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03/11/2023, 15:39 Documento:40003739591

Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO
APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5021179-97.2022.4.04.7205/SC
RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI
APELANTE: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)
APELADO: ERNESTO & GEORG REPRESENTACOES LTDA (IMPETRANTE)
ADVOGADO(A): THARINE HOBELL (OAB SC049330)
MPF: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF)
INTERESSADO: DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL - UNIÃO - FAZENDA
NACIONAL - BLUMENAU (IMPETRADO)

RELATÓRIO

O juiz da causa assim relatou, na sentença, a controvérsia entre as


partes:

Trata-se de mandado de segurança impetrado por ERNESTO & GEORG


REPRESENTAÇÕES LTDA, a fim de que se reconheça o direito líquido e certo
à não incidência do IRRF sobre valores recebidos a título de indenização por
rescisão de contrato de representação comercial, recebida com base no que
dispõe o artigo 27, alínea “j”, da Lei nº 4.886/1965.

A impetrante narra que, por ocasião da rescisão parcial do contrato de


representação comercial até mantido com a empresa Duas Rodas Industrail
Ltda, fez jus ao recebimento de indenização correspondente a 1/12 (um doze
avos) do total da retribuição auferida durante o período em que exerceu a
representação, por força do que prevê o artigo 27, j, da Lei nº 4.886/65.
Defende, em síntese, que tais valores nada acrescem ao patrimônio da empresa,
mas sim representam compensação tanto pelo trabalho realizado quanto pelo
que deixará de ganhar a partir dali, observada a particularidade do contrato
de representação comercial, em que a clientela do representante não acresce
seu patrimônio, mas sim reverte em proveito da representada, sendo que, a
partir da rescisão, não mas haverá o recebimento de comissões por parte da
representante pelos clientes conquistados. Afirma que, dada a natureza
jurídica dessa indenização, não se enquadra ela no conceito de renda ou
proventos (acréscimo patrimonial), previsto no artigo 43 do CTN, e tampouco
receita bruta, lucro ou faturamento da empresa, não se sujeitando, assim, ao
IRPJ.

Após emenda à inicial determinada pelo juízo, foi concedida a tutela provisória
de urgência (evento 12, DESPADEC1).

A Procuradoria da Fazenda Nacional requereu seu ingresso no feito (evento


13, PET1) .

Notificada, a autoridade impetrada apresentou informações, defendendo que a


verba em debate não ostenta a natureza reparatória das típicas indenizações
patrimoniais, assumindo, na verdade, o lugar das receitas que seriam oriundas

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40003739592&versao_gproc=3&crc_gproc=b213ca8c&ter… 1/10
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do exercício da representação comercial ora frustrada. Alega inda não haver
qualquer previsão de isenção ou exclusão da base de cálculo relativamente à
verba aqui discutida, eis que se trata de indenização relativa a lucros
cessantes. Pugna pela denegação da ordem (evento 16, INF_MSEG1).

O Ministério Público Federal, por sua vez, não apresentou parecer ante a
ausência de interesse público apto a justificar a intervenção (evento 19,
PARECER1).

Vieram os autos conclusos para prolação da sentença.

É o relatório. Decido.

Ao final (evento 21, SENT1), o mandado d e segurança foi julgado


nos seguintes termos:

Ante o exposto, CONCEDO A SEGURANÇA, julgando o processo com


resolução do mérito (artigo 487, I, do CPC), para:

1) declarar a inexigibilidade do IRPJ sobre a verba indenizatória recebida


pela impetrante em decorrência de rescisão de contrato de representação
comercial, nos moldes estabelecidos pelo artigo 27, alínea “j”, da Lei nº
4.886/1965, nos termos da fundamentação;

2) reconhecer o direito da impetrante de compensar ou restituir


administrativamente os valores que foram indevidamente recolhidos a tal título,
no período imprescrito (5 anos anteriores ao ajuizamento da demanda),
inclusive no decorrer deste mandamus (art. 323, CPC), atualizados pela
SELIC, na forma da fundamentação;

O procedimento de compensação/restituição administrativa será controlado


pela Receita Federal do Brasil e somente terá início após o trânsito em julgado
da presente (art. 170-A, do CTN).

Custas pela União, em ressarcimento.

Honorários advocatícios incabíveis, a teor das Súmulas nº105- STJ e nº 512-


STF e do art. 25 da Lei nº 12.011/2009.

Em suas razões recursais (evento 33, APELAÇÃO1), a União


alega que (a) na exata interpretação da Lei nº 4.886/1965, considerando-se o
disposto nos respectivos art. 27, “j”, e art. 35, a natureza indenizatória do
pagamento havido somente nasce mediante preenchimento concomitante de dois
requisitos: a rescisão é de INICIATIVA DO REPRESENTADO e o MOTIVO
NÃO É LEGALMENTE QUALIFICADO COMO JUSTO (ou seja, é rescisão
imotivada ou por motivo que não se enquadre dentre aqueles qualificados no
art. 35 como justos); (b) No caso em tela não estamos diante de uma rescisão
unilateral, mas sim diante de uma rescisão amigável e consensual e, portanto,
bilateral; (c) Nota-se que houve claramente um distrato, uma rescisão bilateral
que não atrai a jurisprudência do STJ sobre a questão simplesmente porque não
se aplica o art. 27, "j", da Lei nº 4.886/1965: A RESCISÃO PARTIU DE AMBAS
AS PARTES; (d) Ademais, há que se ponderar que, não se tratando de rescisão
imotivada (caso em que o caráter indenizatório adviria da própria lei), a
impetrante deveria fazer cabal e idônea demonstração do caráter indenizatório
das verbas recebidas no contrato que firmou com sua ex-representada; (e) No
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que toca à realização de restituição no âmbito administrativo, convém asseverar


que a sistemática do precatório prevista no art. 100 da CF/88 não permite que
um indébito declarado judicialmente seja recuperado na esfera administrativa
senão por intermédio de compensação; (f) A regra dos precatórios é absoluta,
excetuando-se apenas os pagamentos de pequeno valor. Não exclui ou afasta,
por exemplo, eventual caráter alimentar de crédito oponível à Fazenda Pública.
Ainda, com absoluta precisão para o caso presente, tem-se também que não são
excluídos do regime de precatórios os créditos derivados de sentenças
concessivas de mandado de segurança, o que qualifica circunstância acidental,
que não tem como efeito propiciar uma fórmula alternativa para recebimento de
créditos devidos pelo Tesouro. Como se verá mais adiante, a matéria consta de
súmula; (g) Admitir-se o uso do mandado de segurança como instrumento para
repetição administrativa de indébito judicial é medida que quebra qualquer
isonomia. Possibilita-se um tratamento privilegiado ao indébito pretérito à
impetração do mandamus, sacrificando-se o indébito que potencialmente se
constata ao longo da discussão.

Com contrarrazões, vieram os autos a este tribunal.

O Ministério Público Federal não se manifestou sobre o mérito do


mandamus.

É o relatório.

VOTO

Admissibilidade

Cabe conhecer da apelação, por ser o recurso próprio, formalmente


regular e tempestivo.

A remessa necessária, por sua vez, também é de ser admitida, por


se tratar de sentença concessiva de mandado de segurança (art. 14, 1º, da Lei
12.016, de 2009).

Mérito

Cobrança de IRPJ sobre indenização paga pela rescisão do


contrato de representação comercial

A Lei nº 4.886, de 1965 (Regula as atividades dos representantes


comerciais autônomos, tanto pessoas jurídicas como pessoas físicas), tomou
como paradigma, para regular a ruptura da relação contratual de representação
comercial, o modelo da legislação trabalhista. Assim, podem ocorrer,
basicamente, três situações: a) rescisão do contrato por justa causa imputável
ao representante comercial: nenhuma indenização lhe é devida (art. 35); b)
rescisão do contrato por iniciativa do representante comercial: nenhuma
indenização lhe é, evidentemente, devida pela representada, nem sendo preciso

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40003739592&versao_gproc=3&crc_gproc=b213ca8c&ter… 3/10
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dizê-lo a lei; c) rescisão do contrato sem justa causa (isto é, despedimento do


representante comercial): cabe em favor do representante comercial a
indenização prevista no art. 27, alínea "j" e §1º da Lei nº 4.886, de 1965.

Embora se possa, ingenuamente, pensar que na hipótese "c" supra


a empresa representada devesse encaminhar formalmente uma carta ao
representante comercial avisando-o do seu interesse em romper a relação
contratual, por sua própria conveniência (a chamada "denúncia vazia"), na
prática as tratativas são feitas verbalmente e o advogado da empresa
representada (parte mais forte da relação contratual) redige um documento, a que
chama "rescisão por acordo" ou "transação", ou "distrato", no qual as partes
"declaram" que ajustaram, de comum acordo, a rescisão do contrato e o valor da
indenização devida. Realmente, o caso seria simplesmente extraordinário: duas
partes que, ao mesmo tempo, querem exatamente a mesma coisa! Isso pode
existir em contos de fada, mas não na realidade. O tal "acordo", redigido pelo
advogado da parte mais forte mal esconde o fato de que a iniciativa da rescisão
contratual partiu da empresa representada, e é ela quem dá as cartas, observados
os limites da lei: verdadeiro contrato de adesão. Ou alguém em sua perfeita
consciência acreditaria que os representantes comerciais - que precisaram de
uma lei que os protegesse como se fossem empregados (a Lei nº 4.886, de 1965)
-, estariam voluntariamente dispensando suas representadas, ou seja,
voluntariamente reduzindo a sua fonte de renda?

Ora, considerando, como acima indicado, que o contrato


de representação comercial se aproxima antes do contrato de trabalho do que dos
contratos de direito civil, dada a assimetria existente na relação jurídica entre a
empresa representada e o representante comercial, deve-se adotar, para bem
interpretar os aspectos fáticos do caso, o princípio da primazia da
realidade (principio de la primacia de la realidad), cujo significado é assim
descrito por Américo Plá Rodriguez:

O significado que atribuímos a este princípio é o da primazia dos fatos sobre as


formas, as formalidades ou as aparências.

Isso significa que em matéria de trabalho importa o que ocorre na prática,


mais do que aquilo que as partes hajam pactuado de forma mais ou menos
solene, ou expressa, ou aquilo que conste em documentos, formulários e
instrumentos de controle (RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do
Trabalho. Trad. de Wagner D. Giglio. São Paulo: LTr: Ed. da Universidade de
São Paulo, 1978. p. 220-1)

Daí decorre que, bem interpretado o "Distrato de Representação


Comercial" (evento 8, CONTR3), verifica-se que houve claramente rescisão
sem justa causa do contrato de representação comercial, por iniciativa da parte
mais forte (a empresa representada), embora ali se diga, falsamente, que o que as
PARTES acordaram a realização do presente Distrato. Ora, quando ocorre a
rescisão de um contrato de trabalho por iniciativa do empregado, ou a rescisão
de um contrato de representação comercial por iniciativa do representante
comercial, nenhuma indenização é a eles logicamente devida, de modo que é
contrário à realidade um documento que contenha uma declaração de que o
representante comercial é que tomou a iniciativa da ruptura contratual e ao
mesmo tempo receba uma indenização da outra parte, por absoluta
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incompatibilidade entre uma coisa e outra. Com razão, esclarece Sérgio Pinto
Martins que no Direito do Trabalho (e, por analogia, em contratos regidos pela
Lei nº 4.886, de 1965) a indenização devida ao empregado (e, por extensão, ao
representante comercial) decorre sempre da dispensa sem justa causa:

Distingue-se a indenização do Direito do Trabalho da indenização do Direito


Civil. Esta decorre da existência de dano ou prejuízo causado a outrem por
dolo ou culpa, correspondendo ao ressarcimento que deve ser feito pelo
causador do dano. No Direito do Trabalho, não se discute a existência de
prejuízo, de dolo ou culpa, mas se o empregado foi dispensado sem justa
causa (MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 19ª ed. São Paulo: Atlas,
2004. p. 442; o negrito foi acrescentado para destaque).

Nessas condições, tendo havido (interpretado o caso à luz do


princípio da primazia da realidade) rescisão sem justa causa do contrato
de representação comercial celebrado entre as partes, sobre a indenização
devida ao representante comercial, ora demandante, não incide o imposto de
renda por força do disposto no art. 70, §5º, da Lei nº 9.430, de 1996, in verbis:

Art. 70. A multa ou qualquer outra vantagem paga ou creditada por pessoa
jurídica, ainda que a título de indenização, a beneficiária pessoa física ou
jurídica, inclusive isenta, em virtude de rescisão de contrato, sujeitam-se à
incidência do imposto de renda na fonte à alíquota de quinze por cento.

(...)

§ 5º O disposto neste artigo não se aplica às indenizações pagas ou creditadas


em conformidade com a legislação trabalhista e àquelas destinadas a reparar
danos patrimoniais.

Enfim, o Superior Tribunal de Justiça (STJ), embora não


reexamine os aspectos fáticos de demandas como a presente, assentou que não
incide o imposto de renda sobre a indenização devida ao representante
comercial dispensado sem justa causa (situação dos autos, para além do que diz
o documento redigido pela parte mais forte da relação contratual):

PROCESSUAL CIVIL. TRIBUTÁRIO. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ESPECIAL. CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. APLICABILIDADE.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE PROVIDO. IMPOSTO SOBRE A
RENDA. VERBA ORIUNDA DE RESCISÃO SEM JUSTA CAUSA DE
CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL. LEI N. 4.886/65.
NATUREZA INDENIZATÓRIA. INCIDÊNCIA AFASTADA. ARGUMENTOS
INSUFICIENTES PARA DESCONSTITUIR A DECISÃO
ATACADA. I - Consoante o decidido
pelo Plenário desta Corte na sessão realizada em 09.03.2016, o regime
recursal será determinado pela data da publicação do provimento jurisdicional
impugnado. Assim sendo, in casu, aplica-se o Código de Processo Civil de
2015. II - O acórdão
recorrido está em confronto com entendimento desta Corte, segundo o qual não
incide Imposto de Renda sobre verba recebida em virtude de rescisão sem justa
causa de contrato de representação comercial disciplinado pela Lei n.
4.886/65, porquanto a sua natureza indenizatória decorre da própria lei que a
instituiu.
III - A Agravante não apresenta, no agravo, argumentos suficientes para
desconstituir a decisão recorrida.

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40003739592&versao_gproc=3&crc_gproc=b213ca8c&ter… 5/10
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IV - Agravo Interno improvido.
(AgInt no REsp 1629534/SC, Rel. Ministra REGINA HELENA COSTA,
PRIMEIRA TURMA, julgado em 21/03/2017, DJe 30/03/2017)

É, pois, de ser mantida a sentença que concedeu o mandado de


segurança para declarar a inexigibilidade do IRPJ sobre a verba indenizatória
recebida pela impetrante em decorrência de rescisão de contrato de
representação comercial, nos moldes estabelecidos pelo artigo 27, alínea “j”,
da Lei nº 4.886/1965.

Compensação e restituição administrativa

A jurisprudência desta Segunda Turma e da Segunda Turma do


Superior Tribunal de Justiça tem admitido em mandado de segurança a
declaração do direito do contribuinte de buscar a restituição administrativa de
valores recolhidos indevidamente (v.g. TRF4, A.C. nº 5028362-
86.2021.4.04.7001, Segunda Turma, Relator Rodrigo Becker Pinto, juntado aos
autos em 15/09/2022; TRF4, A.C. nº 5010794-89.2019.4.04.7110, Segunda
Turma, Relatora Maria de Fátima Freitas Labarrère, juntado aos autos em
20/04/2022; STJ, AgInt no AREsp n. 1.945.394/PR, Relator Ministro Herman
Benjamin, Segunda Turma, julgado em 21/2/2022, DJe de 15/3/2022).

Ao contrário do que alega a União, prevalece o entendimento de


que o fato de o mandado de segurança não ser ação de cobrança (Súmula nº 269
do STF) não impede a restituição administrativa, mas apenas a restituição via
precatório, conforme distinção feita pelo Min. Herman Benjamin no acórdão
do REsp nº 1.642.350, DJe de 24-04-2017. Confira-se:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. RESTITUIÇÃO ADMINISTRATIVA DE INDÉBITO
RECONHECIDO JUDICIALMENTE. POSSIBILIDADE.

1. O acórdão recorrido concedeu a segurança para reconhecer a não


incidência do IRPF sobre a alienação de determinadas participações
societárias, considerando que incide a isenção estabelecida pelo Decreto-lei
1.510/1976, mas indeferiu restituição do tributo pago na venda de ações
realizadas em 2004, por entender inadequada a via mandamental para essa
finalidade, por incidência da Súmula 269/STF ("o mandado de segurança não é
substitutivo de ação de cobrança"). Deferiu, porém, o pedido subsidiário de
compensação. O Recurso Especial versa apenas sobre a pretensão do
contribuinte de poder formular pedido administrativo de restituição do indébito
reconhecido.

2. Não se configura a ofensa ao art. 535 do CPC/1973, uma vez que o Tribunal
de origem julgou integralmente a lide e solucionou a controvérsia, tal como lhe
foi apresentada.

3. Se a pretensão manifestada na via mandamental fosse a condenação da


Fazenda Nacional à restituição de tributo indevidamente pago no passado,
viabilizando o posterior recebimento desse valor pela via do precatório,
o Mandado de Segurança estaria sendo sendo utilizado como substitutivo da
Ação de Cobrança, o que não se admite, conforme entendimento cristalizado
na Súmula 269/STF. Todavia, não é o caso dos autos. O contribuinte pediu
apenas para que, reconhecida a incidência indevida do IRPF, ele pudesse se
dirigir à autoridade da Receita Federal do Brasil e apresentar pedido
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administrativo de restituição. Essa pretensão encontra amparo no art. 165 do
Código Tributário Nacional, art. 66 da Lei 8.383/1991 e art. 74 da Lei
9.430/1996.

4. O art. 66 da Lei 8.383/1991, que trata da compensação na hipótese de


pagamento indevido ou a maior, em seu § 2º, faculta ao contribuinte a opção
pelo pedido de restituição, tendo o art. 74 da Lei 9.430/1996 deixado claro que
o crédito pode ter origem judicial, desde que com trânsito em julgado.

5. "O entendimento pacífico do Superior Tribunal de Justiça, inclusive já


sumulado (Súmula nº 461 do STJ), é no sentido de que 'o contribuinte pode
optar por receber, por meio de precatório ou por compensação, o indébito
tributário certificado por sentença declaratória transitada em julgado'. Com
efeito, a legislação de regência possibilita a restituição administrativa de
valores pagos a maior a título de tributos, conforme se verifica dos art. 66 da
Lei nº 8.383/1991 e 74 da Lei nº 9.430/1996" (REsp 1.516.961/RS, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 22/03/2016).

6. Recurso Especial provido para assegurar o direito de o contribuinte buscar


a restituição do indébito na via administrativa, após o trânsito em julgado do
processo judicial.

Extrai-se da ementa do referido acórdão que o entendimento da


Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que os arts. 165
do Código Tributário Nacional, 66, §2º, da Lei nº 8.383, de 1991, e 74 da Lei nº
9.430, de 1996, possibilitam a restituição administrativa do indébito tributário
reconhecido judicialmente. Não há falar, por outro lado, em violação ao regime
de precatórios, até porque a restituição via precatório nem sequer é cabível
em mandado de segurança, por não ser este um substitutivo de ação de cobrança
(Súmula nº 269 do STF).

Dessarte, o direito creditório reconhecido pela sentença (atinente


aos "valores pagos indevidamente a título de IRPJ) poderá ser aproveitado,
a critério da parte impetrante, mediante (a) compensação tributária, após o
trânsito em julgado da decisão definitiva, com quaisquer tributos administrados
pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, à exceção dos débitos relativos a
tributos e contribuições devidos no registro da Declaração de Importação, e
observando-se, em relação às contribuições previdenciárias previstas no art. 11,
parágrafo único, "a", "b" e "c", da Lei nº 8.212, de 1991, e às contribuições
instituídas a título de substituição, as restrições impostas pelo art. 26-A da Lei
n.º 11.457, de 2007; ou ainda (b) restituição administrativa (Lei nº 8.383, de
1991, art. 66, §2º c/c Lei nº 9.430, de 1996).

Dispositivo

Ante o exposto, voto por negar provimento à apelação e à


remessa necessária.

Documento eletrônico assinado por RÔMULO PIZZOLATTI, Desembargador Federal Relator, na


forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº
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EMENTA

IMPOSTO DE RENDA. VERBA ORIUNDA DE RESCISÃO


DE CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL.
JUSTA CAUSA. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA
REALIDADE. NATUREZA INDENIZATÓRIA. NÃO
INCIDÊNCIA.

A rescisão do contrato de representação comercial que prevê o


pagamento de indenização é considerada rescisão sem justa causa,
mesmo que o termo aponte ser de comum acordo ou por iniciativa
do representante, em face do princípio da primazia da realidade,
não incidindo imposto de renda sobre a verba recebida,
considerada a sua natureza indenizatória.

MANDADO DE SEGURANÇA. RESTITUIÇÃO


ADMINISTRATIVA.
A jurisprudência federal admite o reconhecimento, em mandado de
segurança, do direito do contribuinte de buscar a restituição
administrativa de valores recolhidos indevidamente.

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ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas,


a Egrégia 2ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região decidiu, por
unanimidade, negar provimento à apelação e à remessa necessária, nos termos
do relatório, votos e notas de julgamento que ficam fazendo parte integrante do
presente julgado.

Porto Alegre, 14 de março de 2023.

Documento eletrônico assinado por RÔMULO PIZZOLATTI, Desembargador Federal Relator, na


forma do artigo 1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006 e Resolução TRF 4ª Região nº
17, de 26 de março de 2010. A conferência da autenticidade do documento está disponível no endereço
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Poder Judiciário
TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO

EXTRATO DE ATA DA SESSÃO VIRTUAL DE 07/03/2023 A


14/03/2023

APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA Nº 5021179-97.2022.4.04.7205/SC


RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI
PRESIDENTE: DESEMBARGADOR FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI
PROCURADOR(A): ANDREA FALCÃO DE MORAES
APELANTE: UNIÃO - FAZENDA NACIONAL (INTERESSADO)
APELADO: ERNESTO & GEORG REPRESENTACOES LTDA (IMPETRANTE)
ADVOGADO(A): THARINE HOBELL (OAB SC049330)
MPF: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL (MPF)

https://jurisprudencia.trf4.jus.br/pesquisa/inteiro_teor.php?orgao=1&numero_gproc=40003739592&versao_gproc=3&crc_gproc=b213ca8c&ter… 9/10
03/11/2023, 15:39 Documento:40003739591

Certifico que este processo foi incluído na Pauta da Sessão Virtual, realizada no período
de 07/03/2023, às 00:00, a 14/03/2023, às 16:00, na sequência 392, disponibilizada no
DE de 24/02/2023.

Certifico que a 2ª Turma, ao apreciar os autos do processo em epígrafe, proferiu a


seguinte decisão:
A 2ª TURMA DECIDIU, POR UNANIMIDADE, NEGAR PROVIMENTO À
APELAÇÃO E À REMESSA NECESSÁRIA.

RELATOR DO ACÓRDÃO: DESEMBARGADOR FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI


VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL RÔMULO PIZZOLATTI
VOTANTE: DESEMBARGADORA FEDERAL MARIA DE FÁTIMA FREITAS LABARRÈRE
VOTANTE: DESEMBARGADOR FEDERAL EDUARDO VANDRÉ OLIVEIRA LEMA GARCIA
MARIA CECÍLIA DRESCH DA SILVEIRA
Secretária

Conferência de autenticidade emitida em 03/11/2023 15:39:34.

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