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UNIÃO DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA

FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS DE


NATAL

GRADUAÇÃO EM DIREITO
TEORIA GERAL DO PROCESSO CIVIL
Prof. Felipe Melo

ROTEIRO 5 – JURISDIÇÃO E AÇÃO

1.0 – Introdução

Iuris – Direito
Dictio – Dizer
Iurisdictio – Jurisdição – Dizer o Direitos

A jurisdição é a função do poder judiciário que “se ativa” quando o


mesmo é provocado. Dizer que o judiciário tem como função principal “dizer o direito”
significa explanar que o poder judiciário tem a prerrogativa e a obrigação de dar ao
jurisdicionado (aquele que procura o judiciário) qual o direito que ele tem (ou que não
tem!).
Neste estudo, vamos conhecer o conceito e definição de Jurisdição, como
também sua aplicação através do judiciário, limites e quais as regras a ela inerentes

2.0 – Conceitos

Como dito antes, “jurisdição” é a característica inerente ao juiz,


principal representante do poder judiciário, o qual consiste no poder de dizer o direito.
Dizer o direito implica em interpretar as normas jurídicas e ditar sua
aplicação com base na Lei. É o poder de decidir na sua forma mais pura. Ao exercer
jurisdição, o juiz menciona, interpreta e aplica o direito de forma fundamentada, com
base na Lei e nas normas fundamentais, realizando assim uma prestação jurisdicional
A Ação é a ferramenta com a qual, aquele que busca a prestação
jurisdicional (que chamaremos de jurisdicionado) se vale para provocar o juízo a fim de
obter uma prestação jurisdicional
Pelo Princípio da Inércia do Poder Judiciário e da Inafastabilidade de
Jurisdição, compreendemos como funciona a prerrogativa da prestação jurisdicional. O

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jurisdicionado usa-se da Ação para provocar o juízo, que precisa responder com
uma prestação jurisdicional, ou seja, dizer o direito de acordo com a forma como foi
provocado. Este é o básico de toda relação jurídica.

3.0 – Aplicação das Normas Processuais

Antes de falar sobre a Função Jurisdicional em si, vamos introduzir três


normas presentes no Código de Processo Civil (CPC), que balizam a aplicação da
norma processual. Estes três princípios, positivados em três artigos servirão de guia para
o juiz no exercício da Jurisdição. Tratam-se dos artigos 13, 14 e 14 do CPC. Vejamos e
interpretemo-nos:

“Art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas


processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas
previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de
que o Brasil seja parte.”

A base da jurisdição é a lei, sendo esta também sua regente. O art. 13


fala justamente sobre as fontes de direito que o juiz deve se basear quando exercer sua
função jurisdicional: normas processuais brasileiras, exceto quando existirem tratados
internacionais específicos cujo Brasil seja signatário.
A interpretação imediata deste dispositivo diz respeito a ordem de
preferência. O juiz seguirá todos os protocolos e determinações das normas processuais
locais, salvo quando a norma processual estrangeira for específicas com relação a
norma processual local, bem como, que seja também tal norma oriunda de um
tratado internacional onde o Brasil seja signatário.
Como interpretação mediata, deduz-se a vinculação do juiz ao uso da
norma processual para o exercício da jurisdição. Norma essa que o magistrado não
poderá ignorar nem relativizar, exceto quando a própria lei e os princípios gerais de
direito permitem tal relativização.

“Art. 14. A norma processual não retroagirá e será aplicável


imediatamente aos processos em curso, respeitados os atos
processuais praticados e as situações jurídicas consolidadas
sob a vigência da norma revogada.”

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A palavra “retroagir” significa “voltar no tempo”. Uma norma que


retroage faz com que os casos analisados sob a ótica de uma lei antiga passem a ser
reanalisados sob a égide de uma nova lei.
Via de regra, a lei processual não retroage. A tendência no Processo
Civil consiste em aproveitar o máximo de atos processuais praticados, de forma a
validar tudo aquilo que já foi feito no processo, mesmo que sob a égide de uma lei que
hoje é ultrapassada.
Com isso, resgatamos a definição do Princípio da Instrumentalidade
das Formas, onde os atos processuais que sirvam para a finalidade a qual foram
destinadas devem ser aproveitados ao máximo. Dessa forma, caso um ato processual
tenha sido praticado sob a égide de lei anterior, se sua finalidade tiver sido atingida, será
devidamente aproveitado, mesmo que lei posterior venha a modificá-lo.
O legislador teve o cuidado de enfatizar, contudo, que quando a nova Lei
Processual entra em vigor, aplica-se imediatamente. Contudo, os atos praticados sob a
vigência da lei anterior devem ser aproveitados ao máximo. Dessa forma, a
interpretação correta consiste em dizer que “a Lei Processual, aplica-se nos processos
anteriores à sua vigência, naquilo que couber, sem prejudicar os atos já praticados sob
a égide da lei anterior, bem como das decisões que já foram tomadas (coisa julgada)”.
Dito isso, sigamos, pois, com a terceira regra sobre a aplicabilidade da lei
processual, no art. 15:

“Art. 15. Na ausência de normas que regulem processos


eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições deste
Código lhes serão aplicadas supletiva e subsidiariamente.”

O Código de Processo Civil possui normas que podem ser aplicadas em


outras áreas do Direito, tais como processos Eleitorais, Trabalhistas ou Administrativos.
Embora tais áreas não possuam Códigos Processuais específicos, existe legislação de
natureza processual inserida na legislação de direito material de cada uma destas
áreas.
A CLT (Decreto-Lei nº 5.452/193) possui tanto normas de direito
material quanto normas de direito processual (estando a maior parte das regras de
Direito Processual Trabalhista inseridas a partir do art. 626 da CLT).
No que tange o Processo Eleitoral, este se encontra contido no Código
Eleitoral (Lei 4.737/1965), o qual, assim como a CLT, possui regras de direito Material
e Processual.
Sempre que tal legislação processual não for conflitante com o CPC ou
na ausência de determinação processual própria, aplica-se tal qual determina o CPC.
Isso é conhecido como Aplicação Subsidiária do Código de Processo Civil.

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4.0 – Jurisdição e Ação

4.1 – Quem Exerce a Jurisdição:

Por lei, só existem dois órgãos legitimados para exercer a jurisdição: Os


juízes e os Tribunais Colegiados (aí incluídos não apenas os Tribunais de Justiça
Estatuais, como as cortes superiores como o STJ e STF), conforme art. 16 do CPC.
O poder judiciário organiza-se em instâncias, onde cada uma é
hierarquicamente superior à anterior. Isso quer dizer que uma instância superior pode
revogar as decisões praticadas pela instância inferior, que deve obediência a instância
superior.
Assim, o Poder Judiciário organiza-se da seguinte forma:

➔ 1ª Instância: Composta pelos juízes de primeiro grau, os quais, junto com as


secretarias judiciárias de primeira instância formam as Varas ou Juizados
Especiais (a depender da competência), as quais podem ser organizadas de
acordo com a matéria tratada. Embora ligados ao poder judiciário Estadual, as
Varas e os Juizados possuem competência local, exercendo sua jurisdição numa
Comarca.
➔ 2ª Instância: Composta pelos desembargadores de segundo grau, os quais
compõe as várias turmas ou câmaras dos Tribunais de Justiça Estaduais. No
caso dos Juizados Especiais, há um órgão colegiado semelhante, composto por
colegiados de juízes e denominado Junta Recursal ou Turma Recursal. Sua
competência se estende por todo o Estado.
➔ 3ª e 4ª Instâncias: As últimas instâncias recursais são compostas por ministros.
Estes tem sua competência estendida em todo o país. São eles: o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF). O STJ é a
instância recursal que trata de matéria infraconstitucional (abaixo da
constituição) e o STF, também conhecido como “O Guardião da Constituição”,
trata de matéria Constitucional.

4.2 – Legitimidade:

Não é qualquer um que pode recorrer à justiça para pleitear o que bem
entende. O art. 17 do CPC determina que “para postular em juízo é necessário ter
interesse e legitimidade”.

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O interesse que fala a lei não se traduz na mera vontade de ingressar em


juízo. O interesse aí tratado fala sobre interesse processual, o qual está ligado à
definição de “justo motivo para ingressar em juízo”.
O interessante é perceber que, presente o interesse processual, este pode
se limitar a uma mera declaração de direitos, conforme diz o art. 19 do CPC. Em outras
palavras, não é preciso que aquele que possui interesse processual traduza seu interesse
em alguma diligência por parte do poder judiciário. Seu interesse pode se limitar tão
somente à declarações de existência, inexistência ou modo de uma relação jurídica ou
ainda a autenticidade ou falsidade de um documento, sem que o jurisdicionado precise
requerer nada além de uma mera declaração.
A este tipo de pedido, chamamos de Ação Declaratória. Nela, o Autor
nada pede além da declaração, por parte do juiz, de algo que ela deseja comprovar, a
fim de obter algum direito. Esta obtenção de direito pode não estar sequer relacionada a
nenhuma providência por parte do juiz, já que o art. 20 do CPC determina a
possibilidade de existência de ações meramente declaratória, mesmo em casos de
violação de direito.
A legitimidade se traduz na definição de que quem for pleitear algum
direito em juízo precisa ser o titular (dono) deste direito. Em complementação ao art.
17, o art. 18 do CPC determina que “ninguém pode pleitear direito alheio em nome
próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico”.
Tal autorização se dá em situações bem pontuais e excepcionais como
a Tutela, Curatela e outras representações como mandato de procurador ou preposto.
Fora de situações legalmente previstas, é totalmente vetado a alguém pleitear direito
que não lhe pertença.

5.0 – Limites da Jurisdição Nacional

“Art. 21. Compete à autoridade judiciária brasileira processar


e julgar as ações em que:

I – o réu, qualquer que seja a sua nacionalidade, estiver


domiciliado no Brasil;
II – no Brasil tiver de ser cumprida a obrigação;
III – o fundamento seja fato ocorrido ou ato praticado no
Brasil.

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Parágrafo único. Para o fim do disposto no inciso I, considera-


se domiciliada no Brasil a pessoa jurídica estrangeira que nele
tiver agência, filial ou sucursal.”

“Art. 22. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira


processar e julgar as ações:

I – de alimentos, quando:

a) o credor tiver domicílio ou residência no Brasil;


b) o réu mantiver vínculos no Brasil, tais como posse ou
propriedade de bens, recebimento de renda ou obtenção de
benefícios econômicos;

II – decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor


tiver domicílio ou residência no Brasil;
III – em que as partes, expressa ou tacitamente, se submeterem
à jurisdição nacional.”

O Poder Judiciário Brasileiro possui limites de atuação jurisdicional


dentro do território do Brasil. Aqui o legislador passa a delimitar que o judiciário
brasileiro tem autoridade e competência em 3 situações:

1 – Quando o Réu, mesmo que estrangeiro, possua domicílio no Brasil. Inclusive,


pessoas jurídicas estrangeiras que possuírem agência, filial ou sucursal em território
brasileiro podem recorrer ao/ser acionadas pelo judiciário.
2 – Quando a obrigação determinada no processo, ainda que oriundo de um processo
estrangeiro, tiver que ser cumprida no território brasileiro;
3 – Quando o fundamento da ação seja um fato ocorrido ou ato praticado no Brasil.
4 – Nas Ações de Alimentos, quando o credor (aquele que recebe a prestação
alimentícia) tiver domicílio no Brasil, bem como quando o Réu nestas ações possuir
vínculos como bens, posses e propriedades no Brasil.
5 – Nas Relações de Consumo, quando o Consumidor possuir domicílio no Brasil;
6 – Quando as partes se submeterem à jurisdição brasileira, seja por escolha própria
ou quando tal submissão restar deduzida.

As hipóteses a seguir estão previstas no art. 23 do CPC e correspondem a


competência exclusiva da autoridade judiciária brasileira, em detrimento de qualquer
outra:

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“I – conhecer de ações relativas a imóveis situados no Brasil;


II – em matéria de sucessão hereditária, proceder à
confirmação de testamento particular e ao inventário e à
partilha de bens situados no Brasil, ainda que o autor da
herança seja de nacionalidade estrangeira ou tenha domicílio
fora do território nacional;
III – em divórcio, separação judicial ou dissolução de união
estável, proceder à partilha de bens situados no Brasil, ainda
que o titular seja de nacionalidade estrangeira ou tenha
domicílio fora do território nacional.”

Uma ação proposta num tribunal estrangeiro não é óbice para que a
Autoridade Jurídica Brasileira proceda sua atuação, conforme art. 24:

“Art. 24. A ação proposta perante tribunal estrangeiro não


induz litispendência e não obsta a que a autoridade judiciária
brasileira conheça da mesma causa e das que lhe são conexas,
ressalvadas as disposições em contrário de tratados
internacionais e acordos bilaterais em vigor no Brasil.

Parágrafo único. A pendência de causa perante a jurisdição


brasileira não impede a homologação de sentença judicial
estrangeira quando exigida para produzir efeitos no Brasil.”

Por fim, a Lei Processual indica situações onde a Autoridade Judicial


Brasileira não possui jurisdição. Estas hipóteses são melhores explicitadas no art. 25:

“Art. 25. Não compete à autoridade judiciária brasileira o


processamento e o julgamento da ação quando houver
cláusula de eleição de foro exclusivo estrangeiro em contrato
internacional, arguida pelo réu na contestação.”

Esta regra, contudo, não se aplica ao caso das hipóteses de


competência exclusiva, listadas no art. 23.

Aprofunde seu estudo com:

 https://www.migalhas.com.br/coluna/cpc-marcado/302550/artigos-16--17-e-18-
do-cpc---acao-e-jurisdicao

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 http://aulas.verbojuridico3.com/DPE_Processual/Processo_Civil_Juliano_30-10-
12_Parte1.pdf
 https://jus.com.br/artigos/33267/da-jurisdicao-e-acao-no-codigo-processual-civil
 https://www.youtube.com/watch?v=pgW5zl1fazU
 https://www.youtube.com/watch?v=6pmkDKgJPTU

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