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Prisão em flagrante delito e

devida investigação criminal


Rafael Francisco Marcondes de Moraes
Professor da Academia de Polícia de São Paulo (ACADEPOL)
Mestre e Doutorando em Direito Processual Penal (USP)
Delegado de Polícia do Estado de São Paulo
@rafaelfmmoraes

@rafaelfmarc

https://linktr.ee/rafaelfmmoraes
Prisão em flagrante delito
CF, art. 5º, LXI: ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de
autoridade judiciária competente - custódia extrajudicial
CPP, art. 304: apresentado à autoridade competente (audiência de apresentação e garantias)
Decisão de indiciamento: Delegado de Polícia exara decisão jurídica motivada ao imputar condição de
provável autor ou partícipe da infração penal investigada (Lei 12.830/13, art.2º,§6º) – indiciamento sob
enfoque material (propriamente dito)
Juízo de probabilidade: análise jurídica fundamentada do fato apurado
Criptoindiciamento: infundado (ilegal). Desafia Habeas Corpus.
Momentos (espécies de decisão de indiciamento):
1) Decretação da prisão em flagrante delito: exarada no auto prisional (CPP, art. 304, § 1º).
2) Determinação no curso do inquérito policial iniciado por portaria: se e após coligidos elementos
suficientes para juízo de probabilidade, exarada em decisão fundamentada (“despacho”).

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


Etapas da prisão em flagrante delito
1ª) Abordagem, captura e condução coercitiva - “prisão-captura” (CPP, art. 301): Delegado e agentes (“flagrante
obrigatório”) ou cidadão (“flagrante facultativo”)

2ª) Formalização - “prisão-custódia” (CPP, art. 304): audiência de apresentação e garantias para análise
técnico-jurídica dos fatos e decretação (ou não) via lavratura de APFD
Binômio:
Estado flagrancial (CPP, art. 302 - requisito temporal ou circunstancial)
+
Fundada suspeita (CPP, art. 304,§1º - requisito probatório ou indiciário)
Fundada suspeita: espécie de decisão de indiciamento
Suspeita: desconfiança/suposição (juízo de possibilidade)
Fundada suspeita: verossimilhança embasada (juízo de probabilidade motivado)
Criptoflagrante: ausência dos requisitos (ilegalidade), prisão dolosa sujeita a relaxamento e abuso de
autoridade (Lei 13.869/2019, art. 9º)
3ª) Encarceramento - “prisão-recolhimento”: cela prisional e avaliação sobre fiança extrajudicial (CPP, art. 322).

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


Devida investigação criminal
Dignidade humana: fundamento da República (CF, art. 1º, III)
 “Princípio-matriz”: cláusula geral
 Existência do Estado voltada para proteção das pessoas.
 Toda pessoa como sujeito de direitos (materiais e processuais)
 Polícia Judiciária de Estado e independência técnico-jurídica
 CF, art. 5º, inciso LIV: ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal
 Cláusula geral: evolui e agrega demais garantias processuais
 Devida investigação criminal: etapa preliminar extrajudicial
 Garantias: legalidade (pública), proibição de provas ilícitas, presunção de inocência,
reserva jurisdicional, motivação, não autoincriminação, publicidade, juiz natural
(investigante natural), razoável duração, contraditório e ampla defesa.

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


Audiência de apresentação e garantias (CPP, art.304)
 Dignidade, integridade física e moral (CF, art.5º, XLIX);
 Permanecer calado e não produzir prova contra si: não autoincriminação +
defesa/presença/audiência (CF, art. 5º, LXIII e CADH, art.8º,II, “g”);
 Comunicação à família e ao Juiz competente (CF, art.5º,LXII) – omissão dolosa pode ensejar abuso
de autoridade (Lei 13.869/2019, art. 12, caput e p.u., inciso II);
 Assistência por Advogado ou Defensor Público (CF, art.5º,LXIII; CPP, art.306,§1º) - prosseguir
interrogatório sem defesa técnica ou violar silêncio pode implicar abuso de autoridade (Lei
13.869/2019, art.15, p.u.,II);
 Nota de culpa: motivo da prisão e responsáveis pela captura e interrogatório (CF, art. 5º, LXIV e
CPP, art.306, § 2º) - omissão dolosa pode configurar abuso de autoridade (Lei 13.869/2019, art. 12,
p.u., inciso III);
 Concessão de fiança (CF, art. 5º, LXVI e CPP, art.322);
 Defensor: comunicação reservada e publicidade via exame do APFD/IP (Lei 8.906/94 – EAOAB, art.
7º, III e XIV + STF, SV 14) – impedimento doloso pode caracterizar abuso de autoridade (Lei
13.869/2019, arts. 20 e 32 ou EAOAB, art. 7º-B).

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


Prisão em flagrante e Termo Circunstanciado
 Infrações de menor potencial ofensivo: contravenções e crimes com pena máxima não superior a 2 anos.
 Lei 9.099/95, art.69: A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência lavrará termo circunstanciado
e o encaminhará imediatamente ao Juizado, com o autor do fato e a vítima, providenciando-se as requisições dos
exames periciais necessários (regra)
Parágrafo único. Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.
 Lei 12.830/2013, art. 2º, § 1º: Ao delegado de polícia, na qualidade de autoridade policial, cabe a condução da
investigação criminal por meio de inquérito policial ou outro procedimento previsto em lei, que tem como objetivo a
apuração das circunstâncias, da materialidade e da autoria das infrações penais.
 Lei 13.869/2019, art.32: Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento investigatório de infração
penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a
diligências em curso, ou que indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível.
Termo circunstanciado próprio ou autêntico: procedimento investigatório previsto em lei para infrações de
menor potencial ofensivo (Lei 12.830/13,art.2º, § 1º e Lei 9.099/95, art. 69)
Termo circunstanciado impróprio ou anômalo: TC pela polícia ostensiva, sob alegação de não ter função
investigativa e não ser atribuição privativa de polícia judiciária; STF, ADI 5637-MG, Rel.Edson Fachin,
julgamento virtual de 04/03 a 11/03/2022.

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


Prisão em flagrante e análise de descriminantes pelo Delegado de Polícia
Enunciado 1 do Seminário Polícia Judiciária e Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19,art.1º,§ 2º):
Ao Delegado de Polícia é garantida autonomia intelectual para interpretar o ordenamento e decidir, de modo
imparcial e fundamentado, quanto ao rumo das diligências adotadas e quanto aos juízos de tipicidade, ilicitude,
culpabilidade e demais avaliações de caráter jurídico imanentes à presidência da investigação criminal.
Enunciado 2 do Seminário Polícia Judiciária e Lei de Abuso de Autoridade (Lei 13.869/19, art.9º):
A decretação da prisão em flagrante pelo Delegado de Polícia mediante lavratura de auto prisional, como
espécie de decisão de indiciamento, demanda avaliação do requisito temporal, previsto nas hipóteses do artigo
302 do CPP, assim como do requisito probatório, consubstanciado na fundada suspeita do § 1º do artigo 304
do CPP, sem prejuízo da apuração dos fatos em sede de inquérito policial instaurado via portaria na ausência
dos aludidos requisitos legais.

Rafael Francisco Marcondes de Moraes


OBRIGADO PELA ATENÇÃO!
Rafael Francisco Marcondes de Moraes

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Rafael Francisco Marcondes de Moraes

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