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7.

ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO E SUSPEIÇÃO

1. INTRODUÇÃO:
O incidente de arguição de impedimento ou suspeição é a forma
estabelecida em lei para afastar o juiz da causa, por lhe faltar imparcialidade. A
imparcialidade do julgador é pressuposto processual de validade
(pressuposto processual subjetivo do processo), portanto, o ato do juiz
parcial é ato nulo, nos termos do art. 146, §7º.
Veremos que também é possível arguir a suspeição ou impedimento de
membro do Ministério Público, de auxiliar da justiça ou de outro sujeito
imparcial do processo.
Trata-se de defesa dilatória visto que a parcialidade é vício que não
gera a extinção do processo, mas apenas transfere o feito para o substituto
legal do magistrado, declarando a nulidade dos atos praticados.
As hipóteses de impedimento dão ensejo à nulidade do ato, pois há uma
presunção legal absoluta de que o magistrado não tem condições
subjetivas para atuar com imparcialidade. O impedimento faz referência a
questões objetivas.
Já as hipóteses de suspeição também dão azo a invalidade, mas haverá
apenas presunção relativa de parcialidade que deverá ser comprovada.

2. HIPÓTESES DE IMPEDIMENTO:
Art. 144. Há impedimento do juiz, sendo-lhe vedado exercer suas
funções no processo:
I - em que interveio como mandatário da parte, oficiou como perito,
funcionou como membro do Ministério Público ou prestou
depoimento como testemunha;
Mandatário se refere ao juiz que antes foi advogado da parte.

II - de que conheceu em outro grau de jurisdição, tendo proferido


decisão;

III - quando nele estiver postulando, como defensor público,


advogado ou membro do Ministério Público, seu cônjuge ou
companheiro, ou qualquer parente, consanguíneo ou afim, em
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive;
Esse dispositivo é complementado pelos §§ 1º e 3º, do art. 144:
§ 1o Na hipótese do inciso III, o impedimento só se verifica quando o
defensor público, o advogado ou o membro do Ministério Público já
integrava o processo antes do início da atividade judicante do juiz.
§ 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de caracterizar
impedimento do juiz.
§ 3o O impedimento previsto no inciso III também se verifica no caso de
mandato conferido a membro de escritório de advocacia que tenha em
seus quadros advogado que individualmente ostente a condição nele
prevista, mesmo que não intervenha diretamente no processo.

IV - quando for parte no processo ele próprio, seu cônjuge ou


companheiro, ou parente, consanguíneo ou afim, em linha reta ou
colateral, até o terceiro grau, inclusive;
V - quando for sócio ou membro de direção ou de administração de
pessoa jurídica parte no processo;
VI - quando for herdeiro presuntivo, donatário ou empregador de
qualquer das partes;
Herdeiro presuntivo: aquele que é tido como herdeiro enquanto não se apresenta outro
melhor direito à herança. Herdeiro aparente.
Donatário: recebedor de uma doação
VII - em que figure como parte instituição de ensino com a qual
tenha relação de emprego ou decorrente de contrato de prestação
de serviços;
Única hipótese possível de contratação de juiz é no caso do juiz professor.
VIII - em que figure como parte cliente do escritório de advocacia
de seu cônjuge, companheiro ou parente, consanguíneo ou afim,
em linha reta ou colateral, até o terceiro grau, inclusive, mesmo
que patrocinado por advogado de outro escritório;
IX - quando promover ação contra a parte ou seu advogado.
Art. 147. Quando 2 (dois) ou mais juízes forem parentes,
consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral, até o terceiro
grau, inclusive, o primeiro que conhecer do processo impede que o
outro nele atue, caso em que o segundo se escusará, remetendo
os autos ao seu substituto legal.
3. HIPÓTESES DE SUSPEIÇÃO:
Art. 145. Há suspeição do juiz:
I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus
advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa
antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das
partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para
atender às despesas do litígio;
Não se considera suspeito o juiz, com base nesse artigo, que, na qualidade de
doutrinador ou professor, manifestar-se em teses sobre questão jurídica, sem
referência a uma situação concreta.
III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu
cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o
terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.
§ 1o Poderá o juiz declarar-se suspeito por motivo de foro íntimo, sem
necessidade de declarar suas razões.

4. IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO PROVOCADOS:


Art. 144. § 2o É vedada a criação de fato superveniente a fim de
caracterizar impedimento do juiz.
Art. 145, § 2o Será ilegítima a alegação de suspeição quando:
I - houver sido provocada por quem a alega;
Visando tutelar a boa-fé processual o legislador reputou ilegítima a
alegação de suspeição ou impedimento quando decorrer de fato provocado
pela parte. Trata-se de comportamento contraditório (venire contra factum
proprium).
Da mesma forma, se a parte praticar qualquer ato aceitando o exercício
da jurisdição pelo magistrado suspeito não poderá arguir posteriormente a sua
suspeição:
II - a parte que a alega houver praticado ato que signifique
manifesta aceitação do arguido.
5. PRAZO:
O artigo 146, do CPC, estipula o prazo de 15 dias para a arguição do
impedimento e da suspeição:
Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do
fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição
específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento
da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a
alegação e com rol de testemunhas.
Nas comarcas onde só houver um juiz para julgar a causa, é possível
que o autor já alegue a suspeição ou o impedimento do juiz concomitantemente
ao ajuizamento da demanda. Se houver mais de um juízo abstratamente
competente para conhecer a causa, o autor terá quinze dias contados da
distribuição para arguir a suspeição ou o impedimento. Se o motivo já for
conhecido, o réu terá o prazo de quinze dias para arguir tais questões. Se a
parcialidade se der por fato superveniente, autor e réu terão, igualmente, prazo
de quinze dias para suscitar a questão.
Apesar do texto legal se referir a arguição de impedimento e suspeição,
a doutrina e jurisprudência pacificaram entendimento no sentido de que o prazo
para a arguição do impedimento não seria preclusivo, podendo ser alegada em
qualquer tempo e grau de jurisdição.
Já a arguição de suspeição estaria sujeita ao prazo de quinze dias, sob
pena de preclusão, visto que a presunção de parcialidade seria relativa.

EMENTA: EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO - PRAZO PEREMPTÓRIO -


PRECLUSÃO TEMPORAL - INTEMPESTIVIDADE.
- A faculdade de opor exceção - apreendida no sentido que lhe confere
o Código de Processo Civil - pode ser exercida em qualquer tempo ou
grau de jurisdição, devendo-se destacar que, em se tratando de causa
de suspeição preexistente ao ajuizamento da ação, o prazo para tal
desiderato, com relação ao autor, terá início após a distribuição do feito
ao juiz reputado suspeito. Para o réu, o prazo será o da própria
contestação. No caso de causa superveniente, conta-se o prazo a partir
do fato considerado como causa da suspeição (art. 305 do CPC).
- Conquanto jurisprudência e doutrina atenuem o rigor da lei no que
tange à exceção de impedimento - permitindo que seja oposta depois
do referido prazo de quinze dias, uma vez que o impedimento do juiz
trata-se de um dos fundamentos para propositura de ação rescisória
(art. 485, II, do CPC) -, tal atenuação não se aplica à exceção de
suspeição, pois, não se referindo a vício rescisório, não há como fugir
da conclusão de que o prazo para oposição desta última exceção é
peremptório. Por conseguinte, transcorrido o prazo de quinze dias
previsto, ocorre a preclusão temporal, extinguindo-se a faculdade de
opor exceção com base na suspeição do julgador (art. 183 do CPC).
- A prolação de sentença que contrarie os interesses de uma das partes
ou viole direitos e garantias do jurisdicionado não configura suspeição
do magistrado, dispondo as partes de meio processual específico para
provocar a impugnação e, conseqüentemente, o reexame de uma
decisão judicial: o recurso. (TJMG - Exceção Suspeição-Cv
1.0000.11.045936-9/000, Relator(a): Des.(a) Elpídio Donizetti , 18ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 07/02/2012, publicação da súmula em
13/02/2012)

Lembrando que sempre o juiz poderá declarar-se suspeito ou impedido


(de ofício).

6. PROCEDIMENTO DA ARGUIÇÃO DE SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO DE


MAGISTRADO:
Art. 146. No prazo de 15 (quinze) dias, a contar do conhecimento do
fato, a parte alegará o impedimento ou a suspeição, em petição
específica dirigida ao juiz do processo, na qual indicará o fundamento
da recusa, podendo instruí-la com documentos em que se fundar a
alegação e com rol de testemunhas.
A arguição de impedimento ou suspeição pode ser formulada por
qualquer das partes, em petição específica dirigida ao juiz do processo, na qual
indicará o fundamento da recusa, podendo instruí-la com documentos em que
se fundar a alegação e com rol de testemunhas.

§ 1o Se reconhecer o impedimento ou a suspeição ao receber a


petição, o juiz ordenará imediatamente a remessa dos autos a seu
substituto legal, caso contrário, determinará a autuação em
apartado da petição e, no prazo de 15 (quinze) dias, apresentará
suas razões, acompanhadas de documentos e de rol de
testemunhas, se houver, ordenando a remessa do incidente ao
tribunal.
Por ser uma defesa instrumental, será formado um instrumento autuado
em apartado que será iniciado com a petição arguindo o impedimento ou
suspeição. Esse incidente em apartado que será remetido ao tribunal.
O magistrado, não concordando com a arguição, fará sua defesa, tendo
a lei conferido a ele capacidade postulatória, não precisando de advogado.
A parte contrária da causa principal não participa do procedimento, visto
que as partes do incidente serão apenas a parte que arguiu e o magistrado.
 COMPETÊNCIA E SUSPENSÃO DO PROCESSO
Conforme afirmado, ao receber a petição e não reconhecendo o
impedimento ou a suspeição, o magistrado remeterá o feito ao Tribunal.
Percebam que esse incidente contra magistrado é de competência dos
tribunais.
Assim, será distribuído a um relator, que deverá declara os efeitos em
que recebe o incidente. Se for recebido sem efeito suspensivo, o processo
voltará a correr. Se for recebido com efeito suspensivo, permanecerá suspenso
o processo até o julgamento do incidente.
Art. 146, § 2o Distribuído o incidente, o relator deverá declarar os
seus efeitos, sendo que, se o incidente for recebido:
I - sem efeito suspensivo, o processo voltará a correr;
II - com efeito suspensivo, o processo permanecerá suspenso até
o julgamento do incidente.
§ 3o Enquanto não for declarado o efeito em que é recebido o
incidente ou quando este for recebido com efeito suspensivo, a
tutela de urgência será requerida ao substituto legal.

 SE A ARGUIÇÃO FOR ACOLHIDA, O TRIBUNAL:


a) fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter atuado:
Art. 146, § 6o Reconhecido o impedimento ou a suspeição, o
tribunal fixará o momento a partir do qual o juiz não poderia ter
atuado;
b) decretará a invalidade dos atos do juiz:
Art. 146, § 7o O tribunal decretará a nulidade dos atos do juiz, se
praticados quando já presente o motivo de impedimento ou de
suspeição.
c) condenará o juiz ao pagamento de custas processuais e remeterá os autos
ao substituo legal:
Art. 146, § 5o Acolhida a alegação, tratando-se de impedimento
ou de manifesta suspeição, o tribunal condenará o juiz nas custas
e remeterá os autos ao seu substituto legal, podendo o juiz
recorrer da decisão.
7. ARGUIÇÃO DE IMPEDIMENTO OU SUSPEIÇÃO DO TRIBUNAL OU DA
MAIORIA ABSOLUTA DO TRIBUNAL
A competência para analisar a arguição de suspeição ou de
impedimento de desembargador é o próprio tribunal. Agora supondo que todo o
tribunal ou sua maioria absoluta padece de suspeição ou impedimento, quem
será competente?
Com base no art. 102, I, “n”, da CF:
Art. 102, I, n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam
direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade
dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta
ou indiretamente interessados;
- 1. SUPREMO TRIBUNAL: competência originaria: argüição de
suspeição de todos os integrantes de Tribunal Regional Eleitoral,
para todo o processo eleitoral: deslocamento da competência
originaria para o STF, a vista do impedimento da totalidade dos
componentes do Tribunal Regional competente (CF, art. 102, I, n);
votos vencidos, incluido o do relator, pela competência do
Tribunal Superior Eleitoral. 2. Argüição de suspeição: preclusão: e
inoportuna a argüição de suspeição, fundada na parcialidade dos
juizes do TRE em favor de determinado candidato a Governador
do Estado, quando, ja registrada a candidatura geradora da
alegada suspeição, os partidos arguentes praticaram inumeros
atos que importaram a aceitação dos arguidos (C. eleit., art. 20,
parag. único): argüição não conhecida por votação unânime.
(AO 58 QO, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Tribunal
Pleno, julgado em 05/12/1990, DJ 08-05-1992 PP-06264 EMENT
VOL-01660-01 PP-00001 RTJ VOL-00137-02 PP-00483)

8. EFICÁCIA EXTERNA DA DECISÃO SOBRE A SUSPEIÇÃO E O


IMPEDIMENTO:
Defende-se que a questão, uma vez resolvida, deve tornar-se
indiscutível não apenas para o processo em que foi proferida, mas também
para outros, em que a mesma situação se repita.
9. SUSPEIÇÃO E IMPEDIMENTO DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO
PÚBLICO OU DE AUXILIARES DA JUSTIÇA:
Art. 148. Aplicam-se os motivos de impedimento e de suspeição:
I - ao membro do Ministério Público;
II - aos auxiliares da justiça;
III - aos demais sujeitos imparciais do processo.
§ 1o A parte interessada deverá arguir o impedimento ou a
suspeição, em petição fundamentada e devidamente instruída, na
primeira oportunidade em que lhe couber falar nos autos.
§ 2o O juiz mandará processar o incidente em separado e sem
suspensão do processo, ouvindo o arguido no prazo de 15
(quinze) dias e facultando a produção de prova, quando
necessária.
A competência para julgar a arguição é do próprio juízo no qual o
processo tramita e não haverá a suspensão do processo.

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