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Profª. Elsa Maria L. S.

Ferreira Pepino 1
OAB-ES n. 4.962
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PONTO 3. NORMA PROCESSUAL. Objeto, natureza, fontes e eficácia da Lei


Processual no tempo e no espaço.

1) NORMA PROCESSUAL

Já sabemos que o Direito estabelece normas de conduta (definem direitos e


obrigações), as normas materiais (conhecidas também como normas primárias). São
estas normas que em caso de conflito ditam a solução, definem com quem está o
direito. Por sua vez, as normas processuais (ao contrário das normas de direito
material) só indiretamente contribuem para a solução dos conflitos, sua função é
determinar a técnica, o modo de resolver os conflitos e controvérsias.

A norma processual, também chamada de norma instrumental, tem natureza de direito


público, se apresenta, via de regra, com caráter imperativo (cogente), criando, portanto
uma relação de sujeição em relação às suas prescrições.

Consoante a finalidade e a natureza que possuem, as normas processuais podem ser


de três tipos:

a) normas de organização judiciária – tratam primordialmente da criação e


estruturação dos órgãos judiciais e seus auxiliares. Também fazem a
distribuição do trabalho (distribuição de competências) entre os diversos órgãos
judiciários. Ex. CF/88, arts. 92 e seguintes)

b) Normas processuais em sentido estrito – cuidam do processo como tal,


dizem respeito à existência e validade do processo (por exemplo, a necessidade
de uma petição apta, ou a necessidade de citação válida), conferem poderes,
deveres, faculdades, obrigações e ônus processuais aos sujeitos do processo.

c) Normas procedimentais – que dizem respeito ao modo de proceder, é a forma


como os atos se exteriorizam, estabelecem a sequência de atos processuais, a
forma dos atos, o tempo e o lugar para o seu exercício.

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2) FONTES DO DIREITO PROCESSUAL

A expressão fontes pode ser usada em diversos sentidos todos eles, no entanto,
ligados à origem, ao nascimento de alguma coisa. Quando relacionada com o Direito
refere-se ao surgimento das normas jurídicas. Ainda assim, dois sentidos devem ser
distinguidos: o sentido de fonte material ou real, que diz respeito às causas, os fatores
econômicos, políticos e sociais, que determinam o nascimento e o conteúdo histórico
das normas jurídicas; o sentido de fonte formal, que se refere aos modos, à forma de
exteriorização do Direito.

Ao estudo aqui realizado interessam as fontes formais do Direito Processual. Na


verdade, as fontes formais do Direito Processual são as mesmas do direito em geral.
São elas: a lei (fonte primária ou direta), os costumes e a jurisprudência.

A fonte formal principal é, sem dúvida, a Constituição Federal, Lei Maior do sistema
jurídico brasileiro e fundamento de validade de todas as outras normas. Nela vamos
encontrar, por exemplo, normas de organização judiciária, regras de competência,
princípios processuais etc.

Logo abaixo da Constituição surge a lei como a fonte de direito processual mais
importante. Lei é aqui usada em sentido amplo, compreendendo as espécies
normativas previstas no art. 59, II a IV, da Constituição da República, por exemplo:

• Lei complementar – por exemplo, Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LC n.


35/79;

• Lei ordinária/ decretos-leis – Código de Processo Civil, Código de Processo


Penal, Consolidação das Leis do Trabalho etc

Também são fontes formais legais de direito processual:

• Os Regimentos Internos dos Tribunais;

• Os tratados e convenções internacionais sobre processo;

• As Constituições Estaduais;

• As leis de organização judiciária dos Estados e Distrito Federal;

• As convenções processuais (NCPC, arts. 190, 191, 200).

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O Costume é outra fonte formal, não é legislado, surge de práticas reiteradas que
adquirem caráter de obrigatoriedade. No âmbito processual podem surgir da própria
jurisprudência.

Sobre a Jurisprudência, enquanto o conjunto de reiterados pronunciamentos dos


tribunais sobre casos idênticos, não há consenso doutrinária sobre a sua qualidade de
fonte do direito processual. Há quem conteste essa qualidade. A nosso ver,
principalmente depois que a Constituição Federal reconheceu as súmulas vinculantes
(art. 103-A), não há como duvidar da natureza normativa da jurisprudência.

A doutrina, apesar de não constar do elenco de fontes formais do direito no sistema


jurídico brasileiro, gera considerações teóricas que formam a ideologia normativa dos
juristas práticos (aplicadores do direito). Desse modo, não deixa de contribuir para a
criação e aceitação de normas jurídicas, apesar de não ter caráter obrigatório.

3) A EFICÁCIA DA LEI PROCESSUAL NO ESPAÇO E NO TEMPO

Toda a norma jurídica tem sua eficácia limitada no espaço e no tempo, não poderia ser
diferente com as normas de direito processual.

No que diz respeito à eficácia da lei processual no espaço, o critério regulador é o


princípio da territorialidade, expresso no art.16 CPC/15 e também no art. 1º do CPP.
Assim, a norma processual aplica-se dentro do território nacional.

Não é difícil entender esse principio, é que o direito processual, enquanto direito
público que regula o exercício da atividade jurisdicional, manifestação do Poder
Judiciário, tem ligação com a própria soberania do Estado.

Com relação á eficácia da lei processual no tempo, a questão é informada por dois
princípios fundamentais: o princípio da não retroatividade da lei (CF, art. 5º, XXXVI;
CPC, art. 14) e o princípio da aplicação imediata da lei nova (CPC, art. 14 e 1.046).

A questão do tempo comporta dois enfoques distintos: a eficácia da norma em si e os


conflitos que surgem pela sucessão de leis processuais.

Quanto à norma em si, sabemos que a mesma existe (entra na ordem jurídica) com a
promulgação, mas isso não significa que adquira eficácia nesse exato momento. A
regra no ordenamento jurídico brasileiro é de que uma lei comece a vigorar e a gerar
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efeitos depois de esgotado um lapso temporal de 45 dias (LINDB – Lei de Introdução


às Normas do Direito Brasileiro –, art. 1º), denominado vacatio legis.

É certo que esse prazo pode ser encurtado, dispensado ou mesmo aumentado, desde
que o legislador disponha a respeito. Quando a lei processual altera substancialmente
as situações anteriores é comum a dilação do prazo de vacatio legis, como ocorreu
com o novo CPC, cuja vigência se iniciou um ano após sua publicação oficial (art.
1.045 CPC).

A perda da vigência pode dar-se pela revogação por outra lei ou pelo decurso do
tempo. No direito processual a forma mais comum é a revogação, revogação que pode
ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação), que pode dar-se de modo expresso,
quando é prevista no corpo da lei, ou de modo tácito, quando a lei nova regula integral
ou parcialmente a matéria ou dispõe de modo diverso da lei anterior (incompatibilidade
lógica).

Quando duas ou mais normas processuais sucessivas regulam o mesmo fato, surge o
que a doutrina chama de conflito das leis processuais no tempo, ou seja, a questão
de saber qual das normas deve ser aplicada. Tal questão é regulada pelas normas de
direito intertemporal.

Um dos princípios que regula aplicação da lei processual no tempo é, como dito acima,
o princípio da irretroatividade da lei, trata-se de garantia constitucional que impede a
lei de retroagir (aplicar-se ao passado) para prejudicar o ato jurídico perfeito, a coisa
julgada e o direito adquirido (essa proteção só pode ser mitigada por exceção prevista
no próprio texto constitucional, como ocorre em relação às leis penais).

Assim, podemos entender que, a nova lei processual não incide sobre os processos já
encerrados.

Entretanto, a situação não é tão fácil quando se trata dos processos pendentes, ou
seja, aqueles que se encontram em curso quando sobrevém nova lei processual. Por
força do princípio da aplicação imediata (CPC, art. 14; CPP, art. 1º) a nova lei
processual se aplica aos processos pendentes. Mas, como e a partir de quando?

Três correntes apontam soluções diferentes: a) a primeira considera o processo como


uma unidade e defende que deve manter-se até ao seu final a aplicação da lei velha; b)
a segunda encara o processo como sendo dividido em fases processuais autônomas
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(postulatória, instrutória, decisória etc) e defende que a lei nova incide sobre a fase
processual ainda não iniciada; c) a terceira considera os atos processuais
isoladamente, de modo que defende que a lei nova não atinge os atos processuais já
praticados e nem os seus efeitos, mas atinge os atos processuais não iniciados.

Na atualidade, prevalece a última corrente, já adotada pelo art. 2º do Código de


Processo Penal, foi adotada expressamente pelo art. 14, in fine, no NCPC,
“...respeitados os atos processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada”. Assim: a) a lei nova não atinge os atos
processuais já praticados na vigência da lei antiga; b) a lei nova alcança apenas os
atos processuais futuros (posteriores à vigência da lei nova); c) lei nova não incide
sobre os atos processuais já iniciados, mas não concluídos, por exemplo, um prazo.

Sugestões de leitura:
CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; DINAMARCO, Cândido Rangel; GRINOVER, Ada
Pellegrini. Teoria Geral do Processo. 28ª edição. SP:Malheiros. Capítulos 6, 7, 8 e 9.
GRECO, Leonardo. Instituições de Processo Civil, volume I. RJ:Forense. Capítulo 2.

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