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BELÉM/PA
2019
CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE CIRCENSE:
BELÉM/PA
2019
Marcia Auria Santos Conceição
Banca Examinadora:
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_____________________________
Nestes quase oito anos de estrada, tenho muito a agradecer, muitas pessoas
que fizeram parte desta jornada.
Aos meu pais Moisés Ferreira da Conceição e Maria Dalva Santos Conceição,
por me conceberem e me trazer ao mundo. Que apesar de todas as dificuldade e em
meio as tribulações me criaram e me educaram.
Aos meu filhos Ana Merielle, André Miguel e Abner Murilo, pela paciência e
compreensão, nos diversos momentos em que tive que me ausentar para poder
concluir esta jornada, das vezes em que tive que abdicar do meu papel de mãe para
me dedicar ao meu papel de graduanda, e foram muitos, mas graças ao orixás tenho
filhos maravilhosos.
Aos meus amigos de curso que foram tão importante pra mim, que foram meu
incentivo em ir todos os dias as aulas, pois eu sabia que estaria lá comigo, em
especial Catarina Santos minha amorinha, Nancy Bargas, Márcia Inara, Luciana,
Domingos, Márcio Del. E a todos os colegas das Ciências Sociais.
Aos meus amiga na vida, aos que passaram, e aos que permaneceram, mas
que independente disto, sempre estiveram dispostos a me ajudar em tudo que fosse
preciso, em especial a Joyce Kelly, Carlos Mendes, Paola Cibele, Aline Balieiro,
Ellen Thaís, Aline Santana, Wesley Endrew.
A todos que passaram pela minha vida e de alguma forma contribuíram nesta
minha jornada.
Esta pesquisa tem por objetivo evidenciar as fronteiras que formam a identidade do
artista circense entre os “de fora” e os “de dentro” da tradição circense, e
compreender como a partir o discurso de “ser tradicional” diferencia os artistas
formados sob a lona, dos artistas formados pelas escolas de artes circenses.
Procuro demonstrar o processo histórico sociocultural que formaram o Circo e as
diversas influências que fazem parte desta construção, assim como, a chegada e
formação do Circo no Brasil em torno da tradição familiar conhecido como circo-
família, e como surgiu o “Novo Circo” com o processo de descentralização do saber
circense antes controlado pelas famílias. Penso o Circo tradicional socialmente
estruturado em torno da família, como um grupo étnico a partir da “Retórica da
Tradição” de Gilmar Rocha. Para tanto recorri a perspectiva de Fredrik Barth sobre
grupos étnicos, a qual os define como um tipo organizacional que tem como principal
característica a autoatribuição e a atribuição de sua identidade. Por meio de
entrevistas e através de um questionário semiestruturado que possibilitasse que os
artistas discorressem sobre suas experiências e vivências nas artes circenses,
procuro demonstrar como essas fronteiras se realizam, de como se identificam e são
identificados. Em suas falas, verificou-se que tanto para a artista que nasceu em
uma família circense, como para o artista que teve sua formação em uma escola de
arte circense, a principal fronteira que os diferencia é a tradição familiar, ambos se
reconhecem e são reconhecidos como artistas circenses, porém suas identidades se
definem como “de dentro” e “de fora” da tradição circense.
This research aims to highlight the boundaries that form the identity of the circus
artist between the "outside" and the "inside" of the circus tradition, and how from the
discourse of "being traditional" differentiates the artists formed under the canvas , of
the artists formed by the circus arts schools. I try to demonstrate the socio-cultural
historical process that formed the Circus and its various influences that are part of
this construction, as well as the arrival and formation of the Circus in Brazil around
the family tradition known as circus-family. And how the "New Circus" came about
with the process of decentralization of circus knowledge once controlled by families.
Think of the traditional Circus socially structured around the family, as an ethnic
group from the "Retorica da Tradição" by Gilmar Rocha. For that, I used Fredrik
Barth's perspective on ethnic groups, in which he defined them as an organizational
type whose main characteristic is the self-attribution and attribution of their identity.
Through interviews and through a semi-structured questionnaire that allowed artists
to talk about their experiences and experiences in the circus arts, he sought to
demonstrate how these borders are realized, how they are identified and identified. In
her speeches, it was verified that for both the artist who was born in a circus family,
and for the artist who had her training in a circus art school, and what the main
frontier that differentiates them and the family tradition, both recognize and are
recognized as circus artists, but their identities are defined as "from within" and
"outside" of the circus tradition.
Figura 7 – Estrutura Itinerante do Ringling Bros & Barnum e Bailey, 1956 ..............
17
Figura 10 – Sede da Escola Pernanbucana de Circo – Rede Circo Mundo Brasil ...
28
SUMÁRIO
Introdução ..................................................................................................................1
A arte circense é uma manifestação artística que está presente entre as mais
diversas sociedades ao longo da história da humanidade, e tem como principal
característica a performance com uso do corpo. Essa arte incorpora características e
peculiaridades que remetem ao sistema cultural e social nos quais está inserida.
Este trabalho tem por objetivo identificar os elementos ou símbolos que são
utilizados para estabelecer as fronteiras identitárias com o surgimento dos novos
artistas formados na escola de artes circenses. Ou seja, busco conhecer as
diferenças entre o artista tradicional identificado como o “de dentro” e o artista do
novo circo identificando-o como os “de fora”.
2
O interesse por este tema de pesquisa nasceu de um acaso. Apesar de
sempre ter tido contato como o Circo na minha infância, já que morava na cidade de
Ananindeua em lugar muito próximo de onde os circos da época costumavam se
assentar em suas temporadas. Mas meu interesse acadêmico pelo tema só foi
despertar ao fazer um trabalho de conclusão da disciplina Laboratório de Pesquisa II
ministrado no 2º período de 2016 pela profa. Dra. Edna Alencar, quando desenvolvi
uma proposta de projeto de pesquisa em dupla. Meu parceiro nessa pesquisa era
um frequentador assíduo de aulas de artes circenses, e propôs falar sobre os novos
artistas circenses com quem ele tinha bastante contato e teria fácil acesso. No
decorrer da pesquisa percebi que, apesar das claras diferenças, este grupo poderia
talvez ser estudado dentro de uma teoria identitária, tema pelo qual tinha bastante
interesse. Logo, por um acaso, a experiência do meu companheiro de trabalho se
encaixava com o meu interesse acadêmico prévio adquirido ao realizar um pesquisa
de campo em uma comunidade tradicional.
Porém, não foi tão fácil desenvolver e concluir esta pesquisa. Dentre os
empecilhos encontrados para completar a realização da pesquisa destaco
ironicamente uma das principais características do Circo como organização sócio
cultural, o nomadismo. Os artistas circenses tradicionais costumam viajar em
grandes caravanas de cidade em cidade apresentando seus números, e
permanecendo por temporadas mais longas ou mais curtas em cada uma delas,
dependendo de como o público responde na bilheteria. Assim sendo, o desafio foi
saber como adquirir o material necessário à realização da pesquisa, uma vez que os
artistas do novo circo poderiam ser encontrados na cidade em que resido, mas os
artistas tradicionais não. Durante o processo de construção deste trabalho um Circo
de lona fez temporada em Belém, o qual tive a oportunidade de visitar na tentativa
de conseguir entrevistar os artistas que trabalhavam neste Circo, sem êxito, pois a
rotina dos artistas circenses que residem sob lona, e bem diferente da rotina as
quais estamos familiarizados, os circense, como costumamos dizer “trocam a noite
pelo dia”, em função das apresentações no Circo que são noturnas. Após as
apresentações eles se dedicam aos ensaios, desta forma no dia do circense se
inicia pela tarde, em que cuidam das tarefas domésticas e da manutenção do Circo
como um todo, limpeza, arrumação e preparação dos espetáculos, essa rotina do
circense tradicional impossibilitou o acesso ao artista para a realização da entrevista,
3
isto me foi relatado por um artista do próprio Circo. A solução a esta questão foi
indicada pelo próprio entrevistado do circo novo, Gabriel Silva. Ao saber da nossa
dificuldade em encontrar artistas circenses tradicionais entrou em contato com
Yessica Jazneliz, que a é uma artista de família tradicional circense que escolheu
fixar residência em Belém para que ela e o irmão cursassem o nível superior. Trata-
se de uma estratégia bastante comum, como pude perceber durante a pesquisa, da
qual tratarei no capítulo sobre o novo circo.
4
Este trabalho traz quatro capítulos nos quais discorrerei sobre o processo de
formação do Circo tradicional brasileiro. O primeiro capítulo traz um histórico da
arte circense no mundo, antes mesmo da existência do circo na estrutura que
conhecemos, pela antiguidade chinesa, indiana e greco-romana. Apresenta também
as origens do circo moderno, a criação da estrutura de lona e do circo americano, e
seu estabelecimento como uma estrutura socialmente organizada sob a lona. O item
1.1 demonstra também como o circo brasileiro passou por processos completamente
diferenciados do resto mundo, culminando em suas características e formatos
distintos, tomando formato próprio, e tendo sua estrutura social baseada na família.
No segundo capítulo são definidas as características que definem o chamado
“circo tradicional” e do que ficou conhecido como “Novo Circo”, com ênfase para o
processo educacional, pois é a partir da descentralização do saber circense que
surge uma nova categoria circense. No terceiro capítulo procuro estabelecer o
Circo como uma unidade étnica portadora de cultura e socialmente organizado em
torno da tradição, que se constitui como uma fronteira identitária entre os chamados
“de dento” e “de fora” do circo a partir da “retórica da tradição”. No quarto
capítuloSeguido de uma subseção em que trago a fala dos artistas, de como seus
enunciados afirmam essas fronteiras na construção da identidade circense, seguido
da conclusão do trabalho.
5
CAPITULO 1 - UMA BREVE HISTÓRIA DA ARTE CIRCENSE
A arte circense1 é uma arte milenar do entretenimento, sendo uma das mais
antigas manifestações artísticas da história da humanidade. O Circo 2 acompanha as
sociedades desde os primórdios, pois há registros desde a pré-história chegando até
a contemporaneidade. Em uma pesquisa realizada por Alice Viveiros de Castro,
sobre os desenhos rupestres encontrados no Parque Nacional Serra da Capivara
(Piauí – Brasil), que se pressupõe tenha em torno 27.000 anos, a autora apresenta
um conjunto de imagens denominado de “Acrobatas do Boqueirão da Pedra
Furada”, por tratar-se de desenhos que sugerem claramente ações acrobáticas, de
equilíbrios com dupla altura, de roda de dança etc. (SILVA, 2009).
Desta forma não há como se falar em uma origem única do circo, já que nas
mais diversas culturas, encontramos artistas que exerciam algum tipo de atividade
como malabarismos, acrobacias, a doma de animais, entre muitas outras. Para
Ermínia Silva (2006), vários artistas em momentos históricos específicos, e em
diversas sociedades, realizavam exercícios acrobáticos ou atividades artísticas com
finalidade religiosa, em festejos, entre outros. Em vários períodos da história, e em
diversas culturas, foram encontradas várias referências que fazem menção às
1
A arte circense como manifestação de habilidade física com a finalidade de entreter um público é anterior a
própria estrutura sociocultural de circo como a conhecemos. Porém, para uma melhor compreensão, o termo
“arte circense” será utilizado para definir este tipo de performance, mesmo que o termo circo seja posterior
aos fatos citados.
2
O circo é um espaço redondo, traçado pelo picadeiro e pela lona, onde as apresentações acontecem no
centro. Mas o motivo que explica a forma circular do circo vem de uma questão técnica que foi descoberta foi
Astley, por volta de 1770, quando se percebe que a segurança do galope, em pé sobre o cavalo, feito em
círculo, era muito melhor. (FIGUEIREDO, 2007.)
6
práticas circenses na Grécia, em Roma, na China, na Índia, no Egito e até nas
Américas.
Fonte: Saglio Histoire générale illustrée du Théâtre – Lucien Dubech Volume I – P. 159
8
de simples arenas de madeira e toras para enorme estruturas de pedra e mármore,
colunas trazidas do Egito e camarotes para os proeminentes. Este impressionante
desfile poderia ser visto de qualquer ângulo graças ao formato circular da estrutura,
o que facilitava a formação de um percurso do desfile.
4
O povo cigano possui uma origem tão ou mais incerta que a da arte circense, há quem acredite que sua
origem está em algum lugar do Egito, porém a versão mais aceita seria a de que a maior parte dos muitos
povos que formam o povo cigano se origine no Paquistão e no norte da Índia, nos atuais estados do Rajastão e
Punjab. Este registo praticamente inexiste graças a forte tradição oral dos ciganos e o hábito de destruir todos
os pertences dos seus mortos. Vistos com desconfiança na Europa, graças a sua pele escura, língua estranha,
numerosa prole, poucos se arriscavam a empregar os ciganos e muitos os perseguiam. Porém, estas mesmas
características conferiam aos membros destes povos uma aura mística de mistério, que foi abraçada por eles,
que passaram a se apresentar como videntes, exóticos e donos de incríveis habilidades. Todos estes fatos se
encaixam perfeitamente com outros párias sociais, que também sofriam perseguição, possuíam incríveis
habilidades e estavam dispostos se locomover para fugir da igreja católica, os artistas circenses.
9
Figura 2 - O Circus Maximus
Na Idade Média, quando ocorre uma crise de fome e doenças que é agravada
pela pobreza de toda a população, ocorre uma busca pelo sagrado, pelo culto do
espírito e, dessa maneira, os artistas passam a ser muito discriminados pelas
autoridades. Louis XIV proíbe que artistas demonstrem suas habilidades em via
pública,
Louis XIV, por exemplo, proíbe que dançarinos de corte e outros artistas
demonstrem suas habilidades em via pública, provocando um agrupamento
obrigatório das apresentações em feiras. Portanto os artistas acabam
integrando o bando dos marginalizados, assim, sempre procuravam novas
cidades nas quais poderiam ganhar um pouco mais e ter mais respeito,
caracterizando o nomadismo dessas pessoas (DUPRAT, apud COSTA,
2007, p. 25.)
5
Artista que anda ou dança em corda ou cabo, normalmente suspensos esticados a altura considerável do solo;
equilibrista
6
Vem do Italiano SALTARE IN BANCO, “pular sobre um banco”, que era o que muitos artistas de feira faziam em
suas apresentações.
10
A partir do século XVII, esses saltimbancos consolidam uma forte dinastia,
tradição ou forma de viver da arte, na Europa, seguindo uma tendência
comercial, estruturam-se em barracas que funcionavam como palcos,
circulando livremente pelas vilas e povoados, mantendo as características
nômades. (DUPRAT, 2007, p. 26.)
Porém foi no Reino Unido que o circo moderno adquiriu o formato como hoje
conhecemos e que foi amplamente difundido, ou seja, com uma arena circular. Teve
11
seu início em 1768 quando Philip Astley abriu a Astley’s Riding School (Escola de
Equitação de Astley), e reuniu outros ex-oficiais para ali desenvolveram técnicas
equestres. No ano 1770, Astley transformou a escola de equitação em um anfiteatro,
o Royal Amphitheatre of Arts (Anfiteatro Real das Artes), idealizado por Philip Astley
para exibições das técnicas que tinha desenvolvido na escola. De acordo com
Bolognesi,
Apesar de nesse mesmo período existir outras casas onde eram feitas
apresentações e atividades equestres, a casa criada por Astley se tornou referência
no que diz respeito à inovação dos espetáculos. De acordo com PINES JUNIOR
(2013) no início o anfiteatro de Astley, contava somente com as apresentações da
arte equestre, desta forma o espetáculo foi se tornando monótono e o público
começava a se afastar das apresentações, o que levou Astley a incorporar aos
espetáculos os artistas saltimbancos dando início ao que hoje conhecemos como
Circo de variedades7.
7
O circo tradicional apresentando habilidades físicas, animais exóticos e acrobacias
12
Fonte: https://www.countrylife.co.uk/out-and-about/horse-mad-englishman-pioneered-modern-circus-
181821
Conforme Silva (2009) o sucesso de sua companhia foi responsável por esse
nome ficar popular e ser conhecido até os dias de hoje. A autora afirma que por volta
de 1768 uma grande diversidades de artistas faziam parte do grupo como acrobatas,
atores, cantores, músicos, dançarinos, pirofagistas, ao cruzarem com grupos de
cavaleiros e que somente a partir daí passaram a se conformar com a denominação
categórica de trabalhadores artistas circenses. Esses elencos incumbiram-se de
difundir uma nova forma de realizar os espetáculos, tornando-se, involuntariamente
em elementos reprodutores do que lhes havia sido transmitido como afirma
DUPRAT,
8
Ver NOTA 2
13
Durante o século XIX, os espetáculos circenses proliferaram por toda a
Europa, aumentando o número de companhias que se apresentavam, na
sua maioria, em instalações estáveis, construídas em estrutura de madeira
ao ar livre (sem cobertura), em anfiteatros ou em teatros adaptados
(DUPRAT, 2007, p. 30)
Essa nova forma de fazer circo teve seu auge de expansão no século XIX
quando começaram a se direcionar para as Américas. Enquanto alguns grupos se
encaminhavam para a América do Norte, principalmente Estados Unidos, outros
seguiam para a América Sul, principalmente no Chile, Uruguai, Argentina e Brasil.
Fonte: SILVA, E. Respeitável Público... O circo em cena. Rio de Janeiro: FUNARTE, 2009.
Fotografia p&b.
Fonte: https://allthatsinteresting.com/freak-show-members
Os Irmãos Ringling eram chamados de “Os reis do circo”. Movidos por uma
sensível percepção voltada para o sucesso, eles descobriram exatamente o
que o público tinha interesse em ver. Esses irmãos, baseados em um
trabalho sério e consistente, conquistaram o primeiro posto no coração das
platéias americanas. Um dos principais feitos dessa companhia foi ter
notado a possibilidade de usar o transporte ferroviário para o deslocamento
de seu numeroso elenco, material e animais. Graças a esta comodidade foi
possível atravessar o país inteiro, chegando a cobrir 150 cidades entre os
meses de abril e outubro de um mesmo ano. (ANDRADE, 2006, p. 56)
Fonte: http://www.circusesandsideshows.com/circuses/ringlingbrosbbcircus.html
Figura 7 – Estrutura Itinerante do Ringling Bros e Barnum & Bailey Circus. 1956
Fonte:https://journaltimes.com/news/local/ringling-brothers-had-several-racine-county-encounters/
article_85c79c08-21fc-528b-94aa-55077a478f26.html
17
O Circo formalmente organizado só chegou ao Brasil no final do Século XIX,
no entanto alguns artistas já circulavam pelo país. O Circo por aqui se transformou e
adaptou, dando ao Circo brasileiro uma estrutura própria.
10
Como são denominados em castelhano os saltimbancos e funâmbulos
19
Em 1834 tem-se, pela primeira vez, o registro da chegada ao Brasil de um
circo formalmente organizado, o de Giuseppe Chiarini. Pode-se, através de
uma observação mais detalhada dele, fornecida por distintas fontes, utilizá-
lo como uma janela importante para se conhecer como se deu o processo
de encontro entre os circenses europeus, suas relações com os artistas e as
experiências locais, produzindo um espetáculo que, se por um lado deixa
clara a preservação de grande parte do modelo europeu de fazer circo, por
outro vai operando mudanças na produção do espetáculo, na sua
organização ou na representação dos vários gêneros artísticos, pela
incorporação, assimilação e mistura de novos elementos vivenciados.
(SILVA, 2007, p.58)
Fonte: http://www.circopedia.org/Giuseppe_Chiarini
Segundo Ermínia Silva citada por DUPRAT (2007), esse modelo de circo se
enraizou em nossa cultura, de forma que as trupes circenses consolidaram uma
forte tradição, caracterizada por um forte vínculo social, tendo a família como base
de sustentação; é o que os circenses chamam de “circo dos tradicionais”.
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CAPÍTULO 2 – O CIRCO TRADICIONAL E O NOVO CIRCO
Figura 9 – Fotografia da Fachada do Circo Stankovich, o mais antigo Circo tradicional em atividade
no Brasil, fundado em 1856
Fonte: http://www.stankowich.com.br/
23
circo no molde europeu se dava apenas como relação de trabalho. Essa
organização com base na família, com o passar dos anos, se consolidou como
sendo algo muito peculiar do circo brasileiro,
No caso do circo, a arte e a vida dos que vivem “de baixo da lona” possui
uma característica singular, pois é sempre um viver comunitário. Sua
estrutura básica é de agrupamento de famílias, que vivem e trabalham no
mesmo local, sendo mantidas formas de vida comunitária. Nesta relação de
vida e trabalho, as famílias “tradicionais” transmitiam todo o aprendizado do
ofício, através do que foi aprendido pelos antepassados. Nesse contexto, é
difícil ver o relato da memória de um artista circense como produção
unicamente individual, ela é coletiva, também. O aprendizado, tanto o da
vida como o de ser artista, ocorria no próprio local em que se vivia e
trabalhava; assim é a construção social de um processo de trabalho
específico, que é o trabalho circense. Sua especificidade reside no fato de
que além de ter uma dimensão individual, constitui um processo grupal e
familiar” (p. 10-11)
Para Silva (2011) ser tradicional significa “ter recebido e ter transmitido
oralmente, valores, conhecimentos e práticas” e no circo tradicional está é a única
forma da transmissão do saber. Todo conhecimento, não só gira em torno da família,
como também é repassado de geração para geração. Dentro desta estrutura social,
o saber circense consiste em ensinar a armar e desarmar a tenda, o picadeiro, as
arquibancadas, a preparar os números, e garantir a inserção dos mais novos
transmitindo-lhes o conhecimento adquirido, às crianças se dedicavam desde
pequenas ao ofício da arte, dessa forma faz-se possível a continuidade do “fazer
circo”,
[...] ser tradicional, para o circense, não significava e não significa apenas
representação do passado em relação ao presente. Ser tradicional significa
24
pertencer a uma forma particular de fazer circo, significa ter passado pelo
ritual de aprendizagem total do circo, não apenas de seu número, mas de
todos os aspectos que envolvem a sua manutenção. Ser tradicional é,
portanto, ter recebido e ter transmitido, através das gerações, os valores,
conhecimentos e práticas, resgatando o saber circense de seus
antepassados. Não apenas lembranças, mas uma memória das relações
sociais e de trabalho, sendo a família o mastro central que sustenta toda
esta estrutura (SILVA, 2003, 65-66).
13
Neste trabalho optei por utilizar o termo “escola de arte circense” e não “escola de Circo”, pois
entendo que o Circo não se resume às técnicas corporais que são ensinadas neste tipo de instituição, mas sim a
uma forma de organização que abrange toda a rotina dos indivíduos que dela fazem parte, desde a montagem
da lona, espetáculos e cuidados com animais, até as tarefas domésticas cotidianas.
25
palhaços franceses, os Fratellini14. A escola surge com o apoio do governo francês,
em 1975.
Em âmbito internacional a arte circense vai bem além de uma nova forma de
transmissão do saber circense, ela ganha uma nova configuração no espetáculo, o
14
Familia de artistas de circo italianos ativos na França. Gustavo (Florencia, 1842-París, 1901) foie o
fundador da dinastía. Seus filhos; Paul (Catania, 1877-Le-Perreux-sur-Marne, 1940), François (París,
1879-id., 1951) e Albert (Moscú, 1885-Épinay-sur-Seine, 1961) formaram um trio de palhaços de
grande sucesso na França entre 1920 e 1940. Os sucessos são continuados com a tradição circense
da família. Annie Violette Fratellini nasceu em Argel, onde seus pais estavam em turnê, em 14 de
novembro de 1932. Seu pai era o palhaço e acrobata Victor Fratellini (1901-1979), filho de Paul
(Paolo) Fratellini (1877-1940) e sobrinho de François e Albert, do ilustre trio Fratellini , e sua mãe,
Suzanne Rousseau (1915-1999), eram a filha de Gaston Rousseau, diretor do extinto Cirque de
Paris , o gigantesco edifício de circo que ficava na Avenue de la Motte- Picquet na capital francesa de
1906 a 1930. Herdeira a lendária dinastia dos palhaços, Annie Fratellini (1932-1997) nasceu no circo,
deixou o circo e voltou ao circo para se tornar um dos palhaços mais célebres da França com seu
marido, Pierre Étaix (e, mais tarde, com ela filha, Valérie) - antes de criar uma escola de circo em
1975, que se tornou uma das principais escolas de circo patrocinadas pelo seu país, a Académie
Fratellini .
26
circo saí da lona e do picadeiro e vai para os palcos. Já no Brasil ao falarmos em
“Novo Circo”, estamos nos referindo a forma de transmissão do saber, em que o
ensino das artes circenses sai da lona e passa a ser ensinado em escolas de artes
circense, formando assim uma nova categoria de artistas c, que não aquele que tem
seu saber adquirido a partir da família e através da vivência sob a lona.
27
Como foi demonstrado em todo processo de formação, o circo e seus artistas
possuem uma imensa capacidade de se adaptar. O circo não só sobrevive em sua
forma tradicional como prospera em outros formatos trazidos pelo circo novo.
Muitas outras escolas foram inauguradas com o passar dos anos, entre elas
figuram atualmente, a Intrépida Trupe, os Acrobáticos Fratelli, os Parlapatões,
Patifes e Paspalhões, a Nau de Ícaros, o Circo Mínimo, o Circo Escola Picadeiro, o
Linhas Aéreas e o Teatro de Anônimo, entre outros, formam o Circo Contemporâneo
Brasileiro.
Um dos mais famosos circos do chamado novo circo é o Cirque du Soleil, que
desenvolve um projeto chamado Cirque du Monde15, que trabalha dando apoio e
subsídios para diversos projetos de circo social ao redor do mundo e estabeleceu
bases para a formação de novos artistas e para seu desenvolvimento
socioeconômico, ao incorporá-los em seus espetáculo. No Brasil a parceria se dá
através da Rede Circo Mundo Brasil16 é uma das maiores programas de formação de
artista circense com base no circo social.
Figura 10– Sede da Escola Pernambucana de Circo – Rede Circo Mundo Brasil
15
Programa de circo social criado pelo Cirque du Soleil e Jeunesse du Monde, que visa jovens em
risco. Ele combina técnicas de circo junto com a intervenção social educacional para atingir jovens em
situação de risco entre as idades de 8 e 25 anos. Eles geralmente vêm de baixa renda, e muitos
ainda vivem nas ruas. No Brasil este programa se faz através da Rede Circo do Mundo Brasil com
sede em Londrina/PR.
16
No Brasil este programa se faz através da Rede Circo do Mundo Brasil com sede em Londrina/PR.
Esta rede, hoje reúne 22 instituições de 4 regiões brasileiras, que trabalham com educação/
promoção de crianças, mas principalmente de adolescentes e jovens de classes populares e têm
como perspectiva mais geral o trabalho educativo, o exercício da cidadania, o resgate das raízes
culturais. Todas estas instituições, em sua ação educativa, privilegiam linguagens artísticas (teatro,
música, dança e circo) no processo educativo. As atividades desenvolvidas no cotidiano buscam
favorecer a identificação destes jovens com o universo mágico do circo e com seus valores
cooperativos e associativos, oferecendo-lhes oportunidade de uma nova experiência individual e
coletiva. (http://www.redecircodomundo.org.br/a-rede/historia)
29
Fonte: https://www.escolapecirco.org.br/website/escola-pernambucana-de-circo/
30
Fonte: O Circo no Brasil – Estado da Arte - Gilmar Rocha BIB, São Paulo, nº 70, 2º semestre de
2010, p. 51-70.
31
circense mais do que representação de uma realidade. (ROCHA, 2009, P.
73)
32
CAPÍTULO 3 - A “Retórica da Tradição” à luz de Fredrik Barth.
17
Estas expressões são impressas pelos próprios artistas para evocar uma hereditariedade circense.
33
e que depende dos sinais do outro. Neste sentido pode-se inferir que é a tradição o
que diferencia os artistas circenses.
34
O circo deve ser visto como estilo de vida e visão de mundo. O circo não é
só uma maneira de viver, morar e trabalhar, é também uma maneira de
pensar. O circo corre nas veias, está no sangue, não sai do pensamento,
dizem os circenses. O circo é ao mesmo tempo casa e empresa, arte e
trabalho. Como me disse certo dia um circense: “moramos no trabalho e
viajamos com nossa casa”. [...] O circense tradicional é o resultado não só
de uma genética ou de uma hereditariedade; ele também é fabricado aos
poucos, todos os dias dentro do circo. (ROCHA, 2009, p. 73.)
35
Os grupos étnicos se estabelecem como organizações sociais, onde as
fronteiras étnicas são o fruto da interação com o outro. A característica definidora
dos grupos étnicos é a de serem tipos organizacionais definidos por categorias de
adscrição do tipo “nós” e “outros”, a “retórica da tradição” diz respeito a afirmar seu
lugar na estrutura social, surge como uma, do artista que nasceu no Circo, de dizer:
eu sou artista circense tradicional, o “outro” circense não. Desta forma Circo se
estabelece como um grupo étnico, pois,
A atribuição de uma categoria é uma atribuição étnica quando classifica uma pessoa
em termos de sua identidade mais básica, mais geral, determinada presumivelmente
por sua origem e circunstância de conformação. (BARTH,1969, p.32)
A tradição não deve ser vista como aspecto primário da identidade, mas sim
como resultado atributivo dos próprios circenses, como objetivo de organizar suas
interações. A Identidade Circense é fruto dessa interação entre os artistas circenses
formados no Circo tradicional, ou seja, aquele que tem sua estrutura social baseada
em uma relação familiar, onde o saber circense e repassado de geração em
geração, e o artista circense fruto que aprendeu a arte em uma escola de artes
circense. As fronteiras identitárias surgem como resultado dessa interação e dessa
interação surge o contraste. Os circenses encontram na tradição uma forma de se
afirmarem perante esses novo artistas. A identidade circense tradicional se forma
partir da interação onde surgem os contrastes entre esses artistas que se diferem
principalmente em função de suas origens,
36
3.1. Processo De Construção Da Identidade Circense: tradicional e o
contemporâneo
Por meio das falas desses artistas18, tanto do artista circense contemporâneo,
como ele mesmo se define, quanto do artista circense tradicional, é possível
identificar como ambos percebem essa diferença entre suas origens circenses.
...tipo nasci lá e fui criada no circo, como artista. Sendo uma artista muito
profissional desde pequena né. Meu pai foi um dos melhores artistas do
circo, e ele foi meu professor até hoje. E aí, a gente sempre teve aquele
símbolo sabe? ... (YÉSSICA.)
...foi assim, tipo, eu nem pretendia ter esse contato com o circo, no primeiro
momento quando eu fui conhecer o circo, o primeiro momento na verdade
quando quis me envolver com a arte eu fui para o teatro. Vendo, mas meu
objetivo na verdade não era ir para o teatro, meu objetivo era ver se na
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A opção por utilizar a fala de somente dois artistas, um artista representante do Circo tradicional e outro do
Novo Circo, se dá pelo fato de o acesso aos artistas tradicionais é muito difícil, tanto por sua configuração
nômade, quanto por terem um vida cotidiana diferenciada. Apesar de no período de produção desta pesquisa,
dois Circos terem feito temporada de apresentações em Belém, não consegui ter acesso aos artistas, pois após
cada espetáculos, todos noturnos, se dava início a rotina de treinos, que entravam pela madrugada, o que faz
com que acordem e iniciem suas rotinas cotidianas pela parte da tarde. Que consiste em tarefas domésticas e a
manutenção do Circo como em todo. Desta forma não consegui entrevistar outros artistas do Circo tradicional,
optando por equipara o número de artistas, para fazer o contraste de suas falas.
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instituição onde eu fui procurar esses cursos se tinha aula de gastronomia,
pra minha infelicidade não tinha gastronomia, mas eu vi teatro e foi o que
mais me chamou atenção antes de ver o circo. (GABRIEL.)
O Circo para Yéssica é casa, é trabalho, é o meio pelo qual ela foi criada, é a
sua medida de vida. O circo é mais que só uma profissão, representa a tradição em
que sua família vive há sete gerações. É a forma como se locomovem, se organizam
socialmente, como desenvolvem as tarefas domésticas, os treinos, como Yéssica
evidencia em sua fala:
Isso é ser artista. Artista é trabalhar com aquilo que você gosta. Como eu
sempre falo: “Deus deu dom pra gente fazer o que a gente sabe”. O que a
gente nasceu pra ser isso, o que a gente criou, vem de família; de gerações
em gerações, meus avós, meus pais, meus filhos, meus avós, meus tios
todos são artistas de circo. Todos tem um circo. E ser artista de circo é um...
tipo assim, ser artista de circo é um privilégio, é isso aí. E é isso aí, ser
artista de circo é um privilégio, uma emoção. Cada vez que um sai no
picadeiro, sabe? É uma coisa diferente, transmite alegria pras pessoas. As
pessoas “te olham” como teu trabalho é, e admiram né?! Principalmente.
(YÉSSICA)
Se para Yéssica o Circo é a medida de sua vida, para Gabriel essa é uma
relação de trabalho, onde um contratante deve oferecer a estrutura adequada para
que ele possa realizar o show, no entanto:
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Apesar de Yéssica estar fora do Circo, pois teve que pausar suas atividades
circenses para poder completar os estudos, ela afirma que em qualquer Circo ela
conseguirá trabalho, pois carrega consigo a tradicionalidade circense. O fato dela
ser de uma família de Circo lhe garante o retorno a lona,
Ah sim, hoje em dia sim, muito mais fácil, é, hoje em dia eu creio que o
artista contemporâneo ele evolui muito mais do que o artista tradicional, o
artista tradicional, ele geralmente se vincula a um só aparelho, o artista
contemporâneo não, ele aprende quase todos, ele tem que aprender quase
todos...” (GABRIEL)
...acho que isso como vem de família, né?! Não pode se romper, eu vejo
assim, não posso romper algo que vem de faz tempo, e me orgulha ser
“cirquense”, [...] porque a gente como é tradicional né?! Minha família, meu
pai, a gente ensina sempre uma cultura entendeu?! (YÉSSICA)
... eu não nasci numa família tradicional de circo, por isso me considero um
artista contemporâneo. Eu não tive um pai que fosse me auxiliar,
entendeu? No que eu fizesse, no que eu vou fazer, no que eu faço na
verdade. Eu não tive uma mãe pra me ensinar a fazer meus collants, ir
bordando meus collants. Não. Eu tive que aprender um pouco de cada
coisa. Só eu. Eu tive que vir treinar só eu, e aprender tudo só eu. Era tudo
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só eu. Se eu fosse me apresentar, a minha roupa era costurada por mim. Se
eu tivesse que bordar minha roupa, eu vou lá e bordo a minha roupa.
(GABRIEL)
Como artista do Novo Circo, Gabriel tem a compreensão que ao ser inserido
no Circo Tradicional, não será reconhecido como um “de dentro”, pois entende que
ser um artista circense tradicional está ligado à questão de pertencimento a uma
longa geração de artistas membros de uma família:
... hoje em dia eu posso mandar um currículo, esse Circo pode me contratar,
e aí sim, se lá dentro formar uma família, aí sim, vai ser a minha primeira
geração de Circo. E eu nem sou considerado uma geração ainda. A minha
família, meus filhos vão ser considerados a primeira geração de circo.
(GABRIEL)
As falas dos dois artistas evidenciam que ambos percebem que apesar de
dividirem uma mesma técnica, possuem socializações diferentes, encaram o circo
de forma diferente e, principalmente, reivindicam para si uma identidade diferente.
Tal percepção só foi possível através do contraste produzido pelo contato entre
estas duas identidades. Desta forma afirmam-se como um sendo artista tradicional,
“de dentro” e o outro, como um artista contemporâneo “de fora” do Circo.
O artista circense que figura neste Novo Circo, não vem de uma tradição
familiar, seu saber circense vem de uma escola, que não é o Circo. Neste sentido,
os artistas circenses, que herdaram a arte, evocam a tradição como forma de marcar
sua posição na estrutura social.
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Figura 12 : Circo da Família Jazneliz em turnê em Belém na década de 70
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Fonte: Yéssica Jazneliz
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Fonte: Arquivo pessoal de Gabriel Silva
Considerações Finais
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uma tradição familiar, e com esse novo artista, surge um novo formato de Circo que
difere da forma tradicional de fazer Circo. Esse “Novo Circo” foi apresentado no
terceiro capítulo.
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representam jogos de interesse, em que entram em disputa códigos e diferenças
culturais significantes para a comunidade circense. .
No entanto esses padrões não são fixos, podem mudar e ganhar um novo
significado em outro momento, conforme o contexto social. A identidade circense
como uma identidade étnica é relacional, pois ela só se define em relação ao outro,
na interação com o outro, e situacional, pois depende da situação do outro, se essas
situações mudam os signos também podem mudar.
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transmissão do saber oral repassado pela família circense e como a mesma
condiciona a inserção na estrutura social.
Esta pesquisa, muito vem a contribuir para minhas reflexões iniciais sobre
identidade, em como os sujeitos pertencentes a um grupo se organizam se
identificam no sentido de que seu grupo seja reconhecido como tal, estabelecendo
fronteiras que definem sua identidade os diferenciando dos demais. Mesmo
compartilhando uma mesma arte, essa fronteira não só define a identidade, mas
também é criadora de diferença e se estabelece no contraste com o outro, sendo
iguais mas ao mesmo tempo diferentes; mas ao criarem essas fronteiras possibilitam
uma convivência sob ou fora da lona, a partir do reconhecimento de ambos. A
Identidade do artista circense tradicional só se faz possível por meio de seus
símbolos e fronteiras, presentes na construção da diferença, no reconhecimento de
alteridades, e nas relações interétnicas e interculturais, essa assertivas me
nortearão para futuras discussões acerca da identidade e alteridade.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, José Carlos dos Santos. O espaço cênico circense. USP, São Paulo,
2006.
BHAKTA, Deva. Brinque e Aprenda com Rosa dos Ventos. Cartilha Festival 12
Anos, 17f., Junho de 2011.
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DUPRAT, Rodrigo Mallet. Atividades Circenses: possibilidades e perspectivas para
a educação física escolar. 61 f. Departamento de Educação Física, universidade
Estadual de Campinas, Campinas, 2007.
SILVA, Erminia, O circo: sua arte e seus saberes-o circo no Brasil do final do século
XIX a meados do XX..Instituto de Filosofia Ciências e Humanas, Universidade
Estadual de Campinas, Campinas. 1996
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