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DIREITO EMPRESARIAL IV – Prof RICARDO SANTOVITO

RECUPERAÇÃO DE EMPRESAS

1 – conceito: recuperação de empresas é o instituto jurídico introduzido em nosso


ordenamento pela lei 11.101/05, em substituição à concordata, cujo principal
objetivo é auxiliar o empresário devedor a superar um momento de crise
econômico-financeira pela qual atravessa, recuperando sua empresa (atividade)

2 – requisitos: o empresário devedor deverá estar exercendo regularmente a sua


atividade como empresário há mais de dois anos, e preencher os outros requisitos
do artigo 48:

a) não ser falido, mas, se o foi, ter obtido a declaração judicial da extinção de
todas as obrigações decorrentes de sua falência.

b) não ter sido nem ter administrador que tenha sido condenado por crime
falimentar.

c) não ter se beneficiado pela concessão da recuperação judicial de sua atividade


nos últimos cinco anos MESMO SE beneficiado pela recuperação judicial
concedida com base em plano especial para microempresas e empresas de
pequeno porte.

3 – modalidades:
3.1 – Recuperação Judicial (em resumo):
O empresário, ao requerer sua recuperação judicial, deverá expor as causas de
sua situação patrimonial e as razões de sua crise econômico-financeira, juntando
os documentos do art 51:
- relação contábil dos três últimos exercícios
- relação nominal de credores, com crédito e sua natureza
- relação de empregados
- relação de bens e extratos bancários
- certidões de protesto e de ações judiciais.
- descrição das sociedades de grupo societário, de fato ou de direito.

Apresentados os documentos, o juiz dá despacho para processamento da


recuperação judicial, tendo início o prazo de 60 dias para que, somente agora, o
empresário apresente seu plano de recuperação judicial.

Apresentado o plano, os credores tem prazo de 60 dias para apresentar objeções.

- sem objeções, o juiz concede a recuperação judicial.


- com objeções, o juiz determina a convocação de assembléia de credores.

Em assembléia, discute-se o plano.


- aprovado, concede-se a recuperação judicial.
- rejeitado, convola a recuperação judicial em falência.
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Portanto, a conseqüência da não aprovação do plano de recuperação em
assembléia é a convolação da recuperação judicial em falência.
Outra possibilidade de convolação: não apresentação do plano.
Ou seja: uma vez deferido o processamento da recuperação judicial, ou obtém a
recuperação judicial, ou há decretação da quebra.

Assembléia de credores:
É dividida em três classes, de acordo com a natureza de seus créditos:

1 – créditos trabalhistas e decorrentes de acidente de trabalho.

2 – créditos com garantia real.

3 – créditos com privilégio especial, privilégio geral, quirografários e subordinados.

4 – créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.

(o fisco não vota, pois a recuperação judicial não atinge créditos fiscais).
Para aprovar o plano é necessário obter a maioria dos votos em cada classe.

Cômputo dos votos nas classes:

1 – classe dos créditos trabalhistas ou de acidente do trabalho:


- cômputo dos votos por cabeça.
Seja diretor ou faxineiro, tenha um crédito de 90 ou de 10, vale um voto.

2 – classe dos créditos com garantia real:


- cômputo dos votos em função do valor dos créditos.

3 – classe dos créditos com privilégio especial, geral, quirografário e subordinado:


- cômputo dos votos em função do valor dos créditos.

4 – classe dos créditod de ME e EPP:


- cômputo dos votos por cabeça.

Obs1: os créditos de natureza tributária não se submetem aos efeitos do plano de


recuperação judicial.

Obs2: somente o empresário regularmente inscrito na Junta Comercial há mais de


dois anos poderá ter acesso ao benefício da recuperação judicial, ressalvados os
empresários previstos no art 2º (EP e SEM) e instituições financeiras,
seguradoras, consórcios, operadoras de planos privados de assistência à saúde,
que jamais terão acesso à recuperação de suas empresas.

(é diferente da falência, que em casos excepcionais poderia ocorrer).


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3.2 – Recuperação Extrajudicial (art 161, em resumo):
art 161: o empresário que atravessar um momento de crise econômico-financeira,
poderá, desde que preenchidos os requisitos do art 48 da lei 11.101/05, requerer
a recuperação extrajudicial de sua atividade.

Principais diferenças com a recuperação judicial:


1 – recuperação extrajudicial não atinge os créditos trabalhistas de acidente do
trabalho e tributários (judicial só não atinge tributários).

2 – a rejeição do plano pelos credores não acarretará na decretação de sua


falência.

Formas de obtenção da recuperação extrajudicial:


1 – aprovação pela unanimidade de credores: a homologação judicial é facultativa

2 – aprovação de pelo menos 3/5 (60%) do crédito: a homologação judicial é


obrigatória.

PROCESSO DE RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL DE EMPRESAS (161 a 167):


É negociação direta e voluntária entre devedor e credores.
Se houver êxito na negociação, o processo deve ser homologado no judiciário.
Esta negociação direta e compulsória era procedimento ilícito pela lei antiga. Era
chamada de “concordata branca”. O juiz poderia decretar a falência.

Requisitos (art 161):


Art. 161 - O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar
com credores plano de recuperação extrajudicial.

Art. 48 - Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos,
cumulativamente:
I - não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as
responsabilidades daí decorrentes;
II - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;
III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no
plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;
IV - não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa
condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

Exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos: cumpre com as


obrigações comuns: registro, balanço, escrituração.

Plano Especial: diz respeito à micro empresa ou empresa de pequeno porte.


Art 161, § 3º - O devedor não poderá requerer a homologação de plano extrajudicial, se estiver
pendente pedido de recuperação judicial ou se houver obtido recuperação judicial ou homologação
de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.

O parágrafo 3º incompatibiliza os incisos II e III para os casos de micro empresa


ou empresa de pequeno porte.
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Créditos excluídos da recuperação extrajudicial:
§ 1º Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos existentes na data do pedido,
exceto os créditos de natureza tributária e aqueles previstos no § 3º do art. 49 e no inciso II
do caput do art. 86 desta Lei, e a sujeição dos créditos de natureza trabalhista e por acidentes de
trabalho exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional.

161, § 2º - O plano não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento
desfavorável aos credores que a ele não estejam sujeitos.
§ 4º - O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão
de direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos
credores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.
§ 5º - Após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir da adesão
ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários.
§ 6º - A sentença de homologação do plano de recuperação extrajudicial constituirá título
executivo judicial, nos termos do art. 584, inciso III do caput, da Lei nº 5.869, de 11/1/1973 -
Código de Processo Civil.

Procedimento:
Recuperação extrajudicial (não vinculativa) (art 162):
Art. 162 -O devedor poderá requerer a homologação em juízo do plano de recuperação
extrajudicial, juntando sua justificativa e o documento que contenha seus termos e condições, com
as assinaturas dos credores que a ele aderiram.
Convoca os credores, propõe plano, todos assinam e juiz homologa por sentença.
Só se submeterão ao plano os credores que expressamente a ele aderiram.

Recuperação extrajudicial vinculativa (ou impositiva) (art 163):


Art. 163. O devedor poderá também requerer a homologação de plano de recuperação
extrajudicial que obriga todos os credores por ele abrangidos, desde que assinado por credores
que representem mais da metade dos créditos de cada espécie abrangidos pelo plano de
recuperação extrajudicial.

Preenchidos os requisitos da lei, pede ao juiz a homologação para impor a


recuperação aos credores que não assinaram.

Requisitos:
- Aceitação voluntária de pelo menos 3/5 dos créditos de cada classe.
- art 162 (justificativa e documento com termos e condições).
- art 163, § 6º:
I - exposição da situação patrimonial do devedor;
II - as demonstrações contábeis relativas ao último exercício social e as levantadas especialmente
para instruir o pedido, na forma do inciso II do caput do art. 51 desta Lei; e
III - os documentos que comprovem os poderes dos subscritores para novar ou transigir, relação
nominal completa dos credores, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a
classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente.

Procedimento (art 164):


Art. 164. Recebido o pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial previsto nos
arts. 162 e 163 desta Lei, o juiz ordenará a publicação de edital eletrônico com vistas a convocar
os credores do devedor para apresentação de suas impugnações ao plano de recuperação
extrajudicial, observado o disposto no § 3º deste artigo

A sentença tem natureza de homologação. Da sentença cabe apelação, com


efeito suspensivo.
A sentença gera efeito de novação da dívida.
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A sentença que rejeita o pedido de homologação não acarreta falência. Só a
sentença que rejeitar a recuperação judicial acarreta falência.
A sentença da recuperação extrajudicial não faz coisa julgada material, só formal.
Rejeitada, pode entrar com outra.

Artigo 165: efeitos do plano de recuperação extrajudicial:


Art. 165 - O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial.
§ 1º - É lícito, contudo, que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação,
desde que exclusivamente em relação à modificação do valor ou da forma de pagamento dos
credores signatários.
§ 2º - Na hipótese do § 1º deste artigo, caso o plano seja posteriormente rejeitado pelo juiz,
devolve-se aos credores signatários o direito de exigir seus créditos nas condições originais,
deduzidos os valores efetivamente pagos.

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