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UNIVERSIDADE CATÓLICA PORTUGUESA 

FACULDADE DE DIREITO | ESCOLA DE LISBOA

O problema da influência suposta e a conexão com o crime

de burla

Projeto de dissertação realizado no âmbito da disciplina de Metodologia de


Investigação Jurídica, lecionada pelo Professor Doutor Rui Pinto Duarte

N.º 142720024
Mestrado Forense
2020/2021
Lisboa, junho de 2021
1. Exposição do tema da dissertação- 4 mil caracteres incluindo espaços

O principal objetivo da dissertação é a análise do crime de tráfico de influência, previsto e


punido pelo art. 335º do Código Penal.
Para tal, pretende-se proceder à análise do tipo legal em causa, tomando particular atenção à
questão da influência suposta e da conexão com o crime de burla, previsto e punido pelo art. 217º
do Código Penal.
Temos assistido, nos últimos anos, a uma importância crescente dos crimes especiais ligados
à corrupção, por força das circunstâncias: são cada vez mais frequentes. Nestes, tutela-se um bem
jurídico supra-individual, que, por o ser, coloca em causa a própria estrutura do Estado de Direito
Democrático e o correto funcionamento das entidades públicas.
Todos estes crimes assentam numa indevida utilização das funções públicas na medida em
que, no caso do tráfico de influência, a conduta do sujeito ativo se destina à obtenção de uma
decisão ilícita favorável.

2. Exposição dos motivos da escolha do tema

Constatei, pelo estudo do crime de Tráfico de Influências na disciplina de Direito Penal

Económico, que estamos perante uma temática complexa, atual e com uma crescente relevância

social, que convoca variadas questões e suscita alguma controvérsia na doutrina quer do ponto de

vista da determinação do bem jurídico em causa como da análise da questão da

(in)constitucionalidade da influência suposta. Parece-nos, por isso, uma  questão de grande

interesse, principalmente quando se traz à colação a pertinência do crime de burla aliado a este tipo

de incriminação.

3. Fontes de direito mais relevantes para o tema

- Código Penal, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 400/82, de 23 de setembro, na versão dada pela
Lei n.º 58/2020, de 31 de agosto
- Código de Processo Penal, aprovado pelo DL n.º 78/87, de 17 de fevereiro, na versão dada pela
Lei n.º 39/2020, de 18 de agosto
- Constituição da República Portuguesa, aprovada pelo Decreto de 10 de abril de 1976, na versão
dada pela Lei n.º 1/2005, de 12 de agosto.
- Jurisprudência
- Doutrina

4. Exposição de uma ou várias questões metodológicas- 2 mil caracteres incluindo espaços


(2065)

A dissertação terá como primeiro pressuposto a análise do artigo 335º do Código Penal, uma
vez que é o preceito legal central nesta temática.
A origem deste artigo difere quando comparado com a maioria dos restantes preceitos
introduzidos pela Reforma de 1995. Enquanto que estes tiveram a sua origem na proposta de Lei de
Autorização Legislativa n.º 35/94, de 15 de setembro, e, consequentemente, no Decreto-Lei n.º
48/95, de 15 de março, o crime de Tráfico de influência resultou de um acordo conseguido entre os
partidos com assento parlamentar. Sucede que a Lei de Autorização Legislativa estabelecia, como é
comum, os exatos termos em que o Governo deveria legislar. No entanto, o Governo legislou num
sentido distinto do autorizado, o que conduziu a uma contraposição de ideias: se inicialmente o tipo
legal de crime estava pensado para que houvesse punição tanto nos casos em que a influência
exercida fosse real ou suposta; o texto final foi no sentido de haver punição apenas por influência
real. Ainda assim, o texto aprovado pela Assembleia da República contemplou ambos os casos. Esta
constitui uma das fragilidades do tema, na medida em que existem opiniões discordantes na
doutrina quanto à bondade desta decisão. De facto, alguns autores entendem que a incriminação da
influência meramente suposta é inconstitucional, uma vez que se o traficante passivo não goza de
uma verdadeira influência nunca poderá abusar dela, colocando em causa o bem jurídico tutelado
pela incriminação1.
Outra questão pertinente prende-se, precisamente, com o bem jurídico aqui tutelado. Se, por
um lado, uma determinada corrente doutrinária entende que o bem jurídico tutelado pelo art. 335º é
a integridade das funções do ente público; segundo o entendimento de Germano Marques da Silva,
o que está em causa é o próprio Estado de direito, vertido na liberdade de atuação das entidades
públicas bem como na integridade de funções dos funcionários e na própria imagem da
administração pública.
O próprio preenchimento do conceito de “influência” convoca algumas questões2.

1 Cfr. PEREIRA, Maria Margarida Silva , “Acerca do novo tipo de tráfico de influência”, in Jornadas sobre a
revisão do Código Penal, Maria Fernanda Palma e Teresa Pizarro Beleza (coord.), Associação Académica da
Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1998, p. 275 ss.
2 Trata-se de um verdadeiro conceito indeterminado, seno difícil defini-lo objetivamente. Por isso, há quem
questione a legalidade do preceito.
5. Alguma bibliografia pertinente

ALBUQUERQUE, Paulo Pinto de, "Comentário do Código Penal à Luz da Constituição da


República e da Convenção Europeia dos Direitos do Homem”, 3.ª ed., Lisboa, Universidade
Católica Editora, 2015.

PEREIRA, Maria Margarida Silva, “Acerca do novo tipo de tráfico de influência”, in Jornadas
sobre a revisão do Código Penal, Maria Fernanda Palma e Teresa Pizarro Beleza (coord.),
Associação Académica da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1998,

DIAS, Jorge De Figueiredo, “Direito Penal: Parte Geral, vol. I”, 2ª Edição, Coimbra, Coimbra
Editora, 2007.

MAURI, Miriam Cugat, “La desviación del interés general y el tráfico de influencias", Barcelona,
Editorial CEDECS, 1997.

LOPES, José Mouraz, “Sobre o novo crime de tráfico de influência (artigo 335 do Código Penal)",
in Revista do Ministério Público, n.º 64, ano 16. Outubro – Dezembro, 1995 [pp. 55 - 65].

d) Um artigo publicado numa publicaçã o perió dica estrangeira;

PRADO, Luis Regis, Revista de Derecho Penal y criminologia, 3ª Época, n.º 1, 2009, p.170.

CAEIRO, Pedro, “Tráfico de influência – art. 335”, in Comentário Conimbricense do Código


Penal, Parte Especial, tomo III, FIGUEIREDO DIAS (dir.), Coimbra, Coimbra Editora, 2001 [pp.
275-287].

LEAL-HENRIQUES, Manuel De Oliveira, e SANTOS, Manuel José Carrilho De Simas, “Código


Penal”, 2ª Edição, Lisboa, Rei dos Livros, 1997.

MADEIRA, António Pereira et al., “Código de Processo Penal Comentado”, 2ª ed., Coimbra,
Almedina, 2016.

BARQUERO, Enrique Casas, “Tráfico de Influencias”, in Estudios Penales en Memoria del


Professor Agustín Fernández- Albor, 1989, pp. 165- 174.
PRATA, Ana; VEIGA, Catarina; PIZARRO DE ALMEIDA, Carlota , “Dicionário Jurídico – Vol II
- Direito Penal e Direito Processual Penal”, 3.º ed. Coimbra, Almedina, 2018.

RODRIGUES, João Firmino Silveira Araújo, “Do Crime de Tráfico de Influência”, in Crime de
Tráfico de Influência, Coleção Formação Ministério Público, Centro de Estudos Judiciários, Lisboa,
acessível in http://www.cej.mj.pt/cej/recursos/ebooks/penal/eb_Trafico_Influencia_MP.pdf.

6. Nota biográfica

Paulo Sérgio Pinto de Albuquerque, nasceu a 5 de outubro de 1966, em Moçambique.


Licenciou-se em Direito, em 1989, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. No ano de
1994, completou o seu mestrado e, em 2003, doutorou-se, pela Faculdade de Direito da
Universidade Católica Portuguesa. Até 31 de março de 2020, exerceu funções de juiz no Tribunal
Europeu de Direitos Humanos. Dedica-se, essencialmente, às ciências jurídico-criminais, tendo uma
vasta coleção de obras publicadas.

7. Alguma jurisprudência pertinente

Acórdão do TRE de 27 de abril de 2010, processo n.º 31/08.2TAEVR.E1, disponível em


http://www.dgsi.pt/jtre.nsf/134973db04f39bf2802579bf005f080b/4b5edcc62919bd3180257de1005
74fc7?OpenDocument&Highlight=0,corrupção,abrantes (consultado em 08-06-2021, às 16:50).

Acórdão do TRC de 28 de setembro de 2011, processo n.º 169/03.2JACBR.C1, disponível em


http://www.dgsi.pt/jtrc.nsf/c3fb530030ea1c61802568d9005cd5bb/9896cdfcae7d32ea80257927003
4e579?OpenDocument (consultado em 08-06-2021, às 16:50).

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