando o
litigante não observa a forma legal exigida para o ato, resultando na possibilidade de sua
anulação.
Seu reconhecimento depende da alegação oportuna e adequada da parte interessada em ver
tal nulidade declarada, sob o risco de ter seu direito precluso em caso de omissão,
convalidando, consequentemente, o vício. A nulidade relativa não deve ser reconhecida de
ofício, devendo o juiz aguardar a manifestação da parte interessada, que, se não ocorrer nas
formas e prazo determinados pela lei, fará com que o ato relativamente nulo gere os efeitos
eternamente como se fosse regular.
A declaração de nulidade relativa deve seguir alguns requisitos.
O primeiro deles está disposto no artigo 276 do Código de Processo Civil , que determina que
somente a parte inocente, ou seja, aquela que não realizou o ato viciado, poderá requerer sua
anulação.
O segundo requisito se relaciona com o interesse da parte na decretação da nulidade, em
situações em que sua decretação a prejudique, não trazendo nenhum benefício pessoal. O
artigo 282, § 2º, do Código de Processo Civil , indica a possibilidade de o juiz não declarar a
nulidade relativa de algum ato, mesmo que imperfeito, quando puder decidir o mérito em favor
da parte a quem aproveite a decretação da nulidade.
O terceiro e último requisito diz respeito ao momento em que a nulidade relativa deve ser
indicada, requerendo-se sua decretação. Segundo o artigo 278 do Código de Processo Civil , a
nulidade dos atos deve ser alegada na primeira oportunidade em que couber à parte falar nos
autos, sob pena de preclusão. Isso significa que se a parte inocente não requerer a decretação
da nulidade no primeiro prazo para sua manifestação, perderá o direito de fazê-lo em razão da
preclusão, convolando o ato viciado em ato absolutamente regular.

6. NULIDADE ABSOLUTA
O vício que gera a nulidade absoluta consiste no ato praticado em desrespeito a exigências
formais que têm como objetivo a preservação do correto e regular funcionamento da máquina
jurisdicional, que busca preservar algo superior ao interesse das partes, como a Justiça e a boa
administração jurisdicional.
Enquanto a nulidade relativa somente será conhecida quando a parte interessada a requerer na
primeira oportunidade que tiver para se manifestar nos autos, desde que não tenha dado causa
ao vício, já na nulidade absoluta, justamente porque ligadas às matérias de ordem pública, deve
ser decretada de ofício a qualquer momento do processo pelo juiz, independentemente de
manifestação da parte nesse sentido.
Da mesma forma, admite-se, a qualquer momento do processo, a manifestação da parte nesse
sentido, inclusive daquele que foi causador da nulidade.
Durante o trâmite do processo, o vício apto a gerar a nulidade absoluta não é atingido pela
preclusão, podendo a qualquer momento ser declarado. Contudo, existe importante corrente
doutrinária que limita temporalmente essa declaração de nulidade absoluta às instâncias
recursais ordinárias, entendendo que em sede de recurso extraordinário e especial, os tribunais
superiores somente poderão se manifestar sobre uma nulidade absoluta se a mesma tiver sido
objeto de pré-questionamento.
Em determinadas situações, até mesmo depois de encerrado o processo, a decretação da
nulidade continua a ser possível por meio de ação rescisória, mas nesse caso a nulidade
absoluta terá se transformado em vício de rescindibilidade, considerando-se que o trânsito em
julgado é a sanatória geral das nulidades, inclusive das nulidades absolutas.
Em regra, a nulidade absoluta que se transformou em vício de rescindibilidade após o trânsito
em julgado atinge a estabilidade definitiva com o decurso do prazo de dois anos da ação
rescisória, em fenômeno conhecido como “coisa julgada soberana”.
Existem nulidades absolutas tão graves, tão ofensivas ao sistema jurídico, que a sua
manutenção é algo absolutamente indesejado; surgem os chamados vícios transrescisórios,
que apesar de serem situados no plano da validade não se convalidam, podendo ser alegados
a qualquer momento, caso da citação com vício ou inexistente.

7. INEXISTÊNCIA JURÍDICA
Trata-se do mais grave dos vícios, tornando o ato inexistente por lhe faltar elemento constitutivo
mínimo, sendo impossível até mesmo reconhece-lo como ato processual.
Apesar do ato existir faticamente, ele não existe juridicamente, por mais que eventualmente
possa gerar efeitos antes de sua declaração.
Diferentemente das nulidades relativas e absolutas, o vício que gera a inexistência do ato não
se convalida jamais, podendo ser reconhecido na constância da demanda e após seu
encerramento, independentemente de prazo, por meio de mera ação declaratória de
inexistência de ato jurídico.
Esta é a principal diferença entre a nulidade absoluta e a inexistência jurídica, porque no
primeiro caso, ainda que no processo exista uma nulidade absoluta, haverá o trânsito em
julgado e, não sendo interposta a ação rescisória no prazo de dois anos, o vício se convalida
definitivamente, enquanto a decisão proferida em processo que seja juridicamente inexistente,
ou conte com o ato juridicamente inexistente que a contamine, não se convalida, podendo o
vício ser alegado a qualquer momento.
8. EFEITO EXPANSIVO E CONFINAMENTO DAS NULIDADES
O tratamento de como se aplica tal efeito expansivo vem previsto no art. 281 do CPC, que prevê
que, anulado o ato, reputam-se de nenhum efeito todos os atos subsequentes, que dele
dependam; todavia, a nulidade de uma parte do ato não prejudicará as outras que dela sejam
inocentes.
A primeira observação é a indicação de que somente os atos subsequentes serão reputados
sem efeito, preservando-se dessa forma os atos antecedentes ao ato nulo. É o que ocorre
quando, anulado um processo em que a citação tenha sido considerada viciada, preserva-se a
petição inicial, ato praticado antes da citação viciada.
A segunda regra que pode ser deduzida do artigo legal é a existência de que entre os atos
exista alguma relação de subordinação, sendo possível imaginar uma situação em que os atos,
apesar de subsequentes, não sejam atingidos pela anulação de um ato processual anterior. A
imperfeição na citação ou a ausência do Ministério Público quando exigida sua participação
anulam o processo desde o início, preservando-se somente a petição inicial e a decisão que
determina a citação do réu. Nesse caso, todo o procedimento desenvolvido após esse momento
inicial será anulado, sendo inegável a contaminação de todos os atos processuais.
Pode ocorrer, no entanto, de o ato processual viciado não guardar relação de subordinação com
outros atos processuais que tenham sido praticados posteriormente a ele, o que, em razão da
aplicação do princípio da economia processual, gerará a manutenção de tais atos. É o caso de
ato processual ligado a determinados incidentes processuais, que teria o condão de somente
anular, pelo efeito expansivo, os atos praticados nesse incidente, mantendo-se intactos aqueles
praticados no processo principal.
No que tange à segunda parte do dispositivo legal, ou seja, ao confinamento da nulidade a
apenas parte do ato em que se verificou a nulidade, trata-se de norma a ser aplicada dos atos
complexos, na tentativa de preservação do quanto possível do ato.
Havendo uma unidade meramente formal do ato, é possível que apenas um dos capítulos do
ato seja defeituoso, e, não havendo relação entre tal capítulo considerado viciado com outros
tidos como sadios, a anulação deve se limitar ao primeiro. É o caso típico da decisão saneadora
do processo, na qual as atividades do juiz se dividem entre a tentativa de conciliação,
saneamento de irregularidades pendentes, fixação dos pontos controvertidos e determinação
dos meios de prova. Em regra, entretanto, somente será aplicável se as decisões contiverem
capítulos independentes entre si e autônomos.
Em razão de depender do caso concreto os limites do efeito expansivo da decretação de
nulidade, o art. 282, caput, do CPC obriga o juiz a declarar, quando pronuncia a nulidade de um
ato, quais atos serão atingidos por ela.

[1] MELLO, Marcos Bernardes de. Teoria do fato jurídico. Plano da existência. 7ª ed. São Paulo:
Saraiva, 1995. P. 137
[2] DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil,
parte geral e processo de conhecimento. 17ª ed. Salvador: Jus Podivm, 2015.

Condições e Elementos da Ação


DIREITO PROCESSUAL CIVILTUTELAS JURISDICIONAL

Condições e Elementos da Ação


Publicado por Joao Manoel Souza dos Santos Reigota
há 3 anos
1. Introdução

Para que possamos melhor entender o que são as condições da ação, se faz necessário
explicitarmos o conceito de processo. O processo é uma série de atos, praticados pelas partes e
pelo juiz, que se inicia com a propositura da ação e vai até o provimento jurisdicional.

O processo, sendo uma série de atos sistematizados, sujeita-se a requisitos e condições


que são indispensáveis à sua validade e eficácia. Devem ser observados, para a validade do
processo, os pressupostos processuais, que são requisitos de estabelecimento e
desenvolvimento válidos do processo, a exemplo da capacidade da parte, da representação por
advogado, da competência do juízo e da forma adequada do procedimento.

Se os pressupostos processuais não forem observados, o processo não terá viabilidade e


não será capaz de prestar a tutela jurisdicional. Portanto, os pressupostos processuais fazem
parte do plano de validade da relação processual.

Observados os requisitos de validade do processo, deve-se verificar se o processo é eficaz


para atingir uma tutela jurisdicional adequada e satisfatória. Para que a relação processual seja
eficaz, é necessário que estejam presentes as condições da ação, que são os requisitos a serem
preenchidos, após o processo ser regularmente instituído, para que o juiz possa proferir a
sentença com resolução do mérito. Portanto, as condições da ação fazem parte do plano da
eficácia da relação processual.

Diante do exposto, podemos inferir que os pressupostos processuais não se confundem


com as condições da ação, pois estas são requisitos de eficácia, enquanto aqueles são requisitos
de validade do processo.

Segundo o art. 485, IV, do CPC, ocorrerá a extinção do processo sem resolução do mérito,
quando os pressupostos processuais não estiverem presentes. A inexistência das condições da
ação também tem como conseqüência a extinção do processo sem o julgamento de mérito,
conforme o art. 485, VI, do CPC.

Diante do que foi apresentado, podemos asseverar que a jurisdição, o processo e a ação
compõem a estrutura do direito processual civil, sendo três elementos indissociáveis.

2. Natureza jurídica das condições da ação

Existem duas correntes doutrinárias acerca da natureza jurídica das condições da ação.
Uma dessas correntes afirma que elas se unem ao mérito da causa, só havendo o binômio
pressupostos processuais - mérito. A outra corrente defende que elas se encontram em uma
posição intermediária entre os pressupostos processuais e o mérito da causa, havendo, assim,
um trinômio pressupostos processuais – condições da ação – mérito.

O CPC/2015 adotou, de forma implícita, a teoria do trinômio, que também é preferida pela
maioria dos doutrinadores, pois o CPC dispôs acerca dos pressupostos processuais, das
condições da ação e do mérito da causa, como entes autônomos e distintos.

3. Condições da ação disciplinadas pelo CPC


O CPC/2015, em seu art. 17, estatui duas condições da ação: para postular em juízo é
necessário ter interesse e legitimidade.

Por conseguinte, as condições para o exercício do direito de ação são: o interesse de agir
e a legitimidade da parte.

O interesse de agir, ou interesse processual, é instrumental e secundário, surgindo da


necessidade de se proteger, por meio da relação processual, o interesse substancial. O interesse
processual não se confunde com o interesse substancial, uma vez que este é o direito que se
afirma pertencer ao autor da ação, enquanto aquele é o meio para que seja exercida a tutela do
interesse primário ou substancial.

O interesse processual deve ser composto pelo binômio necessidade-adequação, já que a


presença desse binômio é indispensável para que a parte obtenha a sentença de mérito.

A necessidade do interesse processual quer fizer que o processo deve atuar para garantir
a aplicação do direito objetivo no caso concreto, pois a máquina judiciária só pode ser posta em
movimento se há uma pretensão e, se não houvesse a tutela jurisdicional, a parte sofreria um
prejuízo.

Além da necessidade do interesse de agir, é necessário que a tutela jurisdicional seja útil
para evitar a lesão alegada pela parte, pois, se a prestação dos órgãos jurisdicionais for inútil à
resolução do conflito alegado pela parte, não há relação de adequação entre a providência
pleiteada e o contexto fático trazido pela parte. Portanto, deve existir uma relação de adequação
com a providência pleiteada.

A legitimidade da parte, ou legitimatio ad causam, é, segundo Enrico Tulio Liebman, a


titularidade ativa e passiva da ação.

A relação processual é composta pelas partes, o sujeito ativo (autor) é aquele que clama
pela tutela jurisdicional, enquanto o sujeito passivo (réu) é aquele contra quem a tutela
jurisdicional atuará, se procedente o pedido do autor.

Para que seja proferida sentença com resolução de mérito, é necessário que as partes
sejam legítimas, caso contrário o processo será extinto sem a resolução do mérito, conforme art.
485, VI, do CPC.

O sujeito ativo será legítimo quando for o provável titular do direito pleiteado na inicial. O
sujeito passivo, por sua vez, será legítimo pelo fato de ele ser a pessoa indicada, se a ação for
procedente, a sofrer os efeitos da sentença.

Portanto, a legitimação ativa pertence ao titular do direito argüido na pretensão e a


legitimação passiva ao titular do interesse que é contra a pretensão. Essa é a chamada, pela
doutrina, legitimação ordinária.

Existe também a legitimação extraordinária que permite que a parte demande em nome
próprio, para defender interesse alheio, como pode ocorrer na ação civil de indenização do dano
ex delicto, quando a vítima é pobre, por exemplo.
A legitimação extraordinária só ocorre em casos excepcionais, sendo denominada de
substituição processual pela doutrina, devendo ser expressamente prevista no ordenamento
jurídico (art. 18 do CPC) ou desde que ela possa ser inferida do ordenamento jurídico, quando
não houver previsão expressa de lei em sentido estrito.

O CPC/73 previa como condição da ação, além do interesse de agir e da legitimidade da


parte, a possibilidade jurídica do pedido, que é a não vedação do direito à providência pleiteada
em juízo, ou seja, o pedido que não é apadrinhado pelo direito material positivo é juridicamente
impossível.

O Novo Código de Processo Civil excluiu a possibilidade jurídica do pedido do rol das
condições da ação. O novo código acertou em sua decisão, pois a conceituação da
impossibilidade jurídica do pedido perdeu a relevância doutrinária que possuía, e também porque
a possibilidade jurídica se confunde com o exame do mérito da causa ou se adéqua no interesse
de agir, não sendo, portanto, necessária a existência de mais essa espécie de condição da ação.

4. Elementos da ação

Os elementos da ação são responsáveis pela individualização de cada ação e possuem a


finalidade de evitar decisões controvertidas sobre a mesma lide.

A ação é composta por três elementos: as partes, o pedido e a causa de pedir.

O CPC, em seu art. 337, § 2º, disciplina que uma ação é idêntica a outra quando possui as
mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido.

As partes, como visto na legitimidade da parte como condição da ação, são os sujeitos,
ativo e passivo, que participam na relação processual.

É indispensável, para que as partes seja idênticas, que a qualidade jurídica de agir seja
igual nos dois processos, isto é, se em um processo o litigante atuou como sujeito ativo, no outro
ele também terá que figurar como autor, para que reste configurada a identidade de ações.

A causa de pedir é composta dos fatos que originaram a lide e dos fundamentos jurídicos
que apontam a violação do direito, de modo a fundamentar a pretensão do autor perante o juiz.

A causa petendi, segundo a teoria da substanciação, que é adotada pelo nosso direito
processual, é dividida em: causa de pedir remota ou fática (que é a descrição dos fatos que
geraram a lide) e causa de pedir próxima ou jurídica (que é o próprio direito, ou seja, a
repercussão jurídica criada pelo fato).

Para que duas ações sejam idênticas, se faz necessário que suas causas de pedir remota
e próxima sejam iguais.

O pedido, por sua vez, é objeto da ação, consistindo na pretensão do sujeito ativo que é
levada ao magistrado, para que Le exerça a tutela jurisdicional acerca dessa pretensão. O pedido
é, doutrinariamente, dividido em: pedido imediato (é a pretensão do autor de conquistar uma
tutela jurisdicional, que é dirigida aos órgãos jurisdicionais, retirando-os da inércia e clamando por
uma prestação jurisdicional) e pedido mediato (é o objeto da ação propriamente dito, o bem da
vida a ser tutelado por meio da providência pleiteada).
Para que uma ação seja idêntica a outra, é necessário que o direito material e o direito
processual pretendidos sejam iguais, ou seja, o pedido imediato e o mediato devem ser os
mesmos.

5. Conclusão

O presente trabalho traz as diferenças existentes entre os pressupostos processuais e as


condições da ação, demonstrando a interligação desses requisitos de validade e de eficácia,
respectivamente, dentro do processo.

A natureza jurídica das condições da ação foi exposta, elucidando que o CPC adotou, de
forma implícita, a teoria do trinômio.

Foram enumeradas as condições da ação (interesse de agir e legitimidade da parte),


sendo explicados os seus conceitos.

Foram expostos também os elementos da ação (as partes, a causa de pedir e o pedido),
seus conceitos e quando ocorre a identidade de ações.

Por fim, cumpre apontar que esse trabalho foi elaborado por um graduando em direito,
portanto, quaisquer observações e apontamentos para enriquecer esse trabalho são bem vindos.

Referências Bibliográficas

JÚNIOR, Humberto Theodoro - Curso de Direito Processual Civil Vol. I. 60ª. Rio de Janeiro:
Forense, 2019.

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