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03/08/2023, 21:42 Perigosa proposta de regime transitório da lei de recuperação ...

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NO AR: Migalhas nº 5.657

MIGALHAS DE PESO
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Perigosa proposta de regime transitório da lei


de recuperação judicial e falências (PL
6.229/05)
Gabriel de Orleans e Bragança e Luis Fernando Hiar

A proposta, ainda que com o louvável objetivo de evitar a deterioração da situação


financeiro econômica dos agentes de mercado, parece-nos perigosa, gera extrema
insegurança jurídica e apresenta uma série de lacunas, ao conceder prerrogativas a
devedores, em detrimento de credores.
segunda-feira, 30 de março de 2020
Atualizado às 08:30

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Atualmente tramita perante a Câmara dos Deputados Federais o PL 6.229/05 ("PL


Substitutivo"), de alteração da lei 11.101/05. Diante da pandemia global do covid-19
deflagrada recentemente, das políticas de distanciamento social e das consequências
econômicas respectivas, há uma nova sugestão de alteração do PL Substitutivo, de
regime transitório (arts. 188-A a 188-L). As propostas compreendem, em resumo, a
criação de um sistema de prevenção à crise da empresa (arts. 188-A a 188-E) e a
suspensão ou alteração de determinados dispositivos da lei 11.101/05 (arts. 188-F a
188-K), cuja aplicação se dará pelo prazo de 360 dias após a publicação do PL
Substitutivo ou pelo período em que for oficialmente reconhecido pelo Governo
Federal como vigentes as medidas emergenciais para enfrentamento das
consequências da pandemia para os devedores.
Nos termos do sistema de prevenção à crise da empresa, caso o faturamento de
determinado agente econômico seja reduzido em mais de 30%, comparado com a
média do último trimestre correspondente de atividade no exercício anterior, o agente
poderá fazer Pedido de Negociação Coletiva ao Poder Judiciário, mesmo caso não
cumpra ele o requisito de exercer suas atividades há mais de 2 anos ou de não ter
obtido recuperação há menos de 5 anos, como exigido pela lei 11.101/05 para que um
devedor possa pedir recuperação judicial.
Feito o pedido, a requerente será beneficiada por um prazo de 90 (noventa) dias de
suspensão de todas as execuções contra si ajuizadas por seus respectivos credores.
Esse período tem por finalidade assegurar um fôlego para que o devedor, muito
prejudicado pela crise pandêmica, possa renegociar suas obrigações junto a seus
credores, que tampouco poderão pleitear a decretação da falência durante a janela de
90 dias.
O procedimento de Negociação Coletiva poderá ser requerido uma única vez e deverá
ser encerrado após o decurso do prazo de 90 dias, independentemente do desfecho
das negociações. No curso deste procedimento, as cláusulas resolutivas expressas em
caso de inadimplência da requerente não poderão ser invocadas por credores da
requerente.
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Se requerida recuperação judicial ou extrajudicial após o encerramento da Negociação


Coletiva, o período de suspensão já usufruído pelo devedor será descontado do
período de suspensão estabelecido pela lei 11.101/05 para a recuperação judicial ou
extrajudicial.
Além disso, durante o regime transitório (360 dias), entre outras medidas, não serão
aplicáveis as disposições dos arts. 49, §§ 1º, 3º e 4º, 73, IV e 199, §§ 1º e 3º, da lei nº
11.101/05.
Como consequência do mencionado acima: (i) os credores ficarão impedidos de cobrar
dívidas contra coobrigados da requerente (i.e. devedores solidários, avalistas ou
fiadores), tampouco reclamar seu direito de propriedade, sejam de proprietários de
imóveis, credores de leasing ou de alienação fiduciária, além de proibir a execução de
créditos decorrentes de Adiantamento de Contrato de Câmbio - ACC (cf. art. 86, II, da
lei 11.101/05); (ii) o descumprimento do Plano de Recuperação Judicial já homologado
não implicará a convolação da Recuperação Judicial em Falência; e (iii) os direitos e
prerrogativas inerentes aos contratos de arrendamento mercantil de aeronaves não
poderão ser exercidos pelos arrendadores contra companhias aéreas em recuperação
judicial ou falidas.
Chamam atenção, ainda, as seguintes alterações que serão estabelecidas caso o
regime transitório seja aprovado nos termos propostos:
Serão suspensas, por 90 dias, todas as obrigações estabelecidas em planos de
recuperação judicial ou extrajudicial já homologados;
Dentro do prazo de 90 dias acima mencionado, as empresas em recuperação
poderão apresentar aditivo ao plano já homologado, inclusive para sujeitar
créditos constituídos após o pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, que
deverá ser aprovado em assembleia de credores;
Serão liberados, em favor das recuperandas, 50% dos direitos creditórios de sua
titularidade originária, independentemente da data de sua constituição e da
existência de garantias de qualquer natureza, com a reconstituição da garantia
entre o 6º e o 36º meses após o pedido de liberação; e
Os planos de recuperação extrajudicial poderão ser homologados pelo judiciário
se aprovados por maioria simples, e não mais por 3/5 dos créditos sujeitos a
seus efeitos.
A falência de um devedor só poderá ser decretada se vencido e inadimplido
crédito no valor mínimo de R$ 100.000,00, e não mais apenas 40 salários
mínimos, conforme estabelecido no art. 94, I, da lei 11.101/05.
As recuperações de microempresas e empresas e pequeno porte sujeitarão
todos os créditos existentes na data do pedido, independentemente da garantia
ou natureza do crédito, que serão pagos em até 60 parcelas mensais, corrigidos
pela Selic, com o primeiro pagamento, no máximo, um ano após ser formulado o
pedido de recuperação.
A proposta, ainda que com o louvável objetivo de evitar a deterioração da situação
financeiro econômica dos agentes de mercado, parece-nos perigosa, gera extrema
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insegurança jurídica e apresenta uma série de lacunas, ao conceder prerrogativas a


devedores, em detrimento de credores que também enfrentam dificuldades
decorrentes da pandemia global, sem a necessária demonstração da
imprescindibilidade das medidas no caso concreto e a relação direta entre a pandemia
e a deterioração da situação financeiro-econômica nos procedimentos já em curso.
Isto é, a proposta não separa o joio do trigo, de maneira que qualquer empresa,
independentemente do estado de crise, poderá se valer de tal moratória.
Veja-se que não há previsão de qualquer sanção para aquele devedor que fizer o
pedido de Negociação Coletiva sem qualquer necessidade. Não há dúvida de que, não
apenas se abrirá uma porta para oportunistas em detrimento de seus credores. Pior: o
volume de requerimentos por certo que prejudicará os trabalhos do Poder Judiciário,
cuja máquina, como de notoriedade, já se encontra por demais assoberbada.
Aliás, a própria recomendação de queda do faturamento em 30% em si não justifica um
real cenário de crise, pois não se sabe se o devedor pode, para compensar essa perda,
cortar proporcionalmente suas despesas durante o período de pandemia.
Tampouco parece haver racional financeiro econômico na proibição de que o credor
busque o seu crédito contra os coobrigados da empresa. Por vezes, são esses
coobrigados pessoas físicas titulares de patrimônio pessoal que, se utilizado para
pagamento das dívidas da empresa, viabilizará, de um lado, a recuperação do crédito
e, de outro, a manutenção da atividade produtiva. Até porque, caso o pagamento seja
realizado por algum de seus coobrigados, a empresa devedora automaticamente
receberá a quitação daquele credor.
Defendemos que a intervenção do Estado nas relações contratuais, sobretudo nas de
direito privado, deve ser realizada com muita parcimônia. Do contrário, e dessa
maneira enxergamos a proposta, teme-se por uma reação em cadeia e o aumento
do chamado risco sistêmico, capaz de impactar severamente no aumento das taxas
de juros, câmbio, preços (inflação) e interesse de instituições financeiras na
concessão de crédito.  A mão invisível está no controle dessas relações e, diante de
uma crise estrutural como esta, credores e devedores devem buscar a negociação
como medida mais salutar. O Estado, assim esperamos, deve corresponder e trabalhar
para que haja maiores incentivos fiscais e evitar propostas que possam impactar
negativamente o ambiente de outros agentes econômicos.
A proposta vai na contramão, por exemplo, daquela que se encontra em pauta do
Governo Federal da Alemanha na legislação de insolvência local, que compreende, até
30.9.2020 (prorrogável até 31.3.2021), a suspensão da exigência do pedido de
autofalência de empresas que não se encontravam em estado de insolvência até
31.12.2019, assim como a proibição de que credores peçam a falência de seus
devedores em razão de fatos posteriores a 1.3.2020 (em outras palavras, a proposta
alemã se aplica caso comprovada a relação direta entre a pandemia e a crise
financeiro econômica, o que não é exigido em diversas hipóteses da proposta
brasileira).
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03/08/2023, 21:42 Perigosa proposta de regime transitório da lei de recuperação ...- Migalhas

*Gabriel de Orleans e Bragança é sócio-gestor do escritório  Lobo de Rizzo


Advogados.
*Luis Fernando Hiar é advogado associado do escritório Lobo de Rizzo Advogados.

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