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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.835.339 - TO (2019/0259812-6)

RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN


RECORRENTE : MUNICÍPIO DE PALMAS
ADVOGADO : JULIO CESAR LIMA BATISTA FILHO E OUTRO(S) -
TO007915A
RECORRIDO : PERSIVAL DA CRUZ SALES JUNIOR
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. RECURSO ESPECIAL.
ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. DESAPROPRIAÇÃO POR
UTILIDADE PÚBLICA. PLEITO DE IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE.
AUSÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO. MERO INDEFERIMENTO DO
PEDIDO. IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM
RESOLUÇÃO DE MÉRITO. VIOLAÇÃO AO ART. 16 DA LC 101/2000.
FALTA DE COMANDO NORMATIVO. SÚMULA 284/STF.
1. O art. 16 da Lei Complementar 101/2000 não ampara a alegação do recorrente
de que o depósito prévio a que alude o art. 15 do Decreto-lei 3.365/1941 é
necessário apenas para a imissão provisória na posse do imóvel e não requisito de
procedibilidade da Ação de Desapropriação. Assim, o dispositivo de lei federal
mencionado não possui comando normativo capaz de sustentar a tese veiculada
no apelo recursal, o que demonstra que a argumentação presente no apelo
excepcional, nesse ponto, é deficiente. Incidência do óbice da Súmula 284/STF.
2. O art. 15 do Decreto 3.365/1941 foi violado, porquanto os requisitos da
petição inicial da Ação de Desapropriação por utilidade pública, estão previstos
no art. 13 do Decreto 3.365/1941. Este preconiza que a peça vestibular, além
das exigências contidas no Código de Processo Civil, conterá a oferta do preço
e será instruida com exemplar do contrato, ou do jornal oficial que houver
publicado o decreto de desapropriação, ou cópia autenticada e a planta ou
descrição dos bens e suas confrontações.
3. O depósito prévio da quantia arbitrada a título de indenização é obrigatório
apenas para o deferimento do pedido de imissão provisória na posse do bem
desapropriado. Sua ausência justifica somente o indeferimento de tal pleito, nos
termos do art. 15 do citado decreto, e não a extinção do feito sem resolução de
mérito. Nesse sentido em caso absolutamente idêntico: REsp 1.831.286/TO, Rel.
Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe 16/9/2019.
4. Recurso Especial parcialmente conhecido e, nessa parte, provido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas,


acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça: ""A Turma, por
unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe provimento, nos termos
do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)." Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro
Campbell Marques, Assusete Magalhães e Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro
Relator."

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Brasília, 21 de novembro de 2019(data do julgamento).

MINISTRO HERMAN BENJAMIN


Relator

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.835.339 - TO (2019/0259812-6)
RELATOR : MINISTRO HERMAN BENJAMIN
RECORRENTE : MUNICÍPIO DE PALMAS
ADVOGADO : JULIO CESAR LIMA BATISTA FILHO E OUTRO(S) -
TO007915A
RECORRIDO : PERSIVAL DA CRUZ SALES JUNIOR
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): Trata-se


de Recurso Especial interposto, com fundamento no art. 105, III, "a", da Constituição da
República, contra acórdão assim ementado:

Apelação cível. Ação de desapropriação por utilidade pública. Implantação e


construção do BRT (bus rapid transit). Requerimento de imissão provisória na
posse do bem. Sentença de extinção do processo sem resolução de mérito.
Ausência de depósito prévio da indenização. Art. 5º, XXIV, CF – Artigo 15 do
Decreto Lei nº 3.365/41. Descumprimento dos requisitos da Lei de
Responsabilidade Fiscal – Artigo 16 da LC 101/200 – Ausência de previsão
orçamentária. Ausência de comprovação de existência de numerário disponível e
estimativa de impacto financeiro. Pagamento de custas e despesas processuais –
Requerimento prejudicado – Princípio da celeridade – Recurso conhecido e não
provido.
1. Em havendo pedido expresso de imissão provisória na posse em ação de
desapropriação por utilidade pública diante de alegada urgência, tal pedido pode
ser liminarmente deferido; con- tudo, a imissão deve ser precedida de justa e
prévia indenização em dinheiro, nos termos do art. 5°, XXIV, da CF e do Dec-Lei
3.365/41.
2. Observado o descumprimento dos requisitos previstos no art. 16 da Lei de
Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar n°. 101/2000) - ante a não
comprovação de previsão orçamentária, e de existência de numerário disponível
no orçamento do Muni- cípio, bem como estimativa de impacto financeiro,
adequação orçamentária e financeira, ou qualquer garantia de que o Muni- cípio
possua o numerário para a cobertura das indenizações en- sejadas pelas
desapropriações requeridas para a implantação de projeto relativo a transporte
público - Indeferimento liminar da petição inicial (não emendada atempadamente),
com fulcro no parágrafo único do art. 321 do CPC. Extinção do feito sem a
apreciação do mérito, com fundamento no inciso I do art. 485 do CPC.
3. Prejudicada a apreciação da dispensa legal do recolhimento de custas
processuais ao final do processo, na forma do artigo 91 do CPC, por não interferir
no julgamento final da demanda, em primazia ao princípio da celeridade.
4.Recurso de apelação conhecido a que se nega provimento.

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Não foram opostos Embargos de Declaração.
O recorrente afirma que os arts. 15 do Decreto-Lei 3.365/1941 e 16 da Lei
Complementar 101/2000 foram violados. Aduz:

Consoante relatado, o Tribunal a quo entendeu que o depósito


prévio para imissão na posse é também condição de procedibilidade da própria
ação de desapropriação, em alargamento indevido do alcance do art. 15 do
Decreto-lei 3.365/41.
Isso porque a correta interpretação do dispositivo legal acima
referido é a que considera o depósito prévio da quantia arbitrada a título de
indenização como requisito apenas para o deferimento do pedido de imissão
provisória na posse do bem desapropriado, e não um requisito propriamente dito
para a propositura e regular prosseguimento do feito, razão pela qual a não
efetivação deste não pode acarretar a extinção prematura da ação de
desapropriação, podendo, no máximo, justificar o indeferimento da imissão
provisória na posse.
(...)
Ademais, como dito, não há exigência legal, especificamente no
Decreto-Lei nº 3.365/1941, de comprovação de disponibilidade orçamentária para
a propositura de ação de desapropriação por utilidade pública, não havendo óbice
legal que o Ente expropriante demonstre, durante a instrução, possuir recursos
para fazer frente às indenizações.
De outra banda, o magistrado a quo considerou na sentença – e
esse ponto foi confirmado no acórdão recorrido – que o art. 46 da Lei de
Responsabilidade Fiscal teria condicionado a validade do ato de desapropriação
de imóvel urbano ao pagamento da indenização ou ao “prévio depósito judicial” do
valor desta.
Ocorre que, em verdade, o dispositivo em comento se reporta ao
ato-desapropriação de efetiva transferência de titularidade do imóvel, e não ao ato
de declaração de utilidade do bem desapropriado.
(...)
Portanto, a regra prevista no art. 46 da Lei de Responsabilidade
Fiscal se refere apenas à efetiva transferência de titularidade do imóvel, quando
se verifica, de fato, efeitos sobre o direito de propriedade do proprietário do bem
desapropriado.
Em virtude disso, não poderia o Tribunal a quo extinguir o
processo sem resolução de mérito por tal fundamento, já que o depósito judicial do
valor da indenização será efetivado oportunamente no curso do feito.
Como se vê, o acórdão recorrido criou, indevidamente, novas
condições da ação para os procedimentos judiciais de desapropriação, não
prevista na legislação pátria, razão pela qual merece reforma.

O Ministério Público Federal ofertou parecer que


recebeu a seguinte ementa:
Recurso especial. Direito Processual Civil. Desapropriação por uti- lidade
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pública. Imissão provisória na posse. Depósito judicial e comprovação de
condições financeiras para pagamento da indeni- zação. Impossibilidade de
indeferimento da inicial.
As hipóteses de indeferimento da inicial estão previstas nos arts.
319 e 320 do CPC: se o magistrado entende que o autor não com- provou ter
efetuado o depósito necessário à imissão provisória nem tem condições
financeiras para pagar futura indenização, deve pro- ferir sentença de mérito, na
forma do art. 487, i, do CPC, mas não indeferir a inicial.
Caráter prematuro da extinção do processo, quando não se asse- gura ao
expropriante nem sequer a possibilidade de indicar as pro- vas pelas quais quer
demonstrar a viabilidade técnica, econômica e jurídica da obra pública que exige o
sacrifício da propriedade pri- vada: imperativo de se ajustarem os interesses de
atendimento de necessidade ou utilidade pública com a proteção do direito funda-
mental da propriedade contra intervenções estatais levianas, por- que incapazes
de chegar ao fim a que se predispõem.
Dever de fundamentação objetivo, para além da convicção dos titu- lares de
órgãos judiciais mais próximos dos fatos.
Parecer pelo provimento do recurso.

É o relatório.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.835.339 - TO (2019/0259812-6)

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN (Relator): O art.


16 da Lei Complementar 101/2000 não ampara a alegação do recorrente de que o depósito
prévio a que alude o art. 15 do Decreto-lei 3.365/1941 é necessário apenas para a imissão
provisória na posse do imóvel, e não requisito de procedibilidade da Ação de Desapropriação.
Assim, o dispositivo de lei federal mencionado não possui comando normativo capaz de
sustentar a tese veiculada no apelo recursal, o que demonstra que a argumentação presente no
apelo excepcional, nesse ponto, é deficiente. Aplica-se o óbice da Súmula 284/STF.
No mais, a irresignação prospera, porquanto os requisitos da petição inicial da
Ação de Desapropriação por utilidade pública, estão previstos no art. 13 do Decreto
3.365/1941. Este preconiza que a peça vestibular, além das exigências contidas no Código de
Processo Civil, conterá a oferta do preço e será instruida com exemplar do contrato, ou do
jornal oficial que houver publicado o decreto de desapropriação, ou cópia autenticada, e a
planta ou descrição dos bens e suas confrontações.
O depósito prévio da quantia arbitrada a título de indenização é obrigatório
apenas para o deferimento do pedido de imissão provisória na posse do bem desapropriado.
Sua ausência justifica somente o indeferimento de tal pleito, nos termos do art. 15 do citado
decreto, e não a extinção do feito sem resolução de mérito.
Nesse sentido:

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL.


ENUNCIADO ADMINISTRATIVO 3/STJ. INTERVENÇÃO DO ESTADO
NA PROPRIEDADE. PLEITO DE IMISSÃO PROVISÓRIA NA POSSE.
FALTA DE DEPÓSITO INICIAL. MERO INDEFERIMENTO DO PEDIDO.
IMPOSSIBILIDADE DE EXTINÇÃO PROCESSUAL. FALTA DE
COMANDO NORMATIVO. DEFICIÊNCIA RECURSAL. SÚMULA
284/STF.
1. A indicação de preceito legal federal que não consigna em seu texto comando
normativo apto a sustentar a tese recursal e a reformar o acórdão impugnado
padece de fundamentação adequada, a ensejar o impeditivo da Súmula 284/STF.
2. A falta de depósito inicial da oferta indenizatória, em ação de desapropriação
por utilidade pública, enseja apenas o indeferimento do pedido de imissão na
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posse mas não a extinção do processo sem resolução do mérito. Inteligência do
art. 15 do Decreto-Lei 3.365/1941.
3. Recurso especial parcialmente conhecido e, nessa extensão, provido.
(REsp 1831286/TO, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES,
SEGUNDA TURMA, julgado em 05/09/2019, DJe 16/09/2019)

Ante o exposto, conheço parcialmente do Recurso Especial e, nessa


parte, dou-lhe provimento.
É como voto.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA TURMA

Número Registro: 2019/0259812-6 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.835.339 / TO

Números Origem: 00195838020158272729 00282742020188270000 195838020158272729


282742020188270000 528679909218

PAUTA: 21/11/2019 JULGADO: 21/11/2019

Relator
Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HERMAN BENJAMIN
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MÁRIO JOSÉ GISI
Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : MUNICÍPIO DE PALMAS
ADVOGADO : JULIO CESAR LIMA BATISTA FILHO E OUTRO(S) - TO007915A
RECORRIDO : PERSIVAL DA CRUZ SALES JUNIOR
ADVOGADO : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS - SE000000M

ASSUNTO: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO - Intervenção


do Estado na Propriedade - Desapropriação por Utilidade Pública / DL 3.365/1941

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"A Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso e, nessa parte, deu-lhe
provimento, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Og Fernandes, Mauro Campbell Marques, Assusete Magalhães e
Francisco Falcão votaram com o Sr. Ministro Relator.

Documento: 1892359 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 19/12/2019 Página 8 de 4

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