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Ana Beatriz Abreu Nogueira e Gabriel da Costa Chuquer

RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

1.Conceito: Conforme Ricardo Negrão, a recuperação extrajudicial é:

“a modalidade de ação integrante do sistema legal


destinado ao saneamento de empresas regulares, que tem
por objetivo constituir título executivo a partir da sentença
homologatória de acordo, individual ou por classes de
credores, firmado pelo autor com seus credores”.

2. Requisitos subjetivos:

(i) exercer atividade empresarial por mais de dois anos, de forma regular;

(ii) não ser falido ou, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença
transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

(iii) não ter recuperação judicial em curso, nem ter obtido recuperação
judicial ou homologação de plano de recuperação judicial há menos de dois
anos; e

(iv) não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes estipulados por lei.

Créditos sujeitos e não sujeitos à recuperação extrajudicial

3.Estão sujeitos aos efeitos da recuperação extrajudicial os seguintes créditos:

(i) créditos com garantia real;

(ii) créditos com privilégio especial;

(iii) créditos com privilégio geral;

(iv) créditos quirografários; e


(v) créditos subordinados.

4.Não estão sujeitos à recuperação extrajudicial os seguintes créditos:

(i) créditos trabalhistas;

(ii) créditos tributários;

(iii) créditos garantidos fiduciariamente (cessão e alienação fiduciária em


garantia);

(iv) créditos decorrentes arrendamento mercantil;

(v) créditos decorrentes de contrato de compra e venda com reserva de


domínio;

(vi) créditos decorrentes de contrato de compra e venda ou de compromisso


de compra e venda de imóveis com cláusula de irretratabilidade ou
irrevogabilidade; e

(vii) créditos decorrentes de contratos de adiantamento de contrato de


câmbio – ACC.

5. Conteúdo do plano

Em regra, os credores e devedores podem negociar livremente os termos do


acordo que será submetido à homologação judicial.

Entretanto, a lei traz algumas limitações de ordem pública e que devem ser
observadas pelos interessados, sob pena de não serem homologadas pelo juiz.

Nesse sentido, o art. 161, § 2º, da Lei 11.101/2005 proíbe que o plano
estabeleça pagamento antecipado de dívidas, bem como estabeleça
tratamento desfavorável aos credores não sujeitos ao plano.
O plano de recuperação extrajudicial pode prever a alteração de valores e
forma de pagamento dos credores signatários com efeitos antecipados. Isso
significa que o plano pode estabelecer pagamentos a credores mesmo antes
da sua homologação judicial. Todavia, o cumprimento antecipado do plano fica
condicionado à homologação judicial, de modo que os credores voltam a ter o
direito de exigir os seus créditos nas condições originais, deduzidos os valores
já efetivamente pagos, caso o plano não seja homologado pelo juiz.3

Se houver previsão de venda de bens objeto de garantia real, a supressão ou


substituição da garantia somente poderá ser feita se houver a expressa
concordância do credor detentor da garantia, nos termos do art. 163, § 5º, da
Lei 11.101/2005.

Por fim, se o plano estabelecer a venda de Unidades Produtivas Isoladas (UPI)


ou de filiais, é obrigatória a observação dos procedimentos de venda
estabelecidos no art. 142 da Lei 11.101/2005. Nesse sentido, a venda deverá
ser feita por leilão, proposta ou pregão.

A recuperação judicial de empresas é uma ferramenta criada pelo sistema legal


de insolvência empresarial brasileiro que tem por objetivo permitir a superação
da crise da empresa através da criação de ambiente favorável à negociação
equilibrada entre a devedora e seus credores, de modo que se possa encontrar
uma solução de mercado para superação da crise e que possa ser aceita pela
maioria dos envolvidos no processo recuperacional.

O processo é, portanto, estruturado de forma a viabilizar a representação dos


principais interessados na superação da crise: devedora e credores.
Tendo em vista o bom funcionamento do processo e a garantia de atingimento
de suas finalidades maiores, a lei criou órgãos de fiscalização e de deliberação
no processo recuperacional.

Os órgãos de fiscalização do processo de recuperação judicial são: o comitê de


credores e o Ministério Público. O órgão de deliberação é a Assembleia Geral
de Credores.

Evidentemente, o juiz e o administrador judicial também têm funções


fiscalizadoras da conduta das partes no processo de recuperação judicial,
dentre várias outras funções decisórias e de condução do processo.

O Ministério Público, além da função fiscalizadora, também exerce sua função


institucional de persecução penal, no que tange à prática de crimes
falimentares.

O Comitê de Credores, por sua vez, exerce função predominantemente


fiscalizadora no interesse de todos os credores sujeitos ao processo
recuperacional. Entretanto, também exerce funções consultivas e de gestão.

A Assembleia Geral de Credores é o órgão de deliberação no processo


recuperacional, cujas atribuições estão expressa e detalhadamente previstas
em lei.

Assembleia geral de credores

A assembleia geral de credores é órgão deliberativo, formado pelos credores


sujeitos ao processo concursal e de formação obrigatória na recuperação
judicial, salvo no caso de micros e pequenas empresas, mas de formação
facultativa na falência.
Conforme Alberto Camiña, é um órgão de deliberação e expressão da vontade
dos credores, considerando que o problema da crise da empresa é um
problema que envolve a relação débito-crédito de modo coletivo: daí o
necessário envolvimento dos interessados.

Segundo Fábio Ulhoa Coelho, a tarefa de interpretar a vontade da comunhão


de interesses dos credores é exercida normalmente pelo juiz no momento em
que, por exemplo, decide sobre a venda de ativos, e pelo administrador judicial,
quando, por exemplo, realiza a cobrança de créditos da massa falida ou
apresenta um plano alternativo de recuperação judicial. Entretanto, em
algumas hipóteses a lei confere aos próprios credores a prerrogativa de
expressar suas vontades. São os casos legais de convocação da Assembleia
Geral de Credores.

Conforme dispõe o art. 35 da Lei 11.101/2005, a Assembleia Geral de


Credores tem funções específicas e diversas na recuperação judicial e na
falência.

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