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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus de Poços de Caldas (PUC-MG)

A RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Aluna: Mariana Helena Bachi


RA. 562493
7ºP / Noturno

Poços de Caldas, 09 de Novembro de 2020


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus de Poços de Caldas (PUC-MG)

1. RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

A falência, recuperação judicial e extrajudicial são institutos gerais do direito


das empresas em crise. A generalidade desses institutos é a aplicação mais
ampla do que a dos regimes especiais.

“Com relação a recuperação extrajudicial


em linhas gerais, podemos afirmar que nada
mais é que um acordo celebrado entre o
devedor e seus credores, com o intuito de
negociar dívidas da empresa”,
(NASCIMENTO, 2005, p. 01).

A recuperação extrajudicial é procedimento especial de jurisdição


voluntária, estabelecido em legislação extravagante, eis que se dá a
administração pública de interesses particulares, ante a intervenção do Poder
Judiciário em negócios jurídicos envolvendo direitos privados, destinado a
constituir estado jurídico novo, desde que presentes os requisitos
expressamente estabelecidos na legislação falimentar. (COELHO, 2008).
A Lei nº 11.101/2005 traz duas modalidades de recuperação extrajudicial: a
do art. 162, voluntária, na qual somente os credores que expressamente
aderirem ao plano de recuperação estarão submetidos a ele; e a do art. 163,
que prevê a submissão da minoria no caso adesão por três quintos dos
créditos de “cada espécie” abrangida pelo plano.
Seu objetivo é estabelecer linhas de diálogo entre os credores e o devedor,
em busca de uma nova situação fático-jurídica, que permita a recuperação da
empresa de sua crise.
Quanto a sua legitimidade passiva, Conforme dispõe o art. 161 da Lei
11.101/2005, o devedor que pretender se utilizar da recuperação extrajudicial
deve preencher os seguintes requisitos:
(i) exercer atividade empresarial por mais de dois anos, de
forma regular;
(ii) não ser falido ou, se o foi, estejam declaradas extintas, por
sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí
decorrentes;
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(iii) não ter recuperação judicial em curso, nem ter obtido


recuperação judicial ou homologação de plano de recuperação
judicial há menos de dois anos; e
(iv) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou
sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes
estipulados por lei.

2. MODALIDADES

A doutrina aponta duas modalidades de plano de recuperação judicial: o


plano individualizado e o plano por classe de credores com a distinção de que,
em relação à primeira modalidade, o devedor reduz suas negociações a certos
credores em particular que assinam (todos) o plano, enquanto que na segunda
modalidade há adesão de credores que representem mais de três quintos de
todos os créditos de uma ou mais classes compreendidas no plano, hipótese
que alcançará os credores dissidentes (NEGRÃO,)
Fabio Ulhoa Coelho denomina a primeira modalidade de homologação
Facultativa do plano e a segunda de homologação Obrigatória. Explica que,
quando o plano de recuperação extrajudicial conta com a adesão de todos os
credores alcançados, é facultativa a homologação, situação disciplinada no art.
162 da lei. Já quando o devedor não obtém a adesão integral dos credores,
mas de parte significativa – 60% - a homologação é obrigatória (art. 163) para
fins de impor à minoria dissidente os termos e condições do plano aprovado
pela maioria.
A homologação do plano de recuperação será facultativa no caso de contar
com a assinatura de todos os credores por ele abrangidos (art. 162). Por outro
lado, caso o devedor não tenha conseguido alcançar a adesão de todos, mas
de 3/5 dos titulares dos créditos de cada uma das classes abrangidas pelo
plano, deverá submetê-lo à homologação judicial para que seja suprida a
adesão da minoria dissidente (art. 163).

3. CRÉDITOS SUJEITOS E NÃO SUJEITOS À RECUPERAÇÃO


EXTRAJUDICIAL

Estão sujeitos aos efeitos da recuperação extrajudicial os seguintes créditos:

(i) créditos com garantia real;


(ii) créditos com privilégio especial;
(iii) créditos com privilégio geral;
(iv) créditos quirografários; e
(v) créditos subordinados.
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Os credores titulares dos créditos acima elencados deverão sujeitar-se,


independentemente de suas vontades, ao acordo firmado pelo devedor com
3/5 dos demais credores pertencentes à mesma categoria ou classe. Assim, se
a empresa devedora propuser um plano aos credores com garantia real e esse
plano for aceito por 3/5 dos credores dessa classe, os demais credores com
garantia real dissidentes também se sujeitarão aos termos do plano
homologado judicialmente.

Não estão sujeitos à recuperação extrajudicial os créditos trabalhistas,


assim como aqueles que também não se sujeitam à recuperação judicial.
Nesse sentido, pode-se afirmar que não estão sujeitos à recuperação
extrajudicial os seguintes créditos:

(i) créditos trabalhistas;


(ii) créditos tributários;
(iii) créditos garantidos fiduciariamente (cessão e alienação
fiduciária em garantia);
(iv) créditos decorrentes arrendamento mercantil;
(v) créditos decorrentes de contrato de compra e venda com
reserva de domínio;
(vi) créditos decorrentes de contrato de compra e venda ou de
compromisso de compra e venda de imóveis com cláusula de
irretratabilidade ou irrevogabilidade; e
(vii) créditos decorrentes de contratos de adiantamento de
contrato de câmbio – ACC.

Vale destacar que os credores titulares de créditos não sujeitos à


recuperação extrajudicial não podem ser obrigados por lei a se vincular ao
acordo proposto pelo devedor. Entretanto, será sempre possível a adesão
voluntária de qualquer credor (mesmo aqueles que não estão sujeitos aos
efeitos da recuperação extrajudicial) aos termos do plano proposto pelo
devedor. Isso porque, os créditos são considerados direitos disponíveis e que
podem ser livremente renegociados por consenso dos próprios contratantes.

4. LIMITAÇÕES LEGAIS
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No âmbito da recuperação extrajudicial, credores e devedores podem


negociar livremente os termos do acordo que será submetido à homologação
judicial. Entretanto, a lei traz algumas limitações de ordem pública e que devem
ser observadas pelos interessados, sob pena de não serem homologadas pelo
juiz.

Nesse sentido, o art. 161, § 2º, da Lei 11.101/2005 proíbe que o plano
estabeleça pagamento antecipado de dívidas, bem como estabeleça
tratamento desfavorável aos credores não sujeitos ao plano.

O plano de recuperação extrajudicial pode prever a alteração de valores


e forma de pagamento dos credores signatários com efeitos antecipados. Isso
significa que o plano pode estabelecer pagamentos a credores mesmo antes
da sua homologação judicial.

5. HOMOLOGAÇÃO DO PLANO E TRÂMITES

Após todos os credores concordarem com o plano, apresenta-se para o


juiz a homologação conforme prevê Art. 162, da Lei 11.101/2005. Também é
possível que o plano seja homologado judicialmente, desde que exista a
anuência de credores que representem mais de 3/5 dos créditos sujeitos ao
plano. Nesse caso, todos os credores, mesmo os dissidentes, ficarão sujeitos
aos efeitos do plano. Isso é o que dispõe o art. 163, caput.

O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não


acarretará suspensão de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade
do pedido de decretação de falência pelos credores não sujeitos ao plano de
recuperação extrajudicial.

Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão


desistir da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais
signatários.

O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de


recuperação extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que
contenha seus termos e condições, com as assinaturas dos credores que a ele
aderiram.
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Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação


extrajudicial previsto, o juiz ordenará a publicação de edital no órgão oficial e
em jornal de grande circulação nacional ou das localidades da sede e das filiais
do devedor, convocando todos os credores do devedor para apresentação de
suas impugnações ao plano de recuperação extrajudicial, tratadas no artigo
164 § 3º da Lei 11.101/2005.

No prazo do edital, deverá o devedor comprovar o envio de carta a todos


os credores sujeitos ao plano, domiciliados ou sediados no país, informando a
distribuição do pedido, as condições do plano e prazo para impugnação.

Os credores terão prazo de 30 (trinta) dias, contado da publicação do


edital, para impugnarem o plano, juntando a prova de seu crédito. Para opor-
se, em sua manifestação, à homologação do plano, os credores somente
poderão alegar:

I – não preenchimento do percentual


mínimo previsto de adesão dos credores: 3/5
(três quintos);

II – prática de qualquer dos atos


previstos no caso de Falência definidos no art.
94 inciso III e art. 130 ou descumprimento de
requisito previsto na Lei Falimentar;

III – descumprimento de qualquer outra


exigência legal.

6. EFEITOS DA RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Seja qual for a modalidade de homologação – facultativa ou obrigatória -


caberá ao devedor instruir o pedido também com a certidão do órgão de
registro da empresa comprovando a sua regularidade. Prescreve o caput do
art. 164 que, recebido o pedido de homologação do plano, o juiz ordenará a
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publicação de edital no órgão oficial e em jornal de grande circulação nacional


nas localidades da sede e das filiais do devedor, convocando todos os credores
para apresentação das eventuais impugnações que entendam pertinentes, no
prazo de 30 dias a contar da publicação do edital. A Lei 11.101/2005 prevê,
como regra de publicação, a inserção da epígrafe “recuperação extrajudicial
de” (parágrafo único, art. 191).

Conforme dispõe o § 3º do art. 164, os credores poderão impugnar o


plano alegando: I – não preenchimento do percentual mínimo de 3/5 de todos
os créditos de cada espécie por ele abrangidos; II – a prática de qualquer dos
atos de falência previsto no inciso III do art. 94 ou dos atos de ineficácia a que
alude o art. 130, bem como o descumprimento de requisito previsto na Lei
11.101/2005; III – o descumprimento de qualquer exigência legal. O juiz dará
vista das Impugnações ao devedor por 5 dias para que possa se manifestar e,
após, decidirá também no prazo de 5 dias (§§ 4º e 5º do art. 164),
homologando o plano ou indeferindo o pedido.

Na recuperação extrajudicial o devedor toma a iniciativa de propor


diretamente a todos os seus credores (ou a determinados grupos de credores)
sua proposta de reorganização como medida capaz de sustentar a sobrevida
da empresa, desde, é claro, que preenchidos os requisitos legais, condição
imposta para fins de submissão do plano à homologação judicial. A Lei n°
11.101/2005 conclui o Capítulo dedicado à Recuperação Extrajudicial (art. 167)
enunciando a plena autonomia da vontade das partes na realização de outras
modalidades de acordo privado, bastando a convergência de interesses do
devedor e seus credores pela dilação, novação, dação em pagamento,
renegociação das dívidas, enfim, fazendo uso dos vários meios de composição
previstos em lei.

7. BIBLIOGRAFIA

NEGRÃO, Ricardo. Op. cit., pp.241-242


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais – Campus de Poços de Caldas (PUC-MG)

COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial- direito de empresa. São


Paulo: Saraiva, 2013, pp. 452/454.

BEZERRA FILHO, Manoel Justino. Lei de recuperação de empresas e


falências/Lei 11.101/05 comentada artigo por artigo, p. 336.

NASCIMENTO. Sheila Ponciano do. Uma abordagem do plano de recuperação


extrajudicial e o liberalismo econômico do século XVIII. Revista Jus
Vigilantibus, São Paulo, 21.out.2005. Disponível em:
http://jusvi.com/artigos/18122 . Acesso em: 03/11/20;

Art. 163, § 2º, da Lei 11.101/2005.

Art. 163, § 3º, da Lei 11.101/2005.

Art. 163, §6º, I, II e III da Lei 11.101/2005.

Art. 164, caput, da Lei 11.101/2005.

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