Você está na página 1de 6

JUIZ DE GARANTIAS

Ação Direta de Inconstitucionalidade 6.299-DF – Min. FUX.


Argumento de ordem orçamentária tendo em vista suposta
dificuldade de fóruns de implementar mais magistrados nas
comarcas para funcionar como juiz de garantias. Art. 16 Lei
Complementar 101 – ao criar despesa, o adm deve dizer qual a
fonte de capital na administração vigente e nas duas
administrações subsequentes.
Art. 3º-A. O processo penal terá estrutura acusatória,
vedadas a iniciativa do juiz na fase de investigação e a
substituição da atuação probatória do órgão de acusação.

Redação considerada desnecessária, na medida em que a CF separa


as funções das instituições. Entretanto, isso se deu ante o
incômodo do Legislador no que se sucedeu com a atuação do MP e
da Magistratura no âmbito da Operação Lava jato. É justamente
nesse sentido que vai a parte final desse artigo.
Esse artigo também trouxe uma novidade GARNTISTA, em que pese a
CF ter adotado o sistema acusatório, a alteração no Art. 3º-A
evidenciou essa estrutura acusatória, além de vedar abuso de
autoridade / vedar ampla participação do magistrado no processo.

Definição do Juiz de Garantias: é o órgão jurisdicional que terá


o papel de zelar e cuidar das garantias e dos direitos
fundamentais das partes na fase insipiente do processo de
persecução penal. Nesse sentido, ele deve acompanhar o inquérito
para oferecer salvaguarda aos direitos fundamentais nessa fase.

O objetivo principal dessa reforma é implementar o afastamento


do juiz da instrução do juiz da investigação, de modo que ele
cria uma estrutura que funciona na fase de inquérito e outra
estrutura na fase de instrução. Nesse sentido, o legislador
estabeleceu que não funciona o mesmo juiz na fase inquisitória e
na fase instrutória.
Art. 3º-B. O juiz das garantias é responsável pelo
controle da legalidade da investigação criminal e pela
salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha
sido reservada à autorização prévia do Poder Judiciário,
competindo-lhe especialmente: 

Atribuições do juiz de garantias:


I - Receber a comunicação imediata da prisão, nos termos
do inciso LXII do caput do art. 5º da Constituição
Federal;

Comunicação do auto de prisão em flagrante ao juiz competente e à


família ou pessoa indicada pelo preso em no máximo 24 horas após a
lavratura.
II - Receber o auto da prisão em flagrante para o
controle da legalidade da prisão, observado o disposto
no art. 310 deste Código; - lavrar a prisão em flagrante
e relaxar, converter em prisão preventiva ou conceder
liberdade provisória; deve observar a existência ou não
de excludentes de ilicitude; reiteração delitiva.

Após a comunicação, o juiz das garantias deve identificar se estão


presentes os requisitos da prisão em flagrante, segundo os requisitos
do artigo 302 (requisitos intrínsecos) e 304 (requisitos extrínsecos)
do CPP. Com tudo de acordo, o juiz não relaxa o flagrante e a converte
em prisão preventiva (art. 312) ou aplica as medidas cautelares
diversas (art. 319).

Isso tudo deve ser feito em audiência de custódia, nos termos do art.
310, caput, com a presença do acusado assistido de procurador e de
membro do MP. N ão havendo advogado constituído ou membro da
Defensoria, o juiz deve nomear um defensor ad hoc para acompanhar a
audiência ou mesmo um defensor dativo

III - zelar pela observância dos direitos do preso,


podendo determinar que este seja conduzido à sua
presença, a qualquer tempo;

Direitos constitucionais do preso: LVIII –identificação criminal;

LXII – comunicação da prisão e de onde se encontra o preso ao juiz


competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

LXIII – o preso será informado de seus direitos (se manter calado,


constituir advogado...);

LXIV – identificação dos responsáveis por sua prisão ou


interrogatório;

A parte final do inciso ocorre em casos excepcionais, após audiência


de custódia.

IV - Ser informado sobre a instauração de qualquer


investigação criminal;

O juiz das garantias deve ter acesso aos autos da investigação sob
pena de tudo que não for comunicado ser considerado prova ilícita.

Toca no ponto do direito do advogado de ter acesso aos autos do


inquérito / investigação do MP. Nesse sentido, o procurador do acusado
tem a prerrogativa da consulta aos autos processuais publicados.

V - Decidir sobre o requerimento de prisão provisória ou


outra medida cautelar, observado o disposto no § 1º
deste artigo;

Contato direito ente o preso e o juiz das garantias e primazia da


oralidade e da imediatidade, princípios ímpares ao processo penal.

§1º - indica a importância que a audiência de custódia ganhou mediante


a implementação do juiz das garantias – além disso, a vedação de
audiência por videoconferência gerou embate legislativo, uma vez que
supostamente gera insegurança jurídica diante dos artigos 185 e 222 do
mesmo código.
A vedação se da para maximizar o contato do preso com o juiz das
garantias. Entretanto, registre-se o advento da pandemia gerada pelo
novo coronavírus, impedindo o contato das pessoas e proibindo
aglomerações, tornando até mesmo os julgamentos de vários órgãos do
Poder Judiciário, inclusive do STF, efetivados por videoconferência.

VI - Prorrogar a prisão provisória ou outra medida


cautelar, bem como substituí-las ou revogá-las,
assegurado, no primeiro caso, o exercício do
contraditório em audiência pública e oral, na forma do
disposto neste Código ou em legislação especial
pertinente;  

Podem significar um óbice à garantia ao contraditório e à ampla defesa


tendo em vista a necessidade de celeridade imposta pelo código – a
prisão temporária deverá ser prorrogada pelo juiz das garantias em, no
máximo, 30 dias. Desta forma, a realização de audiência para a
exposição de razões pelas partes se limita este impasse: celeridade x
contraditório e ampla defesa.

VII - decidir sobre o requerimento de produção


antecipada de provas consideradas urgentes e não
repetíveis, assegurados o contraditório e a ampla defesa
em audiência pública e oral;

Torna competência do juiz das garantias (não mais do juiz da instrução


– 156, I). O juiz decidirá sobre a produção de provas que serão usadas
posteriormente em audiência, a pedido do órgão de acusação. PROVA
URGENTE OU NÃO REPETÍVEL.

VIII - prorrogar o prazo de duração do inquérito,


estando o investigado preso, em vista das razões
apresentadas pela autoridade policial e observado o
disposto no § 2º deste artigo;

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das garantias poderá,


mediante representação da autoridade policial e ouvido o Ministério
Público, prorrogar, uma única vez, a duração do inquérito por até 15
(quinze) dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será imediatamente relaxada.

Deste modo, o inquérito poderá durar até 25 dias (10 de praxe + 15


potenciais). Depois desse prazo, a prisão deverá ser relaxada sob pena
de constrangimento ilegal por excesso de prazo.

Leis especiais (exceção) – crimes hediondos ou equiparáveis, nos quais


o prazo de prisão é de 30 dias, prorrogáveis por outros 30.  

IX - Determinar o trancamento do inquérito policial


quando não houver fundamento razoável para sua
instauração ou prosseguimento;

Quando houver inquérito policial iniciado sem justa causa, cabe ao


investigado impetrar habeas corpus, que será julgado pelo juiz das
garantias.

Porém, não há previsão legal para trancamento de investigação iniciada


pelo MP. Entretanto como há previsão de comunicação, o acusado terá
notícias das investigações. Considerando o foro previsto aos
integrantes do MP, qualquer alegação de abuso de autoridade deverá ser
impetrada ante o TJ, com acompanhamento do Juiz das garantias.
X - Requisitar documentos, laudos e informações ao
delegado de polícia sobre o andamento da
investigação;     

XI - decidir sobre os requerimentos de:    

a) interceptação telefônica, do fluxo de comunicações em


sistemas de informática e telemática ou de outras formas
de comunicação;     

b) afastamento dos sigilos fiscal, bancário, de dados e


telefônico;     

c) busca e apreensão domiciliar;   

d) acesso a informações sigilosas;    

e) outros meios de obtenção da prova que restrinjam


direitos fundamentais do investigado;    

XII - julgar o habeas corpus impetrado antes do


oferecimento da denúncia;

Caso a autoridade coatora seja o delegado de polícia, o HC será


impetrado para julgamento do Juiz das garantias; caso a autoridade
coatora seja integrante do MP, o HC deverá ser impetrado no TJ, tendo
em vista foro.    

XIII - determinar a instauração de incidente de


insanidade mental;    

Antes, atribuição do delegado de polícia. Nesse sentido, considerando


laudo positivo, aplicar-se-á art. 319, VII: “internação provisória do
acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave
ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável
(art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração”.

Não pode ser aplicada de ofício, deve ser requisitada pela parte.

XIV - decidir sobre o recebimento da denúncia ou queixa,


nos termos do art. 399 deste Código; 

O entendimento é de que, considerando que o juiz das garantias não


interfere na instrução criminal, ele deve se limitar a RECEBER A
DENÚNCIA, nos termos do 399.

Entretanto, a previsão legal (art. 396) é de que, oferecida a denúncia


ou queixa, o juiz pode a rejeitar liminarmente ou citar o acusado para
resposta à acusação;

Além disso, o art. 397 prevê a possibilidade de absolvição sumária


após o oferecimento da defesa.

Este trâmite narrado é parte da instrução criminal? Sendo parte, o


juiz das garantias está vedado a praticar tais atos processuais? Isso
não representaria um atentado à economia processual e ao princípio da
imediatidade?

XV - Assegurar prontamente, quando se fizer necessário,


o direito outorgado ao investigado e ao seu defensor de
acesso a todos os elementos informativos e provas
produzidos no âmbito da investigação criminal, salvo no
que concerne, estritamente, às diligências em
andamento;    

O procurador do acusado deve ter acesso às provas já produzidas, não


àquelas ainda em andamento ou não juntadas aos autos.

XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico


para acompanhar a produção da perícia;    

Garantia à participação dos interessados, ainda durante a


investigação, para acompanhar a produção da perícia.

XVII - decidir sobre a homologação de acordo de não


persecução penal ou os de colaboração premiada, quando
formalizados durante a investigação; 

Considerando que o ANPP deve ser feito antes da denúncia, o juiz das
garantias é o órgão adequado para a homologação. O mesmo serve para a
colaboração premiada.

Desta forma, o juiz instrutor do feito não tem que se imiscuir nos
acordos pré-instrução e nem mesmo no que se refere à delação
premiada   

XVIII - outras matérias inerentes às atribuições


definidas no caput deste artigo.

Discricionariedade conferida pela norma aberta.

§ 1º O preso em flagrante ou por força de mandado de


prisão provisória será encaminhado à presença do juiz de
garantias no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, momento
em que se realizará audiência com a presença do
Ministério Público e da Defensoria Pública ou de
advogado constituído, vedado o emprego de
videoconferência.          

§ 2º Se o investigado estiver preso, o juiz das


garantias poderá, mediante representação da autoridade
policial e ouvido o Ministério Público, prorrogar, uma
única vez, a duração do inquérito por até 15 (quinze)
dias, após o que, se ainda assim a investigação não for
concluída, a prisão será imediatamente relaxada.

Não obstante, também é função do juiz de garantias prorrogar ou


não os prazos do inquérito policial. Segundo o §2º, pode ser
prorrogado por até mais 15 dias.

Mais adiante, assim que o inquérito se finde, o juiz das


garantias vai decidir se recebe ou não a denúncia. A partir
desse momento, caso seja recebida, o processo será remetido para
outro magistrado.
Art. 3º-C. A competência do juiz das garantias abrange
todas as infrações penais, exceto as de menor potencial
ofensivo, e cessa com o recebimento da denúncia ou
queixa na forma do art. 399 deste Código.
Par. 1º Recebida a denúncia ou queixa, as questões
pendentes serão decididas pelo juiz da instrução e
julgamento.

Par. 2º As decisões proferidas pelo juiz das garantias


não vinculam o juiz da instrução e julgamento, que, após
o recebimento da denúncia ou queixa, deverá reexaminar a
necessidade das medidas cautelares em curso, no prazo
máximo de 10 (dez) dias.

Par. 3º Os autos que compõem as matérias de competência


do juiz das garantias acautelados na secretaria desse
juízo, à disposição do MP e da defesa, e não serão
apensados aos autos do processo enviados ao juiz da
instrução e julgamento, ressalvados os documentos
relativos às provas irrepetíveis, medidas de obtenção de
provas ou de antecipação de provas, que deverão ser
remetidos para apensamento em apartado.

Par. 4º Fica assegurado às partes o amplo acesso aos


autos acautelados na secretaria do juízo das garantias.

Você também pode gostar