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1. INTRODUÇÃO
Com o objetivo de refletir sobre a manutenção das audiências online no campo do
Direito Processual Penal, em um contexto pós-pandêmico, e, ainda, de suas repercussões na
prática forense se propõe o presente estudo em questionar se a garantia do direito a
informação é preservado nesse modo de realização de audiência, seja em depoimento de
testemunhas ou interrogatório, e a consonância com as demais garantias processuais eis que
entra em conflito com a manutenção da realidade da Recomendação do CNJ n. 62/2020 e a
própria codificação processual penal. De certo que há um reforço que se busca da garantia à
informação, direito fundamental de quarta dimensão com os originais direitos da primeira
dimensão que são garantias processuais. Nesse sentido, burcar-se-á no capítulo segundo a
definição de sistema processual penal seguido de uma análise acerca dos princípios
supramencionados e de sua devida correlação com a temática em tela. Inclusive, levar-se-á em
consideração nos capítulos terceiro, quarto e quinto como a imposição de audiências no
formato remoto se converte como óbice a consagração dos princípios do devido processo
legal, a ampla defesa e oralidade.
2. DO SISTEMA ACUSATÓRIO
Por elementar, deve-se ter em mente que o estudo acerca do sistema processual penal
brasileiro se inicia com a análise da concepção kantiana de sistema. Em sua obra, nos alerta o
iluminista alemão que a definição de sistema ou conjunto de temas se constrói a partir da
noção de um princípio unificador. Tal percepção se estende sobre o nosso estudo de maneira a
consolidar o sistema processual penal como aquele que detém o manejo/gestão da prova como
unidade sistemática. Nas palavras de MIRANDA COUTINHO, depreendemos-se que o modo
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Comportando a expressão, nesse caso, a presença de todas espécies de provas passíveis de exposição ou
produção (exame de corpo de delito, análise de imagens coletadas por câmaras de vigilância ou ainda o
testemunho de peritos etc.).
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brasileiro.
Sobre o tema, já nos ensinava SILVA que seria da essência do ideal democrático a
preconização do equilíbrio ou da harmonia entre os interesses das três esferas fundamentais,
quais sejam: a esfera pública – em que se situa o Estado; a esfera privada – representada pelo
indivíduo; e a esfera coletiva – que comporta os interesses dos indivíduos enquanto membros
de determinados grupos com fulcro econômico, político, cultural entre outros (2006, pg.
119/120).
Ao nos debruçarmos sobre a CRFB/88, em especial em seu artigo 5º, LIV,
compreendemos que nenhum indivíduo deverá sofrer restrição de bens ou de direitos sem ser
submetido por um devido processo legal.
No tocante ao termo processo, nos esclarece FAZZALARI de que este seria
procedimento em contraditório (1996, pp. 82-85), ou seja, uma concatenação de atos
construída a partir da igualitária e efetiva participação das partes com vistas a uma mesma
finalidade, qual seja: providência jurisdicional correspondente ao conteúdo aportado de tais
atos.
Em relação ao conceito de legalidade tem-se que este visa designar o processo penal
como caminho necessário (princípio da necessidade) para o exercício do poder punitivo; “as
regras do jogo” nos dizeres de LOPES JR. Inclusive, nos elucida o autor de que não se deve
conceber delito sem pena, nem pena sem delito e processo, o que por sua vez, afirma o caráter
instumental do processo penal em relação ao Direito Penal (2023, pg. 35-36).
O que ocorre é que a Recomendação nº 62 do CNJ/2020, instaurada durante a
pandemia de COVID-19 estabeleceu-se com o objetivo de dar prosseguimento aos processos
pendentes através de audiências online mesmo que tal feito comportasse o abrandamento do
interesse individual de seus sujeitos – ou seja, de suas garantias e direitos individuais.
Percebe-se que não se deve admitir a maculação do ideal democrático através de
medidas práticas e cabíveis mediante o sacrifício de direitos e garantias individuais. Observa-
se que a partir da Recomendação do CNJ, n. 62, passou-se a adotar discricionariamente como
regra a realização de audiência no formato remoto, o que passou a sufragar a efetivação do
devido processo legal através da impossibilidade do acusado ou de seu defensor em
demonstrar seu interesse por outro formato de reunião – feito que passou a ser a exceção.
Conforme veremos adiante, a imotivada utilização de instrumentos tecnológicos para a
realização de audiências no formato online em um contexto ordinário e pós-pandêmico deve
ser compreendida como uma escolha de cercear a consagração de princípios constitucionais.
4. CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.
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de que o ato delitivo é um ato histórico e. (iv) imediação do juiz com a provas. (PAULA;
CROZARA, 2012, p. 536).
Somente a partir da percepção de crime enquanto evento histórico conseguimos
compreender que a exposição dos fatos realizada pela própria vítima ou acusado comporta
uma virtualidade probatória ímpar e elementar para consolidação do convencimento do
julgador (BINDER, 2003, pg. 66).
Isso, porque o princípio do livre covencimento concede ao juiz margem para se
debruçar sobre suas impressões e sentimentos acerca da pessoa do réu, da vítima e do
arcabouço probatório produzido em sua presença para pronunciar a sentença que lhe achar
plausível.
Partindo deste ponto, observa-se que a imediação do juiz com a cosntrução das provas,
em especial a proveniente do réu junto ao seu defensor em audiência presencial, comporta
extrema relevância em sua decisão final.
Ao se optar que as audiências ocorram de modo remoto ou virtual se escolhe
inevitavelmente um caminho contrário aquele em que a preservação de direitos e garantias
fundamentais do acusado é almejada. Como nos esclarece BINDER, na verdade, a
estruturação dos sistemas criminais hodiernos deve objetivar a pacificação dos conflitos
imanentes ao corpo social em que recai a sua atuação através da confirmação dos efeitos da
oralidade.
Nos dizeres do autor, tão-somente através da imediação do juiz com a produção de
prova e a certeza de que será este, em pessoa, aquele que proferirá a sentença inerente a essa
produção é que o sistema de administração da justiça criminal caminhará no sentido de tornar
a audiência como um ato de pacificação social:
En la audiencia todo es distinto. Juan, el agresor, que ahora será acusado, se encuentra allí, en
presencia física, de carne y hueso; la víctima también con su lenguaje y perspectiva. Los
funcionarios estatales no son una “irma” sino una presencia real, y la comunidad (afectada también
por el conlicto) tiene la posibilidad de hacerse presente en la sala. Las formas cumplen en esta
audiencia una función de paciicación porque no ocultan a los protagonistas, no desplazan los
conlictos, solo logran que la violencia se traduzca en palabras, argumentaciones, debates,
presencia controlada y admitida. De esa manera, a través de la generación de un ámbito de
comunicación se logra un lugar de paciicación y tolerancia (2014, pg. 21)
Diante do exposto, torna-se evidente que não se pode manter a excepcionalidade como
regra e tolerar a manutenção de audiências online em substituição ao pleno exercício da ampla
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REFERÊNCIAS -
BRASIL CNJ. Recomendação nº 62, de 17 de março de 2020. Disponível
em: https://www.cnj.jus.br/wpcontent/uploads/2020/03/62-Recomenda
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PRADO, Geraldo. Sistema Acusatório: A Conformidade Constitucional das Leis
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Laura Gigante. Disponível em
<https://editora.pucrs.br/edipucrs/acessolivre/anais/congresso-internacional-de-
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