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Exoneração do passivo restante

A exoneração do passivo restante é um perdão de dividas. O art.º 235º do CIRE


diz que a exoneração do passivo restante correspondem a exoneração dos
créditos osbre a insolvência que não fiquem integralmente pagos na insolvência
ou nos 5 anos posteriores ao seu encerramento.
Há a ideia de um fresh start em que há uma libertação do devedor das dividas na
sequência de um processo de insolvência, ou seja, as divias que não forem
pagos são perdoados.
É na verdade uma causa de extinção das obrigações a que se juntam as
tipificadas no código civil e, muito importante, é a quem é que é aplicável: às
pessoas singulares, sejam elas ou não, empresários. Não é um instituto privativo
do consumidor e nesse sentido há já acórdãos que o dizem – TRP 29.06.2010 –
Proc.º 9085/09.3TBVNG-C.P1; TRP 28.05.2013 – Proc.º 1282/12.0TYVNG-A.P1.
– art.º 5º do CIRE.
Apenas o devedor tem legitimidade para requerer a exoneração, é uma
faculdade, não lhe é imposta, apenas ele pode requerer e submeter-se às
condições.
Pode fazê-lo na própria PI – art.º 23º, n.º 2 – declarar se pretende ou não a
exoneração. Se a PI não tiver esta referencia deve ser aperfeiçoada de maneira a
faze-la incluir. Também pode faze-lo no prazo de 10 dias a contar da citação,
pode também faze-lo na sua oposição a titulo subsidiário – não há
incongruência na defesa – ou pode faze-lo no mesmo prazo por requerimento
próprio para o efeito.
Há ainda uma outra circunstancia no âmbito do PEAP, no prazo de 5 dias após
do Tribunal para o efeito quando o PEAP se frustra e o processo segue para
insolvência.
Pode ainda apresentar o requerimento até à realização da assembleia para
apreciação do relatório – 155 – ou no caso de dispensa desta, até aos 60 dias
subsequentes à sentença que tenha declarado a insolvência.
Enquanto que nos 3 primeiros pontos é uma faculdade que tem um prazo para
ser efetuada e que o tribunal tem que aceitá-la no sentido de ter de considerar
ter sido tempestivamente exercida, neste ultimo caso o pedido pode não ser
aceite pelo juiz, pode ser recusado livremente por parte do juiz e do tribunal.
Não há uma certeza que possa vir a ser aceite.
Um aspeto importante é como é que este pedido é feito. O requerimento deve
constar expressamente que o devedor preenche os requisitos do art.º 237 e 238,
n.º 1 do CIRE e se dispõe a cumprir as exigências previstas no art.º 239º, n.º 4
do CIRE.
A exoneração do passivo restante cateteriza-se por um perdão de dividas, tem
associado o cumprimento de um conjunto de obrigações. Não é livre, sob pena
de no final não haver exoneração, não haver perdão de dividas.
Esta declaração pode contar do articulado ou pode ser autónoma. O articulado é
subscrito pelo advogado a declaração autónoma deve ser subscrita pelo
devedor. Do ponto de vista pratico, deve ser sempre o devedor a subscrever esta
declaração devido à sua natureza e importância das suas condições a que está
vinculado impõe a assinatura pelo devedor.
Só é permitida a coligação de devedores singulares quando são casados sob o
regime de comunhão geral ou comunhão de adquiridos.
Apesar da lei não referir expressamente, deve ser junto também o CRC atualizado
do devedor para que ateste que ele não tem condenação por crimes que
conduzem ao indeferimento liminar deste instituto.
O CRC não deve ser junto logo com a petição inicial porque tem um prazo de
validade muito curto e quando chegar a altura de ser apreciado pode já ter
caducado. Na opinião do Juiz deverá ser junto após a junção do relatório que
alude o art.º 155 do CIRE. É mais cauteloso e mantem a sua atualidade e fará
mais sentido.
Também deve ser feito logo no requerimento do pedido as necessidades do
devedor e dos seu agregado familiar e juntar respetiva prova. Isto é importante
porque a exoneração do passivo restante após um despacho liminar, a verdade é
que dá origem a um período de cessão em que o devedor fica obrigado a ceder
rendimento disponível, u seja, superior ao necessário para sobrevivência digna.
Por isso é importante que sejam logo alegadas as suas necessidades e do seu
agregado familiar: receitas, despesas, encargos financeiros... declarar a que
atividade se dedica, a composição do agregado familiar, rendimentos, despesas
mensais (recibos de vencimento ou declaração do centro de emprego, cópia das
despesas mensais: renda, água, eletricidade, gás, comunicações, etc).
Quanto às custas. O devedor que apresente o pedido de exoneração do passivo
restante beneficia do deferimento do pagamento das custas – art.º 248º, n.º1 do
CIRE – e este deferimento fica até à decisão final. Isto importa logo um aspeto,
este beneficio dispensa o insolvente, logo no momento da apresentação, de
juntar comprovativo de pagamento da taxa de justiça. Este deferimento abarca a
taxa de justiça devida – STJ 15.11.2002 proc.º 1617/11.3TBFLG.G1.S1; TRL
30.01.2014 Proc.º 3458/13.4TBSXL.L1-8.
Se a final a exoneração for concedida, é aplicado o art.º 33º do RCP – art.º 248º,
n.º 2 CIRE. Se for revogada, a autorização do pagamento em prestações caduca.
É isto que diz o art.º 248, 3 do CIRE.
Outros dos aspetos relevantes tem a ver com o AJ. O beneficio do deferimento
afasta a concessão de qualquer outra forma de apoio ao devedor, salvo quanto
ao pagamento de honorários do patrono. Na verdade o n.º 4 diz que o beneficio
impede que o devedor beneficie da dispensa de taxa de justiça e de outros
encargos até decisão final do pedido. Este aspeto tem dado origem a muita
jurisprudência. Ac. TRP 24.09.2018 Proc.º 944/12.7TBAMT.P1, mas a maioria
entende que o apoio judiciário concedido ao abrigo do art.º 248º prevalece
sobre o regime geral previsto na lei 34/2004, não só por se tratar de norma
especial , mas também porque essa prevalência é imposta pelo n.º 4. Não é um
apoio judiciário, é um beneficio.
A questão é saber se a norma do art.º 248, n.º 4 é ou não uma norma especial.
O acórdão da relação do Porto de Setembro diz que é, mas o de abril diz que
não é – TRP 11.04..2019 Proc.º 3933/12.8TBPRD.P1.
O ART.º 248º, N.º 4 não faz caducar o apoio judiciário que já tenha sido atribuído
antes do inicio do período – TRE 19.11.2019 Proc.º 582/13.7TBABF.E1.
O TRP 06.02.2018 Proc.º 749/16.6T8OAZ.P2 diz que mesmo com a revogação
da exoneração é possível recorrer ao apoio judiciário, caso contrário, estaríamos
numa situação de impedimento de acesso à tutela efetiva do direito –
inconstitucionalidade.

TRP 25.09.2018 Proc.º 2075/12.0TBFLG.P1 diz que só se exclui o AJ durante


período de cessão não havendo impedimento a que possa beneficiar do regime
geral depois da decisão.

TRP 13.06.2018 Proc.º 1525/12.TBPRD.P1 reitera aquele entendimento de que o


AJ não pode ser prejudicado depois da decisão final sob pena de haver um
atropelo grave ao principio da igualdade de acesso aos tribunais – ac. TC
489/2020.

No caso de deferimento, afinal a pessoa deve pagar as custas em prestações –


art.º 33. Neste caso, esta senhora recebeu uma conta de custas de 1640€,
reclamou desta conta de custas e o tribunal, num despacho, que ela não teria
que pagar esta conta recusando a aplicação do art.º 248, nº 4 por
inconstitucionalidade por violação do art.º 20, n.º1 e 3 n.º 2 da CRP. Houve
recurso obrigatório para o TC e o TC julgou inconstitucional do art. º 248, n.º 4
na parte que impede o acesso ao AJ para da isenção da taxa de justiça e demais
encargos com o processo.
Ao não se permitir o recurso ao AJ a esta devedora, estamos a coloca-la numa
situação de incapacidade de pagamento das suas dividas o que a levou a
apresentar-se à insolvência, pedindo um fresh start. Temos depois o principio da
igualdade, porque no caso dos devedores que não requereram a exoneração,
não são chamados a suportar qualquer montante a titulo de custas ou encargos.
Ou seja, seriam penalizados as pessoas que pediam a exoneração.

Quanto ao contraditório. Há um prazo de 10 dias subsequente ao decurso do


prazo de 60 dias, no caso de dispensa da Assembleia, para os credores e o Aj
se pronunciarem acerca do pedido ou, caso haja assembleia para apreciação do
relatório do 155, é nessa instancia que o fazem – art.º 236º, nº 1 CIRE. É um
aspeto importante porque obviamente se não for exercido o contraditório em
prazo, temos depois uma preclusão de o fazer. É relevante que os advogados
que representam credores e não deixar passar os prazos.
O despacho de indeferimento liminar é nomenclatura da lei. É proferida após a
audição dos credores e do AJ (após o prazo para o efeito, se não houver
pronuncias o despacho é proferido). O despacho só não carece aguardar o
prazo se o pedido tiver sido apresentado fora do prazo de apresentação do
pedido de exoneração ou se já constar dos autos documento autentico
comprovativo dos seguintes factos:
a) Razões de ordem formal ou processual – apresenta extemporânea e não
junção da declaração – art 236, n.º 3 CIRE
b) Razões de ordem material ou substantiva:
a. Fornecimento de informação falsa ou incompleta sobre as suas
circunstancias económica com vista à obtenção d credito ou
usbsidios
b. Já tenha befeiciados da exoneração nos 10 anos anteriores, á data
de inciio do processo
c. Se o devedor tiver incumprido o dever de apresentação à
insolvência ou, não estando obrigado, se tenha abstido de
apresentar nos 6 meses seguintes à verificação a situação de
insolvência em prejuízo dos credores, se tinha conhecimento da
situação não podendo ignorar sem culpa grave, de que não havia
perspetiva séria da melhoria da sua situação económica. – art.º
238, n.º 1 d) CIRE.

Este fundamento é o que tem o maior numero de acórdãos publicados e levanta


o maior numero de questões, principalmente, saber o que é que são estes
prejuízos graves. Tem se entendido que os prejuízos graves são muito
associados como uma consequência, tem de haver um nexo de causalidade
entre não apresentação atempada e o prejuízo para os credores. Portanto este é
um elemento essencial e fundamental para fazer aplicar esta alínea que,
invariavelmente, é relativamente difícil fazer provar este nexo de causalidade.
Depois já bastante documentado pela jurisprudência não há um verdadeiro
prejuízo pelo não pagamento porque como há um vencimento de juros este
vencimento não se considera um prejuízo.
A alínea e) refere o conhecimento de elementos que evidenciem com toda a
probabilidade a existência de culpa por parte do devedor na criação ou
agravamento da situação de insolvência. Este é um aspeto importante. Não se
trata apenas de um comportamento menos avisado, mas existe uma conduta que
não é necessariamente dolosa, mas de negligência grosseira.
O devedor ter sido condenado por sentença transitada em julgado por alguns
dos crimes previstos nos art.ºs 227 a 229 do CP.
O devedor que com dolo ou culpa grave tiver violado o dever de informação,
apresentação e colaboração que para ele resultariam do código da insolvência,
no decurso do processo de insolvência – 238º, nº 1 g) CIRE; TRG de 2020 – não
fornece a korada coretar para notificação, não esclarece ao tribunal tal facto e
não fornece ao AJ elemtnso verdadeiros da sua situação pessoal e profissional.

Quem tem o onus da prova sobre as situações de indeferimento liminar são os


credores e o AJ art.º 342, n.º 1 e 2 CC – Acordão TRC 08.11.2011 Proc.º
3250/10.8TBVIS-A.C1; TRE 06.10.2016 Proc.º 284/14.7T8OLH-B.E1.
A jurisprudência é toda ela consentânea.

O devedor apenas tem o ónus da prova quanto à sua situação económica para
determinação do valor da cessão.

O despacho inicial determina a abertura no prazo de 5 anos após o período de


cessão, dentro do qual o devedor é posto à prova.
Este perdão de divida – artigo que fala sobre a origem da exoneração
associando-a a leis muito antigas sobre o perdão de dividas, é um caminho que
tem de ser feito até à obtenção do perdão – obriga o devedor a um caminho em
que tem proceder à cessão de rendimento disponível, ou seja, valor que seja
acima do que tenha sido determinado o suficiente para uma vida condigna e
ainda um conjunto de i+obrigações instrumentais à cesão do rendimento
disponível.
Se para obter a exoneração há um conunto de obrigações que passa pela
cessão e outras instrumentais, se no momento do despacho inicial não há
possibilidades algumas de vir a ceder rendimentos, é uma causa atípica de
indeferimento liminar? Não. Os tribunais tem entendido que não TRP 24.09.2013.

A contagem do período de cessão, inicia-se com o encerramento do processo


de insolvência. Com a revisão do código em 2017, se o processo ainda não tiver
sido encerrado, a cessão inicia-se com a prolação do despacho inicial de
exoneração do passivo restante – 230, n.º1 e). É um encerramento que leva à
seguinte circunstancia: o processo efetivamente não encerra porque ainda tem
de prosseguir a liquidação e ai o AJ acumula 2 funções: a de AJ para liquidação
dos bens e pagamento aos credores e a de fiduciário para efeitos apenas de
exoneração do passivo restante. Digamos que é uma espécie de ficção
legislativa, ficção legal que o legislador faz com este encerramento que tem
como único propósito fazer iniciar o período de cessão.
Caso o despacho inicial tiver sido proferido antes de 01.07.2017 e ainda não
tivesse sido encerrado o processo, é a partir desta data que começa a contar o
período de cessão de 5 anos.

Rendimento indisponível

Integram o rendimento disponível todos os rendimentos que advenham a


qualquer titulo ao devedor, com exclusão:
a) Dos créditos a que se refere o art.º 115 – créditos futuros – cedidos a
terceiros pelo período em que a cessão se mantenha eficaz;
b) Do que seja razoavelmente necessário para:
a. O sustento minimamente digno do devedor e dos seu agregado
familiar, não devendo exceder, salvo decisão fundamentada do juiz
em contrário, três vezes o salário mínimo nacional – 1995 €
b. para o exercício da sua atividade profissional
c. outra despesas ressalvadas pelo juiz no despacho inicial ou em
momento posterior, a requerimento do devedor – TRP 18.12.2018
que diz que fixado o valor do rendimento a respetiva decisão forma
caso julgado pelo que não é possível voltar a conhecer dessa
questão. Se houver circunstancias supervenientes, como esta
situação que estamos a viver em que temos de ser todos
solidários, pode levar as pessoas a pedir a alteração do valor. O
devedor pode pedir a alteração superveniente do valor ao abrigo do
art.º 619, n.º 2 e 988º do CPC e 239, n.º 3 do CIRE.

A exoneração do passivo restante é um perdão de dividas que exige um sacrifico


do devedor em ajustar e adequar, ainda que com esforço, as suas despesas em
consonância com o salário mínimo nacional.
Não pode pretender continuar a usufruir das mesmas condições que mantinha
antes de se encontrar em situação de insolvência , tendo que ter presente os
interesses dos credores bem como os sacrifícios que deste seu estado advirão
para satisfazer as suas obrigações, sendo que o legislador concedeu um período
limitado para esses sacrifícios – 5 anos após o encerramento. TRG 17.09.2020
Proc.º 1167/20.7T8VNF-C.G1; TRL 19.02.2019 Proc.º 50/13.7TBFUN-F.L1.7

A questão do agregado, se os cônjuges insolventes vivem em economia comum,


o montante objeto da cessão é determinado em função das situações
socioeconómicas e financeiras de tal agregado e, como tal, a quantia a ceder
pelos insolventes deve ser reportada a tal agregado e não a titulo individual. –
TRC 04.02.2020 Proc.º 1350/19.8T8LRA-D.C1.
Deverá considerar-se para efeitos de rendimento as despesas de filhos menores
TRL 11.10.2016 Proc.º 1855/14.7TCLRS-7.
As despesas de filhos maiores que se mantenham a estudar também deverão ser
consideradas.
Não é adequado impor que o valor suplementar, atribuído por existirem filhos
menores, e excluído da cessão, termine com a respetiva maioridade e com a
prossecução com sucesso, por estes, dos estudos. TRC 14.01.2020 Proc.º
2037/19.7T8VIS.C1
A pensão de alimentos paga pelo progenitor que não faça parte do agregado, é
relevante para determinação do rendimento e do valor da cessão.

Escala da OCDE, escala de Oxford – por 1 adulto deve fixar-se 1 SMN e por um
menor ½ SMN e por um maior dependente 70% do SMN.

A favor da escala TRL 11.10.2016.


Contra a escala TRG 17.05.2018 que refere que esta escala não tem aplicação
porque o legislador não se refere a ela. Apenas se deve considerar o principio da
dignidade da pessoa humana e o sustento digno.

Controvérsia – Sub Natal e Férias

É consensual que os subsídios são rendimento que deve ser considerado para
entrega ao fiduciário por parte do devedor. Não é um rendimento que está
dispensado de entrar na obrigação de cessão. A questão que se discute é
comum, o fiduciário tem de fazer contas ao final do ano. Se trabalhou só
metade, mesmo com os subsídios não atinge o valor anual de cessão. Os
subsídios não estão dispensados contudo devem ser computado dentro do
período.
Ajudas de custo – não contam para o rendimento a ceder. Estão excluídas
porque visam compensar pela realização de uma despesas – TRC 13.07. 2020.

Compensação pela cessação do vinculo laboral.


A favor – TRP 19.12.2020 – os montantes da compensação não devem ser
cedidas ao fiduciário devido à sua natureza especial.
Contra – TRE 23.04.2020 – os montantes da compensação devem ser cedidas.
Se estes montantes forem excluídos o rendimento indisponível seria
completamente inútil.

O reembolso de IRS também deve ser cedido – TRP 16.12.2020

Obrigações

O devedor fica obrigado a não ocultar ou dissimular rendimentos;


A exercer uma profissão remunerada – TRG 05.12.2020 – não se compadece
com mera inscrição no centro de emprego que lhe sejam apresentadas
propostas, antes sim uma atitude positiva e proactiva do devedor na procura de
emprego
Deverá entregar os montantes objeto de cessão
Deverá informar o fiduciário e o tribunal da mudança de domicilio
Não deverá pagar qualquer valor aos credores da insolvência
Não criar vantagem patrimonial para esses credores

Não são permitidas quaisquer execuções sobre os bens do devedor destinados à


satisfação dos créditos sobre a insolvência durante o período de cessão – art.º
242, n.º 1 CIRE
É nula a concessão de vantagens especiais a um credor do devedor.

A proibição das execuções está apenas limitada aos créditos existentes à data
da entrada da insolvência, as dividas da massa não estão incluídas nem novos
créditos – TRP 23.09.2019 e TRP 25.01.2016.

A assembleia pode incumbir o fiduciário da tarefa de fiscalizar o cumprimento


das obrigações que impendem sobre o devedor durante o período de cessão.
Com a reforma de 2017, deixou de ser obrigatória a Assembleia e neste caso o
pedido deve ser feito concomitantemente com o exercício do contraditório
quanto à exoneração do passivo restante. Ou seja, o senhor advogado do credor
pronuncia-se quando à exoneração ou não e subsidiariamente diz “caso lhe seja
fixado queremos que o fiduciário fiscalize” e o tribunal, na falta de norma e
dispensou a realização da assembleia, tem de aceitar.
O fiduciário pode não ficar a fiscalizar o devedor.
Durante o período de cessão o fiduciário notifica a cessão de rendimentos do
devedor àqueles de quem ele tenha direito a havê-los, e afeta os montantes
recebidos, no final de cada ano em que dure a cessão:
a) ao pagamento das custas do processo de insolvência ainda em divida;
b) ao reembolso ao IGFEJ das remunerações e despesas do administrador
da insolvência e do próprio fiduciário que por aquele tenham sido
suportadas;
c) ao pagamento da sua própria remuneração já vencida e despesas
efetuadas;
d) à distribuição do remanescente pelos credores da insolvência , nos
termos prescritos para pagamento aos credores no processo de
insolvência.
Há o despacho inicial, inicia-se o período de cessão que são 5 anos. Pode a
exoneração ser interrompida a meio dos 5 anos?
Pode.
A cessão antecipada da exoneração ocorre:
a) logo que se verifique a satisfação dos créditos da insolvência – art.º 243,
n.º 4, e sempre que se verifique supervenientemente que o devedor não
se mostre digno de obter a exoneração. Neste ultimo caso, a
requerimento fundamentado de algum credor da insolvência, do
administrador da insolvência se ainda se encontrar em funções, ou do
fiduciário, caso este tenha sido incumbido de fiscalizar o cumprimento
das obrigações do devedor, nos casos tipificados no art.º 243, n.º 4 do
CIRE. O juiz oficiosamente não pode determinar a cessação antecipado
da exoneração. Apenas quando:
a. devedor tiver dolosamente ou com grave negligência incumprido
algumas das obrigações que lhe incumbem em relação à cessação
do rendimento disponível, prejudicando por esse facto a satisfação
dos créditos sobre a insolvência. Nestas situações não se exige
que o prejuízo seja relevante – TRP 30.04.2020 – falta de entrega
imediata, adotando uma conduta que acarrete a insatisfação dos
créditos, determina a cessação antecipada da cessão.
b. Se se vier a apurar supervenientemente um dos fundamentos de
indeferimento liminar.
c. Quando a decisão do incidente de qualificação da insolvência tiver
Concluído pela culpa do devedor na criação ou agravamento da
situação de insolvência.
O requerimento apenas pode ser apresentado dentro do ano seguinte à data em
que o requerente teve ou poderia ter tido conhecimento dos fundamentos
invocados, devendo ser logo oferecida prova, sob pena de preclusão do pedido.

Quando o requerimento se baseie nas alienas a) e b) do art.º 238, o juiz deve


ouvir o devedor, o fiduciário e os credores da insolvência antes de decidir a
questão; a exoneração é sempre recusada se o devedor, sem motivo razoável,
não fornecer no prazo que lhe seja fixado informações que comprovem o
cumprimento das suas obrigações, ou, devidamente convocado, faltar
injustificadamente à audiência em que deveria prestá-las.

Atenção para as situações em que por razões varias há um desinteresse do


processo. Estando com mandato no processo, a não pronuncia, pode levar à
cessação antecipada da exoneração.

Em termos de ónus da prova, recai sobre o fiduciário ou requerente o ónus da


prova. TRP 14.07.2020 Proc.º 797/12.5TBGMDM.P1

O juiz oficiosamente ou a requerimento do devedor ou do fiduciário, declara


também encerrado o incidente logo que se mostrem integralmente satisfeitos
todos os créditos sobre a insolvência.
Mas não pode fazê-lo oficiosamente por incumprimentos das obrigações do
devedor.

Inutilidade superveniente da lide

A exoneração do passivo restante é um perdão de dividas, mas não abrange


todas as dividas. Primeiro, sobre abrange os créditos sobre a insolvência e não
abrange as dividas da massa, nem créditos novos. Por outro lado, essa exclusão
desses créditos que estão tipificados – alimentos, tributários – leva a uma
questão: se o devedor tiver só dividas fiscais? Já sabemos que no final dos 5
anos a exoneração não vai abranger aqueles créditos. Faz sentido que o
processo prossiga se depois não vai haver perdão? Não há inutilidade – TRL
20.02.2020 e TRP 14.06.2011 – como a exoneração abrange créditos que
possam não ter sido reclamados no processo não determina que deva cessar ou
ser indeferido liminarmente.
Um devedor quando se apresenta à insolvência tem interesse em declarar todas
as dividas para depois ficar exonerado. Se só temos créditos que não entram na
exoneração, parece que não faz sentido. Mas fica exonerado de créditos não
declarados pelo devedor.

Despacho final

Não tendo havido a cessação antecipada, o juiz decide em 10 dias subsequentes


ao termo do período de cessão sobre a concessão ou não da exoneração do
passivo restante do devedor, ouvido este, o fiduciário e os credores da
insolvência.
A exoneração é recusada pelos mesmos fundamentos e com subordinação aos
mesmos requisitos por que o poderia ter sido antecipadamente.
Impendem sobre o fiduciário e os credores da insolvência, aquando da
notificação acerca da concessão ou não da exoneração, no silêncio destes o
tribunal pode reunir elementos de prova e que se encontrem preenchidos os
legais para a recusa – TRG 05.11.2020.
O tribunal no momento da concessão não está limitado e se tiver elementos para
deferir ou indeferir pode fazê-lo. Só não pode ter iniciativa nos casos de
cessação antecipada.
Não existe funamento legal para se recusar a exoneração a devedor que decidiu
emigar para Moçambique sem avisar o tribunal e sem ter informado o fiduciário
da sua nova morada, quando se verifica que antes da prolação do despacho
liminar de deferimento de exoneração, o tribunal já tinha conhecimento de que o
insolvente emigrara sem autorização do Tribunal e ainda assim proferiu o
despacho liminar de exoneração – TRG 05.03.2020 Proc.º 3278/13.6TBGMR.G1
E continua, a recusa de exoneração do passivo restante com fundamento na
violação pelo insolvente, durante o período de cessão, de qualquer obrigação a
que esteja vinculado, exige, cumulativamente, uma conduta dolosa ou
gravemente negligente desse devedor, um prejuizo para satisfação dos credores
da insolvência e bem assim um nexo causal entre aquela conduta e esse dano.

Verificam-se os referidos requisitos se o insolvente, durante o período de


cessão, não entregou, sem justificação, a totalidade do seu rendimento
disponível ao fiduciário, repercutindo-se esse inadimplemento diretamente nos
valores a entregar aos credores e, conseuqnetemente, na medida do seu
ressarcimento, nisso se traduzindo o prejuizo por estes sofrido. TRP 14.07.2020
Proc.º 6127/10.3TBVFR.P2

A exoneração não abrange:


Os créditos sobre a massa
Os créditos sobre alimentos
Indemnizações por factos ilícitos dolosos praticados pelo devedor, que hajam
sido reclamados nessa qualidade
Os créditos por multas, coimas e outras sanções pecuniárias por crimes ou
contra-ordenações
Os créditos tributários e da segurança social
Conselheira Catarina Serra – se olharmos para estes créditos, os que não são
abrangidos pela exoneração são os que têm origem legal. O credor ao realizar
determinado negócio jurídico assume o risco da insolvencia do devedor, se o
risco se concretiza deve participar nos sacrifícios que a situação impõe; quanto
aos outros dizem respeito a credores que não negociaram nada, são-no por
imposição legal e não podem assumir um risco que lhes foi imposto, são
credores involuntários.
A senhora conselheira, em relação à alínea c), deve abranger apenas as relações
de origem extracontratual.
As indemnizações pagas pelo fundo de garantia automóvel estão abrangidas por
esta alínea, não se extinguem.
As coimas relativas a taxas de portagem são créditos tributários STA 14.10.2020
e por isso não estão abrangidas.

Revogação da exoneração

Após o despacho que concedeu a exoneração ela pode ser revogada se se


provar que o devedor violou as obrigações ou 238, n.º 1 b). apenas pode ser
decretada até ao termo do ano subsequente ao ano em que foi decretada. O juiz
deve ouvir o devedor e o fiduciário e a revogação implica a reconstituição de
todos os créditos extintos.

Mas a conselheira entende que deve ter por base os fundamentos da cessão
antecipada e não os fundamentos do indeferimento liminar. Portanto diz aplicar o
art.º 243.

TRP 08.02.2018 – Proc.º 499/13.5TJPRT

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