Você está na página 1de 20

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

SETOR DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


FACULDADE DE DIREITO
DIREITO PROCESSUAL PENAL B– DP 422
PROF. DR. JOÃO GUALBERTO GARCEZ RAMOS

NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO PENAL


1. Introdução

A busca por definir a natureza jurídica do processo consiste em um esforço no sentido


de encaixar o processo penal em alguma categoria jurídica, especialmente o processo
penal condenatório.

2. O processo como categoria obrigacional

Essa concepção (ou teoria) buscava enquadrar o processo em fenômenos jurídicos


privados. Advém do direito romano, especialmente da litiscontestatio. Nessa, autor e
réu compareciam perante o pretor (juiz romano) e apresentavam os fatos sobre os quais
o pretor decidiria. O pretor delimitava a demanda e tanto autor quanto réu deveriam
aceitar sofrer os efeitos da demanda, celebrando um acordo de vontades para o
julgamento da demanda a partir da delimitação, pois o Estado não tinha força suficiente
para determinar o cumprimento da obrigação.
A delimitação fixada pelo pretor substituía a obrigação original, gerando uma nova
obrigação, a ser cumprida por aquele que fosse derrotado no litígio. Portanto, a natureza
jurídica do processo era explicada com um contrato ou quase-contrato, ou seja, uma
categoria obrigacional.
3. O processo como instituição
Instituição pode ser definida como uma organização social autônoma, a qual nasce em
um determinado contexto, mas, torna-se autossuficiente. Ademais, contém uma ideia-
matriz, a qual, para ser realizada, necessita da união de seus integrantes.
O processo era explicado como um conjunto estável de relações jurídicas vinculadas por
uma ideia objetiva, a qual poderia ser a pretensão da demanda. O problema dessa teoria
é a inexistência de um conceito determinado de instituição, haja vista que há múltiplas
acepções acerca desse conceito.
4. O processo como relação jurídica
Oskar Bülow desenvolveu a tese de que o processo é uma relação jurídica, a partir do
reconhecimento de que há uma distinção entre a relação jurídica material e a relação
jurídica formal. Para ele, a relação jurídica material é o objeto de discussão no processo,
conquanto a relação jurídica processual é o instrumento por intermédio da qual essa
discussão ocorrerá.
O autor também defendeu que a relação jurídica processual tem natureza pública, a
qual une o juiz e as partes.
Outras concepções de processo como relação jurídica foram desenvolvidas:
Teoria do processo como relação jurídica linear: formulada pelo alemão JOSEF KOHLER,
definia que o processo era uma relação jurídica de natureza privada, a qual se
desenvolvia unicamente entre autor e réu.

Teoria do processo como relação jurídica angular: formulada pelo também alemão
JULIUS WILHELM VON PLANCK, definia que o processo era uma relação jurídica que
ocorria entre as partes e o juiz e nunca somente entre as partes.
Teoria do processo como relação jurídica triangular: desenvolvida pelo alemão ADOLF
WACH, concebia o processo como uma relação jurídica da caráter público, a qual
englobava as relações desenvolvidas entre as partes e o juiz e somente entre as partes.
É a concepção mais adotada no âmbito do processo penal.
5. O processo como situação jurídica
Para JAMES GOLDSCHMIDT, o processo possui um caráter dinâmico que transforma o
direito objetivo (conjunto de normas), o qual é estático, em chances. Essas, são
representadas pelas possibilidades de praticar atos que levem ao reconhecimento do
direito postulado, expectativas de uma sentença favorável e os ônus decorrentes da
postura que visa evitar a derrota no processo.
É justamente essa sequência de diversas situações jurídicas (poderes, ônus, faculdades
e sujeições) que revela a natureza jurídica do processo, ou seja, que o processo é uma
situação jurídica.
6. O processo como procedimento em contraditório
Teoria formulada pelo italiano ELIO FAZZALARI, a qual define o processo como um
procedimento em contraditório entre as partes. Para esse autor, o procedimento é um
conjunto de atos interligados de maneira lógica com um objetivo final. Para cada ato
praticado, deve ser permitida a participação das partes em contraditório. É justamente
essa participação em cada ato do procedimento que torna esse um processo.
No texto, o professor critica essa concepção, pela impossibilidade de se determinar o
início do processo penal condenatório, pois a fase do inquérito policial também admite
contraditório. Ainda, mesmo no processo propriamente dito, é impossível possibilitar
contraditório a todos os atos, haja vista que ele é um elemento acidental, ou seja, pode
ser suprimido em alguns atos (exemplo: motivação per relationem). Dessa forma, há
uma impossibilidade de se definir a natureza jurídica do processo a partir do
contraditório.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


MOMENTOS DO PROCESSO PENAL CONDENATÓRIO
1. Noções introdutórias
O conteúdo do processo penal é a causa penal, ou seja, o fato criminoso exposto na
inicial acusatória devidamente recebida pelo juízo.
JOSÉ FREDERICO MARQUES, um dos primeiros processualistas penais brasileiros, aderia
à Teoria Geral do Processo na tentativa de delimitar o conteúdo do processo penal. Para
o autor, o conteúdo do processo penal é a lide penal. Essa concepção advém da clássica
obra de CARNELUTTI, a qual merece ser retomada para posterior análise da
incompatibilidade com o processo penal.
CARNELUTTI define a lide como um conflito de interesses qualificado por uma pretensão
resistida. Assim, se há um bem jurídico disputado por mais de uma pessoa, há o conflito
de interesses. Se uma das pessoas se opõe à pretensão da outra, há a pretensão
resistida.
No campo do processo penal, portanto, existiria uma lide entre vítima e acusado ou
entre acusado e Estado, porquanto o Estado e a vítima, respectivamente, na ação
privada e pública visariam impor uma punição ao autor e, esse último resiste àquela
imposição.
No texto, o professor indica que a lide está presente na ação penal privada, porquanto
há uma conflito de pretensões, visto que o querelante deve prosseguir a fim de
condenar o réu, logo, qualquer ato em sentido contrário acarreta a extinção da
punibilidade (exemplos: perempção, deixar de pedir condenação em alegações finais).
Contudo, na categoria mais importante no âmbito do processo penal, que é a ação penal
pública, inexiste lide, porquanto nem sempre há um conflito de pretensões. Por
exemplo, o Ministério Público deve pedir a absolvição do réu caso vislumbrada a
ausência de provas de autoria. Nessa hipótese, inexiste conflito de pretensões, pelo
contrário, as pretensões são convergentes.
Para o professor, o conteúdo do processo penal é a causa penal, ou seja, o fato
criminoso exposto na inicial acusatória devidamente recebida pelo juízo.

2. Formação, suspensão e extinção


A regra geral é que a formação do processo se inicia com o oferecimento da denúncia
ou da queixa-crime, completando-se com o recebimento pelo juiz. Há três situações
distintas dessa situação geral, quais sejam:
(i) Rejeição da denúncia ou queixa: nesse caso, o processo não se forma;
(ii) Absolvição sumária: processo se forma apenas para prolação da sentença
absolutória;

JEFFERSON ALEX PEREIRA


(iii) ReSE em decisão de rejeição da denúncia/queixa ou apelação da sentença de
absolvição sumária: se o recurso for provido, o processo penal condenatório
se forma, completando-se no momento do provimento do recurso.
A suspensão do processo occrre nas seguintes hipóteses:
(a) superveniência de doença mental do acusado;
(b) questão prejudicial que deve ser solucionada no juízo cível;
(c) impedimento do juiz, força maior ou obstáculo oposto pela parte contrária;
(d) suspensão condicional do processo: crimes com pena mínima cominada igual ou
inferior a 1 (um) ano;
(e) citação por edital e não comparecimento: acusado citado por edital que não
comparece ao processo nem constitui advogado. Nessa hipótese, suspense-se o
processo, bem como o prazo prescricional.
A extinção do processo ocorre quando há o trânsito em julgado ou preclusão das
seguintes decisões:
(I) absolvição sumária do denunciado;
(II) absolvição do denunciado;
(III) extinção da punibilidade;
(IV) extinção da pena pelo cumprimento;
(V) impronúncia do acusado;
(VI) despronúncia do acusado.

PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
1. Noções introdutórias
A ideia de pressupostos processuais parte da concepção do processo como relação
jurídica. Como todo relação jurídica, possui pressupostos de existência e validade.
2. Pressupostos processuais de constituição ou de existência
São pressupostos de existência: juiz com jurisdição, autor e réu, existência de causa
penal. Ausentes esses pressupostos, não surge um processo, em sentido jurídico e,
qualquer decisão proferida, não possui eficácia. Devem ser analisados e declarados de
ofício pelo juiz, sem necessidade de provocação das partes.
3. Pressupostos processuais de validade
A ausência dos pressupostos processuais de validade afeta a relação jurídica processual,
mas, não acarreta sua inexistência, somente produz uma relação jurídica processual
viciada. Devem ser analisados e declarados de ofício pelo juiz, sem necessidade de
provocação das partes.
3.1. Originalidade da causa

JEFFERSON ALEX PEREIRA


A originalidade da causa determina que o conteúdo discutido na relação jurídica
processual, ou seja, a causa penal não pode ter sido julgado em outros órgãos (coisa
julgada) ou potencialmente ser julgada (litispendência).
Quando verificada a ausência de originalidade da causa, ou seja, que há coisa julgada ou
litispendência, o juiz pode declarar de ofício, bem como o imputado pode arguir como
matéria preliminar em qualquer momento do processo.
3.2. Capacidade objetiva do juiz
O juiz que julgar a causa penal deve ser o juiz competente. Não confundir com requisito
“juiz com jurisdição”, o qual é um pressuposto de existência. O juiz com jurisdição pode
não ser o juiz competente. Por exemplo, o juiz de uma vara cível que julga causa criminal
possui jurisdição, mas, não possui competência.
3.3. Capacidade objetiva das partes
O acusado deve possuir 18 (dezoito) anos de idade no início do processo.
O membro do MP deve ter capacidade postulatória, ou seja, regularmente ter tomado
posse no cargo e estar em exercício.
Na ação penal privada, não é exigida capacidade objetivado querelante, ou seja, o
querelante não necessariamente deve ter mais de 18 (dezoito) anos, pois a ação pode
ser proposta por seu representante legal, se o ofendido for menor de idade ou tiver
capacidade mental comprometida.
3.4. Capacidade subjetiva do juiz
A ausência de capacidade subjetiva do juiz se verifica em dois casos: impedimento e
suspeição. Ambos afetam o princípio da imparcialidade (relativo à jurisdição). O
impedimento acarreta a presunção de parcialidade absoluta e, a suspeição acarreta a
presunção relativa de parcialidade.
3.5. Capacidade subjetiva dos órgãos da persecução penal
Os órgãos encarregados da persecução penal (MP, Polícias) não devem ter vínculos com
os investigados, aplicando-se aos mesmos às regras relativas ao impedimento e à
suspeição.
3.6. Acusação formalmente perfeita
A acusação deve imputar fatos da maneira mais pormenorizada possível, a fim de que o
acusado possa saber exatamente de que se defende. Portanto, há uma vedação ao
oferecimento de denúncias genéricas.
3.7. Respeito à ampla defesa
Ampla defesa: é uma faculdade do réu. Pode participar de todos os atos processuais.
Defesa técnica: é uma injunção legal. A Defesa deve ser realizada por profissional
habilitado (advogado ou defensor público).

JEFFERSON ALEX PEREIRA


3.8. Respeito ao contraditório
O contraditório se constitui em ciência dos atos processuais praticados + possibilidade
de contrariar tais atos.

FATOS E ATOS PROCESSUAIS PENAIS


1. Noções introdutórias
O processo penal é um conjunto de poderes, faculdades, ônus e deveres das partes
integrantes do processo.
2. Conceito
Fato processual penal, em sentido estrito, é todo evento relevante para o processo que
independe da atividade humana. São exemplos: superveniência de doença mental do
acusado, decurso de prazos, morte do acusado.
Ato processual penal, por sua vez, é todo evento relevante para o processo que depende
da atividade humana. São exemplos: oferecimento de denúncia, confissão do acusado,
depoimentos das testemunhas.
Não há a necessidade de que o ato processual seja comissivo (ação), pois há atos
processuais omissivos, como a revelia, por exemplo. Também não necessita ser
praticado dentro do processo penal, pois a renúncia tácita prática de ato incompátivel
com o prosseguimento do processo) é praticada na realidade fática, e, não no âmbito
do processo .
Há múltiplas classificações possíveis:
a. quanto ao sujeito: os atos podem ser da parte, do juiz, dos auxiliares da Justiça,
etc;
b. quanto ao conteúdo: os atos podem ser declarações ou execuções. As
declarações contém manifestações de vontade e de conhecimento (denúncias,
sentenças, certidões, etc). Já as execuções são atos que visam expressar
materialmente as manifestações de vontade (cumprimento de mandado judicial,
interrogatórios, etc);
c. quanto ao número de pessoas: os atos podem ser unilaterais, quando praticados
por somente uma das partes (decisão judicial); bilaterais (por exemplo o perdão,
pois há necessidade de proposição do ofendido e aceitação pelo acusado);
multilaterais: acordo de suspensão condicional do processo (envolve a
proposição do acusador, a aceitação do acusado e a homologação do juiz).
d. quanto aos efeitos: os atos podem ser constitutivos, extintivos, impeditivos e
modificativos
3. Forma e substância dos atos processuais penais
Há dois elementos que devem estar presentes em qualquer ato processual:

JEFFERSON ALEX PEREIRA


a. Elemento formal: elemento que capta parte da realidade, ou seja, revela
parte da realidade do ato processual. Exemplos: inquérito deve ser escrito,
oitivas devem ser orais. Não se pode pretender um formalismo exacerbado,
ou seja, pretender que qualquer defeito formal vicia o ato processual.
b. Elemento substancial: é a finalidade do ato, ou seja, quanto do conteúdo do
ato pode influenciar no mérito da causa.
4. Atos de comunicação
Os atos de comunicação visam garantir um dos aspectos do contraditório, qual seja, a
ciência bilateral dos atos, ou seja, a ciência das partes acerca dos atos processuais
praticados. É justamente essa ciência que garante o outro aspecto integrante do
contraditório, a possibilidade de contrariar os atos processuais.
4.1. Citação
É o ato pelo qual o denunciado é cientificado acerca da existência de um processo penal
contra ele.
A citação pode ser ficta ou real. Nas hipóteses de citação real, encontram-se: citação,
citação por carta precatória, citação mediante carta rogatória, citação do acusado preso,
citação do militar por intermédio de seu chefe de serviço. Quando o citado for
funcionário público, é necessário, além de citar o denunciado, notificar o superior
hierárquico.
A citação ficta ocorre na hipótese de (i) citação por hora certa, quando o oficial de justiça
procurar o denunciado mais de três vezes no local indicado no mandado de citação e
não o encontrar, e, houver suspeita de que o denunciado esteja se ocultando para evitar
a citação.; bem como na hipótese de (ii) citação por edital, quando é impossível localizar
o acusado. Nesse caso, há a suspensão do processo e do prazo prescricional.
4.2. Notificação e intimação
Notificação é a cientificação acerca de um ato processual futuro. Intimação é a
cientificação acerca de um ato processual pretérito. O CPP confunde as duas formas de
ciência e trata das duas indistintamente , ou seja, define necessidade de intimação em
casos nos quais o correto seria a notificação.
O membro do MP, defensor público ou defensor dativo devem ser intimados ou
notificados pessoalmente, mediante vista dos autos.
O advogado constituído, o advogado do querelante (no caso de ação penal privada) e o
assistente da acusação devem ser notificados ou intimados por intermédio de
publicação oficial.
O acusado preso deve ser intimado ou notificado pessoalmente. O acusado solto pode
ser intimado ou notificado por intermédio de seu defensor constituído.
5. Atos de colaboração

JEFFERSON ALEX PEREIRA


São atos realizados pelo juiz que não é o competente para o julgamento da causa penal.
Há três instrumentos de colaboração no processo penal: carta precatória, carta de
ordem e carta rogatória.
5.1. Carta precatória
É o instrumento por intermédio do qual uma autoridade judiciária solicita a outra
autoridade judiciária, de mesmo nível hierárquico, com competência territorial distinta,
a realização de um ato processual. Os atos processuais se restringem à instrução
probatória.
A testemunha possui a prerrogativa de ser ouvida mediante carta precatória, no local
de sua residência.
5.2. Carta de ordem
É o instrumento por intermédio do qual uma autoridade judiciária determina a outra
autoridade judiciária, de nível hierárquico inferior, a realização de um ato processual,
quando o ato necessitar ser realizado fora dos limites territoriais da sede do tribunal. Os
atos processuais se restringem à instrução probatória.
5.3. Carta rogatória

É o instrumento de colaboração entre autoridades judiciárias de jurisdições distintas. O


pedido ocorre via diplomática, sendo necessária a anuência do país solicitado.
Atualmente, não é o único instrumento de colaboração internacional, existindo também
os acordos de cooperação jurídica internacional.

NULIDADES DO PROCESSO PENAL


Para compreender o texto e a matéria de nulidades como um todo, é necessário
entender que os atos do processo penal se situam em um sistema de tipicidade de
formas. Assim, a lei processual prevê um tipo legal, o qual contém os requisitos e a forma
pela qual o ato deve ser praticado.
Por exemplo, a citação é um ato processual que deve ser realizado em observância ao
tipo legal previsto nos arts. 352 e 357 do CPP, ou seja, o tipo legal não é necessariamente
um artigo do CPP, pode ser um complexo de dispositivos.
Se a parte pratica o ato em conformidade ao tipo legal, o ato será típico, logo, produz os
efeitos jurídicos previstos em lei. Se o ato é praticado e desconformidade ao tipo legal,
o ato será atípico, podendo gerar efeitos jurídicos ou não. É justamente a atipicidade do
ato que acarreta seu defeito, o qual varia conforme o grau de desconformidade em
relação à previsão do tipo legal1.

1
BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo Penal. 4.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2016. p.787-
788.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


1. Defeitos do ato jurídico processual penal
Os defeitos dos atos jurídicos variam conforme o grau de desconformidade em relação
à tipicidade das formas. A irregularidade possui um grau de desconformidade
irrelevante, ou seja, o ato praticado é próximo da forma prevista no tipo legal e produz
efeitos jurídicos. A inexistência possui o mais elevado grau de desconformidade, não
produzindo efeitos.
A nulidade é o estágio intermediário de desconformidade em relação ao tipo legal,
podendo produzir efeitos (casos em que o ato seja anulável, ou seja, nulidade relativa)
ou não produzir efeitos (casos de ato nulos, ou seja, nulidade absoluta).
1.1. A inexistência
Ato inexistente é aquele que não possui os pressupostos de existência. Ele existe no
plano material, mas, não no plano jurídico. Por exemplo, uma sentença proferida por
um escrivão existe materialmente, mas, não possui significado jurídico, porquanto
proferida por sujeito sem jurisdição, o qual é um pressuposto de existência do processo.
No texto, o professor indica que a melhor opção é considerar os exemplos de atos
inexistentes como atos nulos, pois é mais benéfico ao réu, haja vista que na hipótese de
uma sentença penal absolutória inexistente, não seria possível admitir a produção de
nenhum efeito, ou seja, todo o processo seria desconsiderado.
1.2. A nulidade
A nulidade é uma sanção aplicada a um ato praticado em desconformidade ao tipo legal.
Ela não é automática, dependendo de pronunciamente judicial. As nulidades podem ser
originárias, quando o próprio ato nulo contém uma irregularidade, ou, derivadas,
quando o ato nulo não contém em si uma irregularidade, mas sim, dependia de ato que
continha irregularidade e foi declarado nulo. Há ainda a nulidade parcial, a qual atinge
somente parte do ato ou do processo, preservando-se a parte não atingida pela
irregularidade.
1.2.1. As nulidades cominadas do Código de Processo Penal.
O Código de Processo Penal divide as nulidades em duas classes:
(a) absolutas: decorre da violação de uma norma de ordem pública. Pode ser declarada
de ofício. Identifica-se a nulidade absoluta quando o CPP não prevê a possibilidade de
sanar o vício;
(b) relativas: decorre da violação de uma norma que tutela interesse privado de umas
das partes. Identifica-se a nulidade relativa quando o CPP prevê que a nulidade será
sanada, se não alegada no prazo legal pela parte.
1.2.1.1. Nulidade por incompetência do juiz

JEFFERSON ALEX PEREIRA


A nulidade decorrente da incompetência por prerrogativa de função (incompetência
ratione personae) é absoluta. A nulidade decorrente da incompetência territorial é
relativa. A nulidade decorrente da incompetência por conexão ou continência é relativa.
1.2.1.2. Nulidade por suspeição ou por suborno do juiz
A nulidade decorrente de impedimento ou suborno do juiz é absoluta, ou seja, não
podem ser sanadas. Por outro lado, a nulidade decorrente da suspeição do juiz é
relativa, podendo ser sanada e, para seu reconhecimento, dependem de alegação da
parte e da demonstração de prejuízo.
1.2.1.3. Nulidade por ilegitimidade de parte
Ocorre quando há violação à regra da titularidade da ação penal (a regra é titularidade
do MP na ação penal pública e titularidade do ofendido na ação penal privada).
1.2.1.4. Nulidade por falta da denúncia ou da queixa ou da representação
A ausência de representação acarreta a nulidade relativa, haja vista que o art. 569 dispõe
que a ausência de representação pode ser suprimida a todo tempo antes da sentença,
ou seja, é sanável. Por outro lado, a ausência de denúncia ou queixa acarretam a
nulidade absoluta, haja vista que não há previsão de sanar esse vício. A ausência de
imputação da denúncia ou da queixa também acarretam a nulidade absoluta.
1.2.1.5. Nulidade por falta do exame de corpo de delito nos crimes que deixam
vestígios
A ausência do exame de corpo de delito nos crimes que deixam vestígios acarreta a
nulidade absoluta do processo, pois não há possibilidade de sanação.
1.2.1.6. Nulidade por falta de nomeação de defensor ao réu presente que não o tiver
ou ao réu ausente.
É uma causa de nulidade absoluta. Está revogada a parte final do dispositivo (referente
à nomeação de curador para menor de 21 anos), em razão do Código Civil dispor que a
maioridade se atinge com 18 anos.
1.2.1.7. Nulidade por falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos
do processo iniciado por denúncia
É uma causa de nulidade absoluta, pois não há possibilidade de sanação.
1.2.1.8. Nulidade por falta de intervenção do Ministério Público em todos os termos
do processo iniciado por queixa subsidiária
É uma causa de nulidade relativa, pois o art. 572 dispõe que será considerada sanada se
não for alegada pela parte.
1.2.1.9. Nulidade por falta de citação do réu para ver-se processar
É uma causa de nulidade relativa, pois o art. 570 dispõe que será considerada sanada se
o réu comparecer ao interrogatório ou a outro ato processual.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


1.2.1.10. Nulidade por falta de interrogatório
Parte da doutrina considera que a nulidade decorrente da ausência de interrogatório
viola a garantia constitucional da ampla defesa (CF/88; art. 5º, LV), afetando a dimensão
da autodefesa. Não é essa a posição adotada pelo professo,no texo. Ele considera que
se a ausência de interrogatório é percebida:
(a) Durante o processo, após a audiência de instrução: não há nulidade, somente
deve ser realizado o interrogatório;
(b) Durante o processo, após a sentença: também não há nulidade, somente
deve ser realizado o interrogatório;
(c) Durante o processo, na fase recursal: há nulidade relativa;
(d) Após o trânsito em julgado: há nulidade relativa.
1.2.1.11. Nulidade por falta de concessão de prazos à acusação e à defesa
No texto, o professor considera que é uma causa de nulidade relativa, devendo ser
arguida pela parte prejudicada. Não parece ser a posição correta, pois o art. 572. Dispõe
que “As nulidades previstas no art. 564, III, d e e, segunda parte, g e h, e IV, considerar-
se-ão sanadas”. Assim, o art. 572 faz menção ao interrogatório, haja vista que o art. 564
se divide em três partes (citaçãodo réu para se ver processar, interrogatório e prazo para
acusação e defesa).
1.2.1.12. Nulidades do procedimento especial do júri
A quebra da incomunicabilidade entre os jurados, a falta de quesitos, a ausência de ao
menos 15 jurados para a constituição do júri, a ausência de sorteio dos jurados, são
causas de nulidade absoluta.
1.2.1.13. Nulidade por falta da sentença
Considera-se nulidade absoluta a ausência da sentença, tanto a ausência integral,
quanto de algum de seus elementos essenciais: relatório, fundamentação e dispositivo.
Somente no JECrim dispensa-se a presença do relatório.
1.2.1.14. Nulidade por falta do recurso de ofício
É um dispositivo inútil do CPP. Em tese, há nulidade absoluta na ausência do recurso de
ofício, contudo, não há mais recurso de ofício na prática.
1.2.1.15. Nulidade por falta de intimação dos atos judiciais decisórios recorríveis
É uma hipótese de nulidade absoluta. Contudo, para o professor, é uma hipótese de
nulidade relativa, pois pode ser sanada caso haja recurso tempestivo do réu.
1.2.1.16. Nulidade por falta de quorum legal nas turmas ou câmaras julgadoras dos
tribunais
É uma hipótese de nulidade absoluta.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


1.2.1.17. Nulidade por omissão de formalidade que constitua elemento essencial do
ato
Trata-se da nulidade que atinge algum aspecto formal essencial do ato. Por exemplo, no
processo penal brasileiro a prova pericial deve ser elaborada por dois peritos oficiais.
Logo, salvo as exceções previstas em lei, a participação de peritos oficiais constitui-se
em formalidade essencial da prova pericial.
1.2.1.18. Nulidade por falta de motivação dos atos judiciais decisórios recorríveis
O art. 93, IX, da Constituição dispõe que devem ser fundamentadas todas as decisões,
sob penal de nulidade. Contudo, deve ser interpretado no sentido de que as decisões de
mérito devem ser fundamentadas, e não absolutamente todas as decisões.
1.2.2. As nulidades por contrariedade aos fundamentos do Processo Penal
Não se trata de nulidade cominada. Decorre da lógica de que se o processo desrespeita
algum fundamento essencial ao seu funcionamento, sua finalidade é colocada em risco.
1.2.2.1. Nulidade por vulneração do princípio da ampla defesa
1.2.2.1.1. A inépcia da denúncia
A denúncia deve conter todos os elementos do fato criminoso, pormenorizando a
atuação de cada denunciado no delito, sob pena de ser considerada inepta. Há uma
vedação, portanto, à propositura de denúncia genérica. Tal nulidade é relativizada pela
jurisprudência nos delitos societários, onde a atuação individual pode ser verificada no
decurso da instrução criminal.
1.2.2.1.2. Inexistência e deficiência da defesa técnica
A falta de defesa acarreta a nulidade absoluta, conquanto a deficiência técnica acarreta
a nulidade relativa (depende de demonstração de prejuízo ao réu).
1.2.2.1.3. Cerceamento da defesa
Para o reconhecimento da nulidade em decorrência do cerceamento da defesa, deve
ser comprovado o efetivo prejuízo para a defesa.
1.2.2.1.4. O julgamento ultra petita
É nula a parte da sentença que condena o réu por crime não descrito na inicial
acusatória, hipótese em que deveria ter sido aplicado o instituto da mutatio libelli.
1.2.2.1.5. A ausência de recurso do defensor
Inexiste nulidade na ausência de recurso do defensor, pois não há um “dever geral de
recorribilidade”.
1.2.2.1.6. A inversão na apresentação das alegações escrita

JEFFERSON ALEX PEREIRA


Há nulidade do processo quando se constata a inversão na ordem de apresentação das
alegações finais, pronunciando-se, por último, o Ministério Público, o que impõe a
declaração de nulidade do processo
1.2.2.1.8. Nulidade da decisão de pronúncia por excesso de linguagem
O juiz, na decisão que pronuncia o réu, não pode adentrar ao exame da culpabilidade
do autor do fato criminoso, somente podendo fazer referência aos indícios de autoria e
prova da materialidade. Também durante a fase dos debates orais não podem ser feitas
referências à decisão de pronúncia.
1.2.2.3. Nulidade do processo por produção de prova ilícita
A prova que tenha sido obtido por meio ilegal deve ser desentranhada do processo, e,
se a sentença basear-se em prova ilícita, o processo deve ser declarado nulo.
1.3. A nulidade relativa
Para CARNELUTTI, a nulidade absoluta tem como característica conter um defeito
insanável, não podendo produzir efeitos jurídicos. O reconhecimento da nulidade
absoluta independe de provocação das partes. Por sua vez, a nulidade relativa consiste
no ato ter como característica um vício sanável, pode produzir efeitos desde que
ocorram atos ou fatos que reparem o defeito desse ato. Para o reconhecimento da
nulidade relativa, é necessário que a parte prejudicada pelo ato manifeste a ocorrência
da nulidade.
1.4. A irregularidade
A irregularidade possui um grau de desconformidade irrelevante, ou seja, o ato
praticado é próximo da forma prevista no tipo legal e produz efeitos jurídicos.
2. Legitimidade para arguir a nulidade
Nenhuma parte poderá arguir nulidade a que haja dado causa, ou para que tenha
concorrido, ou referente a formalidade cuja observância só à parte contrária interesse.
Portanto, o critério para a legitimidade é o interesse da parte.
3. O princípio pas de nullité sans grief
Somente será decretada a nulidade de um ato processual se, de fato, resultar prejuízo
para a acusação ou para a defesa, isto é, se a nulidade houver influído concreta e
negativamente na decisão da causa ou na apuração da verdade substancial. Dessa
forma, não há prejuízo presumido.
4. O princípio da relevância da nulidade
Não será declarada a nulidade do ato processual que não houver influído na apuração
da verdade substancial ou na decisão da causa.
5. Omissões na denúncia, queixa ou representação

JEFFERSON ALEX PEREIRA


É possível suprir eventuais omissões na denúncia ou da queixa que não tenham
comprometido a ampla defesa do acusado.
6. Efeitos da declaração de nulidade
6.1. Generalidades
Nem todos os atos posteriores ao ato nulo serão também nulos. Conforme o CPP, os
atos posteriores somente serão nulos se dependerem dele ou forem consequência. O
problema reside justamente na da extensão dos efeitos da nulidade, ou seja, determinar
quais atos são consequência ou dependem do ato nulo.
Antonio Acir BREDA2 tem um texto sobre o assunto “Efeitos da declaração de nulidade
no processo penal”, o qual o professor referenciou, mas não discorreu sobre. Para esse
autor, as nulidades na fase postulatória do processotêm seus efeitos estendidos a todos
os atos processuais subsequentes. Já as nulidades na fase instrutória, em razão da
peculiaridade desses atos instrutórios, podem ser isoladas, e, anula-se o ato defeituoso
e os efeitos dessa nulidade se estendem apenas aos atos que dele decorrem
diretamente e também se anula a sentença, ou seja, o ato decisório.
6.2. A chamada reformatio in pejus indireta
Se anulada uma sentença através de recurso interposto pela defesa ou através de ação
proposta pela defesa, a pena que ela aplicou passa a ser o limite máximo de pena que
poderá ser aplicado ao acusado na nova sentença a ser proferida.
7. Convalidação e saneamento
A convalidadeção ocorre quando o desrespeito aos requisitos de validade de um ato
jurídico não alterou a teleologia do próprio ato, que acatou os interesses para os quais
foi concebido. Nesse caso, justica-se que, reunidos requisitos outros, esse mesmo ato
possa ser tido como válido. A principal hipótese de convalidação dos defeitos dos atos
jurídico-processuais está na ausência de arguição desses defeitos na primeira
oportunidade que a parte tiver para manifestar-se nos autos. É a denominada preclusão
temporal.

PROCEDIMENTOS PROCESSUAIS PENAIS


1. Conceito e crítica dos procedimentos processuais penais

O processo penal é uma sucessão de atos, a qual inicia-se com a propositura da ação
(mediante denúncia ou queixa) e se estende até o exercício definito da jurisdição

2
BREDA, Antonio Acir. Efeitos da declaração de nulidade no processo penal. In: MP, n. 9 (1980), p. 171.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


(trânsito em julgado). À forma como os atos processuais são dispostos ao longo desses
dois momentos (propositura e exercício definitov) denomina-se procedimento.

Os procedimentos podem ser definidos conforme o sujeito, a infração penal e a pena.


Os procedimentos definem-se pelos sujeitos nos casos de foro por prerrogativa de
função; pelos crimes se dividem em comum ou especial; em relação à pena se dividem
em comum ordinário, comum sumário ou comum sumaríssimo.

Embora haja diversos procedimentos, todos seguem uma estrutura semelhante,


constituída por uma fase postulatória (apresentação da denúncia ou queixa;
recebimento da denúncia; resposta à acusação

Fase Postulatória
Fase Instrutória

Denúncia/Queixa-crime -- Juízo de Admissibilidade  Citação  Resposta à acusação - Instrução - Julgamento

Momento Decisório Momento Decisório

A crítica que o professor escreve no texto é que há uma multiplicidade de


procedimentos sem diferenças significativas, com variantes irrelevantes. Por exemplo,
a diferença do procedimento comum sumário para o procedimento comum ordinário é
apenas o número de testemunhas que podem ser arroladas, 5 (cinco) naquele e 08 (oito)
nesse último. Ele também critica o fato de que o procedimento ordinário é visto como
aquele que confere mais garantias ao réu., quando, em verdade, o procedimento
especial do tribunal do júri é aquele que possibilita mais garantias.

O professor defende como solução a abolição das regras procedimentais e os


respecitvos procedimentos, substituindo por regras que definem os direitos mínimos
das partes. Seguindo essas regras mínimas, o processo seria realizado, sem a
necessidade de um procedimento pré-definido, o qual seria formatado no caso
concreto, mediante definição do juiz.

2. Procedimentos comuns
2.1. Noções introdutórias
O processo penal éuma sequência lógica de atos, agrupados em fases processuais, as
quais possuem características distintas e possuem finalidades específicas.
2.2. Fases procedimentais
a. Fase Postulatória: momento no qual as partes manifestam sua vontade a fim de obter
um pronunciamento sobre o mérito da causa, ou seja, obter um pronunciamento que
reconheça ou negue o direito de sancionar o autor do fato delituoso; a acusação possui

JEFFERSON ALEX PEREIRA


uma pretensão condenatória, contrária à defesa, a qual possui uma pretensão no
sentido contrário da pretensão condenatória. Essa fase delimita o conteúdo do
processo, a fim de que o acusado tenha ciência exata dos fatos dos quais se defende.
Nos delitos de ação penal pública, a fase postulatória compreende desde o momento da
denúncia ao momento da resposta à acusação. Nos delitos de ação penal privada, essa
fase permeia todo o processo, visto que em todas as manifestações do querelante, ele
deve demonstrar sua inequívoca pretensão condenatória.
No momento posterior ao oferecimento da denúncia, o juiz recebe provisoriamente
essa peça da acusação. O acusado, então, apresenta sua peça defensiva, na qual pode
alegar preliminares e, inclusive, antecipar qualquer tese defensiva acerca do mérito da
causa. Depois da apresentação da denúncia o magistrado ratfica o recebimento da
denúncia (se presentes os pressupostos processuais + condições da ação penal + justa
causa); rejeita o recebimento da denúncia (se ausentes os pressupostos, condições da
ação penal ou a justa causa); absolve sumariamente o acusado, quando verificar a
presença de uma das causas de absolvição sumária (ler art. 397 do CPP).
b. Fase Instrutória: momento no qual são produzidas ou demonstradas as provas, a fim
de comprovar as alegações das partes. Geralmente, a fase instrutória se esgota na
audiência de instrução.
c. Fase crítica: compreende as alegações da acusação e defesa (nessa ordem) acerca das
provas e do mérito da causa penal.
Fase decisória: compreende dois momentos do processo penal, o juízo de
admissibilidade (recebimento ou rejeição da denúncia/queixa); sentença.
2.3. Procedimento comum ordinário
É o procedimento aplicável aos crimes cuja pena privativa de liberdade cominada seja
igual ou superior a quatro anos. É o procedimento padrão do processo penal, aplicável
de forma subsidiária aos demais procedimentos, quando estes forem omissos. Obedece
ao seguinte esquema
Denúncia/Queixa  Juízo de admissibilidade preliminar (rejeição/recebimento)
Citação (10d para peça defensiva)  Resposta à Acusação  Juízo de admissibilidade
definitivo  Audiência de Instrução e Julgamento  Realização de diligências (se
requeridas em audiência e imprescindíveis; fase do art. 402)  Alegações Finais (1º
Acusação, 2º Defesa)  Sentença
2.4. Procedimento comum sumário
É o procedimento aplicável aos crimes cuja pena privativa de liberdade máxima esteja
acima de dois e inferior a quatro anos. Muito semelhante ao ordinário, com a diferença
em relação ao número de testemunhas.
2.5. Procedimento comum sumaríssimo

JEFFERSON ALEX PEREIRA


É o procedimento aplicável aos delitos de menor potencial ofensivo, basicamente, os
delitos cuja pena máxima não ultrapasse 02 (dois) anos. Também aplicável ao
processamento das contravenções penais.
Há uma fase preliminar, a qual compreende a composição civil dos danos (se o crime é
de ação penal privada ou pública condicionada); transação penal (proposta de aplicação
imediata de pena restritiva de direitos ou multa); se não houver composição civil dos
danos ou transação penal, pode ser apresentada denúncia ou queixa. Posteriormente,
o acusado é citado, realizada a audiência de instrução e julgamento, na qual é realizada
o juízo de admissibilidade da peça inicial acusatória, com a realização de alegações finais
e sentença, a qual dispensa o relatório a fim de ser proferida em audiência.
3. Procedimentos especiais
3.1. Noções introdutórias
A justificativa dos procedimentos especiais é melhorar a prestação jurisidicional.
Contudo, parte significativa dos procedimentos especiais não se justifica atualmente.
Poderiam ser substituídos por qualquer procedimento comum.
3.2. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de competência
do tribunal do júri
É um procedimento bifásico, composto por uma primeira fase denominada judicium
accusationis e uma segunda fase denominada judicium causae. Função de julgamento
dos crimes dolosos contra a vida.
1ª fase: procedimento semelhante ao procedimento comum ordinário. Visa determinar
se há justa causa (prova da existência do fato + indícios suficientes de autoria) para
remeter a causa penal para julgamento pelo tribunal do júri. A diferença significativa
reside na fase decisória, pois, são qutro decisões possíveis: (i) pronúncia, quando há
prova de materialidade e indícios suficientes de autoria; o processo é remetido para o
juiz-presidente do tribunal do júri; (ii) desclassificação: verifica a existência do fato e
indícios suficientes de autoria, contudo, verificou-se que o delito não é doloso contra a
vida, o processo é remetido para o juízo competente.; (iii) impronúncia: verificada a
inexistência de prova da existência do fato ou a ausência de indícios suficientes de
autoria; (iv) absolvição sumária: verificada quaisquer das hipóteses do art. 415 do CPP.
2ª fase: juiz-presidente define a formação do conselho de sentença (composto por
jurados). O conselho de sentença efetivamente julga, através das respostas aos quesitos
formulados. O juiz-presidente, em caso de condenação, profere sentença no qual realiza
a dosimetria da pena.
3.3. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de
responsabilidade dos funcionários públicos
É um procedimento bastante semelhante ao procedimento comum ordinário. A
diferença significativa reside no fato de que antes do juízo de admissibilidade preliminar,
o réu apresenta uma resposta prelimimar acerca dos fatos imputados na denúncia.

JEFFERSON ALEX PEREIRA


3.4. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de calúnia e injúria
de competência de juiz singular
Aplicável aos crimes contra a honra, calúnia, injúria e difamação, embora não previsto
para a difamação. A diferença significativa em relação ao procedimento padrão
(ordinário), é a existência de uma audiência de reconciliação entre o querelante e o
querelado. Se não houver reconciliação, o processo segue o rito sumário.
3.5. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de falimentares
Segue o procedimento comum sumário. A denúncia ou a queixa devem ser apresentadas
com a exposição circunstanciada apresentada pelo administrador judicial, na qual
apresentará ao juiz da falência as causas da quebra, a conduta do devedor e de outros
responsáveis, se houver, antes e depois da sentença declaratória da falência, que possa
constituir crime relacionado com a falência ou com a recuperação judicial, tudo
acompanhado de laudo do contador responsável pela escrituração do devedor.
3.6. Procedimentos especiais para apuração e julgamento dos crimes contra a
propriedade imaterial
Há o procedimento geral para os crimes contra a propriedade imaterial, que segue o rito
sumário. Há o procedimento relativo aos delitos de violação da propriedade industrial e
o procedimento relacionado aos crimes de violação da propriedade imaterial de
programas de computador. Nesses dois últimos, o procedimento será o comum
ordinário. Como condição especial, O ofendido deve comprovar o seu direito imaterial,
isto é, provar que o registrou (programa de computador, patente, etc.).
previamente nas repartições federais ou estaduais competentes.
3.7. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de abuso de
autoridade
A denúncia deve conter a representação da vítima. Não cabe a transação penal.
3.8. Procedimento para apuração e julgamento dos crimes relacionados à produção
não-autorizada e ao tráfico ilícito de drogas
Há poucas diferenças em relação ao procedimento comum ordinário. A prova da
materialidade é pré-determinada pela lei (necessidade de laudo de constatação de
droga). Se a imputação for de menor potencial ofensivo (posse para uso próprio),
seguirá o rito sumaríssimo .
3.9. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de competência
originária dos tribunais
O juízo de admissibilidade (recebimento da denúncia) deve ser realizado pelo colegiado,
e não somente pelo relator.
3.10. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes funcionais de
prefeitos

JEFFERSON ALEX PEREIRA


No caso dos crimes previstos nos incisos I e II do art. 1º do Decreto 201, cometido por
prefeito em exercício, o relator deverá submeter ao órgão especial ou ao pleno do
tribunal, conforme o caso, a possibilidade de duas medidas cautelares: prisão preventiva
e afastamento do cargo de prefeito durante a instrução criminal
No caso da imputação da prática dos crimes dos incisos III a XV do art. 1º, o relator
submeterá ao colegiado apenas a proposta de decisão sobre o afastamento do Prefeito
do exercício do cargo durante a instrução criminal.
3.11. Procedimento especial para apuração e julgamento dos crimes de “lavagem” ou
ocultação de bens, direitos ou valores
O procedimento adotado é o procedimento comum ordinário. Não cabe suspensão do
processo se o acusado não comparecer ao processo ou não constituir advogado,
seguindo com a nomeação de defensor dativo. Na fase pré-processual o juiz pode
decretar medidas assecuratórias, bem como a alienação antecipada dos bens.
4. Procedimentos incidentais
Os procedimentos incidentais visam solucionar questão conexa ao processo principal,
tramitando de forma separado e sendo extintos quando a questão conexa é
solucionada.
4.1. Incidente de restituição de coisas apreendidas
Incidente proposto quando os objetos apreendidos não interessarem mais ao processo
penal ou quando houver dúvida a respeito da propriedade do objeto.
4.2. Incidente de falsidade documental
Visa verificar a autenticidade de um documento Pode ser instaurado de ofício pelo juiz.
Se acolhido o incidente, o documento é retirado do dos autos.
4.3. Incidente de exceção da verdade
Aplicável ao delito de calúnia. Visa oportunizar ao querelado a confirmação de sua
afirmação, pois se provar, o fato torna-se atípico.
4.4. Incidente de exceção da notoriedade
Visa oportunizar ao querelado que o fato afirmado era notório, ou seja, sua afirmação
não se enquadra no crime de difamação, mas tão somente, divulgou um fato de
conhecimento amplo (notório).
4.5. Incidente de insanidade mental do acusado
Visa solucionar questionamento acerca da integridade mental do acusado, ou seja, se
ao tempo da infração penal, o réu era inteiramente capaz de entender o caráter
delituoso de sua conduta e de determinarse de acordo com esse entendimento. Se a
resposta for negativa, deve ser nomeado curador ao acusado, com o prosseguimento

JEFFERSON ALEX PEREIRA


do feito. Se o acusado for condenado, constitui-se a hipótese de absolvição imprópria,
com a consequente aplicação de medida de segurança.
Pode ser requerido pela autoridade judicial, policial, MP, defensor, curador, cônjuge,
ascedente, descendente ou irmão do imputado.

JEFFERSON ALEX PEREIRA

Você também pode gostar