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EXCEÇÕES PROCESSUAIS

Jurisdição, ação e exceção

O termo “exceção” em sentido amplo: O processo, do ponto de vista de sua estrutura, é


uma relação jurídica. É uma relação jurídica só: a ação relacionada com a jurisdição.
Porém composta por diversas sub-relações derivadas da ação e da jurisdição. De um
lado, há a ação do MP direcionada ao juiz (e o correlato poder do juiz direcionado ao
MP). De outro lado, está a ação da defesa, essa também dirigida ao magistrado. À
ação da defesa dá-se o nome de exceção. O processo é ação, a jurisdição e a relação
(jurídica – pleonasmo proposital) entre ambas. Esses são os três elementos do
processo. A ação, isolada, é distinta do processo. Jurisdição também. Mas ação e
jurisdição, relacionadas (juridicamente – pleonasmo proposital), são o processo. O
processo é relação jurídica que vincula as partes ao juiz, ou seja, a ação (e exceção é
ação) à jurisdição. A propósito, se for para definir processo da forma mais reduzida
possível, ele é a relação entre a ação e a jurisdição. Concluindo, exceção é, portanto, o
direito de defesa do acusado direcionado ao juiz. Dele derivam todos os demais direitos
da defesa, como, por exemplo, direito de oferecer defesa prévia, de arrolar
testemunhas, de inquirir testemunhas, de ser notificado das audiências, de estar
presente nas audiências, de ser interrogado, de recorrer, de arrazoar o recurso, e
assim por diante. A cada direito desses corresponde um dever da jurisdição (são
relações jurídicas). São também os mais diversos os direitos/poderes da jurisdição, aos
quais correspondem deveres dos sujeitos da relação processual. Em capítulo próprio,
explicaremos as razões por que a relação jurídica não é triangular, e os sujeitos da
relação processual não são apenas as partes, mas também peritos, intérpretes,
escrivão, jurisdição superior, etc. l

Objeção, exceções dilatórias e peremptórias

Objeção e exceção: A doutrina reserva a expressão objeção para aquelas matérias que
podem ser declaradas de ofício pelo juiz, independentemente de provocação das
partes. Já a exceção versaria sobre questão que não pode ser conhecida de ofício pelo
juiz. Essa doutrina é processual civil, e possui pouca utilidade prática no processo
penal, ainda mais considerada a letra do texto processual penal codificado, cujas
exceções podem, todas, ser conhecidas de ofício, inclusive a de incompetência,
enquanto não houver prorrogação.

Exceções dilatórias e peremptórias: As exceções dilatórias ampliam, expandem,


dilatam o processo. Não necessariamente no tempo, pois que, em princípio, o processo
principal não é suspenso (no caso de suspeição pode, eventualmente, ser suspenso).
Mas dilatam no sentido de que geram mais atos processuais, embora incidentais e em
autos apartados. A exceção peremptória, por outro lado, objetiva perimir, extinguir,
eliminar a pretensão punitiva. Peremptório, dentre outros significados, é aquilo que é
definitivo, terminativo.

Quem é quem: As exceções de suspeição e de incompetência são dilatórias. Não


colocam fim ao processo. São processadas em autos apartados e, como regra geral, o
processo principal não é suspenso (artigo 111). Resolvido o incidente, se julgado
improcedente, é arquivado. Se procedente, os autos do processo-crime são enviados
ao juiz substituto (no caso de suspeição), ou competente (na hipótese de
incompetência), onde retomará seu trâmite normal. Já as exceções de litispendência e
de coisa julgada são peremptórias. Porém, note-se bem, o efeito peremptório da
exceção de litispendência nem sempre se verifica no processo em que ela é arguida,
pois que o processo que pode ter preferência para prosseguir ativo pode ser
justamente aquele que foi excepcionado. No que diz respeito à exceção de
ilegitimidade de parte, a exceção ora é dilatória, ora é peremptória. Depende do caso.
Se o MP oferece denúncia em crime de ação privada, a exceção é peremptória, uma
vez que falta legitimidade ao MP, e tal nulidade não pode ser corrigida. Se a queixa é
dada por ofendido menor de 18 anos, a exceção de ilegitimidade é dilatória. O ato
poderá ser corrigido com a intervenção do representante do menor.

A exceção objetiva a extinção do processo sem julgamento do mérito ou ainda a


procrastinação do feito. Pode ocorrer em forma de suspeição, incompetência,
ilegitimidade da parte, litispendência e coisa julgada.

No prazo da defesa escrita, pode o réu apresentar exceções peremptórias (implicam no


encerramento de um feito) e exceções dilatórias(não extinguem o processo). Exemplo
disso é a exceção de incompetência relativa, exceção dilatória, que deve ser oposta, no
prazo de defesa escrita, sob pena de preclusão para a defesa. Permite-se que o juiz
reconheça, de ofício, a sua incompetência relativa (artigo 109 do Código de Processo
Penal).

Desde já anoto que as exceções serão processadas em autos apartados e não


suspenderão, em regra, o andamento da ação penal(artigo 111 do CPP).

Como anotaram Nestor Távora e Rosmar Rodrigues, estamos diante de uma forma de
defesa por meio da qual o acusado objetiva a extinção do processo sem julgamento do
mérito ou ainda a procrastinação do feito. Tal se manifesta mediante a forma de
exceção de suspeição; de incompetência; da ilegitimidade da parte; da litispendência;
da coisa julgada.

A competência rationi loci será relativa. Repita-se que se a incompetência é relativa, se


a parte deixar de argui-la no prazo legal, haverá para ela a preclusão. Nada obsta que
o juiz, a qualquer tempo, reconhecendo-se incompetente, decline de sua competência.
Se não o fizer, não há cuidar-se de nulidade e, sim, na linha de Giovanni Leone, mera
irregularidade.

A competência penal é questão de ordem pública, seja absoluta ou relativa, e pode ser
reconhecida de ofício pelo juiz. Não sendo reconhecida pelo juiz, caberá a exceção de
incompetência a ser arguida no prazo da defesa. Superada tal fase, há preclusão
temporal, se não ajuizada.

Qual o recurso cabível da decisão nesse incidente? Se for julgada procedente, o


recurso cabível será o recurso em sentido estrito (artigo 581, II e III do CPP). Não há
recurso cabível se for julgada improcedente.

Vem a pergunta: Pode o Ministério Público opor a exceção de incompetência?

A esse respeito, disse Tourinho Filho que, se ó órgão ofereceu denúncia perante um
juízo, é porque o entendeu competente para conhecer da espécie. Logo, não seria
possível que a parte acusadora oferecesse a declinatoria fori. O mesmo autor admite
que possa o órgão do Ministério Público, no Processo Penal, na qualidade de custos
legis, não como parte, opor a exceptio. Assim, ajuizada a exceção, deverá o juiz intimar
a parte contrária para falar nos autos.

Há ainda exceções dilatórias, envolvendo a suspeição, na qual se discute sobre a


imparcialidade do juiz, diferente da competência, que diz respeito ao juízo.

O juiz será suspeito (artigo 254 do Código de Processo Penal): se for amigo íntimo ou
inimigo capital de qualquer das partes ou do advogado da parte; se for ele cônjuge,
ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato análogo, sobre
cujo caráter criminoso houver controvérsia; se for ele, seu cônjuge, ou parente,
consanguíneo, ou afim até o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder
a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; se tiver aconselhado
qualquer das partes; se for credor ou devedor, tutor, curador, de qualquer das partes.

Dir-se-á que todas as condições que afetam a competência subjetiva do juiz não
passam de incompatibilidades. Será o caso do juiz que é amigo do réu, que é amigo do
advogado ou seu irmão. Haverá incompatibilidade se o juiz estiver funcionando, por
absurdo, num processo, em funções inconciliáveis, como advogado e juiz ao mesmo
tempo. Se as funções distintas forem exercidas pela mesma pessoa, contemporânea e
não simultaneamente, haverá impedimento. Se as funções distintas forem exercidas,
contemporaneamente, por pessoas diversas, que guardem entre si aquele grau de
parentesco estabelecido em lei, haverá impedimento. Se pessoas diversas, parentes
entre si, exercerem, simultaneamente, a mesma função, haverá impedimento.
A arguição deve ser feita em petição dirigida ao próprio juiz que se pretende recusar,
trazendo-se os esclarecimentos sobre o motivo da recusa.

Poderá a exceção ser ajuizada pelo procurador da parte desde que na procuração
outorgada haja poderes especiais. Por sinal, o Tribunal de Justiça de São Paulo, no
julgamento da Exceção de Suspeição 53.839 – 0, Câmara Especial, Relator Oetterer
Guedes, 18 de fevereiro de 1999, entendeu que a arguição deve vir acompanhada de
instrumento de procuração com poderes especiais, como a melhor interpretação do
artigo 89 do Código de Processo Penal.

Podem o Ministério Público como ainda a assistência da acusação, ao querelante, na


ação penal privada, arguir a suspeição. Se a causa de suspeição for superveniente,
isto é, vier a ocorrer após o ajuizamento da ação penal, tal não poderá impedir essa
arguição. Se o órgão do Parquet tem conhecimento de qualquer motivo legal de
suspeição, oferecida a denúncia em separado, o órgão do Ministério Público poderá, na
própria inicial, levantar a exceptio ou, então, no próprio corpo do inquérito policial, ou
das peças de informação ou da representação.

Arguida a exceptio suspicionis, se o juiz reconhecer a suspeição, sustará o andamento


do processo, determinando a juntada da petição do excipiente aos autos, e,
declarando-se suspeito, ordenará a remessa dos autos a seu substituto.

Se o juiz não acatar os argumentos contidos na petição de suspeição, em prazo


impróprio de 3 (três) dias, encaminhará os autos da exceção ao tribunal competente.
Se o tribunal entender que a exceção é procedente, ficarão nulos os atos do processo
principal, desde o instante em que surgiu a suspeição, artigos 101 e 564, I, do Código
de Processo Penal.

Se a exceção for rejeitada e o tribunal avaliar malícia da parte, determinará a


cominação de multa e o pagamento das custas do incidente à parte excipiente.

Não existe recurso apropriado para combater o reconhecimento da suspeição,


notando-se que o artigo 581, III, do CPP, estabelece que contra a decisão que julgar
procedente as exceções, caberá recurso em sentido estrito, ressalvando-se a de
suspeição. Ora, a parte prejudicada poderá ajuizar habeas corpus (se estiver em
discussão o ir e vir) ou o mandado de segurança (direito líquido e certo diverso).
Poderá ser ajuizado recurso extraordinário, no caso de suspeição de órgão do Parquet,
como já decidiu o STF, na RCL 631, Relator Ministro Octávio Gallotti, Informativo STF
n. 65, de 31 de março, de 1997.

Exceções peremptórias são a coisa julgada, a ilegitimidade da parte, a litispendência,


que devem ser opostas no prazo da defesa escrita, segundo o artigos 108 e 110
combinado com o artigo 396 do Código de Processo Penal.A exceptio litispendentiae
deve ser arguida contra alguém que propõe, no mesmo juízo ou em outro diverso,
novamente, a mesma causa, podendo o réu esgrimá-la, alegando que aquela causa já
pende de julgamento. Ofertada e recebida a denúncia, citado o réu, validamente, fala-
se em lide pendente de julgamento, litispendência.

A litispendência pode ser arguida pelo réu ou reconhecida ex officio. O órgão do


Parquet, como custos legis, pode argui-la.

O juiz deve ouvir a parte contrária.

Reconhecida a litispendência o recurso será o recurso em sentido estrito(artigo 581, III,


CPP). Se, porventura, houver decisão onde o juiz afirme de oficio, a litispendência,
caberá apelação(artigo 593, II, CPP).

A exeptio illegitimitatis partis poderá ser declarada de ofício.

Será o caso do promotor ajuizar ação penal pública incondicionada quando o caso é de
ação penal privada.

Se a parte for legítima, mas houver defeito de representação será caso de ilegitimidade
processual, seja porque o representante da vítima não está legalmente habilitado ou
porque outro é o seu representante legal e não o que comparece em juízo.

O artigo 110 do Código de Processo Penal permite que, por meio de exceção de
ilegitimidade da parte, poder-se-á arguir a illegitimatio ad causam e a illegitimatio ad
processum.

Oposta tal exceção, o juiz deverá ouvir a parte contrária e o incidente deve ser autuado
em separado.

O recurso cabível da decisão que reconhece a ilegitimidade da parte será o recurso em


sentido estrito (artigo 581, III, CPP). Se o juiz reconhece, para Fernando da Costa
Tourinho Filho, cabe a aplicação do artigo 591, I, do CPP, pelo recurso em sentido
estrito, pois trata-se de uma forma de não recebimento da peça acusatória.

REFERÊNCIA:

ROMANO, Rogério Tadeu. Incidentes processuais no processo penal – exceções.


Revista Jus Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 22, n. 5169, 26 ago. 2017.
Disponível em: https://jus.com.br/artigos/59906. Acesso em: 2 jun. 2023.

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