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EXMO(A). SR(A). DR(A).

JUIZ(A) FEDERAL DA __ VARA DO TRABALHO DE


BELÉM/PA

RECLAMAÇÃO TRABALHISTA
(Tramitação Prioritária)

MM. JUIZ(A)

WALDIR GOMES FERREIRA, brasileiro, união estável,


advogado, portador da CI n 1214241 (SEGUP/PA) e inscrito no CPF sob
o n 124.564.382-72, residente e domiciliado em Avenida Visconde de
Souza Franco, n. 1013, apto 802-A, Reduto, CEP: 66053-000, Belém/PA,
com fundamento na lei (CLT, art. 840), vem, com a ordinária
reciprocidade de respeito, por intermédio de seus advogados e
procuradores judiciais in fine assinados, ut instrumento de
procuração (anexo – Doc. 01), propor esta RECLAMAÇÃO TRABALHISTA em
desfavor de CIMENTOS DO BRASIL S/A - CIBRASA, pessoa jurídica de
direito privado, cadastrada sob o CNPJ de n. 04.898.425/0001-10,
situada em Travessa Padre Prudêncio, n. 90, Comércio, CEP: 66.019-
080, Belém/PA e CBE - COMPANHIA BRASILEIRA DE EQUIPAMENTO, sociedade
anônima de capital fechado, inscrita no CNPJ/ME sob o nº
27.184.936/0001-76, com endereço à Ilha de Itapessoca, S/N,
Tejucupapo, Goiana/PE, CEP 55.900-000; com fundamento no artigo 840
e seguintes da CLT, de acordo com os elementos fáticos e jurídicos
a seguir delineados na causa de pedir:

1 – PRELIMINARMENTE – DA TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA

Conforme faz prova o Autor (anexo – Doc. 02), este é idoso,


nos termos da Lei. Destarte, com fundamento no art. 71 do Estatuto
do Idoso (Lei n. 10.741/03) c/c art. 1.048, I, do CPC, faz jus à
tramitação prioritária. In verbis:

Art. 1.048. Terão prioridade de tramitação, em


qualquer juízo ou tribunal, os procedimentos
judiciais:

I - em que figure como parte ou interessado pessoa


com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou
portadora de doença grave, assim compreendida
qualquer das enumeradas no art. 6º, inciso XIV, da
Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988;
(Destacou-se)

Ante a expressa previsão legal acima invocada, requer-se


seja conferida tramitação prioritária à presente ação, considerando-
se que o Requerente é idoso, nos termos da Lei.

2 – CAUSA DE PEDIR

2.1 - BREVE SINOPSE FÁTICA

O Reclamante foi admitido pela Segunda Reclamada em


22.04.1999, no cargo de Chefe de Administração de Recursos Humanos
e, posteriormente, notadamente, em 01.03.2001 foi promovido ao cargo
de advogado (sendo posteriormente reclassificado para advogado
tributarista, conforme CTPS - fls. 46 e 53 em anexo (Doc. 03) em que
permaneceu até sua dispensa sem justo motivo em 21.12.2022 (TRCT em
anexo – Doc. 04), sem o pagamento de qualquer parcela rescisória.

O Obreiro estava prestando seus serviços como de praxe,


quando no dia 21.12.2022, ao final da tarde, foi convocado pelo Sr.
Eliseo Antônio Zanon - então Gerente de Negócios da Empresa – o qual
lhe comunicou acerca do desligamento e o orientou a comparecer no
dia 29.12.2022 para finalizar a rescisão.

Na data determinada - 29.12.2022 - o Reclamante compareceu


à sede da empresa, momento em que foi informado, oralmente, que a
ordem do Escritório Central (em Recife – PE) era de não efetuar o
pagamento das verbas rescisórias, provavelmente, em razão da
Recuperação Judicial que estava sendo conduzida pelo Escritório da
Matriz.

Nesse sentido, tendo em vista que o Autor foi dispensado


sem justa causa e até o momento não recebeu nenhuma parcela, requer-
se, primeiramente, a condenação solidária das Reclamadas ao
pagamento de todas as verbas rescisórias devidas e não pagas,
consoante fundamento a seguir e considerando a última remuneração no
valor de R$ 30.831,00, a saber:

(i) Saldo de salário de 21 (vinte e um) dias;

(ii) Aviso prévio indenizado na proporção de 90 (noventa)


dias de labor, com reflexo em FGTS;
(iii) 13º salário proporcional de 2023 de 3/12 avos,
considerando a projeção do aviso prévio (90 dias);

(iv) Férias simples relativas ao período aquisitivo de


2021/2022 e proporcionais de 11/12 avos referente ao período
aquisitivo 2022/2023, considerando a projeção do aviso prévio (90
dias), bem como que as últimas férias gozadas foram relativas ao
período aquisitivo de 2020/2021 (anexo – Doc. 05);

(v) FGTS + multa de 40%;

(vi) Indenização substitutiva do Seguro Desemprego no


valor de 5 (cinco) parcelas1;

(vii) Multa do art. 477, §8º da CLT, em face do não


pagamento das verbas rescisórias no prazo de lei e do art. 467 da
CLT (ilíquida) em relação a todas as verbas incontrovertidas
(controvérsia fundamentada).

(viii) Além disso, requer-se o recolhimento do FGTS não


pago nas competências devidas durante o período imprescrito de
08/2017 a 12/2022 – à exceção das seguintes competências: 06/2020 a
12/2020; 01/2021 a 05/2021, 07/2021, 09/2021 a 12/2021; 02/2022 e
08/2022, já depositadas - consoante extrato de FGTS (anexo – Doc.
06) e apurado no memorial de cálculos integrantes desta exordial
para todos os fins.

Ademais, conforme explicitado ao norte, a partir de


01.03.2001, o Reclamante ocupou o cargo de Advogado Tributarista
(CTPS em anexo – Doc. 03), na qual permaneceu até o seu desligamento,
em 21.12.2022 (anexo – Docs. 03 e 04).

Ao longo do contrato de trabalho, nunca foi exigido do


Reclamante o regime de dedicação exclusiva, pelo contrário, o mesmo
possuía uma rotina ativa na advocacia autônoma.

1 O cálculo das parcelas relativas ao seguro desemprego foram apurados segundo a


metodologia disposta no site do MTE. Disponível em: (https://www.gov.br/trabalho-
e-previdencia/pt-br/servicos/trabalhador/seguro-desemprego/seguro-desemprego-
formal#:~:text=O%20trabalhador%20dever%C3%A1%20ter%20recebido,anteriores%20%C3%
A0%20data%20de%20dispensa). Acesso em 06.04.2023.

Considerando o salário do Obreiro de R$ 30.831,00, bem como a faixa salarial em


que ele está inserido (acima de R$ 3.097,26), o valor é de R$ 2.106,08.
Nesse sentido, constata-se que, apesar de nunca ter sido
empregado com dedicação exclusiva das Reclamadas, o mesmo percorria
jornada de 08 (oito) horas diárias e 40 (quarenta) horas semanais,
em contrariedade ao previsto na Lei n. 8.906/94 então vigente
(Estatuto da Advocacia), que determinava, ordinariamente, jornada
laboral de 4 (quatro) horas por dia e 20 (vinte) horas semanais.

Assim, considerando que o direito à jornada de 4h/dia nunca


lhe foi reconhecido, a Empresa deixou de adimplir com o pagamento
das horas extras trabalhadas após a 4ª diária.

Ante o exposto, com suporte nos fatos e nos fundamentos


jurídicos a seguir delineados, o Reclamante requer, em segundo lugar,
o pagamento de todas as horas extras trabalhadas após a 4ª diária,
no período imprescrito de 03.08.2017 a 21.12.2022, totalizando 85,6
horas extraordinárias mensais (4 * 5 = 20 * 4,28 = 85,6 horas
extras/mês), com adicional de 100%, divisor 120 e com a devida
integração nas demais verbas salariais, a saber, no 13° Salário,
Férias + 1/3, Aviso Prévio, RSR e FGTS.

Mas não é só.

O Obreiro trabalhou para as Reclamadas por mais de vinte


anos – fora o período que laborou para outras empresas do grupo –
dedicando todos os seus esforços para a execução dos objetivos destas
para, de forma totalmente surpresa ser dispensado sem o pagamento
de qualquer verba rescisória e, de maneira ainda mais gravosa, sem
a qualquer perspectiva de prazo para recebê-la, tudo sob a proteção
do escudo do processo de recuperação judicial.

O desrespeito ao empregado foi tão grande que sequer os


dias trabalhados no mês da rescisão foram adimplidos, deixando o
Obreiro, sem qualquer condição de subsistência.

Registre-se, ainda, o Reclamante já se encontra com 61


(sessenta e um) anos, portanto, idoso na forma da lei (anexo – Doc.
02), o que, claramente, dificultará seu reingresso no mercado de
trabalho, sobretudo, ante a ausência do pagamento das parcelas que
lhe são devidas, um ato verdadeiramente desumano.

Todo esse contexto tem gerado severo abalo emocional e


psicológico ao Obreiro que, de repente, viu-se sem a sua fonte de
subsistência, no momento que mais precisava, tendo em vista que seu
filho acabou de nascer (anexo – Doc. 07) e sua família é totalmente
dependente da renda que este aufere, uma vez que sua esposa não
trabalha, sendo inclusive sua dependente, conforme declaração à
Receita Federal do Brasil (anexo – Doc. 08).

Ora Excelência, é sabido que a dispensa imotivada está


dentro da esfera do poder diretivo do empregador, todavia, é de
fundamental importância rechaçar condutas que violem a dignidade do
trabalhador, como in casu, quando a Demandada dispensa o Obreiro,
idoso, empregado há mais de trinta e três anos das Reclamadas, sem
o pagamento de qualquer parcela legalmente prevista.

Em verdade, está se falando de direitos basilares do


trabalhador – as verbas rescisórias – que lhe foram totalmente
negadas. A conduta ainda se demonstra mais gravosa, quando
compulsando os extratos de FGTS (anexo – Doc. 05), constata-se que
pouquíssimos meses foram recolhidos ao longo do último decênio,
demonstrando que o desrespeito das Reclamadas sempre foi uma
realidade.

Registre-se, ainda, que apesar do TRCT obreiro constar o


crédito bruto de R$ 231.328,65 (anexo – Doc. 04) a receber, de forma,
fraudulenta, a Empresa, por meio de comunicado de sua Administradora
Judicial, informou como devido a receber na Recuperação Judicial o
montante irrisório de R$ 27.559,19 (anexo – Doc. 09), quando somente
o salário mensal obreiro perfazia o valor de R$ 30.381,00
(contracheques em anexo – Doc. 10). Maior desrespeito não há!

Diante disso, é evidente que a conduta das Reclamadas gera


o dever de indenizar o Reclamante pelos danos morais suportados, uma
vez que a saúde (mental ou física) se insere no rol de bens de ordem
moral de uma pessoa, razão pela qual se requer, em terceiro lugar,
o pagamento de indenização respectiva no valor que ora se sugere não
seja inferior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), por estar de
acordo com os critérios da responsabilidade civil, consoante adiante
se demonstrará em item próprio.

Outrossim, cumpre destacar que apesar do Obreiro estar


vinculado à Segunda Reclamada na CTPS (anexo – Doc. 03), tanto que
foi esta que anotou a sua rescisão, foi a Primeira Reclamada –
CIBRASA – quem expediu o TRCT anexo (anexo – Doc. 04) e para quem o
Autor efetivamente prestou seus serviços desde maio/2017, quando foi
transferido para Belém, novamente.

Ressalte-se que ambas as empresas são integrantes do mesmo


grupo econômico “João Santos” ou “Nassau” e usufruíram da prestação
dos serviços do obreiro, razão pela qual, pugna-se, em quarto lugar,
a condenação solidária das Reclamadas às verbas devidas à Reclamante,
consoante fundamentos que serão delineados em item específico.

Por fim, em último lugar, o Reclamante informa que o


apartamento que mora até hoje é de propriedade das Reclamadas, com
locação vinculada ao contrato de trabalho. Explica-se.

Quando o Reclamante foi transferido para Belém, em


maio/2017, a Primeira Reclamada forneceu o imóvel de sua titularidade
para que este residisse, juntamente com seus dependentes. Leia-se
trecho do contrato (anexo – Doc. 11):

Assim, desde então o Obreiro passou a morar no imóvel,


sendo o valor relativo ao aluguel subsidiado descontado do seu
contracheque, mensalmente, a título de aluguel/habitação (anexo –
Doc. 10). Veja-se:

Aliás, fazendo uma simples conta aritmética, verifica-se


que o valor recebido a título de ajuda custo correspondia ao exato
valor pago à título de aluguel/habitação, abatido o percentual de
27,5% relativo ao imposto de renda, restando, indubitável que o
imóvel era fornecido em decorrência do contrato de trabalho vigente
entre as partes. Confira-se:

Ajuda de custo = R$ 2.254,00


IR de 27,5% sobre ajuda de custo: R$ 619,85
R$ 2.254,00 - R$ 619,85 = R$ 1.634,15
Valor pago à título de Aluguel/Habitação = R$ 1.634,00

Corroborando a isso, ressalta-se que o valor pago pelo


Reclamante a título de aluguel é/era bem inferior ao comumente
praticado para imóveis daquela região, consoante contrato de outro
apartamento no mesmo prédio acostado (anexo – Doc. 12), e anúncio
no site da OLX (anexo – Doc. 13), sendo ambos no montante de R$
4.000,00, ou seja, bem superior ao que ele pagava pelo seu próprio
imóvel.

Diante disso, por, pelo menos três razões, resta claro o


vínculo entre o contrato de trabalho obreiro e o aluguel do imóvel
em que o Reclamante mora, visto que: i) o imóvel foi destinado à
residência do Autor; ii) o valor pago a título de aluguel era
descontado diretamente em contracheque em favor da empresa e iii) o
aluguel mensal cobrado do Autor era subsidiado e vinculado ao valor
do auxílio moradia recebido.

Feitos estes esclarecimentos, resta claro que não pode o


Obreiro ser despejado do local em que reside, sobretudo na condição
vulnerável em que se encontra atualmente (idoso, filho recém-nascido
e sem nenhuma fonte de renda familiar), quanto é credor das
Reclamadas de vultoso valor – só as verbas rescisórias apuradas pela
própria Empresa (TRCT em anexo – Doc. 04) somam o montante de mais
de cento e noventa mil reais, sendo necessário que seja determinado
à Demandada que se abstenha de efetuar o despejo do Autor, até quitar
o saldo de parcelas trabalhistas que lhe deve.

Ante o exposto, o Autor requer seja concedida tutela de


urgência inaudita altera parte, determinando-se às Reclamadas que se
abstenham de efetivar qualquer despejo antes do efetivo pagamento de
todas as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro, sob pena de multa
em importe sugere-se não inferior a R$ 500,00/dia de descumprimento
da determinação judicial.

No mérito, independentemente da concessão ao não da tutela


antecipatória, requer-se seja determinado às Reclamadas que se
abstenham de efetivar qualquer despejo, enquanto não efetuarem o
pagamento de todas as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro.
Considerando o exposto em relação aos fatos, não restou
outra alternativa ao Autor, senão a de se socorrer do Poder
Judiciário, para postular os direitos que lhe são assegurados no
ordenamento jurídico.

2.2 – DO DIREITO APLICÁVEL À ESPÉCIE

A par dos elementos fáticos acima delineados, os


fundamentos jurídicos não permitem que seja suscitado qualquer tipo
de dúvida quanto à procedência e legitimidade do presente pleito.
Senão vejamos:

2.2.1 - DA RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA PRIMEIRA E SEGUNDA


RECLAMADAS – DA COMPOSIÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO / EMPRESARIAL

As Empresas CIMENTOS DO BRASIL S/A – CIBRASA e CBE -


COMPANHIA BRASILEIRA DE EQUIPAMENTO, e aqui demandadas compõem o
mesmo grupo econômico e empresarial a sabe, “João Santos” ou “Nassau”
e usufruíram da mão de obra do Autor.

Frise-se que o TRCT foi expedido pela Primeira Reclamada,


mas a CTPS, durante a contratualidade, foi assinada pela Segunda
Reclamada.

Considerando essa realidade, que será ratificada ao longo


da instrução processual, no sentido de que o Autor laborou para ambas
as Empresas, é nítida a necessidade de aplicação do art. 2º, §2º da
CLT ao caso, in verbis:

Art. 2º. (...)

§ 2º - Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora,


cada uma delas, personalidade jurídica própria, estiverem
sob a direção, controle ou administração de outra, ou
ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia,
integrem grupo econômico, serão responsáveis
solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação de
emprego. (Destacou-se)

Cristalino, pois, que as duas primeiras Reclamadas


pertencem ao mesmo grupo econômico e empresarial, sendo necessário
o reconhecimento de vínculo único com estas Reclamadas, bem como a
condenação das mesmas, solidariamente, ao pagamento de todas as
verbas e indenizações a seguir delineadas.
2.2.2 – DIREITO À JORNADA DE 4H DIÁRIAS – APLICAÇÃO
INDUBITÁVEL DA LEI Nº. 8.906/94 – PRECEDENTES DA SDI-1 DO TRIBUNAL
SUPERIOR DO TRABALHO – ADMISSÃO ANTERIOR À MUDANÇA LEGAL - DIREITO
ADQUIRIDO (ART. 5º ART. 5º, XXXVI, DA CARTA MAGNA E O ART. 6º DA
LINDB)

Primeiramente, há que se ressaltar que o Obreiro foi


admitido em 22.04.1999, muito antes do advento da Lei n. 14.365/2022,
de 2 de junho de 2022, instando frisar que a nova lei não pode
retroagir sua aplicação aos contratos de trabalho vigentes antes da
alteração legal.

Registre-se que o Obreiro foi promovido a advogado


tributarista em 01.03.2001, sempre laborando na jornada de 8 horas
diárias.

A Lei n. 14.365/2022 dentre diversas alterações, alterou


o artigo 20 da Lei n. 8.906/94 o qual passou a dispor que: “A
jornada de trabalho do advogado empregado, quando prestar serviço
para empresas, não poderá exceder a duração diária de 8 (oito)
horas contínuas e a de 40 (quarenta) horas semanais”.

Anteriormente, a redação do mesmo artigo era: “A jornada


de trabalho do advogado empregado, quando prestar serviço para
empresas, não poderá exceder a duração diária de 4 (quatro) horas
contínuas e a de 20 (vinte) horas semanais”.

Da leitura dos artigos, constata-se que a partir da


vigência da nova lei, não são devidas as horas extras a partir da
4ª hora trabalhada, levantando questionamentos quanto à sua
aplicabilidade a fatos e situações contratuais prévias à sua
vigência.

Todavia, tal alteração não pode ser aplicada ao


Reclamante, uma vez que o art. 5º, XXXVI, da Carta Magna e o art.
6º da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro – LINDB
dispõem que a lei nova não prejudicará o direito adquirido, o ato
jurídico perfeito e a coisa julgada.

Importante citar ainda, o estabelecido no art. 5º, XL,


da CF/88 que consagra o princípio da irretroatividade da norma
penal para prejudicar o réu, bem como o disposto no artigo 150,
III, “a”, também da CF, que constitui um dos mais importantes
princípios constitucionais limitadores da tributação, o qual prevê
a impossibilidade da cobrança de tributo sobre fatos que
aconteceram antes da entrada em vigor da lei que o instituiu –
irretroatividade da lei tributária.

Dessa forma, não se pode concluir de forma diversa se não


que a regra geral adotada pelo ordenamento jurídico pátrio aponta
no sentido de que a lei nova não pode ser aplicada às situações
constituídas sob a vigência da lei revogada ou modificada
(princípio da irretroatividade). Este princípio visa assegurar a
segurança, a certeza e a estabilidade jurídica.

Assim sendo, não há dúvidas de que os empregados que


foram admitidos antes da mudança legal e que cumpram com as
condições previstas legais, têm direito às horas extras a partir
da 4ª hora trabalhada, nos termos da redação anterior do art.
20 da Lei n. 8.906/94.

Partindo de tal pressuposto, bem como levando em


consideração que não há norma coletiva vigente no período
imprescrito que possa dar suporte à jornada superior à 20h/semanais
e tampouco o Reclamante laborava em regime de dedicação exclusiva,
conforme será melhor demonstrado em instrução.

Nesse caso, prevalece a jornada de trabalho de 4h/dia, em


face de não haver, no caso vertente, nenhuma das condições excetivas
previstas no referido diploma legal.

Assim vem decidindo reiteradamente o C. TST, inclusive por


sua SBDI-1, conforme precedentes abaixo. Confira-se:

EMENTA
AGRAVO INTERNO CONTRA DECISÃO DENEGATÓRIA DA
PRESIDÊNCIA DA TURMA - EMBARGOS EM EMBARGOS DE
DECLARAÇÃO EM AGRAVO EM EMBARGOS DE DECLARAÇÃO EM
RECURSO DE REVISTA - OPOSIÇÃO NA VIGÊNCIA DA LEI Nº
13.467/2017 - HORAS EXTRAS - PAGAMENTO DEVIDO -
ADVOGADA EMPREGADA - CONTRATAÇÃO OCORRIDA EM 1997 -
AUSÊNCIA DE PREVISÃO CONTRATUAL EXPRESSA DE DEDICAÇÃO
EXCLUSIVA - JORNADA DE TRABALHO DE QUATRO HORAS (ART.
20 DA LEI 8.906/1994) 1. A Turma consignou que "(...)
a SDI-I do TST, ao julgamento do E-RR-1606-
53.2011.5.15.0093, firmou entendimento no sentido de
que ' o regime de dedicação exclusiva, por
consubstanciar situação excepcional, requer ajuste
contratual expresso nesse sentido", não restando
configurado pela "mera submissão do empregado
advogado à jornada de oito horas diárias e quarenta
semanais' (...)" (fls. 1380). Entendeu que, " à
míngua de previsão expressa no ajuste contratual de
dedicação exclusiva, a reclamante tem direito à
jornada de quatro horas e carga semanal de 20 horas,
a teor do art. 20 da Lei nº 8.906/94 ." (fls. 1382).
Não houve prequestionamento da controvérsia à luz da
antiga redação do art. 12 do Regulamento Geraldo
Estatuto da Advocacia e da OAB. 2. Não se vislumbra
contrariedade à Súmula 126 do TST, pois a Turma não
reexaminou fatos e provas. Registre-se que o Eg. TRT
decidiu que, " ausente cláusula expressa, há que se
entender que o advogado-empregado, no curso da
jornada laboral, deve se dedicar exclusivamente ao
serviço daquele que o contratou ." (fls. 1209). 2.
Não há divergência jurisprudencial específica quanto
ao paradigma que trata de jornada de trabalho
prevista em edital de concurso. Óbice do item I da
Súmula nº 296 do TST corretamente aplicado pela
decisão agravada. Precedentes da C. SBDI-I. 3. Quanto
aos paradigmas que adotam a tese genérica de que a
duração diária de seis horas e a semanal que não
ultrapasse quarenta horas configura o regime de
dedicação exclusiva na vigência da Lei nº 8.906/94,
deve ser mantida a decisão agravada, que aplicou
corretamente o óbice do § 2º do art. 894 da CLT. Isso
porque a jurisprudência desta Corte Superior orienta
no sentido de que, após a vigência da Lei nº
8.906/1994, deve haver cláusula expressa no contrato
de trabalho do advogado empregado quanto à submissão
a regime de dedicação exclusiva, não prevalecendo a
mera presunção de sua existência ou ajuste tácito.
4. Em relação ao paradigma de fls. 1419/1420, a tese
adotada teve como premissa a redação antiga do art.
12 do Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia da
OAB, matéria não prequestionada no caso concreto.
Óbice do item I da Súmula nº 296 do TST. Agravo
Interno a que se nega provimento" (Ag-E-ED-Ag-ED-RR-
919-64.2014.5.09.0020, Subseção I Especializada em
Dissídios Individuais, Relatora Ministra Maria
Cristina Irigoyen Peduzzi, DEJT 24/02/2023).

EMENTA
AGRAVO CONTRA DECISÃO DE PRESIDENTE DE TURMA
DENEGATÓRIA DE SEGUIMENTO DE EMBARGOS REGIDOS PELA
LEI Nº 13.015/2014, PELO CPC/2015 E PELA INSTRUÇÃO
NORMATIVA Nº 39/2016 DO TRIBUNAL SUPERIOR DO
TRABALHO. ADVOGADO CONTRATADO APÓS A LEI Nº 8.906/94.
DEDICAÇÃO EXCLUSIVA. AUSÊNCIA DE AJUSTE CONTRATUAL
EXPRESSO. HORAS EXTRAS DEVIDAS. DIVERGÊNCIA
JURISPRUDENCIAL NÃO DEMONSTRADA. ARESTO
INESPECÍFICO. Discute-se nos autos o direito do
reclamante à percepção de horas extras, em razão do
labor além da jornada de quatro horas diárias,
estabelecida no Estatuto da Ordem dos Advogados do
Brasil (Lei nº 8.906/94). Inicialmente, cumpre
esclarecer que não se constatada, in casu , a alegada
contrariedade à Súmula nº 126 desta Corte, que tem
sido admitida apenas em casos excepcionais, quando
constatado que, para chegar à conclusão obtida acerca
da controvérsia, o órgão colegiado realizou novo
exame das provas dos autos, o que não ocorreu neste
caso. Quanto ao mérito, a tese defendida pela
agravante é a de que a decisão embargada viola o
princípio da isonomia constitucional, pois evidencia
a existência de tratamento distinto para advogados
de empresas estatais e advogados de empresa privada.
Argumenta que esta Corte, em casos envolvendo empresa
estatal, admite, como caracterizadora da dedicação
exclusiva, a existência, em edital de concurso
público, de previsão de jornada de trabalho de oito
horas diárias, mas, quando se trata de advogado de
empresa privada, essa mesma jornada, prevista em
contrato de trabalho, não é aceita como prova do
labor em regime de dedicação exclusiva. Todavia, o
único aresto colacionado pela agravante, com o
intuito de demonstrar a existência de teses
conflitantes não é específico para o caso sub judice
, uma vez que trata de advogado empregado da CEF,
contratado após a Lei nº 8.906/94, com jornada de
oito horas prevista no edital do concurso público,
circunstância distinta da hipótese destes autos, em
que a controvérsia não envolve empresa estatal, nem,
por conseguinte, jornada de trabalho prevista em
edital de concurso público. A discussão destes autos
é restrita à possibilidade de se reconhecer, ou não,
a configuração do regime de dedicação exclusiva
quando não há ajuste contratual expresso dessa
condição, mas, apenas, comprovação de labor em
jornada de trabalho de oito horas diárias e quarenta
horas semanais. Nesse contexto, a divergência
jurisprudencial não está demonstrada, ante a ausência
de especificidade do paradigma colacionado pela
agravante, nos termos em que exige a Súmula nº 296,
item I, do Tribunal Superior do Trabalho. Agravo
desprovido " (Ag-E-ED-ED-RR-907-78.2010.5.04.0004,
Subseção I Especializada em Dissídios Individuais,
Relator Ministro Jose Roberto Freire Pimenta, DEJT
07/10/2022).

Na mesma direção já decidiu este E. TRT – 8ª Região:


EMENTA
I - HORAS EXTRAS - ADVOGADA CONTRATADA SEM REGIME DE
DEDICAÇÃO EXCLUSIVA - JORNADA DE 4 HORAS DIÁRIAS - A
advogada empregada contratada sem o regime de
dedicação exclusiva, ainda que tenha cumprido jornada
superior a 4 horas diárias, tem direito a receber
como extraordinária toda aquela que ultrapassou esse
limite. II - ADVOGADO EMPREGADO. HONORÁRIOS DE
SUCUMBÊNCIA. NATUREZA INDENIZATÓRIA. Nos termos do
art. 14 do Regulamento do Estatuto da OAB, os
honorários de sucumbência têm natureza indenizatória
(TRT da 8ª Região; Processo n. 0000939-
05.2015.5.08.0002; Órgão Julgador: 1ª Turma; Relator
Desembargador Marcus Augusto Losada Maia; Data de
Julgamento: 23.05.2017.(Destacou-se)

EMENTA
ADVOGADO EMPREGADO. REGIME DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA.
JORNADA DE TRABALHO. ART. 20 DA LEI 8.906/94.
Comprovado nos autos que a reclamante foi contratada
e desenvolveu suas atividades advocatícias em regime
de dedicação exclusiva, não faz jus à jornada de
trabalho reduzida prevista no caput do art. 20 Lei
nº 8.906/94. Submete-se, portanto, à jornada de oito
horas diárias. (TRT da 8ª Região; Processo: 0000446-
98.2020.5.08.0019 ROT; Data: 30/07/2021; Órgão
Julgador: 2ª Turma; Relator: GABRIEL NAPOLEAO VELLOSO
FILHO)

EMENTA
I - HORAS EXTRAS. ADVOGADO. DEDICAÇÃO EXCLUSIVA
CONTRATAÇÃO OCORRIDA APÓS A EDIÇÃO DA LEI 8.906/94.
. INEXISTÊNCIA DE PREVISÃO EXPRESSA NO CONTRATO DE
TRABALHO. HORAS EXTRAS DEVIDAS ALÉM DA 4ª HORA
DIÁRIA. A jurisprudência do TST possui o entendimento
de que a dedicação exclusiva deve ser expressamente
prevista no contrato de trabalho para que a jornada
laboral do advogado possa ser elastecida além da
quarta hora diária. II - HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA.
BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA.
INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 791-A, §4º, DA CLT.
Tendo em vista a recente decisão do Egrégio Tribunal
Pleno deste Tribunal, proferida nos autos do Processo
de Arguição de Inconstitucionalidade Nº 0000944-
91.2019.5.08.0000, tem-se como inconstitucional o
parágrafo quarto do art. 791-A da CLT, incluído pela
lei nº 13.467/17, não sendo devidos honorários de
sucumbência pelo beneficiário da justiça gratuita.
(TRT da 8ª Região; Processo: 0000884-
94.2019.5.08.0008 ROT; Data: 26/08/2020; Órgão
Julgador: 3ª Turma; Relator: LUIS JOSE DE JESUS
RIBEIRO)

Isto posto, são devidas como extras as horas trabalhadas


após a 4ª diária, devendo as Reclamadas serem condenadas,
solidariamente, a efetuar esse pagamento com adicional de 100% e
reflexos, a teor do §2º do art. 20 da Lei n. 8.906/94, tudo na forma
do pedido formulado na causa de pedir.

Reconhecendo-se correta a jornada de 20h/semanais deve-se


aplicar nos cálculos o divisor 120, por corolário lógico.

2.2.3 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO EMPREGADOR – DA


LESÃO À PERSONALIDADE DO AUTOR - VIOLAÇÃO QUE GERA INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL

Como é sabido, o dano moral caracteriza-se a partir da


violação aos bens de ordem moral do indivíduo, nos quais estão
inseridos a proteção à liberdade, à honra, à imagem e à saúde
(mental ou física).

Conforme exposto na sinopse fática, o dano perpetrado


pela conduta das Reclamadas foi de diversas ordens, a saber: a)
dispensa do Obreiro que prestou seus serviços para as Reclamadas
por mais de trinta e três anos, sem a percepção de qualquer
parcela, inclusive o salário do último mês trabalhado, deixando
o Reclamante à mercê; b) o Autor foi dispensado quando já possuía
61 (sessenta e um) anos e, sendo a ausência do pagamento da sua
rescisão, fato que torna sua reinserção no mercado de trabalho
ainda mais difícil; c) o Reclamante era dependente, assim como
sua família, da renda que auferia das Reclamadas, e viu-se, no
momento que mais precisava – em razão do nascimento do seu filho
– sem qualquer condição de subsistência; d) ausência de
recolhimento do FGTS na maioria dos meses dos últimos cinco anos.

Ora, Exa., é nítido que a ausência de pagamento das


parcelas que lhe eram devidos, pelas Reclamadas, gerou ao Obreiro
danos na esfera moral, já que este se viu, de maneira totalmente
inesperada, sem a sua única fonte de subsistência e, o mais grave,
sem sequer o pagamento das verbas legais que lhe eram devidas para
tentar recomeçar sua vida.
O plano legal resguarda, inclusive, constitucionalmente os
direitos da personalidade, aqui compreendidos como intimidade, a
vida privada, a honra e a imagem das pessoas, sendo assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação (art. 5º, V e X da CF).

Diante disso, é evidente que a conduta das Reclamadas gera


o dever de indenizar ao Reclamante pelos danos morais suportados,
uma vez que a honra e a dignidade se inserem no rol de bens de ordem
moral de uma pessoa.

Estando presentes os requisitos caracterizadores da


responsabilidade civil (ato ilícito, dano moral e o nexo causal),
requer-se o pagamento de indenização respectiva em valor que ora se
sugere não seja inferior a R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais),
quantia razoável e proporcional à natureza da lesão experimentada
pela obreira, ao porte econômico das Reclamadas e ao caráter
educativo da pena.

Releva destacar que, consoante decisão plenária do E. TRT


da 8ª Região nos autos da Arguição de Inconstitucionalidade n.
0000514-08.2020.5.08.0000 (publicada em 16.09.2020), foi declarada
a inconstitucionalidade do artigo 223-G, §1º, incisos I a IV da CLT,
de modo que a fixação do quantum indenizatório permanece sob o
arbítrio do Juízo, a partir da análise do caso concreto.

2.2.4 – DA IMPOSSIBILIDADE DE REALIZAÇÃO DO DESPEJO DO


AUTOR E SUA FAMÍLIA – COROLÁRIO LÓGICO DO DIREITO À MORADIA E DA
PROTEÇÃO À INFÂNCIA, À FAMÍLIA E À PESSOA IDOSA CONFERIDA PELA CF/88

Consoante delineado exaustivamente na sinopse fática,


resta claro o vínculo entre o contrato de trabalho obreiro e o
aluguel do imóvel em que o Reclamante mora.

Ora, Excelência, o despejo do Obreiro do local em que


reside, sobretudo, na condição vulnerável em que se encontra
atualmente (idoso, filho recém-nascido e sem nenhuma fonte de renda
familiar, sendo, ainda, arrimo de família), fere uma gama de
direitos, inclusive, respaldados constitucionalmente, dentre eles,
a moradia e infância (art. 6º, CF), a família (art. 226, CF) e a
proteção ao idoso (art. 230, CF).

Notadamente, em relação ao idoso, a Constituição informa


que a responsabilidade pelo amparo deste é solidária sendo, portanto,
a Empresa, enquanto sociedade também é responsável por garantir as
condições adequadas de sobrevivência do Obreiro, ainda mais, quando
este, além da questão etária, encontra-se em estado vulnerável, como
in casu. Leia-se o art. 230, CF, in verbis:

Art. 230. A família, a sociedade e o Estado têm o


dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua
participação na comunidade, defendendo sua dignidade
e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.
(Destacou-se)

Desta forma, o despejo do Obreiro do imóvel que reside há


mais de seis anos, no estado atual em que se encontra, repise-se –
desempregado, sem a percepção de qualquer das verbas devidas
decorrentes do labor de mais de trinta e três anos, com filho recém
nascido e sem qualquer outra fonte renda, demonstra ser, além de
desarrazoado – ante o fato do Reclamante ser credor das Reclamadas
de vultoso valor – vai de encontro a preceitos constitucionais, razão
pela qual não pode subsistir.

Ante o exposto, o Autor pugna pela concessão da tutela de


urgência inaudita altera parte, determinando-se às Reclamadas que se
abstenham de efetivar qualquer despejo antes do efetivo pagamento de
todas as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro, sob pena de multa
em importe sugere-se não inferior a R$ 500,00/dia de descumprimento
da determinação judicial.

No mérito, independentemente da concessão ao não da tutela


antecipatória, requer-se seja determinado às Reclamadas que se
abstenham de efetivar qualquer despejo, enquanto não efetuarem o
pagamento de todas as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro.

2.2.5 - DA APLICAÇÃO DA LEI. N. 14.010/2020 – DA SUSPENSÃO


DA PRESCRIÇÃO QUINQUENAL

Na esfera trabalhista operam dois tipos de prescrição – a


total e a parcial – sendo que esta afeta as obrigações de trato
sucessivo que, ao se renovarem continuamente, prorrogam o marco
inicial da contagem da prescrição.

Nesta senda, a Lei n. 14.010/2020, com vigor a partir de


10.06.2020, ao versar sobre algumas das medidas governamentais mais
relevantes e urgentes, com vistas ao enfrentamento jurídico da
pandemia mundial, disciplinou o Regime Jurídico Emergencial e
Transitório das relações jurídicas de Direito Privado (RJET) no
período da pandemia do coronavírus (Covid-19), o qual também tratava,
especialmente, em seu art. 3º, dos prazos prescricional e decadencial
provenientes das relações jurídicas pátrias, no período compreendido
entre 20.03.2020 e 30.10.2020. Observe-se:

Art. 3º Os prazos prescricionais consideram-se


impedidos ou suspensos, conforme o caso, a partir da
entrada em vigor desta Lei até 30 de outubro de 2020.

§ 1º Este artigo não se aplica enquanto perdurarem


as hipóteses específicas de impedimento, suspensão e
interrupção dos prazos prescricionais previstas no
ordenamento jurídico nacional.

§ 2º Este artigo aplica-se à decadência, conforme


ressalva prevista no art. 207 da Lei nº 10.406, de
10 de janeiro de 2002 (Código Civil). (Destacou-se)

Como se nota, o art. 3º da Lei n. 14.010/2020 é claro ao


afirmar que estão suspensos os prazos prescricionais no período acima
referenciado.

Por sua vez, em que pese a novel legislação ser bastante


recente, os Tribunais Regionais do Trabalho vêm aplicando a mesma
para fins de suspensão/impedimento de prazos prescricionais
trabalhistas. Confira-se:

EMENTA

PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE AFASTADA. REFORMA


TRABALHISTA. DIREITO INTERTEMPORAL. SUSPENSÃO DA
PRESCRIÇÃO. É sabido que com a Reforma Trabalhista
ficou expressamente previsto que, acaso o exequente
deixe de promover uma determinação no curso da
execução, ficando inerte por mais de dois anos, o
juiz poderá reconhecer a prescrição intercorrente do
crédito trabalhista. Entretanto, prevalece nesta e.
1ª Turma Julgadora o entendimento de que para fazer
valer a nova lei o magistrado condutor do processo
deve primeiramente advertir a parte contra qual
passou a correr o prazo prescricional do disposto no
art. 11-A da CLT, pois seguindo esse ritual estar-
se-á preservando a característica fundamental do novo
modelo de processualística, que é pautado na
colaboração entre as partes e no diálogo com o
julgador. Logo, nos casos em que não se segue esse
caminho, afasta-se a pronúncia da prescrição
intercorrente e determina-se o cumprimento do novo
rito. Some-se a isso a necessidade de serem
observadas eventuais causas suspensivas da
prescrição alegadas pelo interessado, como a disposta
no artigo 3º da Lei n. 14.010/2020, previamente
debatida na origem. Agravo provido. (TRT da 23.ª
Região; Processo: 0064100-70.2008.5.23.0081; Data:
26-03-2021; Órgão Julgador: Gab. Des. Paulo
Barrionuevo - 1ª Turma; Relator(a): PAULO ROBERTO
RAMOS BARRIONUEVO) (Destacou-se)

EMENTA
PRESCRIÇÃO BIENAL. AVISO PRÉVIO INDENIZADO. CONTAGEM
DO PRAZO. Considerando que o artigo 3º da Lei
14.010/2020, que dispõe sobre o Regime Jurídico
Emergencial e Transitório das relações de direito
privado no período da pandemia do coronavírus (COVID-
19), estabelece a suspensão dos prazos prescricionais
a partir do início da sua vigência até 30.10.2020, e
ajuizada a ação em 10.08.2020, ou seja, na vigência
da mencionada Lei, não há falar em prescrição total.
(TRT-3, Processo: RO - 0010504-06.2020.5.03.0180,
Redator: Convocada Sabrina de Faria F.Leao, Data de
julgamento: 11/02/2021, Décima Terceira Turma, Data
da publicação: 12/02/2021) - (Destacou-se)

EMENTA
PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. LEI Nº 14.010/2020.
SUSPENSÃO DOS PRAZOS PRESCRICIONAIS. Passados mais
de dois anos desde a entrada em vigor da Lei nº
13.467/17 (11/11/2017), mostrar-se-ia bastante
razoável que se pusesse fim ao processo,
especialmente porque a partir desta data, também
passou a ter vigência a nova redação do art. 878 da
CLT que determina que a execução seja promovida pela
própria parte interessada quando estiver
representada por advogado. Ocorre que, em 10/06/2020,
entrou em vigor a Lei nº 14.010/2020, que dispõe
sobre o Regime Jurídico Emergencial e Transitório
das relações jurídicas de Direito Privado no período
da pandemia do coronovírus (COVID-19), e que prevê
em seu artigo 3º que "Os prazos prescricionais
consideram-se impedidos ou suspensos, conforme o
caso, a partir da entrada em vigor desta Lei até 30
de outubro de 2020." Dessa forma, os prazos
prescricionais ficaram suspensos do dia 10/06/2020
até 30/10/2020. Não considerada a suspensão pelo
juízo de origem, é de ser dado provimento ao agravo
de petição do exequente. (TRT-3; Processo: AP -
0010314-92.2016.5.03.0112; Órgão Julgador: Nona
Turma; Relator: Rodrigo Ribeiro Bueno;
Disponibilização: 28/01/2021) (Destacou-se)
EMENTA
AGRAVO DE PETIÇÃO. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE.
SUSPENSÃO. LEI 14.010/2020. PROSSEGUIMENTO DA
EXECUÇÃO. A Lei 14.010/2020 suspendeu o curso dos
prazos prescricionais a partir da vigência da
referida norma, até a data de 30/10/2020. Apesar da
decisão que declarou a prescrição ter sido proferida
após a vigência da supracitada lei, tem-se que esta
norma operou a suspensão do prazo prescricional no
seu interregno de vigência, a saber, 12/06/2020 a
30/10/2020 (art. 3º, caput, da Lei 14.010/2020),
restando claro que, ao tempo da propositura do
presente apelo, não havia findado o biênio
prescricional, de modo que deve prosseguir a execução
trabalhista. Agravo provido. (TRT-6,
Processo: Ag - 0001030-43.2015.5.06.0005, Redator:
Carmen Lucia Vieira do Nascimento, Terceira Turma,
Data da publicação: 12/02/2021) – (Destacou-se)

Nessa direção o TRT – 8ª Região uniformizou sua


jurisprudência, conforme precedente vinculante em IAC, julgado por
unanimidade pelo Plenário e publicado em 19.04.2022, in verbis:

"Admite-se a aplicação da Lei nº 14.010/20 ao Direito


do Trabalho, dada a sua natureza jurídica de direito
privado, para aplicar a suspensão do prazo
prescricional no período de 20/03/2020 a 30/10/2020,
em atenção aos artigos 1º, parágrafo único, e 3º da
referida lei" (Destacou-se)

Nesse sentido, considerando o ajuizamento da reclamatória,


inicialmente, em 15.03.2023 –, o marco inicial da prescrição
quinquenal recairia em 15.03.2018.

Porém, partindo do pressuposto que a Lei n. 14.010/2020,


suspendeu o prazo prescricional, para todos os fins, pelo interregno
de 20.03.2020 e 30.10.2020, esse período de dias/meses deve ser
acrescentado no interregno anterior a 15.03.2018.

Desta feita, faz jus o Reclamante, e desde já se requer,


que o D. Juízo condene as Reclamadas ao pagamento das parcelas
requeridas, no período imprescrito de 03.08.2017 a 21.12.2022,
conforme memorial de cálculos integrante desta exordial.

2.2.6 - DA TUTELA DE URGÊNCIA – PREENCHIMENTO INTEGRAL DOS


REQUISITOS LEGAIS
Tendo em vista a iminência de o Obreiro ser despejado, eis
que findou seu contrato de trabalho, faz-se necessária a concessão
de tutela antecipada para determinar às Reclamadas que se abstenham
de efetivar qualquer despejo antes de realizarem o pagamento de todas
as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro, eis que presentes os
requisitos legais para tanto.

O art. 300, do Código de Processo Civil, assim dispõe:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo. § 1o Para a concessão
da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,
exigir caução real ou fidejussória idônea para
ressarcir os danos que a outra parte possa vir a
sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.
§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida
liminarmente ou após justificação prévia.

No caso sub examine estão presentes todos os requisitos


para concessão da tutela pretendida, conforme exposição a seguir:

2.2.6.1 – DA VEROSSIMILHANÇA – DA PROBABILIDADE DO DIREITO

A verossimilhança se consubstancia por todo o substrato


documental que comprova o vínculo entre o vínculo trabalhista e o
contrato de aluguel pactuado, além da ausência de pagamento das
verbas rescisórias legais devidas até a presente data e a própria
condição familiar obreira, conforme fartamente demonstrado alhures,
especialmente pela:

a) Comprovante de dispensa Obreiro (anexos – Doc. 03 e 04);

b) Contrato de aluguel em valor inferior ao praticado no


mercado na mesma região (anexos – Docs. 11, 12 e 13);

c) Carta da administradora informando a Recuperação


Judicial da Reclamada (anexos – Doc. 09);

d) Certidão de nascimento do filho recém-nascido e


Declaração de Imposto de Renda, demonstrando que a
esposa é sua dependente (anexos – Docs. 07 e 08).
Patente, pois, a existência de prova pré-constituída que
comprova o cumprimento do requisito verossimilhança necessário à
concessão da medida liminar pretendida.

2.2.6.2 – DO PERIGO NA DEMORA – DO PERIGO DE DANO

O perigo de dano decorrente do lapso temporal é também


bastante evidente, visto que o Reclamante já foi dispensado e a
empresa encontra-se em Recuperação Judicial, portanto, sem qualquer
previsão deste receber os valores que lhe são devidos.

O Reclamante encontra-se desempregado, com filho recém-


nascido e é o único responsável pela subsistência de sua família,
de maneira que qualquer despejo nesse momento colocará sua família
em situação de vulnerabilidade maior do que já se encontra, de
maneira que não há como se negar que a demora na prestação
jurisdicional irá ocasionar danos irreparáveis ao Reclamante, os
quais já se demonstram óbvios, ante o fim do contrato de trabalho.

A necessidade de proteção jurisdicional in hoc casu é tão


evidente, que congrega, tanto um sólido fundamento de direito,
ancorado na Carta Magna, quanto a necessária básica de uma família,
que não pode correr o risco de ser despejada, mesmo sendo seu
patriarca credor de vultosa quantia devida pela empresa proprietária
do imóvel que lhe foi locada com vinculação ao contrato de emprego.

Isto posto, requer-se seja antecipado o provimento


meritório, para determinar às Reclamadas que se abstenham de efetivar
qualquer despejo antes de efetivarem o pagamento de todas as parcelas
trabalhistas devidas ao Obreiro.

1.2.5.3 – DO PERICULUM IN MORA INVERSO – DO PERIGO DE


IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA DECISÃO - INEXISTÊNCIA

O art. 300, §3º do CPC, aduz:

§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não


será concedida quando houver perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Ocorre que, in hoc casu, o perigo da demora inverso é


inexistente, e sequer deve ser considerado, tendo em vista que, uma
vez adimplidas integralmente as parcelas salariais devidas, o
Obreiro poderá deixar o imóvel.

Ressalte-se que o deferimento da tutela é também uma


questão de humanidade, na medida em que, na atual circunstância,
sendo despejado e sem qualquer arcabouço financeiro, o Obreiro
claramente passará mais dificuldades do que já vem enfrentando.

Assim, em verdade, o único prejuízo pela não concessão da


tutela é o Reclamante que precisará arcar com o prejuízo enorme de
se ver sem ter local para morar, juntando com sua família.

Destarte, não se vislumbra perigo de irreversibilidade do


provimento antecipatório que justifique a não concessão da liminar
neste momento, sendo risível ou até mesmo inexistente o risco do
periculum in mora reverso.

Por todo o exposto, fica patente que a concessão da tutela


antecipada não encontra óbice no art. 300, §3º do CPC.

1.2.6 - DA JUSTIÇA GRATUITA – PROCURAÇÃO COM PODERES PARA


PRESTAR DECLARAÇÃO DE HIPOSUFICIENCIA – APRECIAÇÃO NA PRIMEIRA
OPORTUNIDADE – PRECAUÇÃO CONTRA DECISÃO SURPRESA

O Autor requer, por procurador com poderes específicos,


lhe sejam concedidos os benefícios da justiça gratuita, com
fundamento no art. 790, §3º, da CLT, art. 1º da Lei n. 7.115/83 e
Enunciado de Súmula n. 463 do C. TST, eis que não possuir meios
suficientes para custear as despesas da causa sem prejudicar o
sustento próprio, por estar desempregado.

Ressalte-se, outrossim, que, na esteira da atual


jurisprudência do C. TST, a comprovação da insuficiência de recursos
como requisito para obtenção de gratuidade de justiça (art. 790,
§4º, CLT) pode ser realizada pela simples declaração proferida por
pessoa natural, à qual se conferirá presunção de veracidade, na forma
do art. 99, §3º, do CPC, entendimento que conspira a favor da
proteção processual ao trabalhador reclamante, que não pode atuar
com ônus mais gravosos que os do litigante civil.

Nesse diapasão, requer-se seja apreciado o presente pleito


de forma prioritária, na primeira oportunidade em que este D. Juízo
atuar nos autos, com o fito de precaver eventual decisão surpresa
ao longo da lide.
1.2.7 - DOS CÁLCULOS – ISENÇÃO INSS SEGURADO

Requer-se que as verbas perseguidas sejam pagas sem o


desconto do INSS (Segurado) nos meses em que fique constatado que
o Autor já recolheu o valor máximo de INSS permitido em Lei,
conforme comprovam os documentos acostados (anexo – Doc. 10).

1.2.8 – DA BASE DE CÁLCULOS DOS REFLEXOS EM FGTS

A Autora destaca que os reflexos em FGTS devem ser pagos


tendo como base de cálculo todas as parcelas remuneratórias apuradas,
isto é, tanto a remuneração propriamente dita, quanto seus reflexos
remuneratórios em férias + 1/3, 13º salário e aviso prévio,
considerando o previsto no art. 15 da Lei n. 8.036/90.

Destarte, os reflexos em FGTS devem ser apurados com base


em todas as parcelas remuneratórias calculadas, da mesma forma como
seria caso as Reclamadas tivessem pago no tempo certo em
contracheque, inclusive sobre o aviso prévio. Ex positis, requer-
se:

2 – PEDIDO

Por todo o exposto, e por ser medida de lídima justiça,


vem o Autor requerer que V. Exa. se digne em:

a) Preliminarmente, conceder ao Reclamante os benefícios


da justiça gratuita na primeira oportunidade em que este D. Juízo
atuar nos autos, uma vez que preenchidos os requisitos legais,
conforme os fundamentos;

b) Deferir tramitação prioritária, considerando que o


Obreiro é idoso na forma da lei (Carteira de Identidade – Doc. 05);

c) Reconhecer a formação de grupo econômico entre as


duas primeiras Reclamadas que integram o polo passivo, condenando-
as solidariamente ao pagamento de todas as verbas trabalhistas
deferidas nos autos;

d) Conceder tutela de urgência inaudita altera parte,


para que as Reclamadas se abstenham de efetivar qualquer despejo,
enquanto não efetuarem o pagamento de todas as parcelas trabalhistas
devidas ao Obreiro, sob pena de multa em importe sugere-se não
inferior a R$ 500,00/dia de descumprimento da determinação judicial;

e) Independentemente da concessão ou não da tutela de


urgência pretendida, no mérito, determinando-se às Reclamadas que
abstenham de efetivar qualquer despejo, enquanto não efetuarem o
pagamento de todas as parcelas trabalhistas devidas ao Obreiro;

f) Condenar as Reclamadas ao pagamento das parcelas


abaixo discriminadas e consoante memorial de cálculos integrante
desta exordial para todos os fins:

g) Condenar as Reclamadas solidariamente ao pagamento da


multa do art. 467 da CLT em relação a todas as parcelas
incontroversas nos autos, caso não adimplidas na forma da lei
(ilíquido);

h) Determinar a isenção do INSS Segurado, bem como


considerar todas as parcelas de natureza remuneratória deferidas
como base de cálculo do FGTS, tudo conforme os fundamentos;
i) Condenar as Reclamadas ao pagamento de honorários
advocatícios no percentual de 15% (quinze por cento) sobre o valor
da condenação, em razão da mera sucumbência, em favor de Tuma, Torres
& Advogados Associados S/S, CNPJ 22.251.184/0001-03;

j) Determinar que, por ocasião da execução, toda e


qualquer guia de retirada seja expedida em nome da sociedade de
advogados (Tuma, Torres & Advogados Associados S/S, CNPJ
22.251.184/0001-03).

Protesta o Autor por todos os meios de provas em direito


admitidos, especialmente pelo depoimento pessoal das partes, sob
pena de confissão, juntada de documentos, inquirição de testemunhas,
exames, perícias, vistorias e tantas outras quantas forem
necessárias para prova de tudo quanto aqui afirmado.

Como de praxe, requer-se que o causídico MÁRCIO PINTO


MARTINS TUMA, OAB/PA 12.422, conste obrigatoriamente em toda e
qualquer publicação destinada ao presente processo, ainda que
substabelecidos outros advogados, sob pena de nulidade (art. 272,
§5º do CPC vigente e Enunciado de Súmula n. 427 do TST).

Dá-se à causa o valor de R$ 5.184.372,29, para efeitos de


custas e enquadramento no rito processual cabível.

Nestes Termos,
Pede deferimento.
Belém, 06 de abril de 2023.

MÁRCIO PINTO MARTINS TUMA ANA CAROLINA M. DE ALBUQUERQUE


OAB/PA 12.422 OAB/PA 26.487

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