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Processo

Etimologicamente, processo significa “marca


avante”, “caminhada (do latim – procedere = seguir adiante).

A concepção de processo já foi confundida,


durante muito tempo, com a simples sucessão de atos processuais
(procedimento).

Oscar Von Bülow, com a obra “Teoria dos pressupostos processuais e das
exceções dilatórias”, percebeu que há a partir da prática dos atos processuais,
diferença na caminhada da produção dos atos processuais e da atuação das
partes na busca do sustento de suas pretensões e, por fim, há percepção
diferenciada no movimento dos atos do processo, a partir também da atuação
do juiz, havendo relações entre os sujeitos ou atores do processo, em especial,
entre os atos principais.

Processo portanto “... pode ser encarado pelo aspecto dos atos que lhe dão corpo e
das relações entre eles e igualmente pelo aspecto das relações entre os seus
sujeitos.”

Procedimento: . É tido como o meio extrínseco pelo qual se instaura, desenvolve e


termina o processo.
. A noção de procedimento é puramente formal, não passando da coordenação de
atos que se sucedem.
. Como aspecto formal do processo, é o meio pelo qual a lei estampa os atos e
fórmulas da ordem legal do processo.

Desse contexto – processo é concepção que transcende ao direito processual, sendo


instrumento para o legítimo exercício do poder.

Autos de um processo é a materialização ou materialidade dos documentos em que


se corporificam os atos do procedimento.

NATUREZA JURÍDICA DE UM FENÔMENO > Estamos falando e buscando saber onde no


direito aquele fenômeno estudado se agarra ou sustenta-se para dizer que é fenômeno
jurídico.

Quando estudamos a Natureza Jurídica de um fenômeno, estamos buscando conhecer aquele fenômeno e a
forma como aquele fenômeno estudado foi concebido através dos tempos até os dias em que o fenômeno é
estudado.
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Como o fenômeno jurídico PROCESSO foi concebido através dos tempos até os nossos dias.

Natureza jurídica da concepção de processo através da evolução histórica do direito:


. Processo concebido como CONTRATO.
. Processo concebido como QUASE-CONTRATO.
. Processo concebido como RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL.
. Processo concebido como SITUAÇÃO JURÍDICA.
. Processo concebido como PROCEDIMENTO INFORMADO PELO
CONTRADITÓRIO.

a) Natureza jurídica do processo concebido como contrato.

Vigência a partir do século XVIII e XIX, pois


desde de Roma, vigia esse entendimento, pela idéia contratualista.

Pothier – Um dos principais defensores, colocava


o pacto para o processo (litiscontestatio), no mesmo plano, raciocinando pela
submissão das partes voluntariamente ao processo e seus resultados, tomando a
partir da vontade de contratar, situando o vínculo das partes como “contrato social”.

Contratavam submeterem ao resultado, através do agente do EStado que era o Pretor.


O Pretor para conhecer da lide ou da demanda indicava um árbitro de sua confiança, o qual
então julgava o processo.

b) Natureza jurídica do processo concebido como quase-contrato.

Doutrina defendida por Arnault de Guényvau, a


partir do século XIX.

. Equivoca-se o defensor da idéia (Arnault), cometendo erro fundamental de tentar


enquadrar o processo nas categorias de direito privado, pois se o processo não era
um contrato, delito também não poderia ser. Contudo, o Código de Napolião
apontava que a concepção de processo, naquele período, tinha fonte na lei.
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b) Natureza jurídica do processo concebido como relação jurídica de


direito processual.

RELAÇÃO - Uma situação estabelecido dentro do processo, a qual é criadora de vínculos entre autor e réu,
impondo à ambos o resultado da decisão da lide ou contenda.

Relação Jurídica de Direito Material:


1. Sujeitos. Credor x Devedor - Sujeito Ativo e Sujeito Passivo vínculo relacional.
2. Objeto. É o bem da vida inserido na obrigação.
3. Nexo ou vínculo - Elemento(s) definido(s) no Direito que ligam o sujeito ao objeto.

Essa teoria é devida a Bülow (1868), através da


obra “Teoria dos pressupostos processuais e das exceções dilatórias”, considerada
a primeira obra científica sobre o direito processual e que abriu caminho para esse
ramo do direito, possibilitando uma escola sistemática do direito processual.

A grande virtude de Bülow, foi a sistematização


ordenadora da conduta dos sujeitos do processo em suas ligações recíprocas,
realçando dois planos de relações: a de direito material e a de direito processual.

Distinguiu a relação jurídica de direito processual


da relação jurídica de direito material, em três aspectos:
a) Pelos seus Sujeitos (autor, réu e Estado/juiz).
b) Pelo seu objeto (prestação jurisdicional).
c) Pelos seus pressupostos (os pressupostos processuais).

Críticas: a) Baseia-se na divisão do processo em duas fases (in jure e apud


judicem), onde na primeira fase apenas se comprovam os pressupostos precessuais;
e na segunda fase, apenas se examina o mérito o que não é verdadeiro, pois as
questões de pressupostos em muito das vezes se confundem com o mérito.

b) O juiz tem obrigações no processo, mas inexistem sanções processuais ao seu


descumprimento.
c) As partes não têm obrigações no processo, mas estão simplesmente num estado
de sujeição à autoridade do órgão jurisdicional.

a) Natureza jurídica da concepção de processo como situação jurídca.


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Teoria de Goldschimidt que contribuiu para o


desenvolvimento da ciência processual.
Prevalece a situação de incerteza, não se discute
se há ou não direito anterior, mas diante da situação dinâmica no processo, opera-se
no direito debatido, uma mutação estrutural. Notadamente para a parte, seja autor ou
réu, aquilo que para cada um deles o direito estava com deles, era subjetivo, agora
se degrada em meras possibilidades (a partir de que a parte há de praticar atos para
que o direito seja reconhecido), expectativas (em obter esse reconhecimento do
Poder Judiciário), perspectivas (uma vez que pode a part ter uma sentença
desfavorável) e ônus (encargo de praticar certos atos, cedendo a imperativos ou
impulsos do próprio interesse, para evitar a sentença desfavorável).

Críticas:
a) Pela exceção, toma com generalizadas, as deformações do processo.
b) No processo não há uma única situação jurídica, mas um complexo de situações.
c) É exatamente o conjunto de situações jurídicas que recebe o nome de relação
jurídica.
Mas a crítica mais envolvente foi a que observou que toda aquela situação de
incerteza, expressa nos ônus, perspectivas, expectativas, possibilidade, refere-se à
coisa deduzida em juízo (res in judicium deducta), não ao julgamento em si mesmo.

Restaram com essa doutrina, assentados os


conceitos e idéias de ônus, sujeição e da relação funcional do juiz com o Estado, de
natureza administrativa, sem obrigações da pessoa física com as partes.

d) Natureza jurídica do processo concebida a partir da idéia de Relação


Jurídica de Direito Processual.

Bülow acertou ao dizer que processo não se reduz


a mero procedimento, mero regulamento das formas e ordem dos atos do juiz e
partes ou mera sucessão de atos processuais.

O Estado e as partes estão interligados no


processo por uma série muito grande e significativa de liames jurídicos, sendo
titulares de situações jurídicas, onde se exige a prática de cada parte de atos do
procedimento ou o ordenamento jurídico autoriza a prática de determinados atos
processuais.

Na relação jurídica, a prática dos atos processuais


não decorre da titularidade de situações jurídicas. Mas, do nexo que liga dois ou
mais sujeitos, atribuindo-os poderes, direitos, faculdades, e os correspondentes
deveres, obrigações, sujeições, ônus etc.
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Genericamente, relação jurídica compreende duas


espécies de relações: a) Relação jurídica de direito material e, b) Relação jurídica de
direito processual.

Na relação jurídica de direito material, há o liame


estabelecido entre credor e devedor, entre os membros de uma sociedade anônima,
locação e etc...

Na relação jurídica de direito processual,


estabelece a norma processual um complexo – nexo de ligação jurídica entre os
sujeitos ativos e passivos do processo, estabelecendo-se uma relação jurídica, a qual
vista em seu conjunto, apresenta-se composta de inúmeras posições jurídicas ativas
e passivas de cada um dos seus sujeitos: poderes, faculdades, deveres, sujeição,
ônus etc...

Poderes e faculdades são posições jurídicas


ativas, correspondentes à permissão (pelo ordenamento) de certas atividades.

Faculdade: É a conduta permitida que se exaure na esfera jurídica do próprio


agente.

Poder: Se resolve numa atividade que virá determinar modificações na esfera alheia
(criando novas posições jurídicas).
Ex.: O juiz tem o poder de mandar intimar testemunhas e a testemunha, uma vez
intimada, tem o dever de comparecer.
As partes tem a faculdade de fazer perguntas durante o depoimento, a serem
dirigidas às testemunhas pelo juiz.

Sujeição e Deveres: São posições jurídicas passivas.

Dever: Enquanto contraposto de poder, é a exigência de uma conduta.

Sujeição: É a impossibilidade de rejeitar à vontade ou atitude alheia, é a


impossibilidade de evitar uma atividade alheia ou uma situação criada pelo terceiro
(ato de autoridade).

Ônus: É a conseqüência do não exercício de uma faculdade que cabia à parte


praticá-la num determinado tempo. “É a faculdade cujo exercício é necessário para
a realização de um interesse.”

Processo: Portanto, é uma entidade complexa, podendo ser encarado sob o aspecto
dos atos que lhe dão corpo e da relação entre eles (procedimento) e igualmente sob
o aspecto das relações entre os seus sujeitos (relação processual).
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e) Natureza jurídica do processo concebido com procedimento em


contraditório.

Corrente surgida na Itália, pela doutrina de Elio


Fazzalari, para quem existe, enquanto processo, o procedimento realizado em
contraditório.
Para Ada Pellegrine e outros, tal corrente está
inserida no processo, a partir da presença na relação jurídico-processual no
processo, pela projeção jurídica e instrumentação técnica da exigência político-
constitucional do contraditório.

- Legitimação pelo procedimento e pelo contraditório.

A observância do procedimento constitui fator de


legitimação do ato imperativo proferido a final pelo juiz (provimento jurisdicional,
esp. Sentença de mérito).
O procedimento, será legítimo, se observada as
exigências de legalidade e constitucionalidade no processo, na medida em que o
procedimento constitua meio para a efetividade do contraditório, para que o
material preparatório do julgamento final seja recolhido e elaborado segundo tais
previsões.

Relação jurídica de direito material e Relação jurídica de direito processual.

A relação jurídica de direito processual se


distingue da material, por três aspectos ou por três elementos:
a) Pelos seus sujeitos.
b) Pelo seu objeto.
c) Pelos seus pressupostos.

São três: Estado, demandante e demandado.

O primeiro sujeito é o Estado, na presença da


identidade da relação jurídica processual; não é só a presença do Estado/juiz, mas
sua presença na condição de sujeito exercente do poder (jurisdição), figurando as
partes na relação processual na condição de sujeição ao poder estatal.
O Estado-juiz se posiciona na condição de sujeito
exercente do poder (jurisdição) e o demandante e demandado na condição de
sujeitos em situação de sujeição ao poder estatal da jurisdição.

Quanto à configuração da relação processual:


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Triangular: É a configuração em que a doutrina entende que a relação


processual se apresentava como uma figura triangular, onde há interligação da
posição processual entre Autor e Estado, Estado e Réu, Réu e autor.

Angular: Entende essa doutrina que há ligação entre autor e Estado, e Estado e
Réu, nega que há contato direto entre autor e réu.

Na doutrina brasileira prevalece a configuração da figura TRIANGULAR, sob os


seguintes argumentos:

a) As partes têm o dever de lealdade recíproca.


b) A parte vencida tem a obrigação de reembolsar a outra parte, as despesas
processuais realizadas.
c) Podem as partes convencionar sobre o processo: Suspensão (art. 265,II,
CPC), sobre prazos (art. 181,CPC), ônus da prova (art.333, parágrafo único,
CPC), etc...

Aplica-se, independente de qualquer conclusão,


que a relação processual parte de uma configuração tríplice.

Objeto da relação processual.

O Objeto da relação jurídica substancial é


considerado primário – é o bem da vida disputado.
O objeto da relação jurídica processual
(secundário) é o serviço jurisdicional que o Estado tem o dever de prestar, a partir
de um procedimento produzido em contraditório, consumando-o mediante o
provimento final em cada processo. (esp. Sentença de mérito).
A relação jurídica de direito processual é uma
relação secundária, pois tem como objeto um bem que guarda relação de
instrumentalidade para com aquilo que, afinal de contas é o que deseja o autor
demandar, e que é o objeto da relação jurídica de direito material.

Pressupostos da relação processual


(pressupostos processuais).

Trata-se dos pressupostos da relação jurídica


processual, os quais são requisitos para a constituição de uma relação processual
válida, pois são requisitos de viabilidade de desenvolvimento regular da relação
processual.

São pressupostos processuais:

a) Uma demanda regularmente formulada. (CPC, art. 2.º, CPC e art. 24, CPP).
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b) Capacidade de quem formula.


c) Investidura do destinatário da demanda, ou seja, a qualidade de juiz.

Síntese pela doutrina mais autorizada: “Uma correta propositura da ação, feita
perante uma autoridade com jurisdição (ou jurisdicional), por entidade capaz
de ser parte em juízo”.’

A doutrina brasileira amplia e aponta os


pressupostos da relação processual em objetivos e subjetivos:

Objetivos seriam: a) Intrínsecos (regularidade


procedimental, existência de citação); b) Extrínsecos (ausência de impedimentos,
como a coisa julgada, litispendência, compromisso arbitral).

Subjetivos seria: a) Referentes ao juiz


(investidura, competência, imparcialidade); b) Referente às partes (capacidade de
ser parte, capacidade de estar em juízo, capacidade postulatória).

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