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Liquidação – algumas questões práticas

Primeiro tema – o processo de insolvência é de processamento unitária mas que


apesar disso, na pratica, caba por ter 2 braços: o processo aberto com a
declaração de insolvência, o processo segue, supletivamente, para uma primeira
assembleia de credores é tomada uma deliberação por parte dos credores no
sentido se se suspende ou não a liquidação ou é elaborado um plano de
insolvência.
Os credores podem dizer que querem suspender a liquidação – recuperação com
plano de insolvência
Os credores podem dizer que querem liquidar – liquidação

Tramitação unitária – é verdade que pode haver uma suspensão da liquidação,


mas também não é rigoroso porque pode haver um plano de liquidação que
preveja uma liquidação distinta da prevista do código; pode haver liquidação
para alguns ativos e recuperação de outros e pode ainda existir um plano hoje e
uma suspensão que mais tarde serão liquidados nos termos do CIRE.

Segunda nota – por ser uma tramitação unitária existe um sistema de vasos
comunicantes: pode acontecer que não suspendam a liquidação, mas pode
haver uma parte dos credores que venha a requerer que seja levado a cabo a
liquidação.

Terceira nota – a liquidação tem uma conotação marcadamente pejorativa. É


verdade que estatisticamente a generalidade das liquidações terminam com o
encerramento das empresas e venda de ativos, mas não tem de ser assim.
Muitas vezes há vários casos de recuperações bem sucedidas feitas em
liquidação. A liquidação implica o cancelamento de ónus e encargos nos termos
do art.º 824, n.º 2 CC. Vai-se buscar esta norma por força do art.º 165 do CIRE,
pela remissão do 17º CIRE para o CPC, em liquidação os ónus e encargos
caducam nos mesmos termos do processo executivo.
Mas, por maioria de razão, este entendimento tem de sere estendido aos casos
de plano, porque o legislado considerou como vias alternativas dispor aos
credores optar por liquidação ou plano. Um plano que preveja uma liquidação de
ativos também tem de permitir o recurso ao art.º 824 CC. Se nos formos ao
detalhe o plano pode ser de liquidação, e neste cenário não há nenhum motivo
porque segue o regime da liquidação alterando-se algumas das regras diferentes
dos termos supletivos – art.º 824 CC. Também deve ser aplicado a casos de
planos de recuperação que envolvam a transmissão de ativos porque o legislador
veio introduzir uma referencia especifica pela preferência pelo plano de
recuperação – art.º 1, nº 1 CIRE. O legislador veio dizer que poderia promover a
via de plano como forma de proteção e recuperação empresarial.
As conservatórias não tem este entendimento e negam o cancelamento de ónus
por via da recuperação.

Considerações gerais

A liquidação consiste na venda dos bens e cobrança dos créditos que compoem
a massa insolvente, com a finalidade de liquidar = converter o património numa
quantia pecuniária a distribuir pelos credores.
O processo de insolvencia também é um processo de execução universal.
Os pressupostos vem no art.º 158º CIRE. Basicamentos emos 3 princiipais
requisitos: sentença dclaratória da insolvencia tem de estar transitada; tem de
haver a realização da primeira assembleia de credores e tem de haver
deliberações que não se oponham à venda dos bens.
A lei não diz que não se pode iniciar a venda antes de transitada em julgado a
sentença, o que faz sentido, porque havendo recurso ou embargos há a hipótese
da reversão da decisão de declaração de insolvência e a venda do património
pode prejudicar a continuidade da atividade.
A lei quando fala, fala em venda dos bens. O que a lei quer é que não se venda,
portanto, diligencias preparatórias da liquidação: anúncios, contactos,
avaliações; pode e deve ser feito.
O recurso e a oposição por embargos faz – art.º 40 e 42º - suspendem a
liquidação – venda e não diligencias preparatórias que possam ser tomadas – e a
AC pode ser dispensada pelo juiz.
Tipicamente as AC ocorrem – para apreciação do relatório – e os credores, em
assembleia – art.º 71 – essas deliberações tem que não se opor à liquidação ou
venda. P ex. se suspendem a liquidação concerteza que não se pode avançar,
se for atribuída a administração ao devedor o efeito é idêntico.
O art 225 diz expressamente que a liquidação só tem lugar depois de ao devedor
ser retirada a administração.
Depois o art.º 169 merece algum destaque porque nos diz que caso o processo
não seja encerrado no prazo de um ano a contar da assembleia de apreciação
do relatório ou no final de cada período de 6 meses haverá destituição com justa
causa do administrador, salvo se houver razões que justifiquem a continuação.
Por norma, os tribunais não destituem os Administradores.
Art.º 158 diz que exceciona a regra anterior, permitindo a venda antecipada de
bens que possam desvalorizar ou deteriorar-se.
Ações que estejam em bolsa que possam desvalorizar por algum motivo também
caem no âmbito da interpretação teleológica da norma. Será que se pode
vender, recorrendo a este regime, um empreendimento turístico no algarve
porque apareceu algum que faz uma proposta irrecusável? É uma questão difícil,
só isto não é suficiente, terá que existir mais alguma coisa.

Procedimento

Caso se decida pela venda antecipada o administrador comunica esse facto ao


devedor, à comissão de credores quando exista e ao juiz com uma antecedência
de pelo menos 2 dias úteis e publica no CITIUS.
O juiz, por sua iniciativa ou a requerimento do devedor, da comissão ou de
qualquer credor da insolvencia ou da massa, pode impedir a venda sendo essa
decisão de imediato comunicada ao Administrador, ao devedor, à comissão de
credores e a quem a tiver requerido, sendo insuscetível de recurso.

O interessado no requerimento deve fundamentadamente indicar as razões que


justificam a não realização da venda e deve, sempre que possível, uma
alternativa viável.
Na pratica, os AJ e os Tribunais são bastante avessos á utilização desta norma
excecional e portanto, há casos residuais.

Procedimento e modalidades

Art.º 167º CIRE – diz que o produto da liquidação tem de ser depositado à ordem
da massa. É evidente que assim é mas a lei não nos diz qual a consequência do
incumprimento. Não deixa de ser engraçado quando o 168, 2 diz que o AJ que
viole as regras é destituído por justa causa e deve restituir à massa os bens.
Se não for justificado convenientemente, pode conduzir à destituição e à
responsabilidade civil, disciplinar e penal – burla, abuso de confiança, etc.
O 168/1 diz que o AJ não pode adquirir para si, ainda que por interposta pessoa,
quaisquer bens da massa, podendo ser destituído por justa causa.
O incumprimento do 168/1 concretiza um verdadeiro conflito de interesses. Tem
natureza de norma imperativa? Pode a comissão de credores, não havendo mais
ninguém interessado em comprar, autorizar a venda ao AJ? Não. É uma norma
imperativa que não pode ser afastada nem pela vontade dos credores, porque
visa evitar suspensões.
Venda de imóvel com construção urbana – art. 833, 6 CPC – isenção de licenças
em sede de liquidação. Este regime também tem de ser aplicável aos PERs.

Forma e modalidade de alienação – 162

O regime é a regra é de que a empresa deve ser vendida como um todo a não se
que se reconheça vantagem da alienação de bens isolados ou lotes. O critério é
o da maximização da receita da venda.
Pode acontecer a existência de um ativo imobiliário que a venda a determinada
pessoa determina uma contingência de IVA e a venda a uma outra entidade não.
Ainda que aquele não despoleta uma contingência fiscal e apresente um valor
mais baixo, pode este maximizar a receita para a massa.
O AJ procede à venda dos bens, preferencialmente, por leilão eletrónico
podendo, contudo, devidamente justificado, optar pelas formas de alienação
previstas para o processo executivo ou qualquer outra que tenha por mais
conveniente.
O regime anterior deixava totalmente nas mãos do AJ esta escolha e não incluía
esta preferência pelo leilão eletrónico. Esta alteração deveu-se à necessidade de
deixar o processo mais transparente.
Esta norma pode ser derrogada pelo AJ, sempre que considerar que qualquer
outra modalidade desenhada pelo administrador à medida do processo, assim o
exija, desde que o justifique.
O leilão eletrónico, é muitíssimo utilizado, mas passou a ser usado para
processos sem qualquer história.
Não se deve interpretar esta norma como exigindo demasiado ao AJ poder
ajustar a venda ao tipo de bem.
Casos especiais

Art.º 161 – a intervenção a comissão ou da assembleia nos atos de especial


relevo para o processo.
Este foi um balanço que o CIRE fez entre o regime do CPREF e que a
intervenção dos credores e do tribunal era algo necessário para que o processo
pudesse andar, o CIRE quis cortar este regime atribuindo a administração do
processo ao AJ, define a modalidade da venda, mas para equilibrar este regime
faz com que o AJ precise da autorização da comissão ou assembleia sempre que
se tratem de atos de especial relevo.
Todos nós sabemos que na qualificação de atos de espcial relevo atende-se aos
riscos envolvidos e às suas repercussões sobre a tramitação ulterior do
processo, às perspetivas de stisfação dos credores da insolvencia e à
suscetibilidade de recuperação da empresa.

161/3 – elenco não taxativo. – violação – art.º 59º e 163º CIRE. Temos de olhar
sempre para o n.º 2 do artigo.
A perspetiva de satisfação dos credores e a suscetibilidade de recuperação da
empresa são aspetos que tem de se ter em consideração.
E os credores da massa? O legislador presume que estas são integralmente
pagas com prioridade sobre os outros credores, então este problema não se
coloca.
Aquisição de imóveis – esta alínea tem de ser interpretada como aquisição de
imóveis da massa por terceiros. Mas não é impossível a massa adquiri imóveis.

Assunção de obrigações de terceiros – mesmo que não haja encerramento do


estabelecimento, existe uma massa. No âmbito normal da atividade, pode haver a
necessidade de constituição de obrigações. Se for esta nora infringida, é
fundamento para a destituição do administrador.

Quando o AJ venda algo a alguém, esse alguém está dispensado de saber se


estava ou não autorizado a tal venda pela comissão dos credores. A logica aqui
é que o terceiro esta protegido salvo se for manifesto que as obrigações
assumidas excederem as da contra parte – credores.

Pode haver a insolvência da massa insolvente? O CIRE dá ideia que o processo é


encerrado. Mas trata-se de um património autónomo.

Alienação de empresa – art.º 5

O legislador do CIRE diz que total a organização de capital e trabalho.

Art.º 155, 156, 157, 161, 162 e 163 CIRE.

Art.º 155, n.º 1 c) o AJ no seu relatório deve indicar quais as perspetivas de


manutenção da empresa do devedor
Depois, a assembleia para apreciação do relatório, decide pelo encerramento ou
manutenção da atividade da empresa.
Contudo, a titulo excecional o AJ pode encerrar estabelecimentos antes da
Assembleia desde que se justifique, ou seja, que se demonstre ser mais
prejudicial manter a atividade da empresa do que encerrá-la ASAP.
A venda da empresa carece sempre da autorização da comissão de credores ou,
na sua falta, da Assembleia de Credores.
A empresa deve ser alienada como um todo, salvo se existir uma proposta
satisfatória ou for vantajoso alienar em partes separadas.
O AI deve praticar todas as diligências necessárias para a alienação assim que
inicie o exercício de funções no processo.
A violação destas obrigações não prejudica a eficácia dos atos , salvo se as
obrigações por ele assumidas excederem manifestamente as obrigações
assumidas pela contraparte.

Alienação de bens objeto de garantia real

164/2 – o credor com garantia real é sempre ouvido pela modalidade, valr base
ou preço da alienação projetada. Permite que no prazo de 1 semana apresenta a
aquisição do bem por si ou terceiro. O credor garantido – não é só o credor com
hipoteca – pode adquirir o bem por valor superior. O AI não está vinculado a
aceitar essa proposta mais alta, mas se não o fizer incorre em responsabilidade
do n.º 4 se a proposta feita pelo credor for acompanhada com o pagamento de
20%.
O regime aponta para a necessidade de ouvir o credor garantido, com garantia
real.

Também deve ser ouvido o devedor insolvente? Não. Não tem de ser ouvido.
Se ouvíssemos o insolvente estaríamos a abandonar o regime do CIRE e
voltaríamos ao regime do CPREVE.

A posição do credor é vinculativa? Não é vinculativa. Se o administrador notificar


para tomar posição, e a partir do momento em que o AI notifica o credor
garantido, pode usar o regime do 3 e 4 164 ou incorre em responsabilidade nos
termos gerais se se provar que violou os seus deveres – se se provar que alienou
por valor inferior que o proposto pelo credor hipotecário.

Se o AJ não vender ao credor garantido, terá que o indemnizar.

O art 165 remete para o regime da adjudicação do processo executivo e 824 e


825 do CPC:

É possível ao AI, atendendo á especificidade do processo de insolvência e que o


CIRE permite que ele escolha a modalidade da venda, atendendo a que o AI tem
poderes distintos do AE muitíssimos mais amplos, é possível que defina uma
modalidade da venda distinta do processo de executivo pode dispensar a
prestação de caução ou não exigir qualquer caução ou aceitar uma caução
diferente da que vem estatuída no CIRE.

Dispensa do deposito do preço – o AI pode não seguir o regime previsto: a


garantia não tem de ser prestada por entidade bancária ou financeira, podendo
ser prestada por outra entidade com solvabilidade; a natureza da garantia não
tem de ser garantia bancária ou hipoteca, pode ser uma fiança com renuncia ao
beneficio da excussão prévia.
Não nos podemos ater ao sentido literal da norma. As garantias a ser prestadas
devem ser prestadas por entidades idóneas com o apoio da comissão de
credores.

aTraso na alienação de um bem – pode haver a destituição e compensação.

O que é que acontece se a regra do 164/2 não for cumprida, ou seja, se o AI


não ouvir o credor garantido?
3 entendimentos:
1. 163 – violação não gera uma situação de invalidade mas sim mera
ineficácia, salvo manifestas discrepâncias – ac STJ Proc.º
1182/14.0T2AVR-H, de 4.4.17 – resta ao lesado intentar ação de
responsabilidade civil contra o administrador da isnolvencia e/ou pedir a
sua destituição com justa causa.
2. Nulidade da venda por aplicação do 195 CPC – Ac TRC Proc.º
108/17.3T8LRA-N.C1 de 13.11.19 – a inobservância pelo administrador da
insolvencia , pelo que lhe é prescrito pelo n.º 2 do 164, produz a nulidade
da venda, por aplicção subsidiária do n.º1, do at.º 195 do CPC.
3. Inconstitucionalidade da norma – TC 616/2018de 21.11.18, julgou
inconstitucional por violação do art.º 20/4 CRP, conjugado com o 18/2, a
norma contida nos artigos 163 e 164/2 e 3 do CIRE, na interpretação
segundo a qual o credor com garantia real sobre o bem a alienar não tem
a faculdade de arguir, perante o juiz do processo, a nulidade da alienação
efetuada pelo administrador com violação dos deveres de informação do
valor de base fixado ou do preço da alienação projetada a entidade
determinada.

Produto da venda e pagamento aos credores


Os únicos que não dependem de setença de verificação e graduação são o
pagamento das dividas da massa.
Se houver plano, basta a sentença de homologação do plano para poder haver
pagamentos.

Primeiro, pagamento das dividas da massa – 172 – custas, remuneração e


despesas do AI
Segundo, pagamento aos credores garantidos – 174
Terceiro, pagamento aos credores priveligiados – 175
Quarto, pagamento aos credores comuns – 176
Por fim, pagamento aos credores subordinados – 177

Rateio final – 182

Rateio ah-hoc – lei 75/2020 – art.º 16

Em todos os processos de insolvência pendentes à data da entrada em vigor da


lei 75/2020, é obrigatória a realização de rateiros parciais das quantias
depositadas à ordem da massa insolvente, desde que, cumulativamente:
a) Tenha transitado em julgado a sentença declaratória da insolvência e o
processo tenha prosseguido para liquidação do ativo na forma prevista no
art.º 156º e ss do CIRE;
b) Esteja esgotado o prazo de impugnação da lista de credores prevista no
art.º 130CIRE sem que nenhuma impugnação tenha sido deduzida, ou
tendo-o sido, se a impugnação em causa já tiver sido decidida, seja nos
termos do n.º 3 do 131 do CIRE, seja por decisão judicial aplicando-se o
n.º1 do 180, caso a decisão não seja definitiva;
c) As quantias depositadas à ordem da massa insolvente sejam iguais ou
superiores a € 10.000 e a respetiva titularidade não seja controvertida.

Casos especiais

Devedores solidários
Art.º 179º - cautelas para que o credor solidário não receba mais do aquilo a
que tem a direito
Condição suspensiva
Créditos atendidos pelo valor nominal nos rateios parciais, devendo continuar
depositadas as quantias que por este lhes estejam atribuídas, na pendencia da
condição – art 181
Condição resolutiva
Regime de um crédito incondicional até ao momento da verificação da condição;
uma vez preenchida a condição os efeitos retroagem – art.º 276 CC

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