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Resposta à Acusação – Parte Teórica

Professor: Gabriel Gianinni

INTRODUÇÃO
Primeiramente, de forma introdutória, se faz necessário lembrar que a peça
acusatória apresentada junto ao Judiciário, seja ela a queixa-crime ou a denúncia, é o
instrumento utilizado para alavancar a máquina jurisdicional em sua esfera penal, ou
seja, é o meio pelo qual o judiciário sai da inércia e passa a atuar naquele caso
concreto.

Uma vez ajuizada a peça acusatória e a máquina estatal ser provocada, o magistrado,
ao receber o processo, obrigatoriamente tem de observar e seguir alguns rigorismos
processuais.

Caso o processo criminal ora distribuído seja pautado pelo rito especial da lei de
tóxicos (Lei 11.343/06), após o Ministério Público oferecer a denúncia e, antes do
Judiciário analisar seu recebimento, de acordo com o que dispõe o artigo 55 de
referida lei, o Juiz tem que intimar/notificar a parte do polo passivo para que esta,
caso desejar, apresente a sua Defesa Prévia, no prazo de 10 dias.

Assim, vê-se que nesta hipótese a denúncia ainda não foi recebida e que, portanto, a
acusação ainda não foi formalizada, de modo que esta defesa será prévia justamente
pelo fato de anteceder o recebimento da denúncia, de modo a possibilitar, inclusive,
que seja requerido em tal defesa o não recebimento da peça acusatória, nos termos
do artigo 395 do Código de Processo Penal.

Já em processos que tramitam no rito comum (rito ordinário e sumário), a defesa é


realizada após a denúncia já ter sido recebida pelo Judiciário. Assim, o Ministério
Público oferece a denúncia, e seu recebimento é analisado pelo Magistrado
competente, e, caso a denúncia seja rejeitada em decorrência de uma - ou mais - das
hipóteses previstas pelo artigo 395 do Código de Processo Penal, não há que se falar
em procedimento criminal e os autos, via de regra, restar-se-ão arquivados.

Por outro lado, caso a denúncia seja recebida, o réu será intimado (citado) para, via
de regra, oferecer Resposta à Acusação, no prazo de 10 dias, com base nos
ditames dos artigos 396 e 396-A e 406 (júri), todos do CPP. Ressalta-se, ainda, que a
‘resposta à acusação’ é o primeiro momento que o acusado possuí para apresentar
sua defesa nos autos.

Dentro do rito sumário e ordinário, a única exceção processual em que não há a


apresentação de Resposta a Acusação, se faz nos processos concernentes aos crimes
de responsabilidade afiançáveis supostamente cometidos por funcionários públicos,
já que neste caso, o Magistrado, após analisar a denúncia ou a queixa ofertada,
estando a mesma em sua devida forma, ordenará a notificação do acusado, para que
este apresente por escrito, sua Defesa Preliminar, dentro do prazo de quinze dias,
conforme versa o art. 514 do Código de Processo Penal.

Nota-se que, nesses casos, o indivíduo que figura no polo passivo da demanda já é
formalmente acusado de praticar um crime, visto já ter sido oferecida a denúncia em
seu desfavor e a denúncia já ter sido recebida.

Basicamente e de uma forma genérica, a resposta à acusação e a defesa preliminar


possuem intrinsicamente os mesmos vieses, sendo, muitas vezes, até confundidas.
Já, noutro passo, a defesa prévia muitas vezes é confundida com a resposta a
acusação, contudo, de forma errônea, já que no caso da defesa prévia a denúncia
ainda não fora recebida.

Todavia, em que pese as diferenças elencadas, na aula de hoje falaremos, apenas, do


instituto da resposta a acusação, já que é a forma de defesa inicial no processo
criminal mais conhecida e mais utilizada, visto que abrange praticamente todos os
crimes previstos em nossa legislação penal e legislação penal especial, com exceção
dos delitos abrangidos pela lei de tóxicos e da hipótese explicitada no tocante a
defesa preliminar.

RESPOSTA À ACUSAÇÃO
Diferentemente do que ocorre no processo civil, em que obrigatoriamente todas as
teses defensivas devem ser alegadas na ‘contestação’, sob pena de serem
considerados como verídicos todos os fatos não controvertidos, no processo penal
as teses defensivas podem ser apresentadas tanto na ‘resposta à acusação’, quanto na
audiência de instrução e julgamento, quanto nas ‘alegações finais’, sem que a escolha
em apresentar a defesa, seja antes ou depois da instrução processual, possa trazer
qualquer prejuízo ao acusado, podendo, então, a defesa escolher o momento mais
oportuno para tal fim.

Guisa-se que na resposta à acusação há, apenas, a possibilidade de se pleitear a


absolvição sumária do acusado, isto é, o magistrado pode resolver o mérito antes
mesmo da instrução do processo, absolvendo o réu de forma sumária.

Neste viés, nos crimes de competência do tribunal do Júri, conforme versa o artigo
415 do Código de Processo Penal, para que haja a absolvição sumária tem-se que:
- estar provada a inexistência do fato; ou
- estar provado não ter sido o réu o autor ou partícipe do fato; ou
- estar demonstrado que o fato não constitui infração penal; ou
- estar demonstrada causa de isenção de pena ou de exclusão do crime.

As 3 primeiras hipóteses de absolvição sumária nos crimes de competência do


tribunal do júri são auto explicativas, já a quarta hipótese necessita de uma
explicação mais afundo.

Assim, conforme dispõe o artigo 20, §1º, do Código Penal, é isento de pena quem,
por erro plenamente justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato que, se
existisse, tornaria a ação legítima.
Neste ínterim, no que tange as causas de exclusão do crime, podemos falar nas
excludentes de ilicitude, conforme dispõe o artigo 23, do Código Penal, sendo essas,
legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e
exercício regular de direito.

Já nos demais crimes, conforme versa o artigo 397 do Código de Processo Penal,
tem-se as seguintes hipóteses de absolvição sumária:
- causa excludente de ilicitude;
- causa excludente de culpabilidade;
- causa excludente de tipicidade;
- causa extintiva da punibilidade

Neste vértice, as causas de excludente de ilicitude foram acima explicadas, já dentre


as excludentes de culpabilidade temos a doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto, de forma que o agente deve ser considerado inteiramente incapaz ao
tempo dos fatos, de acordo com o artigo 26 do Código Penal, e temos a embriaguez
completa, presente no artigo 28, §1º, também do Código Penal.

No entanto, a deficiência mental necessita de um laudo médico que ateste o estado


do agente ao tempo dos fatos, e é preciso que uma perícia seja realizada, portanto,
não há possibilidade de absolvição sumária nesse caso, pois, antes de absolver o
agente, o juiz precisa determinar que aquele seja periciado, para somente depois de
tal fato ser atestado pelo expert, poder considerar o Réu como inimputável.

Ademais, tal questão não pode ser debatida nos autos principais, devendo, inclusive,
ser instaurado incidente de insanidade mental para a apuração da existência ou não
da deficiência mental, autos estes que tramitam em apenso ao processo principal.

Outra excludente de culpabilidade encontra-se prevista no artigo 22 do Código


Penal, qual seja, a coação moral irresistível ou a estrita obediência a ordem, não
manifestamente ilegal, de superior hierárquico.
Observa-se que a coação moral irresistível é uma excludente de culpabilidade,
enquanto que a coação física irresistível é considerada uma excludente de tipicidade,
uma vez que a coação física retira por completo o “animus” do agente e, uma vez
sem manifestação de vontade, não há que se falar em dolo e, consequentemente,
tipicidade do delito, já que a vontade é essencial para caracterizar o dolo, uma das
circunstâncias que tipificam o delito.

E em se tratando da excludente de tipicidade, podemos citar como exemplo o crime


impossível, descrito no artigo 17 do Código Penal. Nesse caso há a exclusão da
própria tipicidade, isto é, não é considerado nem mesmo a existência da conduta
típica.

Como última possibilidade de se pleitear a absolvição sumária nos crimes que não
são de competência de julgamento do tribunal do juri, tem-se a extinção da
punibilidade, que poderá se dar nos casos previstos no artigo 107 do Código Penal,
sendo estes: I) morte do agente, II) anistia, graça ou indulto, III) retroatividade de lei
que não mais considera o fato como criminoso, IV) prescrição, decadência ou
perempção, V) renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de
ação privada, VI) retratação do agente, nos casos em que a lei a admite, e perdão
judicial, nos casos previstos em lei.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Doutro giro, a experiência mostra que a grande maioria dos casos concretos não
ensejam a necessidade de pedido de absolvição sumária, visto que tais hipóteses
estão ausentes daquele fato ou que possivelmente referida alegação não esteja
latente nos autos ou confunde-se com o mérito da ação ou demande a necessidade
de demais esclarecimentos probatórios.

Assim, não sendo cabível alegar nenhuma das hipóteses de absolvição sumária em
sede de resposta à acusação, não é aconselhável que se faça a defesa ampla e
completa do acusado neste momento, pois, as teses defensivas somente dariam
armamento à acusação para a instrução do processo e para a apresentação de suas
alegações finais, visto que o órgão acusador já restar-se-ia ciente das teses defensivas
que serão trabalhadas pela defesa na persecução penal.
Nestes casos, se faz interessante que a defesa apresente somente uma resposta à
acusação genérica, alegando que as teses defensivas serão posteriormente debatidas,
normalmente em sede de alegações finais, conforme dispõe o artigo 482 e 483,
ambos do Código de Processo Penal.

Ademais, a defesa inicial pode ser feita de forma genérica, sendo, contudo,
obrigatório neste momento, que seja apresentado o rol de testemunhas, caso se
queira produzir prova testemunhal, e que se requeira todas as provas que se
pretende produzir nos autos, visto que se tais provas não forem pleiteadas neste
momento processual, as mesmas poderão serão consideradas preclusas, caso
arguidas em outro momento.

Outra curiosidade que se tem, é que a resposta a acusação é peça obrigatória no


processo criminal, e mesmo que esta não seja interposta no prazo legal, ela tem de
ser obrigatoriamente apresentada na demanda, sob pena de anulação de atos
processuais realizados posteriormente ao prosseguimento do processo sem referida
resposta.

Ou seja, o prazo para a apresentação da resposta a acusação, em que pese ser


explícito no CPP, em tese, não pode ser considerado como preclusivo.

No mais, caso seja apresentado nos autos referida resposta a acusação com debates
de matéria preliminar e pedido de absolvição sumária, tem o Magistrado que se
manifestar pontualmente sobre as alegações defensivas e os motivos de estar
rejeitando ou acolhendo referida peça.

A decisão que afasta a absolvição sumária, esta a par dos argumentos trazidos pela
defesa, contudo, possuí natureza jurídica de decisão interlocutória simples, sendo,
em regra, irrecorrível, pois não há preclusão das vias impugnativas sobre seu objeto,
podendo este ser reexaminado por ocasião do recurso de apelação, após a instrução.
Contudo, caso esteja gritante nos autos o direito do agente de ser absolvido
sumariamente, deve a defesa, então, impetrar Habeas Corpus em face da decisão
denegatória de absolvição sumária.

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