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AULA IV - 7. DA VERIFICAÇÃO E DA HABILITAÇÃO DE CRÉDITOS.

Segundo a escola de Chicago, “a incerteza da jurisdição atrapalha o desenvolvimento


econômico”. Ou seja, o lógica econômica é que deve prevalecer sobre a lógica jurídica, o que
afetaria ou afeta a igualdade dos contendores judiciais. De qualquer forma, a lógica da
desjudicialização foi a adota nessa fase do processo falimentar, uma vez que a verificação e a
habilitação dos créditos é endereçada ao Administrador Judicial e não ao Juiz, que só
interferirá se houver impugnação de algum crédito. Ingressaremos, então, na seção da lei que
trata dessas verificações pelo administrador, que consiste na formação do Quadro Geral de
Credores - QGC.
Art.7º A verificação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos
livros contábeis e documentos comerciais e fiscais do devedor e nos documentos que lhe
forem apresentados pelos credores, podendo contar com o auxílio de profissionais ou
empresas especializadas.
O administrador judicial pode se auxiliar de profissionais especializados em cada área, a
fim de exercer os poderes que a lei lhe garante a fim de cumprir suas obrigações que, são bem
superiores a do antigo síndico da lei de falências antiga.
Enquanto não houver ligítio nessa fase do processo, é o administrador judicial o
competente para acolher ou desacolher pedido de habilitação de créditos, no sentido de
formar o QGC.
o
§1º Publicado o edital previsto no art. 52, § 1 , ou no parágrafo único do art.99 desta Lei,
os credores terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar ao administrador judicial suas
habilitações ou suas divergências quanto aos créditos relacionados.

7.1. HABILITAÇÃO DE CRÉDITO FISCAL.


Art. 7º-A. Na falência, após realizadas as intimações e publicado o edital, conforme previsto,
respectivamente, no inciso XIII do caput e no § 1º do art. 99 desta Lei, o juiz instaurará, de
ofício, para cada Fazenda Pública credora, incidente de classificação de crédito público e
determinará a sua intimação eletrônica para que, no prazo de 30 (trinta) dias, apresente
diretamente ao administrador judicial ou em juízo, a depender do momento processual, a
relação completa de seus créditos inscritos em dívida ativa, acompanhada dos cálculos, da
classificação e das informações sobre a situação atual.
Artigo incluído pela reforma promovida pela lei 14.112/20, criando a habilitação de crédito
fiscal, o que até então era impensável, considerando o disposto no art.187 do CTN.
Entretanto, na prática, as execuções fiscais ficavam sem sentido, bem como sempre houve a
classificação do crédito tributário, sem a necessidade da habilitação, somente. A criação da
habilitação do crédito fiscal permite maior transparência e segurança do juízo falimentar.
Além disso, o dispositivo determina ao juiz que estabelece incidente de habilitação para cada
ente da federação, e dos créditos já constituídos. O prazo é que é maior, mantendo a praxe de
prazos maiores para a Fazenda Pública no âmbito processual, que no caso é de 30 dias, ao
contrário de 15 dias, para as habilitações de créditos privados.
§ 1º Para efeito do disposto no caput deste artigo, considera-se Fazenda Pública credora
aquela que conste da relação do edital previsto no § 1º do art. 99 desta Lei, ou que, após a
intimação prevista no inciso XIII do caput do art. 99 desta Lei, alegue nos autos, no prazo de
15 (quinze) dias, possuir crédito contra o falido.
Ou seja, ainda que a lei tenha exigido a habilitação dos créditos fiscais, cujo CTN ainda
determina que eles não estão sujeitos a concursos de credores ou a habilitação, e em que pese
o CTN ser considerado uma Lei Complementar, não passível de ser alterada por lei ordinária
(Lei 14.112/20), dependem de terem sido reconhecidos pelo falido e intimadas as competentes
fazendas públicas, a fim de providenciarem sua habilitação, assim o faça no prazo de 15 dias.
§ 2º Os créditos não definitivamente constituídos, não inscritos em dívida ativa ou com
exigibilidade suspensa poderão ser informados em momento posterior.

OBJEÇÕES ÀS HABILITAÇÕES FISCAIS.


§ 3º Encerrado o prazo de que trata o caput deste artigo:
I - o falido, os demais credores e o administrador judicial disporão do prazo de 15 (quinze)
dias para manifestar objeções, limitadamente, sobre os cálculos e a classificação para os fins
desta Lei;
II - a Fazenda Pública, ultrapassado o prazo de que trata o inciso I deste parágrafo, será
intimada para prestar, no prazo de 10 (dez) dias, eventuais esclarecimentos a respeito das
manifestações previstas no referido inciso;
III - os créditos serão objeto de reserva integral até o julgamento definitivo quando rejeitados
os argumentos apresentados de acordo com o inciso II deste parágrafo;
IV - os créditos incontroversos, desde que exigíveis, serão imediatamente incluídos no
quadro-geral de credores, observada a sua classificação;
V - o juiz, anteriormente à homologação do quadro-geral de credores, concederá prazo
comum de 10 (dez) dias para que o administrador judicial e a Fazenda Pública titular de
crédito objeto de reserva manifestem-se sobre a situação atual desses créditos e, ao final do
referido prazo, decidirá acerca da necessidade de mantê-la.

DEMAIS DISPOSITIVOS DO PROCEDIEMENTO DE HABILITAÇÃO FISCAL.


§ 4º Com relação à aplicação do disposto neste artigo, serão observadas as seguintes
disposições:
I - a decisão sobre os cálculos e a classificação dos créditos para os fins do disposto nesta
Lei, bem como sobre a arrecadação dos bens, a realização do ativo e o pagamento aos
credores, competirá ao juízo falimentar;
II - a decisão sobre a existência, a exigibilidade e o valor do crédito, observado o disposto no
inciso II do caput do art. 9º desta Lei e as demais regras do processo de falência, bem como
sobre o eventual prosseguimento da cobrança contra os corresponsáveis, competirá ao juízo
da execução fiscal;
III - a ressalva prevista no art. 76 desta Lei, ainda que o crédito reconhecido não esteja em
cobrança judicial mediante execução fiscal, aplicar-se-á, no que couber, ao disposto no
inciso II deste parágrafo;
IV - o administrador judicial e o juízo falimentar deverão respeitar a presunção de certeza e
liquidez de que trata o art. 3º da Lei nº 6.830, de 22 de setembro de 1980, sem prejuízo do
disposto nos incisos II e III deste parágrafo;
V - as execuções fiscais permanecerão suspensas até o encerramento da falência, sem
prejuízo da possibilidade de prosseguimento contra os corresponsáveis;
VI - a restituição em dinheiro e a compensação serão preservadas, nos termos dos arts. 86 e
122 desta Lei; e
VII - o disposto no art. 10 desta Lei será aplicado, no que couber, aos créditos retardatários.
§ 5º Na hipótese de não apresentação da relação referida no caput deste artigo no prazo nele
estipulado, o incidente será arquivado e a Fazenda Pública credora poderá requerer o
desarquivamento, observado, no que couber, o disposto no art. 10 desta Lei.
§ 6º As disposições deste artigo aplicam-se, no que couber, às execuções fiscais e às
execuções de ofício que se enquadrem no disposto nos incisos VII e VIII do caput do art. 114
da Constituição Federal.
§ 7º O disposto neste artigo aplica-se, no que couber, aos créditos do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço (FGTS).
§ 8º Não haverá condenação em honorários de sucumbência no incidente de que trata este
artigo.

7.2. PEDIDO E IMPUGNAÇÃO DE CRÉDITO.


O prazo que o credor não contemplado no QGC apresentado pelo empresário/devedor para
requerer sua habilitação é de 15 dias a contar da publicação do Edital que decreta a
falência. O mesmo prazo serve para impugnação dos créditos inicialmente apresentados pelo
próprio empresário/devedor. Isto é: publicado o Edital da decretação da falência abre,
conjuntamente, o prazo de 15 dias para que os credores não contemplados peçam sua
habilitação e ou apresentem impugnações dos créditos já contemplados.
Os credores que pedirem sua habilitação devem apresentá-la com os devidos documentos
que garantem seu crédito, bem como definir qual sua classificação, como veremos mais
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adiante. O art.175 tipifica como crime a apresentação de crédito falso. Nessa fase o credor
não precisa de advogado para representa-lo. No entanto, se perder o prazo e sua habilitação
tornar-se retardatária, tendo que constituir advogado para tanto. Na habilitação tempestiva não
são devidas custas e taxas judiciária, enquanto que na habilitação retardatária sim.

DIFERENÇA ENTRE IMPUGNAÇÃO E DIVERGÊNCIA.


O credor retardatário poderá impugnar ou divergir de crédito apresentado na primeira lista?
Não poderá. Se perdeu o prazo para requerer sua habilitação, também perdeu o prazo para
impugnar ou divergir do crédito apresentado na primeira lista.
A Impugnação diz respeito ao crédito em si do credor. A divergência diz respeito a
classificação ou ao valor do crédito.
A habilitação também poderá ser apresentada no caso de recuperação judicial, que
obedecerá o plano de recuperação e não a classificação do crédito em si, na forma do
art.45§3º.
§2º O administrador judicial, com base nas informações e documentos colhidos na forma
do caput e do §1º deste artigo, fará publicar edital contendo a relação de credores no prazo
de 45 (quarenta e cinco) dias, contado do fim do prazo do §1º deste artigo, devendo indicar o
local, o horário e o prazo comum em que as pessoas indicadas no art.8º desta Lei terão
acesso aos documentos que fundamentaram a elaboração dessa relação.
Findo o prazo dos 15 dias para pedidos de habilitação, divergência e impugnações, o
administrador judicial deverá, após mais 45 dias, publicar por meio de edital, a segunda lista
de credores. Os créditos não impugnados e sem divergências, tornar-se-ão consolidados no
QGC, sem possibilidade de modificação.
A nova publicação de edital, chamada segunda lista, será considerada, também, como
decisão do administrador judicial, relativamente aos pedidos de habilitação, isto é: se o
administrador judicial acolher o pedido, o crédito passará a fazer parte da segunda lista, do
contrário não fará. Nessa segunda lista o administrador judicial também decidirá sobre
eventuais divergências apresentadas, corrigindo ou não a classificação ou valores.
o
Art.8º No prazo de 10 (dez) dias, contado da publicação da relação referida no art. 7 , §
o
2 , desta Lei, o Comitê, qualquer credor, o devedor ou seus sócios ou o Ministério Público
podem apresentar ao juiz impugnação contra a relação de credores, apontando a ausência de
qualquer crédito ou manifestando-se contra a legitimidade, importância ou classificação de
crédito relacionado.
Parágrafo único. Autuada em separado, a impugnação será processada nos termos dos
arts. 13 a 15 desta Lei.

7.2 PRAZO E LEGITIMIDADE PARA IMPUGNAÇÃO.


Publicado o Edital da segunda lista, abre-se o prazo para impugnações dos créditos, cujos
quais não forem impugnados tornar-se-ão consolidados no QGC. O prazo para referida
impugnação é de 10 dias, contados a partir da publicação do edital da segunda lista. Os
legitimados para apresentar impugnações é o Comitê de credores, caso já existente e
constituído; qualquer outro credor; o próprio empresário/devedor ou demais sócios e o
Ministério Público.
Essa impugnação, como já estabelece um litígio, é endereçada ao juiz, o qual tem
competência exclusiva de decidi-la, porque já se forma a fase jurisdicional. Referida
impugnação será autuada em apenso ao processo principal, seja na falência ou na recuperação
judicial.
Nesse momento, o credor que divergiu de um crédito na primeira lista, a qual não foi
acolhida pelo administrador judicial, poderá impugnar, pelo mesmo motivo e fundamento, a
fim de que o juiz decida definitivamente. Se o credor não divergiu da primeira lista, não
poderá impugnar a segunda lista, devendo valer, então da habilitação retardatária para tanto.
A impugnação só poderá contrapor-se aos créditos apresentados e não omissos, uma vez
que, nesse caso, é o próprio credor que deve agir, uma vez que a ninguém é dado pleitear
direito alheio em juízo.
A expressão “qualquer credor” a que a lei se refere como legitimado para impugnar o
crédito de outro credor, por óbvio, é do credor contemplado na primeira lista.
Por fim, cabe ressaltar que não há impugnação retardatária, mas só habilitação retardatária.
Isto quer dizer que o credor que não constava da primeira lista e, por isso, não teve
oportunidade de apresentar divergência, não passará a ter direito de impugnação com o pedido
retardatário, ainda que seja acolhido antes da publicação da segunda lista, o que é bastante
improvável.
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Art.9º A habilitação de crédito realizada pelo credor nos termos do art. 7 , § 1 , desta Lei
deverá conter:
I – o nome, o endereço do credor e o endereço em que receberá comunicação de qualquer
ato do processo;
II – o valor do crédito, atualizado até a data da decretação da falência ou do pedido de
recuperação judicial, sua origem e classificação;
III – os documentos comprobatórios do crédito e a indicação das demais provas a serem
produzidas;
IV – a indicação da garantia prestada pelo devedor, se houver, e o respectivo
instrumento;
V – a especificação do objeto da garantia que estiver na posse do credor.
Parágrafo único. Os títulos e documentos que legitimam os créditos deverão ser exibidos
no original ou por cópias autenticadas se estiverem juntados em outro processo.
No caso de falência não correm juros contra a massa falida, na forma do art.124. No
entanto, até a habilitação o valor deve ser atualizado até a data da publicação da decretação da
falência ou do pedido de recuperação judicial. Além disso o credor deve declinar qual a
origem de seu crédito, por exemplo de uma compra e venda de mercadoria e, sua classificação
na forma do art.83 para a falência e 51 para a recuperação judicial.
Não pode haver pedidos conjuntos de habilitação. Cada credor deve apresentar,
individualmente seu pedido de habilitação. Entretanto, conforme art.52 da Lei das S.A., os
debenturistas podem apresentar por meio de uma declaração coletiva.
Cabe ressaltar, ainda, que se a empresa fizer parte de um conglomerado, o prazo para
atualização deve ser observado com relação a decretação de cada empresa, relativamente a
crédito origundo de suas obrigações e não da empresa holding.
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Art. 10. Não observado o prazo estipulado no art. 7 , § 1 , desta Lei, as habilitações de
crédito serão recebidas como retardatárias.
A lei admite que haja a possiblidade de habilitações retardatárias, ou seja, daqueles
credores que perderem o prazo de 15 dias do Edital da decretação da falência ou primeira
lista. Entretanto, penaliza o credor pelo atraso, uma vez que a celeridade deve ser tratada de
outra forma, pois o objetivo do processo é chegar a seu fim, com o pagamento dos credores e
o encerramento.
O prazo máximo para o pedido da habilitação retardatária é o da homologação do QGC,
conforme dispõe o §5º do presente artigo. E, na eventualidade do credor perder mais essa
oportunidade, não poderá mais apresentar pedido de habilitação retardatária, mas somente de
ingressar com ação ordinária que não terá prazo temporal, ou seja, a qualquer tempo.
§1º Na recuperação judicial, os titulares de créditos retardatários, excetuados os titulares
de créditos derivados da relação de trabalho, não terão direito a voto nas deliberações da
assembléia-geral de credores.
O credor retardatário também sofrerá a punição, exceto os com crédito trabalhista, que
incluem os por acidente de trabalho, de não terão direito a voto na Assembléia Geral de
Credores - AGC - mas permanecerão com direito à voz.
§2º Aplica-se o disposto no §1º deste artigo ao processo de falência, salvo se, na data da
realização da assembléia-geral, já houver sido homologado o quadro-geral de credores
contendo o crédito retardatário.
O credor retardatário retomará o direito de voto na AGC por ocasião da homologação do
QGC.
§ 3º Na falência, os créditos retardatários perderão o direito a rateios eventualmente
realizados e ficarão sujeitos ao pagamento de custas, não se computando os acessórios
compreendidos entre o término do prazo e a data do pedido de habilitação.
O credor retardatário também não receberá eventuais rateios já realizados e ficará sujeito
ao pagamento de custas, tudo com o objetivo de agilidade processual. Ressalte-se que esse
dispositivo foi possível na presente lei, porque ele alterou a sistemática da lei anterior que não
permitia a realização do ativo sem a total arrecadação dos bens.
§4º Na hipótese prevista no §3º deste artigo, o credor poderá requerer a reserva de valor
para satisfação de seu crédito.
No entanto o legislador, para tentar agradar gregos e troianos, resolveu por bem em abrir a
possibilidade do credor retardatário pedir que sejam reservados bens para futura satisfação de
seu crédito, em função dos rateios já realizados antes da homologação de seu crédito.
§5º As habilitações de crédito retardatárias, se apresentadas antes da homologação do
quadro-geral de credores, serão recebidas como impugnação e processadas na forma dos
arts. 13 a 15 desta Lei.
A homologação das habilitações se dará por sentença. Dessa forma, os credores que
retardatários que apresentarem seu pedido após essa homologação, somente poderão assim
fazer pelo meio de ação ordinária, a qualquer tempo. As habilitações retardatárias, antes da
homologação do QGC será processada por meio dos artigos 13 e 15 da presente lei, ou seja,
como se impugnações fossem.
§6º Após a homologação do quadro-geral de credores, aqueles que não habilitaram seu
crédito poderão, observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de
Processo Civil, requerer ao juízo da falência ou da recuperação judicial a retificação do
quadro-geral para inclusão do respectivo crédito.
Se o credor retardatário não pediu sua habilitação antes da sentença que homologou o QGC
somente poderá valer-se da ação ordinária, a fim de retificá-lo. A ação deverá ser proposta no
juízo falimentar em face à massa falida e quem será citado é o administrador judicial, da
mesma forma que qualquer ação contra o espólio, o inventariante é que deve ser citado. Deve
requerer, também, a intimação do comitê, os credores, o empresário/devedor e seus sócios,
para que, querendo, contestem a ação, que terá uma forma de impugnação.
CONSOLIDAÇÃO ANTECIPADA DO QGC
§ 7º O quadro-geral de credores será formado com o julgamento das impugnações
tempestivas e com as habilitações e as impugnações retardatárias decididas até o momento
da sua formação.
A reforma promovida pela lei 14.112/20 incluiu esse dispositivo, para o fim de considerar
a possibilidade de consolidação do QGC com o julgamento das impugnações de credores não
retardatários.
§ 8º As habilitações e as impugnações retardatárias acarretarão a reserva do valor para a
satisfação do crédito discutido.
Enquanto as impugnações de créditos não retardatários serão incluídas no QGC, as
apresentadas posteriormente, deverão ter o crédito reservado, e não só dos créditos
trabalhistas, mas de todos os créditos.
ENCERRAMENTO ANTECIPADO DA RE
§ 9º A recuperação judicial poderá ser encerrada ainda que não tenha havido a
consolidação definitiva do quadro-geral de credores, hipótese em que as ações incidentais de
habilitação e de impugnação retardatárias serão redistribuídas ao juízo da recuperação
judicial como ações autônomas e observarão o rito comum.
Outro dispositivo incluído pela reforma promovida pela lei 14.112/20, visando promover a
economicidade e maior eficiência, autorizou a possibilidade de encerramento antecipado da
Recuperação Empresarial e consolidação do QGC com as habilitações ordinárias não
retardatárias. As retardatárias serão encaminhas para ações comuns no juízo competente,
contra a empresa devedora.
PRAZO DECADENCIAL
§ 10. O credor deverá apresentar pedido de habilitação ou de reserva de crédito em, no
máximo, 3 (três) anos, contados da data de publicação da sentença que decretar a falência,
sob pena de decadência.
Outro dispositivo incluído pela reforma de 2020, estabelecendo um prazo máximo para o
pedido de habilitação, sob pena de decadência. Parece que o prazo deveria ser prescricional e
não decadencial, uma vez que se trata de pretensão de direito já constituído. Da mesma forma,
põe fim a possibilidade de ação de retificação do QGC após sua consolidação.

7.3 PROCEDIMENTO DA IMPUGNAÇÃO DA HABILITAÇÃO.


Art. 11. Os credores cujos créditos forem impugnados serão intimados para contestar a
impugnação, no prazo de 5 (cinco) dias, juntando os documentos que tiverem e indicando
outras provas que reputem necessárias.
O primeiro a ser intimado para apresentar impugnação será o próprio credor, uma vez que
pode divergir de seu crédio apresentado na primeira lista pelo empresário/devedor, a qual será
publicada no edital da decretação da falência.
Impugnado o crédito por outro credor, pelo empresário/devedor, seus sócios ou pelo MP, o
credor será intimado para apresentar sua contestação no prazo de 5 dias, podendo requerer a
produção das provas que entender necessárias e cabíveis à constituição de seu direito.
Art. 12. Transcorrido o prazo do art. 11 desta Lei, o devedor e o Comitê, se houver, serão
intimados pelo juiz para se manifestar sobre ela no prazo comum de 5 (cinco) dias.
O prazo não deveria ser comum, mas sequencial, considerando que se o credor juntar
muitos documentos, o prazo comum prejudicará a manifestação do Comitê e do
empresário/devedor.
Parágrafo único. Findo o prazo a que se refere o caput deste artigo, o administrador
judicial será intimado pelo juiz para emitir parecer no prazo de 5 (cinco) dias, devendo
juntar à sua manifestação o laudo elaborado pelo profissional ou empresa especializada, se
for o caso, e todas as informações existentes nos livros fiscais e demais documentos do
devedor acerca do crédito, constante ou não da relação de credores, objeto da impugnação.
Vejam que o prazo para o administrador se manifestar, ao contrário do Comitê e do
empresário/devedor não é comum, mas sequencial, sendo que seu parecer não necessita,
obrigatoriamente, ser um laudo pericial, só se o caso exigir.
Art. 13. A impugnação será dirigida ao juiz por meio de petição, instruída com os
documentos que tiver o impugnante, o qual indicará as provas consideradas necessárias.
Parágrafo único. Cada impugnação será autuada em separado, com os documentos a ela
relativos, mas terão uma só autuação as diversas impugnações versando sobre o mesmo
crédito.
Cada impugnação será autuada em apenso e será processada, praticamente na forma de
uma ação ordinária, com uma fase instrutória a qual levará a decisão do Juiz que determinará
a inclusão ou não do crédito no QGC. Dessa decisão caberá agravo.
Art. 14. Caso não haja impugnações, o juiz homologará, como quadro-geral de credores,
a relação dos credores de que trata o § 2º do art. 7º, ressalvado o disposto no art. 7º-A desta
Lei.
Correndo “in albis” o prazo para apresentações de impugnações, o juiz homologará de
plano o QGC, sem a necessidade de novo edital para publicação.
Art. 15. Transcorridos os prazos previstos nos arts. 11 e 12 desta Lei, os autos de
impugnação serão conclusos ao juiz, que:
I – determinará a inclusão no quadro-geral de credores das habilitações de créditos não
impugnadas, no valor constante da relação referida no §2º do art.7º desta Lei;
II – julgará as impugnações que entender suficientemente esclarecidas pelas alegações e
provas apresentadas pelas partes, mencionando, de cada crédito, o valor e a classificação;
O inciso I deste artigo está, completamente fora de seu contexto, considerando que a
homologação do QGC é regulamentada pelo art.18 que será comentado logo em seguida.
III – fixará, em cada uma das restantes impugnações, os aspectos controvertidos e
decidirá as questões processuais pendentes;
IV – determinará as provas a serem produzidas, designando audiência de instrução e
julgamento, se necessário.
A audiência, para exclusiva produção de prova testemunhal, não traz muitos
esclarecimentos ao juízo. O que pode esclarecer são os esclarecimentos prestados por perito
contábil ou economista, relativamente às condições da crise do empresário/devedor, que o
levou à falência ou à recuperação judicial.
Art. 16. Para fins de rateio na falência, deverá ser formado quadro-geral de credores,
composto pelos créditos não impugnados constantes do edital de que trata o § 2º do art. 7º
desta Lei, pelo julgamento de todas as impugnações apresentadas no prazo previsto no art. 8º
desta Lei e pelo julgamento realizado até então das habilitações de crédito recebidas como
retardatárias.
§ 1º As habilitações retardatárias não julgadas acarretarão a reserva do valor
controvertido, mas não impedirão o pagamento da parte incontroversa.
§ 2º Ainda que o quadro-geral de credores não esteja formado, o rateio de pagamentos na
falência poderá ser realizado desde que a classe de credores a ser satisfeita já tenha tido
todas as impugnações judiciais apresentadas no prazo previsto no art. 8º desta Lei,
ressalvada a reserva dos créditos controvertidos em função das habilitações retardatárias de
créditos distribuídas até então e ainda não julgadas.
Não só a reserva de valor, mas também a impugnação parcial determina que a parte
incontroversa, como ocorre no processo cível, naturalmente. Portanto, o impugnante deve
esclarecer, se fizer a impugnação parcial, exatamente os valores que está impugnando para
que o juiz tenha condições de determinar, de plano, qual a parte incontroversa e determinar a
reserva de bens para a controversa ou o rateio.
Art. 17. Da decisão judicial sobre a impugnação caberá agravo.
Parágrafo único. Recebido o agravo, o relator poderá conceder efeito suspensivo à
decisão que reconhece o crédito ou determinar a inscrição ou modificação do seu valor ou
classificação no quadro-geral de credores, para fins de exercício de direito de voto em
assembléia-geral.
Talvez desnecessário o presente dispositivo, considerando a sistemática do agravo, que se
for de instrumento, considerando a verossimilhança das alegações e a possibilidade de
prejuízo irreversível, o relator lhe conceder efeito suspensivo. De qualquer forma, parece que
o legislador brasileiro não confia na hermenêutica, entendendo por bem repedir dispositivos,
uma vez que o CPC é aplicado subsidiariamente à lei de falências, como cediço.
Art. 18. O administrador judicial será responsável pela consolidação do quadro-geral de
credores, a ser homologado pelo juiz, com base na relação dos credores a que se refere o
art.7º, §2º, desta Lei e nas decisões proferidas nas impugnações oferecidas.
Se não houver divergência ou impugnações, a formatação do QGC será tarefa simples,
bastando que o administrador judicial o organize e o juiz o homologue por sentença. No
entanto, se houver impugnações e recursos, o QGC será formatado e homologado, para
posteriormente poder ser modificado, conforme vão se decidindo, definitivamente as
controvérsias, relativamente aos créditos e classificações de cada credor.
Parágrafo único. O quadro-geral, assinado pelo juiz e pelo administrador judicial,
mencionará a importância e a classificação de cada crédito na data do requerimento da
recuperação judicial ou da decretação da falência, será juntado aos autos e publicado no
órgão oficial, no prazo de 5 (cinco) dias, contado da data da sentença que houver julgado as
impugnações.
Muito embora se chame de sentença homologatória do QGC, se trata de uma decisão
interlocutória contra a qual caberá agravo, reservando aos agravantes o direito de,
posteriormente ser incluído como credor e dentro da classificação correta, pelo crédito
correto, que são os objetos das divergências.
Art.19. O administrador judicial, o Comitê, qualquer credor ou o representante do
Ministério Público poderá, até o encerramento da recuperação judicial ou da falência,
observado, no que couber, o procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil,
pedir a exclusão, outra classificação ou a retificação de qualquer crédito, nos casos de
descoberta de falsidade, dolo, simulação, fraude, erro essencial ou, ainda, documentos
ignorados na época do julgamento do crédito ou da inclusão no quadro-geral de credores.
Até o encerramento da recuperação judicial ou da falência qualquer interessado pode pedir a
retificação do QGC. E, na eventualidade de algum credor já ter recebido seu crédito, será
obrigado a devolver em dobro o que recebeu, se foi por má-fé ou dolo.
§1º A ação prevista neste artigo será proposta exclusivamente perante o juízo da
recuperação judicial ou da falência ou, nas hipóteses previstas no art.6º §§1º e 2º, desta Lei,
perante o juízo que tenha originariamente reconhecido o crédito.
A ação ordinária prevista neste dispostivo legal deve ser proposta no juízo falimentar e será
autuada em autos apartados, visando modificar o QGC, em decorrência de fato novo
descoberto ou conseguidas provas.
§2º Proposta a ação de que trata este artigo, o pagamento ao titular do crédito por ela
atingido somente poderá ser realizado mediante a prestação de caução no mesmo valor do
crédito questionado.
Se trata de uma contracautela a fim de garantir o juízo de eventual procedência da ação
que visa descontituir seu crédito perante à massa falida.
Art.20. As habilitações dos credores particulares do sócio ilimitadamente responsável
processar-se-ão de acordo com as disposições desta Seção.
Mais um dispositivo de dífícil aplicabilidade, considerando que a grande maioria das
empresas são constituídas na forma de S.A., por Quotas de Responsabilidade Limitada e,
agora, certamente pela EIRELI. Além disso, não podemos esquecer que a empresa em nome
individual, a responsabilidade do sócio é ilimitada, não necessitando de qualquer
desconsideração da personalidade jurídica, uma vez que esta se confundo com o patrimônio
pessoal de seu titular.

7.4. CONCILIAÇÕES E MEDIAÇÕES NA RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL.


Como sempre, em nosso país, a resposta para os problemas é a mesma do marido que ao
descobrir que está sendo traído, ao contrário de se divorciar, compra uma cama nova. O
problema do Poder Judiciário é a duração demasiada dos processos, comparada aos demais
países? (sim, porque há um tempo mínimo e necessários para se concluir um processo
judicial). A causa é exclusivamente pelo entrave processual ou por falta de funcionários
necessários? Sem entrar nessa discussão, ou pressionado pelo movimento neoliberal de
redução dos gastos públicos, a decisão é de sempre alterar a lei processual, reduzindo direitos
ou desconsiderando vulnerabilidades processuais, como a dos credores trabalhistas. Nesse
sentido, o legislador incluiu uma nova seção que criou a possiblidade de conciliação no
âmbito da Recuperação Empresarial. A crítica não é contra a possibilidade ou tentativa de
conciliação, mas sim da falta de critério e da decisão a partir de dados corretos e reais, sem
quaisquer distorções ou definidos por pressões políticas ideológicas de redução do Estado.
Art. 20-A. A conciliação e a mediação deverão ser incentivadas em qualquer grau de
jurisdição, inclusive no âmbito de recursos em segundo grau de jurisdição e nos Tribunais
Superiores, e não implicarão a suspensão dos prazos previstos nesta Lei, salvo se houver
consenso entre as partes em sentido contrário ou determinação judicial.
Art. 20-B. Serão admitidas conciliações e mediações antecedentes ou incidentais aos
processos de recuperação judicial, notadamente:
I - nas fases pré-processual e processual de disputas entre os sócios e acionistas de sociedade
em dificuldade ou em recuperação judicial, bem como nos litígios que envolverem credores
não sujeitos à recuperação judicial, nos termos dos §§ 3º e 4º do art. 49 desta Lei, ou
credores extraconcursais;
II - em conflitos que envolverem concessionárias ou permissionárias de serviços públicos em
recuperação judicial e órgãos reguladores ou entes públicos municipais, distritais, estaduais
ou federais;
III - na hipótese de haver créditos extraconcursais contra empresas em recuperação judicial
durante período de vigência de estado de calamidade pública, a fim de permitir a
continuidade da prestação de serviços essenciais;
IV - na hipótese de negociação de dívidas e respectivas formas de pagamento entre a empresa
em dificuldade e seus credores, em caráter antecedente ao ajuizamento de pedido de
recuperação judicial.
Inicialmente se deve dizer que o rol deste artigo é exemplificativo e não taxativo,
determinando, dessa forma, que qualquer outra possibilidade de conciliação será admitida,
desde que não vedada ou desde que não exija algum pressuposto, como no caso de créditos
trabalhistas, que dependerão de acordo coletivo. Posteriormente, como já falei anteriormente,
o CPC é aplicável de forma subsidiária à LFRE. Portanto, não seriam necessários esses
dispositivos, considerando que os direitos disputados no âmbito da Falência e da RE, são
direitos disponíveis, com a única exceção de que os credores trabalhistas sempre estarão em
situação de hipossuficiência e vulnerabilidade (processual e material) o que pode determinar
um mau acordo, o que o Poder Judiciário deve evitar, pois, teleologicamente, deve sempre
visar a Justiça e não o fim do processo.

SUSPENSÃO DOS PROCESSOS.


§ 1º Na hipótese prevista no inciso IV do caput deste artigo, será facultado às empresas em
dificuldade que preencham os requisitos legais para requerer recuperação judicial obter
tutela de urgência cautelar, nos termos do art. 305 e seguintes da Lei nº 13.105, de 16 de
março de 2015 (Código de Processo Civil), a fim de que sejam suspensas as execuções contra
elas propostas pelo prazo de até 60 (sessenta) dias, para tentativa de composição com seus
credores, em procedimento de mediação ou conciliação já instaurado perante o Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do tribunal competente ou da
câmara especializada, observados, no que couber, os arts. 16 e 17 da Lei nº 13.140, de 26 de
junho de 2015.
§ 2º São vedadas a conciliação e a mediação sobre a natureza jurídica e a classificação de
créditos, bem como sobre critérios de votação em assembleia-geral de credores.
§ 3º Se houver pedido de recuperação judicial ou extrajudicial, observados os critérios desta
Lei, o período de suspensão previsto no § 1º deste artigo será deduzido do período de
suspensão previsto no art. 6º desta Lei.
Mais uma vez, uma regra desnecessária, tanto que remete ao CPC, que é aplicável
subsidiariamente à LFRE, no sentido da concessão de prazo de suspensão dos processos a fim
de determinar a possibilidade de tentativa de conciliação nesse período, deduzido do prazo
dos 180 dias fixados no art.6º. A exceção diz respeito à créditos trabalhistas e que dependam
da decisão dos credores em AGC.
HOMOLOGAÇÃO
Art. 20-C. O acordo obtido por meio de conciliação ou de mediação com fundamento nesta
Seção deverá ser homologado pelo juiz competente conforme o disposto no art. 3º desta Lei.
Parágrafo único. Requerida a recuperação judicial ou extrajudicial em até 360 (trezentos e
sessenta) dias contados do acordo firmado durante o período da conciliação ou de mediação
pré-processual, o credor terá reconstituídos seus direitos e garantias nas condições
originalmente contratadas, deduzidos os valores eventualmente pagos e ressalvados os atos
validamente praticados no âmbito dos procedimentos previstos nesta Seção.
Art. 20-D. As sessões de conciliação e de mediação de que trata esta Seção poderão ser
realizadas por meio virtual, desde que o Cejusc do tribunal competente ou a câmara
especializada responsável disponham de meios para a sua realização.

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