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Profª. Elsa Maria L. S.

Ferreira Pepino 1
OAB-ES n. 4.962
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PONTO 10 (12): O PROCESSO E SUA NATUREZA JURÍDICA: teorias


sobre a natureza jurídica; o processo como procedimento em contraditório, relação
jurídica e relação material processual; sujeitos da relação processual; objeto da relação
processual; pressupostos; características da relação processual; autonomia da relação
processual.

1. CONCEITO
Processo significa caminho, o caminho que liga a jurisdição e a ação e, portanto, o
caminho que serve de instrumento para a aplicação da lei ao caso concreto, à
realização da justiça (RODRIGUES, 2003, p. 268; 2008, p. 159).
Várias doutrinas tentam explicitar o que seja o processo e qual a sua natureza jurídica,
entretanto, conceituar processo ainda é um problema, pois, o conceito está em
construção. O estudo das diversas doutrinas e dos diversos conceitos de processo,
formulados ao longo do tempo, permitem ver como a conceituação desse importante
instituto da teoria geral do processo tem evoluído.
No estudo do instituto “processo” a doutrina se divide em duas grandes correntes: a
corrente privatista, cujas bases se encontram no Direito Romano e a corrente
publicista, desenvolvida modernamente a partir da idéia do processo como direito
público, independente do direito material.
Entre as teorias privatistas que tentam explicar a natureza jurídica do processo duas
obtiveram maior destaque: a teoria do processo como contrato e a do processo
como quase-contrato.

1.1 O processo como contrato


Esta teoria concebe o processo como um contrato, ou seja, uma relação jurídica que
interliga autor e réu igual a qualquer outra que liga dois contratantes, cujo elemento
principal é a vontade das partes.
A base dessa teoria é o Direito Romano que incluía o processo dentro do direito
privado, encarando-o como um contrato judiciário que se originava com a
litiscontestatio. Recorde-se que, nessa altura, o Estado, ainda incipiente, não tinha
estrutura que permitisse impor sua vontade sobre a vontade das partes litigantes.
Portanto, era necessário buscar uma justificação que explicasse a possibilidade de a
sentença ser coercitivamente imposta aos litigantes. A explicação enxergada foi
exatamente de que, com a propositura da ação, com o chamamento do réu a Juízo e
por meio do Processo se encetava um contrato judiciário, por intermédio do qual se
obrigavam a permanecer no processo até ao final do julgamento e a acatar a decisão
proferida.
Esta idéia se fortaleceu nos séculos XVIII e XIX, influenciada pela doutrina política do
contrato social de Rousseau, segundo a qual os cidadãos não obedecem senão à sua
própria vontade e, portanto, se sujeitam a condições que eles próprios criam.

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1.2 O Processo como Quase-Contrato


A deficiência da teoria anterior em explicar a essência do processo fez com que
surgisse a teoria do quase-contrato.
A incongruência da teoria anterior estava em que na litiscontestatio o consentimento do
réu não era inteiramente livre, pois se ele não comparecesse espontaneamente o autor
poderia requisitar sua presença de forma coativa (forçada). Sendo ele forçado a
comparecer como é que o processo poderia ser um contrato?
Mas como prevalecia o Direito Civil, a conclusão foi: se não pode ser um contrato é um
quase-contrato. Um instituto em que a vontade das partes só é exigida para a prática
do ato, mas não para as obrigações jurídicas que resultam desse ato, que são
determinadas pela lei. O comparecimento voluntário em juízo faz presumir a vontade
de se submeterem às decisões judiciais. O objetivo da teoria era explicar o processo
como um ato bilateral em si mesmo.
As teorias publicistas, por sua vez, desenvolveram-se a partir da idéia da separação
da relação de direito material, que liga as partes envolvidas num conflito, e a relação
processual que se desenvolve. Entre estas, duas teorias se destacam sobre maneira.
São elas:

1.3 O Processo como Relação Jurídica


Para essa doutrina, o processo é uma relação jurídica que liga as partes e o estado-
juiz, relação intitulada de relação jurídica processual.
A sistematização dessa teoria é atribuída a um jurista alemão, Oscar von Büllow, que
no livro “A teoria das exceções processuais e os pressupostos processuais”, apontou
como causa do atraso do desenvolvimento da ciência processual o fato de não se
distinguirem os conceitos de processo e de procedimento. Conceitos, a seu ver,
essenciais para a determinação da natureza jurídica do processo.
Nessa perspectiva, determinou-se a demonstrar que processo é uma coisa e
procedimento é outra completamente distinta, embora conecta. Assim, procurou
demonstrar que o processo não é apenas a regulamentação de formas e atos em
que se revela exteriormente, mas é na verdade uma relação jurídica que se
desenvolve entre as partes e o juiz. Uma relação jurídica processual, que não se
confunde com a relação jurídica material que é o objeto da discussão judicial. Portanto,
um vínculo jurídico de onde decorrem direitos e obrigações para os sujeitos
envolvidos e que se desenvolve de forma progressiva.
Na verdade, uma relação jurídica de direito público, uma vez que vincula o próprio
Estado que, a partir do momento em que se deu o monopólio da prestação
jurisdicional, se obrigou a prestar essa tutela sempre que invocado.
Uma relação jurídica triangular (esta é a doutrina tradicional, mas há divergência
doutrinária acerca da configuração gráfica da relação processual: alguns autores dizem
ser uma relação jurídica angular, negando que haja contato direto entre autor e réu), já
que nela atuam o juiz, o autor e o réu, vinculando-se mutuamente.

1.4 O Processo como Situação Jurídica


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Esta teoria, desenvolvida por James Goldschmidt, constitui uma reação à doutrina da
relação processual. Segundo ela, no processo não há relação jurídica, entendida como
relação entre direitos e deveres, mas situações jurídicas que compreendem
possibilidades, expectativas e ônus. Logo, o processo é o modo ou a situação jurídica
em que a pessoa se encontra enquanto aguarda a sentença, situação que lhe
possibilita a prática de determinados atos.

2. NATUREZA JURÍDICA DO PROCESSO


Estudadas as principais teorias explicativas, constata-se que, entre os processualistas,
a idéia do processo como relação jurídica de direito público é a mais aceite.
Entretanto, como lembra CINTRA (2004, p. 283) a aceitação dessa teoria não implica
dizer que processo e relação jurídica processual é a mesma coisa.
O processo se apresenta como uma entidade extremamente complexa, “[...] é uma
relação jurídica em constante movimento, que se desenvolve de modo sequencial,
progressivo, cujo principal objetivo é a entrega da tutela jurisdicional” (RODRIGUES,
2003, p. 270; 2008, p. 160, grifei) se exterioriza na forma de um procedimento (a
sucessão de atos processuais, o modo de mover e a forma), o processo é o nexo que
interliga os vários sujeitos que atuam no processo, atribuindo-lhes poderes, direitos,
faculdades, e os correspondentes deveres, obrigações, sujeições, ônus.
Assim, o processo se caracteriza por esses dois elementos, ambos regulados pelas
normas processuais, que são: a relação jurídica processual, o vínculo jurídico que se
forma entre autor, réu e juiz (Estado), que evolui e se desenvolve, desde o seu
surgimento até o seu final, por meio da prática de atos coordenados e sucessivos
(sequenciais) até alcançar sua finalidade, o que caracteriza o procedimento.
Deveras, o processo caminha do ponto inicial (petição inicial) ao ponto final
(sentença de mérito, no processo de conhecimento; à satisfação do credor, na
execução), através de uma sucessão de posições jurídicas que se substituem
gradativamente, mercê da ocorrência de fatos e atos processuais praticados com
observância aos requisitos formais estabelecidos em lei.
Para que o processo avance continuamente o legislador lança mão de artifícios
diversos, entre os mais importantes se destacam: o princípio da eventualidade (por
meio dele o legislador ao longo do procedimento fixa momentos próprios/específicos
para a realização/prática dos atos que as partes podem/devem praticar, impedindo
sua realização se ultrapassados esses momentos); a fixação de prazos para a
realização do ato, não se aceitando a prática de atos intempestivos (praticados fora
do prazo fixado); e a preclusão, a sanção processual que se caracteriza pela perda
da faculdade de praticar um ato processual e que pode operar-se de três formas
distintas: pelo decurso do tempo (preclusão temporal), pela prática do ato
(preclusão consumativa), pela prática de um ato contrário/incompatível com o que
podia ser realizado (preclusão lógica).
Em suma, processo é o instrumento de que o Estado se serve para exercer a
jurisdição, para aplicar a lei ao caso concreto e resolver a lide.

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3. O PROCESSO
Enquanto relação jurídica, o processo se distingue da relação jurídica de direito
material, tanto pelos seus sujeitos, como pelo seu objeto e pressupostos. No entanto,
tratando-se de uma relação jurídica tem sujeitos, objeto e requisitos próprios.
Começamos pelos requisitos, os chamados pressupostos processuais

3.1 Pressupostos da Relação Processual


Os pressupostos processuais são os requisitos que devem ser verificados para que o
processo exista e se desenvolva validamente, ou seja, a existência (a constituição) e o
desenvolvimento válido e regular do processo estão subordinados ao preenchimento
de pressupostos legais, sem os quais o juiz não pode conhecer o mérito.
Esses pressupostos, costumeiramente, são classificados em: pressupostos
processuais de existência e pressupostos processuais de validade. De existência são
aqueles sem os quais o processo não existe, são os requisitos necessários à
instauração do processo. São eles: demanda/petição inicial (ainda que inepta),
jurisdição (órgão jurisdicional, ainda que incompetente) e citação (mesmo que
inválida).
Deste modo, para que a relação processual exista é necessário que haja uma
demanda inicial – que é feita através da petição inicial, normalmente na forma escrita
(só quando a lei autoriza a demanda pode ser formulada oralmente, por ex., nos
juizados especiais cíveis – Lei 9.099/95, art. 14) –, que essa demanda seja submetida
a um órgão investido de jurisdição e que, finalmente, a parte contrária seja citada, a fim
de se formar a relação jurídica.
É de destacar que antes mesmo do demandado ser citado já existe processo, desde
que haja réu. Tanto assim é que se a petição inicial for indeferida antes da citação, nos
moldes do art. 485, I, do CPC/15, o juiz extingue o processo sem resolver o mérito.
Ora, só se pode extinguir aquilo que existe. A ciência do réu, no entanto, é necessária
para que se instaure o contraditório.
Por sua vez, os pressupostos de validade, como o nome indica, são responsáveis pela
validade/regularidade da relação jurídica processual e podem classificar-se em
objetivos e subjetivos. Os objetivos dizem respeito à própria relação jurídica e se
subdividem em pressupostos intrínsecos (internos) e extrínsecos (externos).
São pressupostos objetivos intrínsecos: petição apta, citação válida e regularidade
formal do processo.
Como se disse atrás, para que o processo exista é necessária uma demanda que
quebre a inércia da Jurisdição, demanda essa instrumentalizada pela via da petição
inicial. No entanto, para que a relação jurídica processual seja válida é necessário que
o pleito formulado seja apto, isto é, que seja feito de conformidade com o que dispõe a
ordem jurídica, precisamente nos arts. 319 e 320 do CPC/15.
Por sua vez, a citação é imprescindível à relação processual, sem ela não há relação
trilateral, pois ela é o ato pelo qual se dá ciência ao réu da sua própria condição de
sujeito passivo da relação processual. Mas, para a validade do processo não basta a
citação é necessário que ela seja válida (CPC/15, art. 239), isto é, é necessário que ela

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seja feita de conformidade com o que dispõe as regras processuais, por exemplo, os
artigos 249, 250 e 251 do CPC/15, que cuidam da citação por oficial de justiça.
A regularidade formal do processo consiste em respeitar o formalismo processual, que
se refere não apenas à forma dos atos processuais especificamente, mas também à
ordenação do procedimento, à organização do processo, à delimitação dos poderes,
deveres e faculdade dos sujeitos processuais etc.
Os pressupostos extrínsecos dizem respeito à inexistência de fatos impeditivos (por
isso são chamados por alguns autores de pressupostos processuais negativos), isto
é, fatos que impedem o desenvolvimento válido da relação jurídica processual. O
próprio Código de Processo Civil, em seu art. 485 e incisos determina as situações em
que o processo não pode chegar ao exame do mérito da ação. São eles:
litispendência, coisa julgada, convenção de arbitragem e perempção.
A litispendência (CPC/15, arts. 485, V e 337, VI) ocorre quando é proposta ação
idêntica a outra que ainda se encontra em curso (CPC/15, art. 337, § 3º); coisa
julgada (CPC/15, arts. 485, V e 337, VII) é uma qualidade das sentenças que impede a
reapreciação da lide já decidida definitivamente; convenção de arbitragem (CPC/15,
arts. 485, VII e 337, X) é a convenção ou clausula contratual que determina que em
caso de litígio os mesmos serão submetidos a um árbitro, com exclusão da atividade
jurisdicional; perempção (CPC, arts. 485, V e 486, § 3º) é a propositura de ação que já
havia sido extinta, por três vezes em decorrência da inércia da parte em dar andamento
aos processos anteriores.
Os pressupostos processuais subjetivos dizem respeito sujeitos do processo.
Em relação ao juízo são: jurisdição (investidura), competência e imparcialidade.
Ao falarmos de jurisdição viu-se que apenas o Estado pode dirimir os conflitos
intersubjetivos, logo o processo só poderá ter validade se proposto perante um órgão
investido de poder jurisdicional pelo Estado – princípio constitucional do juiz natural.
Mas, não basta que o órgão tenha jurisdição é necessário que funcionalmente esteja
habilitado a resolver o conflito, ou seja, é necessário que seja competente.
Além disso, o órgão competente deve ser imparcial, portanto, estar isento de qualquer
interesse na lide, ou seja, a pessoa do magistrado deve ser imparcial em relação à
ação, não pode estar impedido ou suspeito (CPC/15, arts. 144 e 145).
Em relação às partes (autor e réu) são pressupostos processuais: a capacidade de
ser parte, a capacidade processual e a capacidade postulatória.
A capacidade de ser parte é inerente à titularidade de direitos e obrigações no campo
do direito material. O sujeito tem capacidade para ser parte no processo quando a lei
define que ele tem personalidade jurídica (CC, art. 2). Se se atentar para o art. 2º do
CC vê-se que toda a pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. Logo, toda a
pessoa física tem capacidade para ser parte, pois todo o homem é capaz de direitos e
obrigações na ordem civil.
Mesmo os relativamente capazes e absolutamente incapazes têm capacidade para ser
parte, embora sofram algumas limitações para o exercício dos direitos de que são
titulares.
Até mesmo o nascituro (que ainda não nasceu, mas já foi concebido) tem capacidade
para ser parte e é representado pelos pais ou curadores.
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Também tem capacidade de ser parte a pessoa jurídica: União, Estados, Municípios,
Territórios, Autarquias, Empresas Públicas etc ...
E, por fim, também têm capacidade de ser parte a massa falida, o espólio, o
condomínio imobiliário, as sociedades irregulares, as heranças jacentes e vacantes etc
(não têm personalidade jurídica, mas têm personalidade judiciária).
A capacidade de estar em juízo ou capacidade processual (art. 70, CPC/15) é a
aptidão para estar em juízo (legitimatio ad processum), para a prática de atos
processuais, reflexo da capacidade de fato ou de exercício regida pelo Direito Civil.
Como visto acima, todo o homem é sujeito de direitos e obrigações. Todavia, nem
todos têm aptidão para praticar por si mesmos os atos da vida. Quando se fala de
capacidade processual é exatamente relacionada com essa capacidade de exercício. A
expressão indica que alguém é capaz de atuar no processo, desde que não apresente
qualquer vedação prevista pela lei.
Assim, são capazes para estarem em juízo todos os maiores de 18 anos desde que
não demonstrem quaisqueres situações especiais. Assim, se o sujeito for:
Menor de 16 anos,
Enfermo ou portador de deficiência mental, sem discernimento; ou
Incapaz de exprimir a vontade,
é considerado absolutamente incapaz e não ostenta capacidade para estar em juízo.
Isso, no entanto, não significa que ele não possa propor uma ação. Significa apenas
que, como ele não tem capacidade de exercício, outra pessoa tem de substituí-lo,
representando-o na prática daquele ato jurídico. Assim, sua ação vai ser proposta pelos
pais, tutores ou curadores. Nesse caso, só o representante assina a procuração para o
advogado e participa efetivamente do processo. Isso se chama representação
processual e é tratada no art. 71 e seguintes do CPC/15.
Por sua vez, se o sujeito for:
Maior de 16 e menor de 18
Um ébrio habitual, um viciado em tóxicos; ou um deficiente mental (com
discernimento reduzido)
Excepcional, sem desenvolvimento mental completo
é considerado pela lei relativamente incapaz e deve ser assistido pelo pai, pelo tutor ou
curador. Nesses casos, tanto o relativamente capaz quanto o assistente devem praticar
os atos processuais em conjunto, por isso o fenômeno em estudo recebe o nome de
assistência (art. 71, CPC/15).
Em síntese, a representação do absolutamente incapaz e a assistência do
relativamente incapaz são formas que o sistema encontrou para complementar a
capacidade de estar em juízo dos sujeitos que por razões médicas, sociais, ou então,
por mero costume ou padronização normativa não podem estar em juízo por si próprio.
Além da capacidade de ser parte e da capacidade processual ainda tem de observar-
se a capacidade postulatória, que é a aptidão para se dirigir ao órgão jurisdicional
para requer providências ou tutelas específicas, ou seja, a aptidão para postular em
juízo.
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No Brasil a capacidade postulatória, em princípio, é privativa dos advogados, conforme


regra contida no art. 103, CPC/15. A regra, portanto, é que é o advogado quem tem
poderes para peticionar dentro do processo. Assim, a capacidade postulatória não se
confunde, nem tem nada a ver, com a capacidade de ser parte e com a capacidade
processual, é a exigência que torna obrigatória a presença do advogado no processo.
Essa regra, no entanto, tem algumas exceções, embora o conjunto seja bem restrito.
Quando se advoga em causa própria (ainda que haja a exigência de que a parte
também seja advogado), quando não existirem advogados no local (o que é raro), e
nos casos dos juizados especiais, por expressa determinação legal (também no caso
de ação de Habeas Corpus e ações trabalhistas as partes detêm jus postulandi, isto é,
capacidade postulatória)
A Constituição Federal afirma que a advocacia é indispensável para a justiça e essa
determinação foi praticamente copiada no art. 2º do Estatuto da Advocacia. Isso se dá
por conveniência técnica. Porém, quando foram criados os juizados especiais o Poder
Legislativo privilegiou o acesso à justiça consciente de o pequeno valor de alguns
processos pode não justificar despesas com advogados, além de possivelmente serem
propostos por pessoas de pequeno poder aquisitivo.
Por isso, o conceito de capacidade postulatória perante os juizados especiais foi
flexibilizado, embora, a capacidade postulatória da própria parte esteja limitada a
pedidos inferiores a 20 salários mínimos. Mais que isso o advogado torna-se
indispensável.
Sintetizando, têm-se:
Capacidade de ser parte = pessoas físicas, jurídicas e entes despersonalizados.
Capacidade de estar em juízo = sujeitos que não ostentem limitações previstas
pela lei civil;
Capacidade postulatória = é a capacidade do advogado.
Quando exercida por advogado a capacidade postulatória prova-se pelo instrumento de
mandato (procuração) outorgado pela parte.

3.2 Sujeitos da Relação Processual: Relação jurídica processual e sujeitos do


processo
Relação jurídica processual é relação jurídica que de algum modo envolve todos
aqueles que têm alguma ligação com o pedido feito pelo autor. Essa relação implica
uma série de obrigações, deveres, ônus, faculdades e poderes para todos que
participam do processo.
De um lado, o autor sempre pede alguma coisa e tecnicamente se diz que ele deduziu
uma pretensão perante o Poder Judiciário (pedido imediato) e outra perante o réu
(pedido mediato). Isso quer dizer que todo o pedido do autor tem um caráter
dúplice, de um lado o autor quer do Estado uma resposta, de outro, o autor quer que o
réu se submeta àquilo que o juiz decidir, sob pena de o Estado tomar todas as
providências para que o réu cumpra a determinação judicial. Assim:
Autor – Estado-juiz (pede decisão, um provimento juriadicional)
Autor – Réu (pede um bem de vida e a submissão à decisão do Estado-juiz).
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Além disso, o réu também tem o direito de se defender e de expor as razões pelas
quais a pretensão do autor deve ser afastada, tem o dever de agir com lealdade no
processo e de respeitar as decisões e tem o ônus de responder a todas as alegações
feitas pelo do autor etc.
O juiz, por sua vez, tem o dever de proferir uma decisão relacionada com aquela
situação exposta pelo autor e respondida pelo réu, após ter verificado que o processo
respeitou todas as garantias do devido processo legal. Tais como, por exemplo, o
contraditório, a ampla defesa, o direito à prova, o direito ao duplo de jurisdição, entre
outros.
Esse emaranhado de relações entre os sujeitos do processo forma o que se designa
relação jurídica processual.
Logo, em termos subjetivos, num “esquema mínimo”, a relação jurídica processual
apresenta uma estrutura tríplice: o autor, o Estado e o réu, ou seja, o autor que pleiteia
a tutela perante o Estado-juiz, que exerce sua atividade em face do réu. É de notar,
porém, que essa é uma estrutura mínima, que pode ser alterada pelo ingresso de
outros sujeitos.
Na verdade, sujeito da relação processual é toda a pessoa física, jurídica ou sem
personalidade que participe do processo, exercendo e praticando atos que as normas
processuais determinam, essenciais para a formação e desenvolvimento do processo.
Esses sujeitos são classificados em sujeitos parciais e sujeitos imparciais. Parciais
são os sujeitos interessados (os principais são o autor e o réu, mas existem os
sujeitos parciais auxiliares, a exemplo do advogado, do representante ou do
assistente); imparciais são os sujeitos desinteressados, que atuam para solucionar o
conflito (o sujeito imparcial principal é o juiz, a quem compete o exercício da função
jurisdicional; mas sua função é auxiliada por diversos outros sujeitos a exemplo do
escrivão, do oficial de justiça, do perito etc).
Como se vê, o conceito de sujeitos do processo e partes processuais não coincide. O
conceito de sujeitos é mais amplo e abrange não só as partes e o juiz, mas também
uma série de pessoas que de algum modo participam do processo. Por sua vez, partes
são aqueles interessados na relação processual, que agem com parcialidade e
que sofrem as consequências da decisão do juiz. Por isso, juiz não é parte.
Já sabemos que partes são o elemento subjetivo da demanda já que toda a demanda
tem um autor e um réu (um dos elementos que identifica essa ação).
Mas, falar em autor e réu não significa que teremos só um autor e só um réu. Isso é um
esquema mínimo para facilitar a compreensão. Na verdade, pode existir mais de um
autor e mais de um réu, por exemplo, nos casos de litisconsórcio. Mas não é só isso,
mesmo um terceiro, ou seja, aquele que não é parte, ainda, pode virar parte. Por
exemplo, numa demanda promovida em face do fiador, este pode chamar ao processo
o afiançado.
A qualidade de parte se adquire de quatro modos distintos: pela demanda, (o autor),
pela citação (o réu e os terceiros intervenientes forçados ou coativos), pela sucessão (o
sucessor) e pela intervenção voluntária (assistência e recurso de terceiro).

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Representação, Sucessão e Substituição Processual


Como se viu, ao estudarmos os pressupostos processuais subjetivos relativos às
partes, a representação e a assistência são os mecanismos desenvolvidos pelo
legislador para integrar a capacidade de estar em juízo de quem, por lei, não tem
capacidade plena para o exercício da vida civil. O representante e o assistente não
são partes no processo, parte é o representado ou assistido, pois é o afetado
(beneficamente ou prejudicialmente) diretamente pela decisão que o juiz vai proferir.
Assim, por exemplo, numa ação de alimentos promovida pela mãe em favor de
nascituro, parte ativa é o nascituro, a mãe é representante
Já a sucessão ocorre nos termos dos artigos 109 e 110 do CPC/15. No caso, a parte
original sai do processo e uma nova parte entra, cessando o vínculo com quem estava
no processo antes, ou seja, quem sai deixa de ter interesse na demanda e isso ocorre
em face de morte ou alienação do objeto litigioso.
Por outro lado, não se pode esquecer que algumas vezes a parte processual não tem
nada a ver com a parte que é titular do direito material (parte do litígio) discutido em
juízo (casos de legitimação extraordinária). São os casos de substituição processual.
Nestes casos o substituto é a parte processual. Já sabemos que substituto processual
é aquele que, autorizado pela lei, atua em nome próprio na defesa de interesse alheio.
Substituição é figura autônoma caracterizada pela legitimação extraordinária de
quem propõe a ação. É extraordinária porque se trata de uma exceção prevista no art.
18 do CPC/15, pela qual, “ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio,
salvo quando autorizado por lei”.
Assim, quando a lei autorizar, alguém que não seja o titular do direito discutido, pode
entrar em seu próprio nome para defender o direito de outrem. É o caso, por exemplo,
do sindicato, quando vai a juízo defender os interesses da sua categoria.
Essa legitimação extraordinária é resultado de uma tendência, já observada a algum
tempo, de proteção dos interesses coletivos. É que, num determinado momento as
relações sociais e jurídicas tornaram-se tão complexas e passaram a envolver tantas
pessoas que não era mais viável exigir que todos os interessados aparecessem no
processo pedindo ou se defendendo.
Imagine-se, por exemplo, a venda de um produto contaminado que causou problemas
de saúde a um enorme número de pessoas ou um defeito de fabricação num lote de
eletrodomésticos. Nesses casos, se se exigisse a legitimação ordinária, todos os
sujeitos lesados teriam que entrar com uma ação pedindo indenização ou então, todos
os lesados apresentariam a ação em litisconsórcio. Dá para imaginar a confusão?
Para evitar isso, foram criados os sistemas de substituição processual, admitindo-se
que alguém que não é titular do direito vá a juízo em nome próprio defender esse
direito.

3.3 Objeto da Relação Processual


O objeto da relação processual se consubstancia na pretensão de obter a tutela
jurisdicional, pretensão que é veiculada por meio da demanda e identificada no pedido
(mediato e imediato) deduzido (RODRIGUES, 2003, p. 272; 2008, p. 161).

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Sugestões de leitura:
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. SP: Malheiros, 2012. Capítulo 30
RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito processual civil. 6ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2016, p. 123 a 144.

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