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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL


SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
BRIGADA MILITAR
DEPARTAMENTO DE ENSINO
ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

AL OF Patrick Frohnhofer ZAMBELI

DO HOMICÍDIO DOLOSOS CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADO POR


POLICIAL MILITAR EM SERVIÇO: atribuição para investigação preliminar

PORTO ALEGRE
2022
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AL OF Patrick Frohnhofer ZAMBELI

DO HOMICÍDIO DOLOSO CONTRA A VIDA DE CIVIL PRATICADO POR


POLICIAL MILITAR EM SERVIÇO: atribuição para investigação preliminar

Monografia apresentada à Academia de Policia Militar da Brigada Militar do Rio Grande do


Sul como requisito parcial para conclusão do Curso Superior de Policia Militar.

Orientador(a): Maj QOEM Vargas

PORTO ALEGRE
2022
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AGRADECIMENTOS
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RESUMO: A presente pesquisa busca analisar a divergência jurídico-institucional entre


Polícias Militares e Polícias Civis no que diz respeito à realização da investigação do crime de
homicídio doloso contra a vida de civil praticado por militar estadual em serviço, tendo por
objetivo esclarecer qual dos dois órgãos da Segurança Pública possui o alicerce normativo para
a instauração do expediente investigativo em face do crime mencionado. Realizou-se uma
revisão documental e descritiva do tema proposto por meio da interpretação das legislações
vigentes, quais sejam: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Decreto-lei
1.001, de 21 de outubro de 1969, Decreto-lei 1.002, de 21 de outubro de 1969, Lei n. 9.299, de
07 de agosto de 1996; das bibliografias afetas ao assunto; e das decisões judiciais proferida no
cerne do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de Justiça, do Tribunal de Justiça
Militar do Estado de São Paulo e do Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do
Sul. Após ser realizada a exploração documental da pesquisa, foi possível identificar que os
Tribunais Superiores possuem decisões judiciais antagônicas que conferem a ambos os órgãos
da Segurança Pública atribuição para realizar a investigação do crime em comento. O cerne das
respectivas jurisprudências transitam em torno da natureza jurídica do crime de homicídio
doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço, sobretudo após a alteração
de competência que retirou da alçada da Justiça Militar o processamento e julgamento destes
crimes, bem como em torno da aplicação da Teoria Norte-Americana dos Poderes Implícitos,
incorporado ao ordenamento jurídico brasileiro, que dispõe que quando a Carta Política de 1988
atribuiu determinada competência a um órgão ou entidade pública, conferiu, também, os meios
para que essa missão constitucional seja concretizada. Em que pese a existência de
posicionamentos judiciais distintos, concluiu-se que as Polícias Militares são os órgãos
responsáveis pela investigação do crime de homicídio doloso contra a vida de civil praticado
por militar estadual em serviço, posto que a respetiva infração penal possui natureza militar e,
ainda que seja processada e julgada no âmbito da justiça comum, especificamente pelo Tribunal
do Júri, sua investigação preliminar, por força legal, manteve-se no seio das Forças Auxiliares,
na execução das funções de polícia judiciária militar.

Palavras-chave: Homicídio doloso. Infração penal militar. Inquérito policial militar. Justiça
Militar.
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ABSTRACT: The present research intends to analyze the legal-institutional divergence


between the Military Police and the Civil Police regarding the investigation of the crime of
willful murder against the life of a civilian committed by a state military in service, with the
objective of clarifying which of the two Public Security bodies has the normative foundation
for the establishment of the investigative expedient in the face of the aforementioned crime. A
documental and descriptive review of the proposed theme was carried out through the
interpretation of current legislation, which are: Constitution of the Federative Republic of Brazil
of 1988, Decree-law 1,001, of October 21, 1969, Decree-law 1.002, of October 21, 1969, Law
n. 9.299, of August 7, 1996; bibliographies related to the subject; and judicial decisions
rendered at the heart of the Federal Supreme Court, the Superior Court of Justice, the Military
Justice Court of the State of São Paulo and the Military Justice Court of the State of Rio Grande
do Sul. After carrying out the documentary exploration of the research, it was possible to
identify that the Superior Courts have antagonistic judicial decisions that give both Public
Security bodies the attribution to carry out the investigation of the crime in question. The core
of the respective jurisprudence revolves around the legal nature of the crime of willful murder
against the life of a civilian committed by a military police officer on duty, especially after the
change in competence that removed the processing and judgment of these crimes from the scope
of Military Justice, as well as around the application of the North American Theory of Implicit
Powers, incorporated into the Brazilian legal system, which provides that when the Federal
Constitution of 1988 attributed a certain competence to a public body or entity, it also conferred
the means for this constitutional mission to be accomplished. Despite the existence of different
judicial positions, it was concluded that the Military Police is the body responsible for
investigating the crime of intentional homicide against the life of a civilian committed by a state
military in service, since the respective criminal offense has a military nature and, although it
is prosecuted and judged within the scope of common justice, specifically by the Jury Court, its
preliminary investigation, by legal force, remained within the Auxiliary Forces, in the execution
of the functions of military judicial police.

Key-words: Willful Murder. Military police investigation. Military Criminal Offense. Military
Justice.
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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ADI – Ação Direta de Inconstitucionalidade


CRFB/88 – Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988.
CP – Código Penal Brasileiro
CPM – Código Penal Militar
CPPM – Código de Processo Penal Militar
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SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS .......................................................................... 6


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 DA INFRAÇÃO PENAL MILITAR ...................................................................... 11
2.1 Do bem jurídico tutelado pelo Estado ........................................................................ 11
2.2 Do crime militar ........................................................................................................ 13
2.3 Da ampliação do conceito de crime militar por meio da promulgação da Lei 13.491 de
2017...........................................................................................................................................18
2.4 Do homicídio doloso previsto no Código Penal Militar .............................................. 20
3 DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR ................................................................ 24
3.1 Do conceito de polícia judiciária militar .................................................................... 24
3.2 Da atribuição para o exercício da atividade de polícia judiciária militar ..................... 26
3.3 Das funções da polícia judiciária militar .................................................................... 28
3.4 Do inquérito policial militar ...................................................................................... 31
4 DA ATRIBUIÇÃO PARA INSTAURAR INQUÉRITO POLICIAL PARA
APURAR CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA PRATICADOS POR POLICIAIS
MILITARES EM SERVIÇO ............................................................................................. 35
4.1 Do advento da Lei n. 9.299/96 e os seus reflexos jurídicos no ordenamento jurídico
brasileiro .............................................................................................................................. 35
4.2 Homicídio doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço e a
divergência acerca da atribuição para investigação preliminar .............................................. 40
5 METODOLOGIA CIENTÍFICA ........................................................................... 55
6 CONCLUSÃO ......................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 61
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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho científico trata do tema investigação criminal cuja delimitação


temática vincula-se à divergência institucional entre as Polícias Militares e as Polícias Civis no
que diz respeito à atribuição para investigação policial nos crimes dolosos contra a vida de civil
praticados por policiais militares integrantes da instituição castrense estadual.
Após diversas ações policias militares que resultaram em um grande número de mortes
de civis, na década de 90, como o conhecido caso da Chacina de Vigário Geral, o legislador
ordinário promulgou a Lei n 9.299, de 07 de agosto de 1996, a qual retirou da competência das
Justiças Militares o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil praticados por policiais
militares em serviço, os quais passaram a ser processados e sentenciados no âmbito da Justiça
Comum, especificamente pelo Tribunal do Júri. Citada alteração na competência da Justiça
Especializada Castrense surgiu com o pretexto de servir como resposta à sociedade brasileira
no que diz desrespeito a descorporativização das instituições de justiça militar.
Em alinho a essas alterações legislativas, surgiram interpretações jurídicas que passaram
a defender que o legislador ordinário, ao transferir o julgamento dos delitos contra a vida de
civil perpetrados por policiais militares para o Tribunal do Júri, esvaziou, também, a atuação
legal das Polícias Militares em proceder a investigação das condutas de seus integrantes em
eventos dessa espécie.
Para essa vertente inaugurada, a Polícia Civil seria o órgão atribuído, a partir de então,
de realizar a apuração das circunstâncias fáticas envolvendo policiais militares no exercício da
função quando o resultado de suas ações funcionais for o óbito de pessoa civil. As Polícias
Militares, por seu turno, continuaram a defender a sua prerrogativa legal de servir como polícia
judiciária militar para a apuração de infrações penais militares, as quais se incluíam, nessa
perspectiva, os crimes em tela.
Os antagonismos nas interpretações acerca da atribuição investigativa de tais fatos
resultaram em um cenário de instabilidade no ordenamento jurídico nacional. Em diversas
ocasiões, o Poder Judiciário foi convocado a se manifestar acerca do tema proposto. Decisões
judiciais em direções distintas foram observadas, sem que houvesse uma placidez em torno do
assunto.
No ano de 1997, o Supremo Tribunal Federal foi provocado a se manifestar acerca da
constitucionalidade dos dispositivos legais que supostamente outorgavam às Polícias Militares
a prerrogativa de servirem como elemento investigador da conduta de seus militares estaduais
em eventos morte de civil. Por seu turno, a Corte Constitucional, em caráter liminar na Ação
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Direta de Inconstitucionalidade n. 1494, do Distrito Federal, reconheceu a constitucionalidade


da atuação das forças castrenses estaduais em atuar como órgão de polícia judiciária militar em
face dos crimes contra a vida de civil praticado por policiais militares em serviço.
Por outro lado, no ano de 2001, o mesmo Tribunal Constitucional, por ocasião do
julgamento do Recurso Ordinário em Habeas Corpus n. 80.718 de forma divergente ao seu
posicionamento anterior, coordenou seu julgamento no sentido de que, a partir de então, a
Polícia Civil era o órgão da Segurança Pública encarregado de apurar as condutas dos militares
estaduais em eventos com morte de civil.
Em vista disso, o presente trabalho científico buscará analisar o seguinte: considerando
a existência de diversas decisões judiciais que percorrem direções em sentidos opostos, qual o
órgão policial possui o dever legal de realizar a investigação policial em face dos crimes dolosos
contra a vida de civil praticado por policiais militares em serviço?
Em que pese o supradito, observa-se que a instauração de inquérito policial, o qual será
o responsável por apurar as circunstâncias dos fatos que resultaram na morte de pessoal civil
durante a atuação funcional de militar estadual, deve ser deflagrado no cerne das Polícias
Militares, quando no exercício das funções de polícia judiciária militar, em alinho ao ensinado
pela Carta Fundamental de 1988, a qual dispõe que as Polícias Civis serão responsáveis pela
apuração de infrações penais, exceto as militares (BRASIL, 1988). Respectivo ensinamento
constitucional está reproduzido, também, na esfera infraconstitucional, haja vista a previsão
legal do art. 8º, alínea a, do Decreto-Lei n. 1.002, de 21 de outubro de 1969, a qual ensina que
a apuração das infrações penais militares é de atribuição da polícia judiciária militar (BRASIL,
1969).
Por intermédio da presente pesquisa, de forma geral, objetiva-se, então, dirimir essa
divergência jurídico-institucional e examinar qual organismo integrante da Segurança Pública
– Polícia Militar ou Polícia Civil, possui amparo normativo para capitanear as investigações
preliminares dos crimes dolosos contra a vida de civil praticados pelos militares estaduais em
serviço.
Antes de tudo, buscar-se-á definir os aspectos doutrinários acerca do que se entende por
bem jurídico tutelado pelo Estado Brasileiro; a definição doutrinária e legal de crime militar em
tempos de paz; além, também, de trazer as peculiaridades acerca do homicídio doloso contra a
vida previsto no Código Penal Militar.
Posteriormente, identificar-se-ão os objetos afetos à atividade de polícia judiciária
militar, quais sejam: o conceito acadêmico de polícia judiciária militar; a atribuição para o
exercício da atividade de polícia judiciária militar; as funções exercidas pela polícia judiciária
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militar; e, concluindo a matéria em questão, expor os assuntos afetos ao expediente


investigativo materializador da investigação preliminar castrense, qual seja, o inquérito polícia
militar.
Por fim, objetivar-se-á analisar a divergência jurídica envolto à atribuição institucional
para apurar as condutas típicas de militares estaduais em serviço que praticam crimes dolosos
contra a vida de civil. Para isso, analisar-se-ão os reflexos jurídicos fruto da promulgação da
Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996, que modificou a competência para o processamento e
julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticados por policiais militares; e apresentar-se-
ão os fundamentos jurídicos empregados pelo Poder Judiciário para atribuir a ambas as forças
policiais, respectivamente, a prerrogativa, a cada qual, para presidir as investigações
preliminares em face dos crimes dolosos contra a vida de civil praticado por policiais militares
em serviço.
Malgrado o supramencionado, a presente pesquisa científica é de suma importância para
às instituições Policiais Militares, haja vista que o assunto explorado busca compreender o cerne
da divergência jurídico-institucional no que diz respeito a sua atribuição constitucional de servir
como ferramenta investigativa de condutas supostamente típicas de seus integrantes.
O resultado morte de civil oriundo da atuação funcional de policiais militares desperta
na sociedade olhares acerca da legalidade dos fatos ocorridos. Para isso, é de suma importância
que o Estado, por meio de suas forças de segurança pública, realize a investigação
pormenorizada a fim de que sejam elucidadas as circunstâncias que antecederam a morte de
pessoa civil em decorrência da atuação de policial militar em serviço.
Para tanto, é necessário que haja coesão no ordenamento jurídico brasileiro no que diz
respeito à identidade do órgão que procederá a investigação preliminar dos crimes em comento.
O desalinho entre instituições, as quais buscam defender prerrogativas constitucionais,
transmitem a sensação à sociedade de que o Estado não está sistematizado e focado em cumprir
o seu dever investigativo.
Por isso, por meio da presente exploração científica do tema, além de buscar identificar
quais são os fundamentos que promovem esse desgaste entre instituições do setor de Segurança
Pública, tentar-se-á constatar qual dos fundamentos jurídicos que atribuem às forças policiais o
melhor amparo constitucional em suas atuações como polícias judiciárias.
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2 DA INFRAÇÃO PENAL MILITAR

2.1 Do bem jurídico tutelado pelo Estado

O Estado pode ser conceituado como sendo a distribuição de um povo na extensão de


um território definido munido de soberania (VICENTE, 2017). Além de servir como elemento
humano do Estado (NOVELINO, 2019), o povo é o alicerce para a congregação de indivíduos
que comungam de princípios e valores dentro de um regime político, formando, assim, o que
se entende por sociedade (REZENDE, entre 2017 e 2021). A antropologia entende que a
sociedade é uma necessidade humanas e condições de sobrevivência do ser humano. Nesse
sentido:

Não só os indivíduos estão na sociedade, mas a sociedade também está nos indivíduos,
incutindo-lhes, desde o nascimento deles, a sua cultura. A cultura e a sociedade
permitem a realização dos indivíduos, as interações entre os indivíduos permitem a
perpetuação da cultura e a auto-organização da sociedade (MORIN, 2005, p. 51-52).

Uma das características da vida em sociedade é a coexistência de diversos interesses


entre as pessoas. Consequentemente, observa-se como habitual do ser humano associado a
ocorrência dos mais variados conflitos de interesses como forma de sobrevivência comunitária.
Tendo em vista isso, o Estado promove meios formais de controle, como, por exemplo, a norma
penal incriminadora, que confere uma sanção penal ao indivíduo que, em uma relação
conflituosa, cause perigo ou lesão a algum valor jurídico relevante de determinado povo
(SCOLANZI, 2012).
O valor jurídico relevante tutelado pelo Estado, por meio da elaboração de normas
penais, é materializado pela doutrina por meio do instituto do bem jurídico. Este é entendido
por ser aquela propriedade humana que garante o seu desenvolvimento em sociedade e, por essa
razão, é dever do Estado garantir o seu amparo institucional. Em consonância ao retratado:

Bem jurídico é um ente material ou imaterial haurido do contexto social, de


titularidade individual ou metaindividual reputado como essencial para a coexistência
e o desenvolvimento do homem em sociedade e, por isso, jurídico-penalmente
protegido. Deve estar sempre em compasso com o quadro axiológico vazado na
Constituição e com o princípio do Estado Democrático e Social de Direito a ideia de
bem jurídico fundamenta a ilicitude material, ao mesmo tempo em que legitima a
intervenção penal legalizada (PRADO, 2009, p. 44).

Nesse diapasão, o instituto em tela caracteriza-se tanto por sua natureza particular, bem
como por sua essência coletiva. Todavia, independentemente da sua quantificação, se
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individual ou coletiva, o valor jurídico relevante ora tratado configura uma edificação
substancial da vida em sociedade e que garante a evolução societária de um povo (SCOLANZI,
2012).
Para Bianchini, Molina e Gomes (2009, p. 232):

[...] é o bem relevante para o indivíduo ou para a comunidade (quando comunitário


não se pode perder de vista, mesmo assim, sua individualidade, ou seja, o bem
comunitário deve ser também importante para o desenvolvimento da individualidade
da pessoa) que, quando apresenta grande significação social, pode e deve ser protegido
juridicamente. A vida, a honra, o patrimônio, a liberdade sexual, o meio-ambiente etc.
são bens existenciais de grande relevância para o indivíduo.

Em que pese a importância da tutela estatal em face aos valores substanciais da


coexistência humana em comunidade, há que ser observado que o caráter protetivo estatal deve
ser fundamentado pela elaboração de diplomas normativos de natureza penal-material na
desautorização ao indivíduo em praticar condutas que de alguma forma submetem a perigo ou
dano as propriedades existenciais do ser humano. Não está permitido ao legislador ordinário
criminalizar; entretanto, práticas que são permitas e garantidas pela própria Constituição da
República Federativa do Brasil, como, por exemplo, o exercício de uma profissão legítima e
que não afronte a moralidade ou a ordem pública (CUNHA, 2017).
À vista disso:

A referência a valores concretos não significa identificar o bem jurídico com o objeto
material (objeto da ação). O bem jurídico pode ter tantos aspectos materiais quanto
ideais, o que não desnatura seu conteúdo concreto. Ao legislador impõe-se que tenha
sempre em mente esse caráter concreto, como critério vinculante da seleção de crimes,
isto porque a identificação do bem jurídico só se torna possível quando conferido na
relação social em que se manifesta. Aí é que entra o conceito moderno de bem
jurídico, como delimitação à tarefa de identificação dos dados reais que compõem,
como fato natural, bem como orientação para a sua criação pelo direito. O legislador
está vinculado a só erigir à categoria de bem jurídico valores concretos que impliquem
na efetiva proteção da pessoa humana ou que tornem possível, ou assegurem sua
participação nos destinos democráticos do Estado e da vida social (TAVARES, 2010,
p. 711-728).

Por conseguinte, entende-se como pressuposto da tutela de todos os demais bens


jurídicos assegurados pelo Estado brasileiro, a existência do ser humano em comunidade. A
presença do indivíduo é assegurada pela guarida ao direito à vida. Nessa perspectiva:

A existência humana é o pressuposto elementar de todos os demais direitos e


liberdades dispostos na Constituição. Esses direitos têm nos marcos da vida de cada
indivíduo os limites máximos de sua extensão concreta. O direito à vida é a premissa
dos direitos proclamados pelo constituinte; não faria sentido declarar qualquer outro
se, antes, não fosse assegurado o próprio direito de estar vivo para usufruí-lo. O seu
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peso abstrato, inerente à sua capital relevância, é superior a todo outro interesse
(MENDES, 2017, p. 255).

Exemplo da tutela estatal em prol de um bem jurídico de suma relevância para o ser
humano, foi a atuação do legislador ordinário na seara penal incriminando penalmente a
conduta de um indivíduo em ceifar a vida de outro, por meio da construção legislativa do
Código Penal Comum e do Código Penal Militar. O CPM, por sua vez, prevê como proibida a
conduta do militar, seja federal ou estadual, matar alguém (BRASIL, 1969). Por meio desse
dispositivo, o Estado brasileiro valorou como propriedade substancial a existência: “a vida
humana, direito fundamental assegurado pelo artigo 5º, caput, da Constituição Federal”
(MASSON, 2019, p.579).
Conforme o exposto acima, verifica-se que o Estado, ao servir como instituição
responsável por organizar a vida em sociedade, deve, por meio dos seus mecanismos formais
de controle, garantir a harmonização comunitária entre as pessoas. Por meio do instituto do bem
jurídico, direitos fundamentais previstos na Carta Fundamental de 1988, como, por exemplo, o
direito à vida, acima mencionado, são tutelados contra condutas criminosas oriundas dos
conflitos existentes entre os mais diversos interesses de nossa nação.

2.2 Do crime militar

Preliminarmente é significativo contemplar que a doutrina brasileira leciona que o crime


– condutas de maior relevância – é uma espécie do gênero infração penal, conjuntamente ao
instituto da contravenção penal – crime liliputiano – filiando-se, desse modo, ao sistema
dualista ou binário (CERA, 2011).
De forma diversa ao modelo brasileiro, a Espanha, por exemplo, adotou o sistema
tripartido de infração penal, o qual distingue o que se entende por crimes, delitos e
contravenções penais (BAYER, 2014). Nesse sistema, a gravidade da conduta criminosa é
fracionada em três patamares, quais sejam: o conceito de crime está vinculado a fatos muito
graves; delitos, por seu turno, relacionados à acontecimentos típicos de média repercussão
social; e contravenção, por fim, a comportamentos de menor significância (KNOEPKE, 2018).
Nada obstante, seguindo o princípio adotado pelo Direito brasileiro, a infração penal –
crime e contravenção penal, pode ser definida conforme o ângulo acadêmico, isto é, conforme
o enfoque atribuído pelo interprete do direito. Dessa forma:
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Sob o enfoque formal, infração penal é aquilo que assim está rotulado em uma norma
penal incriminadora, sob ameaça de pena. Num conceito material, infração penal é o
comportamento humano causador de relevante e intolerável lesão ou perigo de lesão
ao bem jurídico tutelado, passível de sansão penal. O conceito analítico leva em
consideração os elementos estruturais que compõe a infração penal, prevalecendo fato
típico, ilícito e culpável (SANCHES, 2017, p. 160).

Sob outra perspectiva, a infração penal pode ser, também, explorada por meio de seu
instrumento epistemológico encarregado por coordenar sua própria configuração. Aludido
mecanismo corresponde ao conceito analítico de crime, o qual enumera uma sequência de
componentes que, quando preenchidos analiticamente, permite ao interprete do direito verificar
se determinado fato ocorrido possui correspondência criminosa, ou não (SANTIAGO, 2020).
Assim sendo, o primeiro elemento que se extraí do conceito analítico é a tipicidade, a
qual pode ser conceituada como sendo a conduta humana que afronta a ordem jurídica e social
e que se insere em uma norma incriminadora prevista pelo Direito Penal. À vista disso:

Fato típico, portanto, pode ser conceituado como ação ou omissão humana, antissocial
que, norteada pelo princípio da intervenção mínima, consiste numa conduta produtora
de um resultado que se subsome ao modelo de conduta proibida pelo Direito Penal,
seja crime ou contravenção penal. Do seu conceito extraímos seus elementos: conduta,
nexo causal, resultado e tipicidade (SANCHES, 2017, p. 197).

Em um segundo plano, encontra-se a ilicitude, também denominada de antijuridicidade,


como sendo a conduta humana dotada de tipicidade que não encontra amparo, ou seja, que está
em desacordo com o ordenamento jurídico. Nessa toada, ressalta-se que para a configuração de
um fato como criminoso, não basta que a conduta seja emanada de tipicidade, posto que há de
ser típica e não estar autorizada, ou justificada, por qualquer ramo existente no direito brasileiro
(CAPEZ, 2007). Conforme a respectiva lição:

Devemos ter presente que a antijuridicidade não surge do direito penal, mas de toda
ordem jurídica, porque a antinormatividade pode ser neutralizada por uma permissão
que pode provir de qualquer parte do direito: assim, o hoteleiro que vende a bagagem
de um freguês, havendo perigo na demora em acudir a justiça, realiza uma conduta
que é típica do art. 168 do CP [apropriação indébita], mas que não é antijurídica,
porque está amparada por um preceito permissivo que não provém do direito penal,
mas sim do direito privado (art. 1470 do CC/02). A antijuridicidade é, pois, o choque
da conduta com a ordem jurídica, entendida não só como uma ordem normativa
(antinormatividade), mas com uma ordem normativa de preceitos permissivos. O
método, segundo o qual se comprova a presença da antijuridicidade, consiste na
constatação de que a conduta típica (antinormativa) não está permitida por qualquer
causa de justificação (preceito permissivo), em parte alguma da ordem jurídica (não
somente no direito penal, mas tampouco no direito civil, comercial, administrativo,
trabalhista, etc (ZAFFARONI; PIERANGELI, 2009, p. 540).

Por fim, observa-se como último substrato do conceito analítico de crime, a


culpabilidade. Este elemento constitutivo – que se forma quando reunidos seus elementos:
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imputabilidade, potencial consciência da ilicitude e exigibilidade de conduta diversa do delito


(SANCHES, 2017) – consiste no juízo valorativo de reprovação da conduta típica e ilícita
praticada pelo indivíduo, ou melhor dizendo, trata-se da análise referente à necessidade de
aplicar a pena prevista no tipo penal ao caso concreto (JUNQUEIRA; VANZOLINI, 2018).
Parte da literatura refere-se, também, a culpabilidade como elemento balizador da
viabilidade da aplicação da sanção penal ao indivíduo que praticou um fato dotado de tipicidade
e que não encontre justificação como guarida no ordenamento jurídico brasileiro. Veja-se

(…) A culpabilidade, como fundamento da pena, refere-se ao fato de ser possível ou


não a aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico, isto é, proibido
pela lei penal. A culpabilidade, como fundamento da pena, refere-se ao fato de ser
possível ou não a aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e antijurídico, isto
é, proibido pela lei penal. Para isso, exige-se a presença de uma série de requisitos –
capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade da conduta – que
constituem os elementos positivos específicos do conceito dogmático de
culpabilidade. A ausência de qualquer desses elementos é suficiente para impedir a
aplicação de uma sanção penal (BITENCOURT, 2003, p. 14).

Nada obstante, uma vez verificado os componentes constituidores do delito comum, a


conduta criminosa praticada em detrimento de princípios e valores essenciais às instituições
militares, subsume-se à concepção definida pela doutrina como infração penal militar.
Como cultivado anteriormente, a normal penal tem como uma das suas funções tutelar
propriedades jurídicas de uma sociedade. No âmbito castrense não é diferente, posto que se
verifica que o tipo penal militar socorre de ameaça de lesão ou lesão princípios substanciais que
desde os primórdios fundam às organizações militares.
Dispõe-se que o Direito Penal Militar, responsável por reunir o universo incriminador
das condutas típicas, ilícitas e culpáveis, é extraordinário por ter como missão constitucional,
nos termos dos artigos 42 c/c 142, ambos da Constituição da República Federativa do Brasil,
proteger os preceitos basilares da Instituições Militares permanentes e regulares pátrias.

Art. 42. Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares,


instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios (BRASIL, 1988).

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e,
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem (BRASIL, 1988).

Destaca-se que a disciplina e a hierarquia não são os únicos valores substanciais


tutelados pelo Direito Penal Militar. Contudo, pela doutrina pátria, são considerados os pilares
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da tutela penal militar por serem o alicerce constituidor de toda entidade marcial, inclusive
fundamentando, quer seja diretamente, quer seja indiretamente, outros bens jurídicos
amparados pela normal penal militar. Conforme essa perspectiva:

(…) qualquer que seja o bem jurídico evidentemente protegido pela norma, sempre
haverá, de forma direta ou indireta, a tutela da regularidade das instituições militares,
o que permite asseverar que, ao menos ela, sempre estará no escopo de proteção dos
tipos penais militares, levando-nos a concluir que em alguns casos teremos um bem
jurídico composto como objeto de proteção do diploma penal castrense (NEVES,
2017, p. 554).

Nessa lógica segue o entendimento jurisprudencial do Tribunal de Justiça Militar do


Estado do Rio Grande do Sul, no julgamento da Apelação Criminal n. 1001039/2010, de
relatoria do Excelentíssimo Senhor Doutor Desembargador de Justiça Militar João Vanderlan
Rodrigues Vieira, proferido na data de 01 de junho de 2021:

Ementa: Recusa de obediência e desacato a superior. Arts. 163 e 298 do CP Militar.


Crimes cometidos por soldado que se recusa a obedecer à ordem de sargento e, em
seguida, profere impropérios contra o superior. Desenrolar fático suficientemente
demonstrado pela prova testemunhal carreada para os autos. Delitos configurados.
Desclassificação. Impossibilidade. Os delitos de recusa de obediência e desobediência
atentam contra bens jurídicos diversos. Enquanto o primeiro, insculpido no art. 163
do CPM, se assenta na hierarquia, na disciplina e no bom andamento do serviço, sendo
muito mais grave por subverter a estrutura militar e exigindo, para sua configuração,
o dolo de não aceitar ordem emanada pelo superior, no delito do art. 301, cujo nomen
juris é a desobediência, delito mais brando, o bem jurídico protegido é a
Administração Militar. Apelo defensivo improvido. Decisão unânime (TRIBUNAL
DE JUSTIÇA MILITAR – RS, 2021).

Nada obstante, uma vez apreciadas as fundações jurídicas fundamentadoras da vida


militar, focaliza-se, então, no critério definidor do que se entende por crime militar cultivado
pela ciência jurídica militar. Consoante se extrai, delito militar é assim entendido por, além de
tutelar os bens jurídicos da disciplina e hierarquia, serem reservados para a incriminação de
condutas típicas, ilícitas e culpáveis que são praticadas dentro de contextos marciais previstos
em uma legislação especial.
Nessa toada, o Código Penal Militar, em seu artigo 9º, é o responsável por trazer
conjunturas taxativas caracterizadoras do crime militar. Assim sendo, destaca-se que para uma
infração penal militar ser caracterizada, é necessário que o indivíduo, militar, pratique um fato
típico, ilícito, culpável e que a circunstância criminosa seja desenvolvida dentro dos limites
fáticos previstos no dispositivo penal militar em questão. Desta feita, entende-se que “a fórmula
do crime militar é: fato típico + antijurídico + culpável + art. 9º do CPM” (SANTOS, 2013, p.
69).
17

Destarte, o artigo 9º do Código Penal Militar, por sua vez, traz as seguintes
circunstâncias caracterizadoras do crime militar:

Art. 9º. Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:


I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal
comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;
II - os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando
praticados: (Inciso com redação dada pela Lei nº 13.491, de 13/10/2017)
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma
situação ou assemelhado;
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à
administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou
civil;
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza
militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra
militar da reserva, ou reformado, ou civil; (Alínea com redação dada pela Lei nº 9.299,
de 8/8/1996)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva,
ou reformado, ou assemelhado, ou civil;
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a
administração militar, ou a ordem administrativa militar;
f) (Revogada na Lei nº 9.299, de 8/8/1996)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as
instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso
I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa
militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou
assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no
exercício de função inerente ao seu cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de
natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação
da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para
aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior. (BRASIL, 1969).

A utilização do dispositivo legal supracitado como forma de caracterizar o crime militar,


conforme a doutrina pátria, é consequência da adoção, pelo direito penal militar, do critério
ratione legis. Cumpre-se destacar que, embora o respectivo critério seja o internalizado pela
ordem jurídica militar, outros, também, como o ratione personae, ratione materiae, são
utilizados para delimitação do delito militar.
Todavia, como forma de sedimentar a configuração do instituto em tela, evitando a
regular subutilização de um critério em ralação ao outro, a literatura castrense ensina que houve
a necessidade da especialização de uma das regras acima mencionadas como forma de garantir
a rigidez conceitual do crime militar. Nessa toada:

Ocorre que multiplicidade de critérios definidores conduzia, inexoravelmente, à


impossibilidade de uma exata concepção, havendo momentos na história da legislação
18

penal militar brasileira em que um critério se sobrepunha ao outro, o que forçosamente


influenciou o legislador penal de 1969 a adotar todos os critérios enumerados, sem
que houvesse a prevalência clara de um deles, o que levou à conclusão de que o critério
adotado em nosso país para a configuração do crime militar foi o critério ratione legis,
ou seja, crime militar é aquele delineado como tal pela lei penal militar (NEVES;
STREIFINGER, 2012, p. 114).

Por conseguinte, extrai-se do texto legal acima citado, preliminarmente, dois conceitos
de crime militar, quais sejam: crime militar próprio e crime militar impróprio.
O delito penal militar próprio é aquele que possui previsão normativa apenas no Código
Penal Castrense e apenas militares podem ser os sujeitos ativos da respectiva infração penal
(NUCCI, 2019). Cita-se como exemplo o crime de desrespeito a superior, previsto no artigo
160 do Diploma Legal Militar em tela:

Art. 160. Desrespeitar superior diante de outro militar:


Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. Se o fato é praticado contra o comandante da unidade a que pertence
o agente, oficial-general, oficial de dia, de serviço ou de quarto, a pena é aumentada
da metade. (BRASIL, 1969).

Por outro lado, o crime militar impróprio são os que possuem previsão no Código
Marcial e, também, na legislação penal comum, como ocorre no crime de concussão, cuja
previsão normativa está tanto no CPM, em seu artigo 305, bem como no CP, quando positivado
no dispositivo penal n. 316, ambos com redações legais idênticas, tais quais como, “exigir, para
si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas
em razão dela, vantagem indevida” (BRASIL, 1940).
Há que ser destacado que a partir da promulgação da Lei n. 13.491 de 2017, a doutrina
militar passou prever, também, o conceito de crime militar por extensão como sendo aquele que
possui previsão unicamente na legislação penal comum, quando praticada em uma das
circunstâncias situacionais previstas no artigo 9º do Código Penal Militar. Nesse sentido,
entende-se que o dispositivo agora instituiu os crimes militares por extensão como aqueles
previstos exclusivamente na legislação penal comum, isto é, no Código Penal e na legislação
extravagante (Roth, 2018).

2.3 Da ampliação do conceito de crime militar por meio da promulgação da Lei 13.491
de 2017
19

Até meados do ano de 2017, o conceito de crime militar impróprio era delimitado pelo
artigo 9º, inciso II, do Código Penal Militar, como sendo aqueles previstos na legislação
específica e com igual definição na lei penal comum.
Contudo, a partir da promulgação da Lei n. 13.491, de 13 de outubro de 2017, que
possui a finalidade de ampliar a competência das justiças militares por meio da absorção do
julgamento de infrações penais prevista em todo ordenamento jurídico-penal comum, quando
praticadas por militar em uma das circunstância previstas no artigo 9º do Código Penal Militar
(FOUREAUX, 2017), a redação do dispositivo em tela passou a ser da seguinte forma: “os
crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal” (BRASIL, 1969).
Desse modo, toda e qualquer conduta típica, ilícita e culpável prevista em um diploma
normativo comum, quando desenvolvida no contexto do artigo 9º do CPM, ainda que não haja
definição legal semelhante no Código Castrense, passou a ser considerada como conduta
criminosa de natureza militar.
Desta feita, a literatura militar aventou a nova definição doutrinária, até então utilizada,
de crime militar por extensão, ou, também, crime militar extravagante. Nesse sentido, aventou-
se o seguinte: “Com o advento da Lei 13.491/17, o critério ex vi legis continuou prestigiado,
todavia, reconhecemos agora o acréscimo de uma nova categoria de crimes militares que
denominamos crimes militares por extensão” (ROTH, 2018, n.p).
O termo extravagante, por sua vez, defendido por parcela da doutrina, se dá em razão
de que tipificação criminal extravagante do delito está às margens do Código Penal Militar, isto
é, por exemplo, no Decreto-Lei 2.848 de 1940, o que permite a identificação da reincidência
em outra infração penal comum praticada pelo indivíduo em sua vida fora das celeumas
castrenses (NEVES, 2017).
Não obstante, depreende-se do acima observado, que por meio da aplicação do critério
definidor ratione legis, o conceito de crime miliar sofreu uma transformação com a
promulgação da Lei 13.491 de 2017. Antes, entendia-se como delito militar, apenas as condutas
tipificadas com correspondência única no Código Penal Militar – crime militar próprio, ou, que
também possuíssem correspondência igual na Legislação Penal Comum – crime militar
impróprio.
Atualmente, por meio da nova redação do inciso II, do artigo 9º, do Código Penal
Castrense, independentemente da localização normativa do tipo penal incriminador, desde que
praticado em uma das circunstâncias previstas no dispositivo em tela, o delito passou a ser
conceituado como crime militar cuja sua natureza é extensiva por força de lei.
20

2.4 Do homicídio doloso previsto no Código Penal Militar

A vida é um bem jurídico relacionado à existência do ser humano, sendo tutelado


pela Carta Política de 1988, em seu artigo 5º, caput. Sua órbita de proteção relaciona-se
com a existência biológica do indivíduo, cuja origem se dá com o seu nascimento e
conclui-se com seu óbito (NOVELINO, 2019).
Todavia, destaca-se que, ainda que seja um direito fundamental existencial, não
possui o instituto natureza absoluta em sua esfera protetiva. Nesse sentido, há que ser
observado que o próprio ordenamento jurídico-constitucional prevê situações que
haverá a relativização da vida do indivíduo, como, por exemplo, a legítima defesa
prevista legalmente por ambos os Códigos Penais existentes (MASSON, 2019).
No que diz respeito ao crime de homicídio doloso, destaca-se que a normal penal
incriminadora de condutas que atentem contra a vida do ser humano está positivada no
Código Penal Comum – em seu artigo 121, caput, bem como no Código Penal Militar.
No Código Castrense, por sua vez, o homicídio doloso está previsto no artigo 205, caput,
cuja redação normativa se dá da seguinte maneira: matar alguém (BRASIL, 1969). Nessa toada,
cumpre-se destacar que a doutrina contemporânea define que a conduta homicida se caracteriza
pela extinção da vida humana extrauterina por outro indivíduo (MASSON, 2019).
Destaca-se que a consumação do delito de homicídio doloso se verifica com a cessação
das funções vitais do ser humano, isto é, que não seja mais possível que o indivíduo sobreviva
por meio dos seus próprios recursos biológicos, posto que seu coração, cérebro, pulmão não
respondem regularmente a sua natureza (NUCCI, 2019).
Por outro lado, a Lei 9.434 de 1997 dispôs que a supressão vital que interessa ao
ordenamento jurídico, autorizativa, inclusive, para transplante post mortem de órgãos, para fins
de tipificação do crime em comento, é o da função encefálica (NUCCI, 2019). Nesse sentido,
o artigo 3º do respectivo diploma normativo dispõe que:

A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a


transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica,
constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por
resolução do Conselho Federal de Medicina (BRASIL, 1997).

Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento da Arguição de


Descumprimento de Preceito Fundamental n. 54, reconheceu a atipicidade da conduta da
gestante que autoriza seu médico a realizar o aborto em feto anencéfalo, posto que a constatação
21

médica de morte encefálica em feto transforma a sua retirada irrelevante por ausência de vida
intrauterina no caso em concreto (CABETTE, 2017).
Veja-se:

ESTADO – LAICIDADE. O Brasil é uma república laica, surgindo absolutamente


neutro quanto às religiões. Considerações. FETO ANENCÉFALO –
INTERRUPÇÃO DA GRAVIDEZ – MULHER – LIBERDADE SEXUAL E
REPRODUTIVA – SAÚDE – DIGNIDADE – AUTODETERMINAÇÃO –
DIREITOS FUNDAMENTAIS – CRIME – INEXISTÊNCIA. Mostra-se
inconstitucional interpretação de a interrupção da gravidez de feto anencéfalo ser
conduta tipificada nos artigos 124, 126 e 128, incisos I e II, do Código Penal. (ADPF
54, Relator(a): MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 12/04/2012,
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-080 DIVULG 29-04-2013 PUBLIC 30-04-2013
RTJ VOL-00226-01 PP-00011) (BRASIL, 2012).

Nada obstante, o crime militar de homicídio doloso – artigo 205 do CPM – é incluído
no que se entende por crimes dolosos contra a vida. Todavia, de forma diversa do Código Penal
Comum, o qual possui capítulo especial para tratar da tutela jurídica do respectivo bem jurídico,
o Código Militar Marcial não possui capitulação específica para abarcar os delitos dolosos de
tais naturezas.
O crime em tela, então, juntamente do homicídio (quer seja na modalidade dolosa, quer
seja na modalidade culposa – artigo 206, do CPM); da provocação direta ou auxílio a suicídio
– artigo 207, do CPM; e do genocídio – artigo 208, do CPM, está inserido no Título IV – Dos
crimes contra a pessoa. Desse modo:

O Código Penal Militar, não dispondo de um capítulo específico prevendo os crimes


contra a vida, previu seu Título IV tratando Dos crimes contra a Pessoa, elencando no
entanto, apenas 3 crimes, a saber: o homicídio (art. 205) e sua forma culposa (art.
206); a provocação direta ou auxílio a suicídio (art. 207); e o genocídio (art. 208). (...)
Diante disso, podemos delimitar os crimes militares dolosos contra a vida: o
homicídio e a provocação direta ou auxílio a suicídio (ASSIS, 2012, p. 159).

Além da observação acima proposta, destaca-se o entendimento de Assis sobre a


natureza jurídica do crime de homicídio doloso previsto no Código Penal Militar. Esse, quando
praticado por militar em situação de atividade – artigo 9º, inciso II, alínea a, do CPM, é
considerado um crime militar impróprio, posto que o mesmo possui previsão idêntica na
legislação penal comum, qual seja: no artigo 121 do Código Penal Comum. Nota-se:

(...) também está pacificado que o delito em questão é daqueles que se denominam
crimes militares impróprios, ou seja, ante o comando do artigo 9º do CPM, e das várias
hipóteses de seu inc. II, se encontra com igual definição na lei penal comum,
exatamente no artigo 121 do CP (ASSIS, 2012, pg. 165).
22

Por fim, destaca-se que o artigo 205 do CPM prevê as modalidades do delito em questão
quando a conduta for desenvolvida em circunstâncias fáticas específicas. Em seu parágrafo
primeiro, o Código Penal Militar traz o homicídio privilegiado, o qual se caracteriza prática do
crime pelo indivíduo que está: “impelido de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio
de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima” (BRASIL, 1969).
A doutrina ensina que o relevante valor social está configurado pelo interesse coletivo,
e não meramente individual, vinculando-se ao sentimento de fidelidade, fraternidade, civismo
(NUCCI, 2019). Noutro sentido é a privilegiadora do relevante valor moral, a qual assume
interesse particular, individual do homicida, como, por exemplo, a eutanásia de um ente querido
no leito de morte de um hospital (MASSON, 2019).
Ainda no que diz respeito ao homicídio privilegiado, outra forma de privilégio
criminoso é o domínio de violenta emoção, logo após a injusta provocação da vítima. Nesse
ponto, a conduta é praticada fundamentada em uma perturbação que retira do homicida o seu
estado de normalidade psíquica, posto que o mesmo passa a ser coordenado pelos seus
sentimentos, como, por exemplo, o ódio, a raiva (GANEM, 2018).
De maneira oposta às condutas privilegiadas do delito, estão as qualificadoras previstas
no artigo 205, § 2º do CPM. Antes de tudo, faz-se necessário entender a definição de homicídio
qualificado:

(...) é o homicídio praticado em particulares circunstâncias legais, integrantes do tipo


derivado, alterando para mais a faixa de fixação da pena. Portanto, da pena de reclusão
de 6 a 20 anos, prevista para o homicídio simples, passa-se ao mínimo de 12 e ao
máximo de 30 para a figura qualificada (NUCCI, 2019, p. 319).

O delito contra a vida em questão pode ser qualificado, conforme o texto legal
competente, das seguintes formas:

Art. 205. Matar alguém: (...)


§ 2° Se o homicídio é cometido:
I - por motivo fútil;
II - mediante paga ou promessa de recompensa, por cupidez, para excitar ou saciar
desejos sexuais, ou por outro motivo torpe;
III - com emprêgo de veneno, asfixia, tortura, fogo, explosivo, ou qualquer outro meio
dissimulado ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;
IV - à traição, de emboscada, com surprêsa ou mediante outro recurso insidioso, que
dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima;
V - para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro
crime;
VI - prevalecendo-se o agente da situação de serviço:
Pena - reclusão, de doze a trinta anos. (BRASIL, 1969).
23

Em suma, do que se depreende acima, tem-se que as qualificadoras previstas nos incisos
I, II, V, VI e VII, acrescendo a traição, prevista de forma inicial no inciso IV, são
circunstanciadoras de ordem subjetiva, isto é, que estão no domínio do sujeito homicida, e não
relacionadas ao fato em si. Por outro lado, as qualificadoras previstas nos incisos III e IV, com
exceção, como já dito, da traição, são de natureza objetiva, ou em outras palavras, vinculam-se
ao fato criminoso, ao seu modus operandi (MASSON, 2019).
Inobstante a tratativa do crime acima citado, destaca-se que os crimes dolosos contra a
vida previstos no Código Penal Militar, como outrora embargado, não se encontram em tópico
específico no respectivo diploma normativo. Contudo, tais particularidades não serão
examinadas na presente pesquisa científica, a qual se resumirá a tratar do homicídio doloso
contra a vida, sobretudo, do homicídio doloso contra a vida de civil praticado por militar em
situação de atividade.
24

3 DA POLÍCIA JUDICIÁRIA MILITAR

3.1 Do conceito de polícia judiciária militar

A polícia judiciária militar é a atividade administrativa exercida por um órgão do Poder


Executivo que possui mister constitucional de servir como ferramenta auxiliar do Poder
Judiciário nas manifestações dos postulados da Justiça. Os procedimentos administrativos
realizados pelo órgão de polícia judiciária militar, conforme leciona a doutrina, dirigem-se, de
sobremaneira, ao Ministério Público Militar, circunstância, esta, que justifica o entendimento
de que o desenvolvimento da atividade em tela não pertence ao Poder Judiciário, embora
realizado no contexto do Poder Executivo, mas, sim, à materialização do Direito em território
nacional (NEVES, 2018).
A polícia judiciária militar possui natureza repressiva, isto é, irrompe seus institutos a
si intrínsecos a partir da ocorrência do ilícito criminal militar. Nesses termos, a polícia
judiciária, conforme o ensinamento de Lazzarini (1987 apud NEVES, 2018, p. 254) “é a polícia
repressiva, porque atua após a eclosão do ilícito penal, funcionando como auxiliar do Poder
Judiciário”.
Conforme o observado acima, apresenta-se como necessário compreender que o
exercício de polícia acima transcrito não se confunde com o seguimento de polícia
administrativa. Enquanto aquela é desenvolvida como auxiliar da Justiça, esta atua no campo
preventivo, tutelando ameaças de lesões ou lesões aos bens jurídicos de suma importância para
nossa sociedade (LIMA, 2017).
Nesse sentido é a lição de Foureax (2020, n.p):

Dessa forma, a polícia administrativa volta-se para a manutenção de uma situação de


normalidade da ordem pública, preservando-se, consequentemente, a segurança
pública, tranquilidade pública e a salubridade pública. A polícia administrativa
assegura direitos e protege bens tutelados juridicamente, como a vida, a liberdade e a
propriedade e, em que pese possuir uma conotação mais preventiva, também atua na
repressão e fiscalização.

A polícia administrativa é uma das vertentes do poder de polícia da administração


pública, o qual pode ser definido por meio da leitura do artigo 78 do Código Tributário
Nacional. Assim preleciona o referido dispositivo:

Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que,


limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene,
25

à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de


atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos (BRASIL, 1966).

Por conseguinte, feitas às considerações pertinentes à polícia preventiva, a presente


pesquisa cuidará de tratar das matérias atinentes à polícia judiciária militar, não se atendo, de
forma interventiva, às questões acadêmicas das demais expressões limitadoras da administração
pública.
Voltando-se à tratativa do instituto telado, nota-se que a Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988 não tratou expressamente do instituto da polícia judiciária militar
em seu corpo normativo do mesmo modo que concretizou a atividade de polícia judiciária
comum, no âmbito da União, com exclusividade, para a Polícia Federal, e, no plano estadual,
para as Polícias civis.
O que se depreende da constitucionalização, indireta, da atividade judiciária militar
castrense, é a ressalva às policias civis para apuração das infrações penais militares
(ROSSETTO, 2021).
Desse modo é o dispositivo constitucional supracitado:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos,


é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do
patrimônio, através dos seguintes órgãos: (...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de
infrações penais, exceto as militares (BRASIL, 1988).

Por outro lado, a Constituição do Estado do Rio Grande do Sul, por sua vez, com redação
dada pela Emenda Constitucional n. 73, 12 de julho de 2017, atribuiu em seu artigo 129, caput,
expressamente a Brigada Militar, além do encargo de promover a polícia ostensiva, o exercício
da atividade de polícia judiciária militar. Veja-se:

Art. 129. À Brigada Militar, dirigida pelo Comandante-Geral, oficial da ativa do


quadro da Polícia Militar, do último posto da carreira, de livre escolha, nomeação e
exoneração pelo Governador do Estado, incumbem a polícia ostensiva, a preservação
da ordem pública e a polícia judiciária militar (Redação dada pela Emenda
Constitucional n.º 73, de 12/07/17). (RIO GRANDE DO SUL, 1989).

Entretanto, embora não seja prevista sem desvios na Carta Fundamental de 1988, a
atividade de polícia judiciária militar é uma legítima atribuição das Forças Armadas, e de suas
Forças Auxiliares – polícias militares, tendo, como uma das suas principais funções, a apuração
26

de infrações penais militares praticadas no contexto da caserna, cuja previsão está na ordem
infraconstitucional, sobretudo no Código de Processo Penal Militar, conforme a seguir analisar-
se-á.

3.2 Da atribuição para o exercício da atividade de polícia judiciária militar

A atribuição para o exercício de determinada atividade conferida pela Carta Política de


1988, ou até mesmo, por legislação infraconstitucional, corresponde a outorga à determinada
entidade da administração pública para que essa, no escopo de suas incumbências, pratique
determinada intervenção administrativa (TEIXEIRA, 2009).
Diniz (2005 apud Teixeira, 2009, p. 12) define atribuição da seguinte maneira:

1. Direito administrativo. Ato de conferir, ao titular de um cargo ou função pública,


competência para exercer suas atividades ou poder específico para tomar
conhecimento ou não de algum assunto administrativo. [...]. 4. Direito processual.
Poder conferido a um magistrado para presidir uma causa e decidi-la, designando os
limites da jurisdição.

De outra forma, o vocábulo competência, que por vez é confundido pelos interpretes do
direito para definir determinada atividade da administração pública, é empregado para delinear
a atuação jurisdicional, isto é, aplicação de parcela da jurisdição por meio de um magistrado
investido de tal poder estatal durante a aplicação do direito a um determinado caso concreto
(MIRABETE, 2008).
Nesses termos, não se pode confundir ambos os vocábulos. Não se deve afirmar que o
indivíduo que desempenha a função de polícia judiciária militar está dotado de competência
para concretização dos atos legais, posto que, como visto anteriormente, a polícia judiciária
militar é exercida por um órgão pertencente ao Poder Executivo, o qual é desprovido de
jurisdição. O termo correto para identificar o encargo afeto ao respectivo poder de polícia da
administração pública, desse modo, é atribuição.
Por conseguinte, atendo-se ao presente tópico, no Estado do Rio Grande do Sul, como
em todos os demais, as funções de polícia judiciária militar são exercidas pela polícia militar.
Destaca-se que a respectiva incumbência está relacionada ao cargo exercido pelo respectivo
integrante da Fora Auxiliar, e subdivide-se, ainda, em autoridade de polícia judiciária militar
originária e delegada (NEVES, 2018).
27

As autoridades com atribuição originária para o desempenho da polícia em tela são as


previstas legalmente no artigo 7º do Código de Processo Penal Militar. Conforme o citado
dispositivo normativo:

Art. 7º A polícia judiciária militar é exercida nos termos do art. 8º, pelas seguintes
autoridades, conforme as respectivas jurisdições:
a) pelos ministros da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, em todo o território
nacional e fora dele, em relação às forças e órgãos que constituem seus Ministérios,
bem como a militares que, neste caráter, desempenhem missão oficial, permanente ou
transitória, em país estrangeiro;
b) pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em relação a entidades que, por
disposição legal, estejam sob sua jurisdição;
c) pelos chefes de Estado-Maior e pelo secretário-geral da Marinha, nos órgãos, forças
e unidades que lhes são subordinados;
d) pelos comandantes de Exército e pelo comandante-chefe da Esquadra, nos órgãos,
forças e unidades compreendidos no âmbito da respectiva ação de comando; e) pelos
comandantes de Região Militar, Distrito Naval ou Zona Aérea, nos órgãos e unidades
dos respectivos territórios;
f) pelo secretário do Ministério do Exército e pelo chefe de Gabinete do Ministério da
Aeronáutica, nos órgãos e serviços que lhes são subordinados;
g) pelos diretores e chefes de órgãos, repartições, estabelecimentos ou serviços
previstos nas leis de organização básica da Marinha, do Exército e da Aeronáutica;
h) pelos comandantes de forças, unidades ou navios (BRASIL, 1969).

Ainda sobre o assunto em questão, destaca-se o entendimento de Junior (2019, n.p.), o


qual não buscou diferenciar corretamente o poder outorgado pelo legislador ordinário ao
indivíduo dotado de atribuição para o exercício da função de polícia judiciária militar:

A autoridade de polícia judiciária militar é aquela que tem competência legal para
realizar todos os atos relativos à essa atividade. Nem todos os militares são autoridade
de polícia judiciária militar, mas somente aqueles definidos no Código de Processo
Penal Militar (CPPM). A Polícia Judiciária Militar é exercida pelas autoridades
elencadas no Art. 7º do CPPM.

Constata-se que a partir da leitura do artigo 7º do CPPM não se é possível localizar as


autoridades que desempenham no cerne das Forças Auxiliares o exercício da polícia judiciária
militar. Desse modo, ensina a doutrina que é necessário identificar no âmbito das polícias
militares as autoridades correlatas que exercem, paralelamente às previstas no artigo em
questão, a respectiva incumbência legal. Nesses termos:

A investigação criminal militar é realizada pelas autoridades de polícia judiciária


militar mencionadas no art. 7º do CPPM e, por equivalência, nas PMS e nos CBMs
Comandante-Geral, o Subcomandante, o Corregedor e os Comandantes de Unidade e
de Serviços (ROSSETO, 2021, p. rb-6.1)
28

Todavia, o parágrafo primeiro do supramencionado dispositivo legal prevê a


possibilidade de a autoridade originária transferir a atribuição do exercício de polícia judiciária
militar a outro militar integrante da mesma Força Auxiliar. Por meio do instituto da delegação,
o referido texto normativo fundamento do artigo 7º do CPPM prevê o que segue: “Obedecidas
as normas regulamentares de jurisdição, hierarquia e comando, as atribuições enumeradas neste
artigo poderão ser delegadas a oficiais da ativa, para fins especificados e por tempo limitado”
(BRASIL, 1969).
Assim é o entendimento de NEVES (2018, p. 256):

Tanto no âmbito das Forças Armadas como no das Forças Auxiliares, no entanto, a
polícia judiciária pode ser exercida por uma autoridade om delegação originária
(autoridade delegada de polícia judiciária militar), ou seja, por aquele que, em nome
da autoridade originária, a exerce por delegação, recaindo sobre oficial da ativa, nos
termos do § 1º do mesmo artigo.

Assim sendo, não se atendo às Forças Militares Federais, verifica-se que no âmbito dos
Estados, no exercício de polícia judiciária militar, realizando leitura análoga ao artigo 7º do
CPPM, as atribuições originárias de polícia judiciária militar recaem em autoridade que
possuem função de comando dentro das Instituições, isto é, Comandante-Geral,
Subcomandante-Geral e Comandante das Unidades.
Portanto, desde que respeitadas as regras de jurisdição, hierarquia e comando, as
respectivas funções poderão ser transladas aos oficiais da ativa que sejam integrantes da mesma
polícia militar, o que irá configurar, como visto, uma atribuição delegada para o exercício da
ora tratada função de polícia estatal.

3.3 Das funções da polícia judiciária militar

As funções de polícia judiciária militar dizem respeito às atividades administrativas que


poderão ser exercidas pelas autoridades que foram incumbidas de exercer esse mister
constitucional. A previsão legal dos atos policiais judiciários militares encontra-se no artigo 8º
do Código de Processo Penal Militar.
Destarte, verifica-se que o legislador ordinário à época da promulgação do respectivo
diploma normativo utilizou a expressão competência para lecionar as atribuições conferidas à
polícia judiciária militar. Cumpre-se observar que a presente pesquisa científica abordou
anteriormente a diferenciação jurídico-semântica entre as palavras competência e atribuição.
29

Do que se depreende da palavra escolhida para positivar o caput do supramencionado


dispositivo legal, entende-se que a inclinação ao termo que fora escrito é resultado de uma
manifesta atecnia legislativa por parte do Poder Legislativo durante a elaboração do Código de
Processo Penal Militar. No que diz respeito à atecnia legislativa: “Diz respeito a falta de técnica
para desenvolver algo. No Direito existe a "atecnia legislativa" quando o legislador erra ao
escrever uma palavra impropriamente no texto da Lei” (INFORMAL, s.d, n.p).
Uma vez examinada a utilização do vocábulo acima, passa-se a observar, então, as
atribuições a serem exercidas pela polícia judiciária militar no transcorrer da persecução
criminal militar. Conforme o artigo 8º, as incumbências expressamente previstas no CPPM são:

Art. 8º Compete à Polícia judiciária militar:


a) apurar os crimes militares, bem como os que, por lei especial, estão sujeitos à
jurisdição militar, e sua autoria;
b) prestar aos órgãos e juízes da Justiça Militar e aos membros do Ministério Público
as informações necessárias à instrução e julgamento dos processos, bem como realizar
as diligências que por eles lhe forem requisitadas;
c) cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar;
d) representar a autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da
insanidade mental do indiciado;
e) cumprir as determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e
responsabilidade, bem como as demais prescrições deste Código, nesse sentido;
f) solicitar das autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à
elucidação das infrações penais, que esteja a seu cargo;
g) requisitar da polícia civil e das repartições técnicas civis as pesquisas e exames
necessários ao complemento e subsídio de inquérito policial militar;
h) atender, com observância dos regulamentos militares, a pedido de apresentação de
militar ou funcionário de repartição militar à autoridade civil competente, desde que
legal e fundamentado o pedido (BRASIL, 1969).

Conforme a doutrina leciona, as atividades acima mencionadas que poderão ser


praticadas no contexto de uma investigação criminal militar não possuem aderência ao princípio
da taxatividade. Outras diligências poderão ser tomadas pelas autoridades de polícia judiciária
militar, haja vista que o acima transcrito, além de se tratar de um rol meramente exemplificativo,
buscará trazer para a investigação criminal militar elementos informativos que possuem valor
relativo para elucidação do fato.
Nesses termos:

Essas atribuições estão enumeradas no rol do art. 8º do CPPM, rol que deve ser
considerado exemplificativo, e não taxativo, ao contrário de alguns autores. Essa
conclusão, nota-se, decorre da amplitude inerente à apuração de um fato e da
conclusão de que a conjugação de provas pela polícia judiciária é precária, ou seja,
será refeita sempre que possível, no curso do processo penal militar constitucional,
após o recebimento da denúncia, sob o crivo do contraditório e da ampla defesa
(NEVES, 2018, p. 263):
30

O caráter exemplificativo do texto legal supratranscrito traz à baila uma inovação


legislativa trazida por meio da promulgação da Lei 13.491 de 13 de outubro de 2017. Com o
advento do respectivo diploma legal, crimes de natureza comum passaram a ser conceituados
como se de natureza militar fossem quando praticados, como já visto no transcorrer do presente
trabalho, por militar em situação de atividade – artigo 9º, inciso II, alínea a do Código Penal
Militar.
Assim sendo, tal deslocamento da natureza comum do delito para, então, espécie
criminosa quando praticada, por exemplo, na circunstância acima referida, outorga, por força
constitucional – artigo 144, parágrafo 4º, da Constituição da República Federativa do Brasil, às
polícias militares o dever de sua apuração delitiva.
Cita-se como exemplo os crimes previstos na Lei n. 12.850 de 02 de agosto 2013 – Lei
do Crime Organizado. Quando esses delitos forem praticados em condições condizentes com o
artigo 9º, inciso II, alínea a do CPM, cita-se como exemplo, a investigação criminal estará a
encargo, então, da polícia judiciária militar afeta à instituição cujos militares são integrantes.
Assim sendo, no desenvolvimento da investigação castrense, a autoridade de polícia
judiciária militar poderá, na apuração do suposto crime militar previsto no artigo 2º do
respectivo diploma normativo: “promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou
por interposta pessoa, organização criminosa” (BRASIL, 2013), promover as medidas
investigativas previstas no respectivo diploma incriminador, como, por exemplo, a ação
controlada, prevista em seu artigo 3º, inciso III.
Para fins de elucidação do meio de obtenção de prova acima transcrito, entende-se por
ação controlada:

Art. 8º. Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa


relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que
mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no
momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações (BRASIL,
2013).

A deflagração da supracitada atividade investigativa estaria fundamentada no conceito


exemplificativo que a literatura atribuiu ao rol do artigo 8º do CPPM, sobretudo na leitura de
sua alínea a, a qual atribui à polícia judiciária militar o dever para apurar infrações penais militar
(BRASIL, 1969, n.p). Nesse sentido, entende NEVES (2018, p. 290) que:

O rol do art. 8º constitui-se em rol exemplificativo, não esgotando as possibilidades


de atuação da polícia judiciária militar, justamente pela força expansiva da sua alínea
a, que comanda a apuração do ilícito penal militar. Como dito, havendo crime militar,
31

haverá campo para o exercício de polícia judiciária militar, nos termos da alínea a do
art. 8º do CPPM.
Permite-se, portanto, que não só as ações previstas no art. 8º sejam executadas, mas
também, em alinho à liberdade probatória (art. 295 do CPPM) e sob o crivo da
vedação à aceitação da prova obtida por meios ilícitos, que outras medidas sejam
desencadeadas, medidas essas previstas na própria lei processual penal militar
extravagante.

Não obstante, verifica-se que uma das principais atribuições conferidas à polícia
judiciária militar é o previsto na alínea a do artigo 8º do CPPM, qual seja: apuração de infrações
penais militares e de sua autoria delitiva. O expediente administrativo responsável por esse
encargo legal, que será tratado a seguir, é o inquérito policial militar, procedimento
investigativo que serve para apuração sumário do fato criminoso e que representa a
materialização da legítima atividade de polícia judiciária castrense.

3.4 Do inquérito policial militar

O inquérito policial militar é o expediente administrativo desenvolvido pelas


autoridades de polícia judiciária militar que, por meio da realização de diligências
investigatórias, elementos informativos são identificados para demonstrar, ou não, a
consumação ou tentativa de consumação de crime militar e de sua autoria, se for possível
(NEVES, 2018).
A previsão legal do inquérito policial militar pode ser observada por meio da leitura do
artigo 9º, caput, do Código de Processo Penal Militar, o qual dispõe:

O inquérito policial militar é a apuração sumária de fato, que, nos termos legais,
configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja
finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal
(BRASIL, 1969).

A literatura ensina que o conceito legislativo supracitado do respectivo expediente


administrativo traz para disponibilidade do interprete do direito duas perspectivas
interpretativas.
Verifica-se como possível apreciar a definição teórica do instituto em tela por meio do
sentido amplo da locução, a qual se faz possível a extração semântica de que o inquérito policial
é a coleção das explorações investigativas da polícia judiciária militar desde o primeiro
momento em que a sua autoridade toma conhecimento do fato delituoso, cuja finalidade é
reunir elementos informativos que comprovam a prática de infração penal e trazer aos órgãos
responsáveis pelo desencadeamento da persecução penal o conhecimento da autoria delitiva.
32

Sob outro prisma, pode-se definir o inquérito policial militar em seu sentido prático-
formal como sendo a complexa organização cronológica das diligências investigativas
realizadas e documentadas por meio da participação da figura do escrivão designado nos termos
do artigo 11, caput, do CPPM. Nesse norte, o expediente como ferramenta investigativa
confunde-se com a materialização dos autos investigativos documentados (GOMES, 2015).
Por conseguinte, cumpre-se destacar que, conforme o ensina o artigo 9º, caput, do
CPPM, a finalidade substancial da investigação formal, a qual possui caráter de instrução
provisória, é a de abastecer o titular da ação penal com elementos necessários à propositura da
ação penal. Nesse sentido são os ensinamentos da literatura: “O inquérito é destinado a fornecer
elementos ao titular da ação penal, a contribuir na formação da opinião delitiva (‘opinio
delicti’)” (TÁVORA, 2013, p. 103).
Em que pese o aludido entendimento, a partir da promulgação da Carta Fundamental de
1988, e com a consequente adoção do Estado Democrático de Direito como forma de Estado, a
investigação militar não pode mais ter como finalidade única a reunião de elementos
informativos para o oferecimento da denúncia contra o investigado.
O inquérito policial militar deve servir como filtro processual contra ações penais
militares sem fundamentos jurídicos, valendo-se como legítimo sistema de freios e contrapesos
do Poder Executivo em face da jus puniendi do Estado constituído (GOMES; SCLIAR, 2008,
n.p.). O que se deve fazer, a partir de então, é observar as implicações jurídicas resultantes da
aplicação da nova hermenêutica constitucional em face do tema. Nesses termos:

Com a nova ordem constitucional à qual vimos nos referindo constantemente,


favorecendo o status libertatis em uma interpretação do favor rei, deve-se conceber
como a finalidade do inquérito policiais militar – a busca da revelação do que, de fato,
ocorreu, seja confirmando a autoria e materialidade de um crime, seja afastando-as
em favor da pessoa a quem foi imputado um fato, prestigiando-se, no Direito
Processual Penal Constitucional, uma busca autônoma da verdade real (NEVES,
2018, p. 308).

Vislumbrado a nova definição constitucional atribuída à finalidade do instituto


abarcado, faz-se necessário; entretanto, reafirmar o seu caráter inquisitivo.
O inquérito policial militar não está, durante o seu desenvolvimento, vinculado aos
princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Isso quer dizer que os elementos
informativos colhidos nessa fase não possuem força probatória para fundamentar, de forma
isolada, uma sentença penal condenatória em face do réu. Desse modo, se entende que todas as
informações pertinentes à elucidação do ilícito militar possuem valor probatório relativo
(LIMA, 2017).
33

Em sentido semelhante, a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal entende que,


apesar de não servir de maneira isolada para a condenação do acusado, as informações colhidas
por meio do expediente investigativo podem influir no livre convencimento do juiz se
complementadas por outras provas crivadas pelos postulados do contraditório e da ampla defesa
(BRASIL, 2005).
Em sequência, o encarregado é o personagem responsável pela presidência das
diligências investigativas a serem produzidas na busca dos acontecimentos atrelados a um crime
militar. Torna-se importante recordar que o encarregado do inquérito policial militar pode ser
tanto a autoridade judiciária originária, bem como, por meio do instituto da delegação, oficial
da ativa que desempenhará a função de autoridade encarregada delegada, sempre respeitados
os institutos da hierarquia e disciplina.
Nos termos do artigo 15 do Código de Processo Penal Militar:

“Será encarregado do inquérito, sempre que possível, oficial de posto não inferior ao
de capitão ou capitão-tenente; e, em se tratando de infração penal contra a segurança
nacional, sê-lo-á, sempre que possível, oficial superior, atendida, em cada caso, a sua
hierarquia, se oficial o indiciado” (BRASIL, 1969).

Outra figura incumbida de realizar atos administrativos no bojo das investigações


preliminares é o escrivão, o qual serve como auxiliar do presidente das investigações e será
designado na portaria do expediente pelo próprio encarregado (NEVES, 2018). A função do
escrivão, nos termos do artigo 11, caput, do CPPM, versará em um segundo ou primeiro-
tenente, caso o investigado seja oficial, ou em sargento, subtenente ou suboficial, nos demais
casos.
O artigo 11, parágrafo único, do CPPM preleciona o que “o escrivão prestará
compromisso de manter o sigilo do inquérito e de cumprir fielmente as determinações deste
Código, no exercício da função” (BRASIL, 1969).
Dos atores policiais judiciários acima descritos, realça-se o protagonismo do presidente
do inquérito policial militar, sobretudo acerca da possibilidade deste em aplicar uma medida
cautelar segregadora da liberdade do investigado que é a prisão provisória (NEVES, 2018).
O artigo 18 do CPPM ainda dispõe que:

Art. 18. Independentemente de flagrante delito, o indiciado poderá ficar detido,


durante as investigações policiais, até trinta dias, comunicando-se a detenção à
autoridade judiciária competente. Esse prazo poderá ser prorrogado, por mais vinte
dias, pelo comandante da Região, Distrito Naval ou Zona Aérea, mediante solicitação
fundamentada do encarregado do inquérito e por via hierárquica (BRASIL, 1969).
34

A ferramenta cautelar supracitada, após o advento da Carta Fundamental de 1988, sofreu


uma releitura, haja vista que o artigo 5º do Corpo Constitucional dispôs que ninguém será preso,
salvo em flagrante delito ou, ainda, por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária
competente, ressalvados os casos de transgressões disciplinares e os crimes propriamente
militares (BRASIL, 1988).
Desse modo, malgrado a vigência do texto normativo que autoriza a aplicação da prisão
provisória em face do investigado militar, o presidente das investigações militares só poderá
executar a prisão do investigado quando o mesmo tenha praticado crime militar próprio, em
respeito à ordem constitucional instaurada (NEVES, 2018).
Não obstante, tem-se, por meio da leitura do artigo 22 do CPPM, que as investigações
serão concluídas por meio da escrituração de todas as diligências praticadas, as informações
colhidas e as circunstâncias de tempo e de lugar em que o fato criminoso militar se deu. Além
disso, o encarregado verificará a presença, ou não, de infração disciplinar e de crime militar
resultante da conduta do investigado, sendo que neste último caso, mencionará a necessidade,
justificada, de ser decretado em face do indivíduo a medida cautelar denominada como prisão
preventiva. Nota-se:

Art. 22. O inquérito será encerrado com minucioso relatório, em que o seu
encarregado mencionará as diligências feitas, as pessoas ouvidas e os resultados
obtidos, com indicação do dia, hora e lugar onde ocorreu o fato delituoso. Em
conclusão, dirá se há infração disciplinar a punir ou indício de crime, pronunciando-
se, neste último caso, justificadamente, sobre a conveniência da prisão preventiva do
indiciado, nos termos legais (BRASIL, 1969)

Logo, conforme o exposto, constatada a presença dos elementos analíticos do crime


militar – tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade, o encarregado do inquérito policial militar
fará consignar todas as circunstâncias criminosas e indiciará o investigado indicando que o
mesmo é o provável autor, ou partícipe, da conduta militar que serviu como objeto para as
investigações.
Ainda nessa toada, faz-se importante observar, por fim, que não se deve confundir o
indiciado com o suspeito. O indiciado é caracterizado como aquele que contra si foi atribuída a
autoria, ou participação, em um ilícito penal, isto é, há juízo de probabilidade contra o mesmo.
Já o suspeito é o indivíduo rodeado de indícios frágeis, os quais estão em rota de investigação
preliminar pela autoridade de polícia judiciária militar, sem juízo de possibilidade (LIMA,
2017).
35

4 DA ATRIBUIÇÃO PARA INSTAURAR INQUÉRITO POLICIAL PARA


APURAR CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA PRATICADOS POR POLICIAIS
MILITARES EM SERVIÇO

4.1 Do advento da Lei n. 9.299/96 e os seus reflexos jurídicos no ordenamento jurídico


brasileiro

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de


1988, trouxe em sua redação original, sobretudo no art. 125, § 4º, que os crimes militares
definidos em lei praticados por policiais militares e bombeiros militares seriam processados e
julgados no âmbito da Poder Judiciário Estadual pela Justiça Militar. Conforme se verifica:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos


nesta Constituição. (...)

§ 4° Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os policiais militares e


bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei, cabendo ao tribunal
competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação
das praças (BRASIL, 1988).

Desse modo, o texto constitucional originário previa que independentemente da espécie


do crime militar, o seu julgamento se daria por meio da provocação da Justiça Militar Estadual.
Consequentemente, essa previsão constitucional anterior retirava da competência do Tribunal
do Júri, por exemplo, o julgamento do crime de homicídio doloso contra a vida de civil
praticados por policiais militares em serviço.
A Carta Política de 1988, em seu art. 5º, inciso XXXVIII, reconheceu a instituição do
Tribunal do Júri com competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida
(BRASIL, 1988). Desta maneira, no ato de inauguração da nova ordem constitucional, a Justiça
Militar dos Estados, bem como o Tribunal do Júri, tinham competência concorrente para
conhecer os processos atinentes aos crimes capitais contra o bem jurídico da vida.
Todavia, a década de 1990 foi o palco de inúmeras atuações polêmicas das polícias
militares que entraram para a história do Estado Brasileiro. Conflitos entre militares integrantes
de instituições estaduais e supostos grupos civis às margens da legalidade resultaram em um
número expressivo de mortos, além de uma grande repercussão negativa para a imagem das
corporações castrenses.
As diversas mortes de civis atreladas às atuações das policiais militares em locais
conflagrados por interesses subvertidos, como, por exemplo, a ação policial militar na
36

comunidade carioca de Vigário Geral – intitulada por historiadores como sendo a Chacina de
Vigário Geral (PAVIOTTI, 2018), no ano de 1993, provocou a necessidade de respostas vinda
do poder público para tranquilizar a população que observava com apreensão às notícias
televisionadas (ASSIS apud SCHWARTZ; SILVA, 2010).
Convergindo a esses fatos, iniciou-se, também, no mesmo período histórico, um
nascente político que pretendia reduzir a competência das Justiças Militares por meio de um
movimento centrípeto, isto é, partindo de uma competência ampla, que observava todo e
qualquer crime militar, para uma posição mais centralizada, aonde apenas as infrações
propriamente militares estariam no domínio de jurisdição da justiça especializada estadual
(NEVES, 2018).
Como fruto desse pensamento limitador acerca das Justiças Militares,
consequentemente, foi promulgada a Lei n. 9.299, de 07 de agosto 1996, a qual retirou da alçada
das justiças castrenses estaduais a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a
vida de civil praticados por policiais militares em serviço.
Legalmente isso ocorreu por meio da inclusão do parágrafo único ao art. 9º do Código
Penal Militar, o qual passou a dispor que as condutas que atentassem contra a vida de cidadão
civil e que fossem praticadas por policiais militares em serviço, passariam a ser processadas e
julgadas pela Justiça Comum.
Conforme redação trazida pelo texto normativo em questão:

Art. 1º O art. 9° do Decreto-lei n° 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Código Penal


Militar, passa a vigorar com as seguintes alterações:

"Art. 9° ...............................................................................

II - .......................................................................................
(...)

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e
cometidos contra civil, serão da competência da justiça comum." (BRASIL, 1996).

Por conseguinte, outra contribuição para o mundo jurídico introduzida por meio do texto
legal promulgado no ano de 1996, foi o acréscimo do parágrafo segundo ao art. 82 do Código
de Processo Penal Militar, o qual passou a instruir a remessa dos autos das investigações
policiais militares para a Justiça Comum pela Justiça Militar. Conforme se observa:

Art. 82. O foro militar é especial, e, exceto nos crimes dolosos contra a vida praticados
contra civil, a ele estão sujeitos, em tempo de paz: (...)
37

§ 2° Nos crimes dolosos contra a vida, praticados contra civil, a Justiça Militar
encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum (BRASIL, 1969).

As alterações legislativas trazidas pela norma supracitada não se restringiram apenas a


suprimir a competência da Justiça Militar Estadual. O novo dispositivo legal, de natureza
processual, acrescido ao supramencionado artigo, trouxe uma nova perspectiva sobre a atuação
da polícia judiciária militar em sede de investigação criminal em face de crimes dolosos contra
a vida de civil.
A contar da promulgação da Lei n. 9.299, de 07 de agosto 1996, a Justiça Militar
Estadual, que antes era responsável pelo julgamento de tais crimes, passou a ser responsável,
apenas, conforme o disposto, pelo encaminhamento do inquérito policial militar à Justiça
Comum.
Nessa mesma toada, observou-se que o legislador ordinário, embora tenha atenuado a
atuação das justiças especializadas estaduais, institucionalizou a atribuição das polícias
judiciárias militares, posto que manteve as investigações dos crimes dolosos contra a vida de
civil praticados por militares, conforme interpretação legal, no bojo da polícia castrense.
Nesse sentido:

As duas Leis e a Constituição Federal não deixam dúvida quanto à competência do


Júri, porém em sede de investigação acrescentou a Lei n. 9.299, de 27.08.96, o § 2º
ao art. 82 do CPPM: “Nos crimes dolosos contra a vida, praticado por civil, a Justiça
Militar encaminhará os autos do inquérito policial à justiça comum”. Assim, a Lei n.
9299/96 deslocou a competência para julgar o militar acusado de crime de homicídio
doloso contra a vida de civil para a justiça comum, porém manteve a atribuição da
polícia judiciária militar para investigar. (...) (ROSSETTO, ano, p. RB-6.15)

Doutro modo, as supra alterações legais vistas acima, que foram inseridas no
ordenamento jurídico pelo diploma normativo em comento, encontraram posições doutrinárias
que advogavam pelo reconhecimento de suas inconstitucionalidades.
Conforme tais correntes, o deslocamento de competência proposto pela Lei n. 9.299 de
07 de agosto de 1996, que levou para a Justiça Comum o julgamento dos crimes dolosos contra
a vida praticados por policiais militares em serviço, por exemplo, contrariou diretamente o art.
125, § 4º, da Constituição da República Federativa do Brasil. Para os estudiosos do direito
castrense, uma Lei de caráter Nacional não possui domínio legislativo para dispor de forma
diversa do conteúdo de norma cunhada pelo Constituinte Originário, sobretudo, para modificar
competência constitucional (LOBÃO, 2006).
Nesse mesmo enfoque, no mesmo ano de promulgação da Lei em discussão, a
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil (ADEPOL) provocou a jurisdição do Supremo
38

Tribunal Federal, por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 1494, do Distrito


Federal, sob os argumentos de que a disposição normativa prevista no parágrafo segundo do
art. 82, do Código de Processo Penal Militar, violou materialmente a Carta Fundamental de
1988, posto que, conforme justificavam, a atribuição de polícia judiciária resumia-se às polícias
federais e civis (STF, 1996).
Em que pese a respectiva ação direta de constitucionalidade tenha sido extinta sem que
tenha ocorrido o julgamento definitivo do seu mérito, haja vista a ausência de legitimidade ativa
por parte da ADEPOL reconhecida pelo Pretório Excelso para o ajuizamento de ações do
controle concentrado, em julgamento de pedido liminar, a Corte Constitucional entendeu que
as disposições da norma atacada gozavam de aparente fluxo constitucional. Veja-se:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - CRIMES DOLOSOS


CONTRA A VIDA, PRATICADOS CONTRA CIVIL, POR MILITARES E
POLICIAIS MILITARES - CPPM, ART. 82, § 2º, COM A REDAÇÃO DADA PELA
LEI Nº 9299/96 - INVESTIGAÇÃO PENAL EM SEDE DE I.P.M . - APARENTE
VALIDADE CONSTITUCIONAL DA NORMA LEGAL - VOTOS VENCIDOS -
MEDIDA LIMINAR INDEFERIDA. O Pleno do Supremo Tribunal Federal -
vencidos os Ministros CELSO DE MELLO (Relator), MAURÍCIO CORRÊA,
ILMAR GALVÃO e SEPÚLVEDA PERTENCE - entendeu que a norma inscrita no
art. 82, § 2º, do CPPM, na redação dada pela Lei nº 9299/96, reveste-se de aparente
validade constitucional. (STF - ADI: 1494 DF, Relator: Min. CELSO DE MELLO,
Data de Julgamento: 09/04/1997, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 18-06-2001
PP-00002 EMENT VOL-02035-01 PP-00101) (STF, 1996).

Não obstante ao acima transcrito, no ano de 2008, não satisfeita com o desfecho judicial
anterior, a mesma comitiva nacional associativa propôs, então, a Ação Direta de
Inconstitucionalidade n. 4164, do Distrito Federal, cuja tese argumentativa, semelhante à que
configurou o pleito constitucional anterior, voltava-se a instalar a sapiência de que o crime
doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço, por exemplo, não deveria
mais ser considerado como crime militar, haja vista que o seu processamento e julgamento,
conforme as alterações trazidas pela Lei 9.299 de 07 de agosto de 1996 e, posteriormente, pela
Emenda à Constituição n. 45, dar-se-ia no âmago do Tribunal do Júri.
Assim, o homicídio praticado por policial militar em serviço contra civil deveria,
conforme expertise do art. 144, § 4º, da CRFB/88, ser apurado por Delegado de Polícia através
de inquérito policial. Nesse sentido são os argumentos cunhados na inicial provocativa da
jurisdição da Corte Suprema:

É preciso remarcar que o princípio da exclusividade das funções de polícia judiciária,


a cargo das autoridades policiais (delegados de polícia federais e estaduais) só admite
exceção na parte final do parágrafo 4º do art. 144 da C.F., isto é, as infrações penais
39

militares (que não é a hipótese em razão da competência da instituição do Júri para o


processo e julgamento dos crimes dolosos contra a vida), conforme destacado pelo
Professor José Afonso da Silva na obra citada, bem como em relação às comissões
parlamentares de inquérito (art., 58, § 3º da C.F.) (STF, 2008, p.7).

A Procuradoria-Geral da República, conforme determina o art. 103, § 1º, da CRFB/88,


por seu turno, manifestou-se pela improcedência do mérito da respectiva ação, sob os
argumentos de que, embora o Tribunal do Júri seja o órgão do Poder Judiciário competente para
julgar as condutas praticadas por policiais militares em serviço que atentem contra a vida de
civil, o expediente investigatório incumbido de proceder à reunião dos elementos informativos
atinentes ao fato é o inquérito policial militar. Em vista disso, deu-se a exposição de motivos
da Procuradora-Geral da República pela improcedência da ADI n. 4164, do Distrito Federal.
Nota-se:

Quando o militar é apontado como sujeito ativo de qualquer conduta considerada


como “crime militar” pela legislação (art.; 9º, II, ‘c’, do CPM), aquela deverá ser
imediatamente apurada pelas autoridades policiais militares através do respectivo
procedimento administrativo, qual seja, o inquérito policial militar. A partir do
momento em que se contate hipótese prevista na Constituição Federal de
“competência do júri quando a vítima for civil”, imediatamente deverão as
autoridades militares remeter os autos do procedimento investigatório à Justiça
Comum (PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA, 2013, p. 6).

Evidencia-se, enfim, que a ADI n. 4164, do Distrito Federal, não teve o seu mérito
julgado pela Corte Constitucional, posto que o Presidente do Supremo Tribunal Federal incluiu,
tão somente, o seu julgamento no calendário do respectivo Tribunal Constitucional para o dia
22 de junho de 2022.
Desta maneira, conforme todo o exposto acerca dos reflexos jurídicos do advento da Lei
n. 9.299 de 07 de agosto de 1996, tem-se que a mesma teve ao longo de sua vigência vastos
questionamentos pautados pelos diversos setores que operam o direito nacional, os quais
fundamentaram, inclusive, a provocação com posterior manifestação preliminar em sede de
decisão precária do Supremo Tribunal Federal.
Entretanto, em nenhum momento observado tais disposições introduzidas pelo
mencionado diploma normativo, sobretudo os dizeres textuais do parágrafo segundo do art. 82,
do Código de Processo Penal Militar, tiveram sua inconstitucionalidade reconhecida pela
Instância Máxima do Poder Judiciário em sede de controle abstrato de constitucionalidade.
O que vige, por força do respectivo texto legal, desde então, é que a apuração de uma
conduta dolosa que atente contra a vida de civil praticada por policial militar em serviço, por
exemplo, será desenvolvida no cerne da polícia judiciária militar, por meio de um inquérito
40

policial militar, presidido pela figura legal do encarregado – oficial da ativa, na condição de
autoridade de polícia judiciária militar originária ou, quando transferida pelas vias legais tal
incumbência, por meio de uma autoridade delegada de polícia judiciária militar.
Por fim, fração da doutrina castrense reafirma a atribuição investigativa das Polícias
Militares em crimes dessa natureza a partir de três concepções: primeiro: há previsão legal para
a atuação da polícia judiciária militar na investigação dos crimes dolosos contra a vida de civil
praticado por policiais militares; segundo: antes de tudo, por meio de expediente adequado,
deve-se investigar a intenção do militar estadual quando for observado que em decorrência de
sua conduta um civil veio a óbito; terceiro: a existência de duas polícias judiciárias em nosso
ordenamento jurídico – acompanhada da interpretação do art. 125, § 4º da CRFB/88, que dispõe
que as policias civis não investigarão as infrações penais militares – evidencia a cisão das
atribuições entre ambas as polícias investigativas (SILVA, 2007).
Em relação a segunda tese que defende a manutenção da atribuição das polícias
judiciárias militares, tem-se que se reconhecida a culpa como elementar subjetiva estruturante
da conduta do militar estadual quando o óbito de civil for resultado de sua atuação em serviço,
a competência para julgamento não será do Tribunal do Júri, haja vista que este apenas conhece
das condutas homicidas cuja intenção criminosa se dá por meio do dolo.

4.2 Homicídio doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço e
a divergência acerca da atribuição para investigação preliminar

As Polícias Militares, nos termos do art. 144, § 5º, da Constituição da República


Federativa do Brasil, são os órgãos responsáveis pelo policiamento ostensivo e a preservação
da ordem pública em nossa sociedade. Esta função administrativa possui autorização para
realizar a restrição de práticas privadas visando a manutenção de interesses coletivos e gerais
pertencentes à nação brasileira (MEIRELLES apud ALEXANDRINO, 2017).
Durante a execução das atividades de polícia ordeira, muitas das vezes, as Polícias
Castrenses acabam por relativizar direitos e garantias fundamentais do indivíduo, até mesmo a
vida, como, por exemplo, os óbitos justificados pela presença de circunstâncias caracterizadoras
da legítima defesa durante a realização de cerco policial militar organizado para capturar
indivíduos que praticaram roubo à empresa de transporte de valores, na cidade de Guaíba, Rio
Grande do Sul, no ano de 2021 (VIESSERI, 2021).
Em decorrência de atuações dessa natureza, surge a necessidade de o Estado em realizar
a investigação dos fatos que resultaram no óbito de civil durante a atuação de sua polícia
41

ostensiva por meio da instrumentalização de uma investigação formal, a qual identificará a


existência de materialidade de fato que supostamente configure crime militar, além de sua
autoria.
O dever administrativo das instituições militares estaduais em esclarecer as
peculiaridades do conjunto fático que envolveram as condutas de seus integrantes possui
fundamento constitucional no art. 144, § 5º, in fine, da CRFB/88, o qual leciona que as Policiais
Civis não possuem atribuição administrativa para apurar as infrações penais militares, dado que
às Polícias Militares são os órgãos atrelados à Segurança Pública que possuem essa particular
atribuição (BRASIL, 1988).
Na ordem infraconstitucional, o amparo legal previsto para o desenvolvimento das
investigações policiais militares que buscarão apurar as circunstâncias fáticas em que se deram
as infrações penais militares encontra-se no art. 8º, alínea a, do CPPM, o qual ensina que é de
atribuição da polícia judiciária militar a apuração dos crimes militares, e, também, dos previstos
em lei especial que estão sujeitos à jurisdição militar (BRASIL, 1969).
A doutrina castrense argumenta que a atuação investigativa desencadeada pelas Polícias
Militares a partir da promulgação da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996, foi reafirmada pelo
legislador ordinário em função da positivação do parágrafo segundo ao art. 82 do CPPM, que
dispõe acerca da remessa da investigação realizada pela polícia judiciária militar à Justiça
Comum pela Justiça Militar.
Todavia, em que pese os fundamentos constitucionais e legais acima elencados,
analisasse uma vertente jurisprudencial em sentido contrário à prerrogativa investigativa das
Policias Militares quando os fatos apurados tiverem relação com o óbito de pessoa civil que
vem sendo observada com recorrência das decisões proferidas no cerne do Poder Judiciário.
Essas jurisprudências peregrinam no sentido de que as Polícias Civis, na figura dos
Delegados de Polícia, são os órgãos da Segurança Pública que possuem o poder-dever de
presidir as investigações criminais de fatos envolvendo policiais militares que, em sua atuação
funcional, supostamente praticaram o crime de homicídio doloso contra civil.
Para tanto, essa vertente jurídica vale-se de dois argumentos para justificar seu
posicionamento contrário ao previsto nos dispositivos legais supracitados, quais sejam: a
natureza jurídica do crime de homicídio doloso praticado por policial militar contra civil; e a
aplicação da teoria norte-americana dos poderes implícitos para justificar a atuação das Polícias
Civis como órgão policial responsável por investigar os crimes cujo julgamento e
processamento seja realizado no âmbito da esfera criminal comum, sobretudo do Tribunal do
Júri.
42

No que concerne à substância jurídica do crime de tela, no julgamento do Recurso


Ordinário em Habeas Corpus n. 80.718, do Rio Grande do Sul, no ano de 2001, o pleno do
Supremo Tribunal Federal dispôs, em seu acórdão decisório, que a natureza jurídica do crime
doloso contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço foi modificada em
decorrência do acréscimo do parágrafo único ao art. 9º Código Penal Militar, fruto da
promulgação da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996.
Conforme a interpretação da Suprema Corte Constitucional, a respectiva inovação
legislativa não só retirou da competência da Justiça Militar Estadual o julgamento dos crimes
dolosos contra a vida de civil quando praticados por militares estaduais em serviço, mas,
também, alterou sua natureza jurídica do respectivo delito, eis que passaram a ser previstos
como se de natureza comum fossem. Nota-se:

PENAL. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA PRATICADO POR POLICIAL


MILITAR CONTRA CIVIL. DESCLASIFICAÇÃO PARA LESÕES CORPORAIS
SEGUIDAS DE MORTE, OPERADA PELO TRIBUNAL DO JÚRI.
JULGAMENTO EFETUADO PELO PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI, NA
FORMA PREVISTA NO ART. 74, § 3º, PARTE FINAL, E NO ART. 492, § 2º, DO
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL. ALEGADA OFENSA AO ART. 125, § 4º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. A norma do parágrafo único inserido pela Lei nº
9.299/99 no art. 9º do Código Penal redefiniu os crimes dolosos contra a vida
praticados por policiais militares contra civis, até então considerados de natureza
militar, como crimes comuns. Trata-se, entretanto, de redefinição restrita que não
alcançou quaisquer outros ilícitos, ainda que decorrente de desclassificação, os quais
permaneceram sob a jurisdição da Justiça Militar, que, sendo de extração
constitucional (art. 125, § 4º, da CF), não pode ser afastada, obviamente, por efeito de
conexão e nem, tampouco, pelas razões de política processual que inspiraram as
normas do Código de Processo Penal aplicadas pelo acórdão recorrido. Recurso
provido. (STF - RHC: 80718 RS, Relator: Min. ILMAR GALVÃO, Data de
Julgamento: 22/03/2001, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJ 01-08-2003 PP-
00106 EMENT VOL-02117-41 PP-08911) (STF, 2001).

O Exmo. Min. Ilmar Galvão, relator do respectivo recurso em habeas corpus, em seu
voto, disciplinou que a convergência normativa entre os dispositivos legais, inseridos por meio
da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996, movimentaram o pensamento do interprete do direito
ao entendimento de que o crime doloso contra a vida de civil praticado por policial militar
detém natureza jurídica em conformidade com a natureza do órgão responsável pelo seu
julgamento. Observa-se:

A lei nº 9.299/99, ao inserir parágrafo único no art. 9º do Código Penal Militar,


segundo o qual “os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e
cometido contra civil, serão da competência da justiça comum”, na verdade, o que fez
foi redefinir tais delitos, até então considerados de natureza militar, como crimes
comuns, não se podendo, na verdade, atribuir senão a má redação o caráter
aparentemente processual da norma, mormente quando a mesma lei, coerentemente,
43

acrescentou o parágrafo 2º ao art. 82 do CPPM, atribuindo competência à justiça


comum para o processamento e julgamento dos mesmos crimes (STF, 2001, p. 15).

Esse leading case, posteriormente, serviu como fonte jurisprudencial para o Superior
Tribunal de Justiça proferir suas decisões em casos semelhantes. No Conflito de Competência
n. 45.134, de Minas Gerais, do mesmo modo da jurisprudência inaugurada pelo Supremo
Tribunal Federal, O STJ reproduziu o comando jurisprudencial que dispôs que a supracitada
inclusão legislativa ao art. 9º do CPM excluiu do catálogo dos delitos militares os crimes
dolosos contra a vida de civil praticados por policiais militares. Observa-se:

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. HOMICÍDIO PRATICADO POR


MILITAR CONTRA CIVIL. INQUÉRITO POLICIAL. TESE DE LEGÍTIMA
DEFESA PUTATIVA. NECESSIDADE DE EXAME DETALHADO E
CUIDADOSO DO CONJUNTO PROBATÓRIO. PRINCÍPIO IN DUBIO PRO
SOCIETATE. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM. 1. A legítima defesa, ou
qualquer outra excludente, só pode ser acolhida na fase inquisitorial quando se
apresentar de forma inequívoca e sem necessidade de exame aprofundado de provas,
eis que neste momento pré-processual prevalece o princípio do "in dubio pro
societate". 2. No caso, mostra-se prematuro o trancamento do inquérito policial,
mormente por constatar a necessidade de dilação probatória para a aferição da verdade
real, inclusive quanto ao elemento subjetivo (dolo), somente possível mediante
instrução processual realizada sob o crivo do contraditório e da ampla defesa. 3. O
parágrafo único do art. 9º do CPM, com as alterações introduzidas pela Lei nº
9.299/96, excluiu dos rols dos crimes militares os crimes dolosos contra a vida
praticado por militar contra civil, competindo à Justiça Comum a competência para
julgamento dos referidos delitos. 3. Conflito conhecido para declarar competente o
Juízo de Direito da 1ª Vara Criminal de Ribeirão das Neves – MG (STJ - CC: 45134
MG 2004/0091530-5, Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento:
29/10/2008, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: --> DJe 07/11/2008) (STJ,
2004).

Como consequência da vertente apresentada, edificou-se o entendimento de que, com a


eliminação dos crimes dolosos contra a vida de civil praticados por policiais militares do
catálogo dos crimes militares, a atribuição da investigação criminal dos fatos correlatos a estes
crimes será da Polícia Civil, em atendimento às normas previstas no art. 144, § 4º, primeira
parte, da CRFB/88.
Em amparo a esse raciocínio, é o que vem dispondo parcela da academia: Observa-se:

Portanto, a inferência lógica é que os crimes dolosos contra a vida de civil perpetrados
por militar, por força do estabelecido na Lei 9.299/96, foram despojados de sua
condição de crime militar, retornando, desde então, à condição de crimes comuns, da
competência da Justiça Comum. E, como consequência, diante das regras insculpidas
no texto constitucional, a apuração das infrações penais de competência da Justiça
Comum incumbe à Polícia Civil.
Esse, inclusive é o entendimento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça[11], que
já se manifestou no sentido de que "o parágrafo único do art. 9º do CPM, com as
alterações introduzidas pela Lei nº 9.299/96, excluiu do rol dos crimes militares os
44

crimes dolosos contra a vida praticado por militar contra civil, competindo à Justiça
Comum a competência para julgamento dos referidos delitos" (grifamos).
Portanto, a Lei 9.299/96, muito além de alterar a "competência" para julgamento dos
crimes dolosos contra a vida praticados contra civil, implicitamente alterou a
"atribuição" para a investigação[12]-[13], já que alterou a natureza jurídica desses
crimes para a condição de crimes comuns (GARCEZ, 2017, n.p)

Não obstante ao acima explanado, é de se reafirmar que o ordenamento jurídico


brasileiro define como crime de natureza militar, em tempos de paz, todos aqueles previstos no
Código Penal Militar, embora previstos de forma diversa na legislação penal comum, ou nela
não previstos; e os previstos na legislação penal comum, qualquer que seja o diploma normativo
(BRASIL, 1969).
Parcela da literatura, por sua vez, disciplina que o advento da Lei 9.299, de 07 agosto
de 1996, sobretudo a inclusão ao art. 9º do seu parágrafo único, não modificou a natureza
jurídica dos crimes dolosos contra a vida de civil praticado por policiais militares. A única
alteração ocorrida foi que a referido comando normativo outorgou competência à Justiça
Comum para processar e julgar os respectivos delitos, que antes eram processados e julgados
no cerne da Justiça Castrense (NEVES, 2018, p; 569).
O Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo possui idêntico posicionamento
jurídico da literatura supradita, posto que em decisão nos embargos infringentes e de nulidade
n. 0002871-96.2017.9.26.0010, valeu-se de sua ratio decidendi para dispor que o homicídio
doloso praticado por policial militar contra civil, malgrado seu processamento e julgamento no
âmbito da Justiça Comum, sobretudo no Tribunal do Júri, possui natureza jurídica militar.

A modificação de competência para o Tribunal do Júri não alterou a natureza jurídica


do homicídio doloso praticado por policial militar contra civil, que continua sendo
crime militar (artigo 205, do CPM). Infringentes providos. (TJ-MSP - NULIDADE
CRIMINAL: 0003112018, Relator: CLOVIS SANTINON, Data de Julgamento:
30/01/2019, Pleno) (SÃO PAULO, 2019).

Nesse sentido, ainda, a mesma Corte Militar Estadual, no julgamento do Habeas Corpus
n. 0025262015, de Relatoria do Exmo. Des. Mil. Fernando Pereira, cuja redação do acórdão
fora realizada pelo Exmo. Juiz Silvio Hiroshi Oyama, proferiu o seu voto em defesa da
manutenção da natureza militar do crime de homicídio doloso praticado contra a vida de civil,
posto que, conforme outrora explanado, apenas a competência para o julgamento desses fatos
foi alterada a partir da promulgação da Lei n. 9.299 de 1996.
Nessa toada:
45

Referida lei federal, em atendimento ao clamor da sociedade da época, deslocou a


competência para o JULGAMENTO de crimes militares dolosos contra a vida de civil
para o foro comum.
Tal alteração, contudo, não alterou a natureza da conduta típica em análise,
autorizando sua investigação pela Polícia Judiciária Militar, nos exatos termos do art.
8º do CPPM.
Sobre a questão já tive a oportunidade de assim julgar: “Fica evidente que a Lei
9.299/96 não operou qualquer transmutação na natureza do crime capitulado no art.
205 do Código Penal Castrense, somente deslocou a competência de (Número Único
0003609-85.2015.9.26.0000 (Habeas Corpus 2526/2015) – ACÓRDÃO – CONT. FL.
9) esta Justiça Militar para a Justiça Comum, embora como dito anteriormente, falecia
ao Legislador ordinário poder para assim agir, fato corrigido pela mencionada emenda
constitucional.
Portanto, tratando-se de crime militar, compete à polícia judiciária castrense a
atribuição para investiga-lo (TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR – SP, 2015, n.p)

Fração da doutrina ilustra que o próprio legislador justificou a manutenção da


investigação preliminar no cerne da polícia judiciária militar, ainda que seu julgamento não
esteja mais na alçada da Justiça Especializada Estadual, porque o mesmo continuou a reputar a
infração penal contra a vida praticada por militar estadual contra civil, quando aquele em
serviço, como de natureza militar, o que afasta a atuação da Polícia Civil, no exercício da função
de polícia judiciária comum.

Compreendeu que o legislador considerou, a tanto, que o crime de homicídio doloso


previsto no art. 205 do CPM continua a ter natureza militar. Delegados de Polícia, por
vezes, interpretam que o crime doloso contra a vida de civil cometido por policial
militar deixou de ser militar, não abriram mão de apurar infração penal comum (art.
144, § 4º, CF). Não raro, são instaurados dois inquéritos (ROSSETTO, 2021. P. RB-
6.15).

A reconfiguração da natureza jurídica do crime doloso contra a vida de civil praticado


por policial militar em serviço, como pretendem os defensores da corrente que voga pela
natureza comum do delito, interfere diretamente nas atribuições investigativas das Polícias
Militares.
O art. 8º, alínea a, do CPPM, que dá guarida legal a essa função de polícia judiciária
militar, é cristalino ao dispor que as instituições militares estaduais apuram infrações penais
cuja essência seja militar, e não comum. Logo, a jurisprudência da corte especializada castrense
do Estado de São Paulo, bem como a literatura representada acima, argumentam em desfavor
do equívoco acerca da natureza da infração penal militar em comento, em sobreveste à guarida
do mister constitucional da polícia judiciária militar.
Em seguimento ao explanado acerca da fundamentação jurídica que vem sendo utilizada
para justificar a atribuição da Polícia Civil para investigar fatos relacionados a atuação de
policiais militares em serviço que são autores ou partícipes de crimes dolosos contra a vida de
46

civil, surge, então, a tese de que as investigações policiais devem ser conduzidas pela Polícia
Civil em função de ser este o órgão estatal encarregado de proceder o início da persecução
criminal em crimes de competência da Justiça Comum, uma vez aplicada pelos nossos
Tribunais Superiores à Teoria dos Poderes Implícitos.
Nesse sentido, no ano de 2016, o Superior Tribunal de Justiça teve a sua jurisdição
provocada no conflito positivo de competência n. 144.919, de São Paulo, suscitado pelo
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Na ocasião, o STJ foi convocado a dirimir a divergência jurisdicional envolvendo o
Tribunal do Júri da comarca de Osasco e a 5ª Auditoria da Justiça Militar do Estado paulista,
os quais apresentavam-se como juízos competentes para a administração judicial das
investigações policiais que apuravam o óbito de civis em decorrência da atuação de policiais
militares nas cidades de Barueri e Osasco.
No entendimento do magistrado presidente do Tribunal Popular da supracitada cidade,
o juiz de direito da 5ª Auditoria da Justiça Militar Estadual atuou indevidamente durante as
investigações policiais envolvendo os fatos mencionados, posto que as diligências
investigativas atreladas às mortes dos civis durante a atuação da polícia militar paulista
deveriam ser desencadeadas no âmago da polícia judiciária comum, sendo presidida por
Delegado de Polícia, cuja intervenção judicial para o controle das ações policiais deveria se dar
no escopo da justiça especializada comum.
Por seu turno, o magistrado responsável pela respectiva Auditoria Castrense manifestou-
se, de forma diversa, do seguinte modo:

Com efeito, diga-se caber, inexoravelmente, à Polícia Judiciária Militar e à Justiça


Castrense todos os atos afetos ao Inquérito Policial Militar em casos como o do jaez.
(...)
Por certo, sobredito encaminhamento do Inquérito Policial Militar deverá se operar
depois de o inquisitivo estar concluído, o que não se dá no presente momento (STJ,
2016, p.3).

O atinente conflito positivo de competência teve seu julgamento realizado na data de 22


de junho de 2016, pelo então relator, Exmo. Min. Felix Fisher, o qual reconheceu a competência
do juiz de direito do Tribunal do Júri para o processamento e julgamento da demanda e para a
administração judicial das investigações policiais.
O raciocínio lógico que conduziu o Exmo. Min. Felix Fisher a julgar a acima transcrita
divergência em torno da gerência judicial das investigações policiais foi que, após a
promulgação da emenda constitucional n. 45, de 30 de dezembro de 2004, não restou mais
47

dúvidas acerca de qual Justiça deva realizar o processamento e julgamentos dos crimes dolosos
contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço.
Conforme o magistrado, a respectiva atualização na Carta Política, que alterou o texto
normativo do art. 125, § 4º, da CRFB/88 – dispondo que às Justiças Militares são competentes
para julgar os militares estaduais, nos crimes militares previstos em lei, com ressalvas à
competência do Tribunal do Júri para o julgamento dos crimes dolosos contra à vida –
desautoriza a ingerência indevida da Justiça Marcial em investigações policiais que tenham
como objeto fatos ilícitos que devam ser julgados no cerne da Justiça Comum, sobretudo no
Tribunal do Júri, como são os crimes dolosos contra à vida praticados por policiais militares
em serviço contra civil (STF, 2016).
Cumpre-se destacar, ainda, que a decisão que encerrou o desacordo entre os órgãos do
Poder Judiciário paulista valeu-se da Teoria dos Poderes Implícitos para atribuir à respectiva
justiça comum a competência para decidir acerca da administração da investigação policial dos
homicídios contra civis praticados por militares estaduais.
Conforme ressaltou Exmo. Min. Felix Fisher, quando a Constituição de um Estado
atribui a determinado órgão uma tarefa fundamental – como é o caso do julgamento dos crimes
dolosos pelo Tribunal Popular, consequentemente o outorga, também, os meios necessários
para a conclusão de sua missão constitucional. Veja-se:

Tem-se como fundamento da conclusão supra, a aplicabilidade da teoria dos poderes


implícitos, importada do Direito Norte Americano, consagrada no caso (case)
McCULLOCH v. MARYLAND, quando John Marshall, Presidente da Suprema
Corte Americana, decidiu sobre os poderes dos estados federados frente ao governo
federal, que em síntese define que do poder consagrado pela Constituição Federal
emergem implicitamente demais poderes capazes de instrumentalizar o poder previsto
constitucionalmente, teoria explorada de forma ímpar no voto do Ministro Celso de
Mello no HC n. 87.610/SC (STJ, 2016, p. 8).

No que diz respeito a atividade investigativa de tais fatos, extrai-se da decisão supra,
ainda, que a cooperação entre polícias judiciárias diversas – Polícia Civil e Polícia Militar, na
investigação de crimes dolosos contra a vida de civil praticado por policial militar em serviço,
por exemplo, não acometeria de nulidade o expediente investigativo, desde que apenas uma
autoridade policial seja a presidente do inquérito e que administração judicial do feito seja
realizada pelo justiça competente.
A respeito da presidência da investigação policial em face dos crimes em comento
praticado por militar estadual contra civil, o Exmo. Min. Felix Fisher, ressaltou que a Justiça
Militar não possui competência para reconhecer a existência de causas excludentes de ilicitude
48

na conduta dos investigados, posto que na fase inquisitorial persiste o princípio do in dubio pro
o societate, o que afasta a valoração por justiças especializadas, como vem sendo observado no
arquivamento de expedientes investigativos militares pelas Justiças Militares Estaduais (STJ,
2016).
Conforme o respectivo entendimento acima expresso, a investigação policial deve ser
iniciada pela Polícia Civil, no seio da Justiça Comum, e se não constatado durante as apurações
preliminares que os fatos não se tratam de crime doloso conta a vida de civil praticados pelos
policiais militares investigados, os autos do inquérito policial deverão ser remetidos à Justiça
Militar para que essa proceda, então, a investigação do crime militar (STJ, 2016).
Por outro lado, se a apuração de um fato que resultou no óbito de civil tenha sido
deflagrado, primeiramente, no cerne da Justiça Militar Estadual, por meio da polícia judiciária
militar, assim que constatado que as circunstâncias fáticas marcham no sentido de ser tipificado
um crime doloso contra a vida de civil por militar estadual em situação de investigado, nos
termos da jurisprudência em tela, a interpretação que se deve ter do art. 82, § 2º do CPPM, é de
que os autos da investigação policial deve ser imediatamente remetido pela Justiça Militar à
Justiça Comum, ainda que o mesmo não tenha sido concluído.
Isso ocorre, conforme se extrai deste posicionamento, porque compete à Justiça Comum
homologar o arquivamento do feito em caso de reconhecimento de excludente de ilicitude na
conduta dos investigados.
Essa é a inteligência que se colhe:

PROCESSUAL PENAL. CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA.


INQUÉRITO POLICIAL. ADMISSIBILIDADE DE CONFLITO EM FASE PRÉ-
PROCESSUAL. COMPETÊNCIA JUÍZO DA CAUSA. TEORIA DOS PODERES
IMPLÍCITOS. I - É assente na jurisprudência a admissibilidade de conflito de
competência em fase inquisitorial. II - Embora previsto no artigo 125, § 4º, da CF, ser
de a competência da justiça comum processar e julgar crimes dolosos contra a vida
praticados por militar em face de civil, nota-se que inquéritos policiais persistem no
juízo castrense indevidamente. III - A interpretação conforme a Constituição Federal
do artigo 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar compele a remessa imediata
dos autos de inquérito policial quando em trâmite sob o crivo da justiça militar, assim
que constatada a possibilidade de prática de crime doloso contra a vida praticado por
militar em face de civil. IV - Aplicada a teoria dos poderes implícitos, emerge da
competência de processar e julgar, o poder/dever de conduzir administrativamente
inquéritos policiais. Conflito de competência conhecido para declarar competente o
Juiz de Direito da Vara do Júri e das Execuções Criminais da Comarca de Osasco/SP.
(STJ - CC: 144919 SP 2015/0327585-0, Relator: Ministro FELIX FISCHER, Data de
Julgamento: 22/06/2016, S3 - TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: DJe
01/07/2016) (STJ, 2016).

O conflito de competência n. 144.919, julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, vem


sendo utilizado como fundamento de outras decisões judiciais no escopo do respectivo Tribunal
49

que vem reforçando a atribuição, equivocada, da Polícia Civil para apurar as infrações penais,
militares, contra a vida de civil praticadas por policiais militares em serviço, por exemplo.
Conforme o cenário apresentado, deu-se o raciocínio da quinta turma do Colendo
Tribunal no agravo regimental em embargos de declaração no agravo em recurso especial n.
1.525.846, do Paraná, de relatoria do Exmo. Min. Reynaldo Soares da Fonseca:

AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº 1.525.846 - PR (2019/0179100-1)


RELATOR : MINISTRO REYNALDO SOARES DA FONSECA AGRAVANTE :
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ AGRAVADO : GILMAR
GOMES AGRAVADO : MARCOS ANTONIO SILVESTRINI AGRAVADO :
ALINE RAFAELA BONFIM MOREIRA AGRAVADO : WAGNER APARECIDO
GOMES REPR. POR : ASSOCIACAO DOS OFICIAIS POLICIAIS E
BOMBEIROS MILITARES DO ESTADO DO PARANA - ASSOFEPAR
ADVOGADOS : NAYOME SESTREM MULLER - PR057184 WANDER
CARVALHO TIAGO - PR048800 DECISÃO Trata-se de agravo interposto pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ em adversidade à decisão que
inadmitiu recurso especial manejado contra acórdão do Tribunal de Justiça local, cuja
ementa é a seguinte (e-STJ fl. 177): HABEAS CORPUS CRIME - ALEGAÇÃO DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL ANTE A DUPLICIDADE DE INQUÉRITO
INSTAURADO. MILITAR E CIVIL - CONSTRANGIMENTO ILEGAL
CONFIGURADO TRANCAMENTO DO INQUÉRITO INSTAURADO PELA
POLICIA CIVIL - ORDEM CONHECIDA E CONCEDIDA. Opostos embargos de
declaração, esses foram rejeitados (e-STJ fls. 253/261). (...) Preenchidos os requisitos
formais e impugnado o fundamento da decisão agravada, conheço do agravo. O
recurso merece acolhida. De início, esclareço que a competência da Justiça Militar
tem previsão constitucional, ressalvando-se a competência do Tribunal do Júri nos
casos em que a vítima for civil. Por oportuno, transcrevo o § 4º do art. 125 da
Constituição Federal: Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os
militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil,
cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais
e da graduação das praças. Dessa forma, a Lei n. 9.299/1996 alterou o art. 9º, parágrafo
único, do Código Penal Militar e o art. 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar,
para dispor que os crimes militares, quando dolosos contra a vida e cometidos contra
civil, serão da competência da justiça comum e que, nesses casos, a Justiça Militar
encaminhará os autos do inquérito policial militar à justiça comum. A Terceira Seção
do Superior Tribunal de Justiça tem decidido que, a interpretação conforme a
Constituição Federal do artigo 82, § 2º, do Código de Processo Penal Militar compele
à remessa imediata dos autos de inquérito policial quando em trâmite sob o crivo da
justiça militar, assim que constatada a possibilidade de prática de crime doloso contra
a vida praticado por militar em face de civil", pois,"aplicada a teoria dos poderes
implícitos, emerge da competência de processar e julgar, o poder/dever de conduzir
administrativamente inquéritos policiais (CC 144.919/SP, Rel. Ministro Felix Fischer,
Terceira Seção, julgado em 22/06/2016, DJe 01/07/2016). Portanto, havendo nítidos
indícios de que o homicídio foi cometido com dolo, é de se reconhecer a competência
da Justiça Comum estadual para o processamento e julgamento tanto do Inquérito
Policial quanto da eventual ação penal dele originada. (...). Ante o exposto, com
fundamento no art. 932, inciso VIII, do CPC, c/c o art. 253, parágrafo único, inciso II,
alínea c, parte final, do RISTJ, conheço do agravo para dar provimento ao recurso
especial, para afastar o trancamento do inquérito aberto pela polícia civil,
determinando seu prosseguimento. Intimem-se. Brasília (DF), 27 de agosto de 2019.
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA Relato (STJ - AREsp: 1525846 PR
2019/0179100-1, Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de
Publicação: DJ 29/08/2019) (STJ, 2019).
50

Consoante o mesmo arrazoado, manteve-se o raciocínio da quinta turma do STJ no


agravo regimental no recurso em habeas corpus n. 122.680, do Paraná, de relatoria do Exmo.
Min. Reynaldo Soares da Fonseca:

PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. INVESTIGAÇÃO DE SUPOSTO CRIME
DOLOSO CONTRA A VIDA. MILITAR CONTRA CIVIL. ART. 125, § 4º, DA CF.
ART. 9º DO CÓDIGO PENAL MILITAR. ART. 82 DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL MILITAR. COMPETÊNCIA DO TRIBUNAL DO JÚRI. INQUÉRITO
CONDUZIDO PELA POLICIAL CIVIL E DUPLICIDADE DE APURAÇÃO.
AUSÊNCIA DE ILEGALIDADE. RECURSO IMPROVIDO. 1. A competência da
Justiça Militar tem previsão constitucional, ressalvando-se a competência do Tribunal
do Júri nos casos em que a vítima for civil, conforme art. 125, § 4º, da CF. Dessa
forma, assentou a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça, que, nesses casos,
o inquérito pode ser conduzido pela Polícia Civil, pois, aplicada a teoria dos poderes
implícitos, emerge da competência de processar e julgar, o poder/dever de conduzir
administrativamente inquéritos policiais (CC n. 144.919/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, Terceira Seção, julgado em 22/6/2016, DJe 1º/7/2016). 2. Por outro lado,
a existência de concomitante inquérito promovido pela Polícia Militar, com o intuito
de investigar a prática de suposta transgressão militar/crime militar, não existe o
apontado constrangimento ilegal, pois, em caso de configuração de crime militar, nos
termos do art. 102, a, do Código de Processo Penal Militar, o feito será cindido. 3.
Agravo regimental improvido. (STJ - AgRg no RHC: 122680 PR 2020/0006374-0,
Relator: Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA, Data de Julgamento:
03/03/2020, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/03/2020) (STJ,
2020).

Não obstante ao acima exposto, em que pese as decisões judiciais apresentadas


provoquem argumentos que, direta ou indiretamente, reconheçam a ilegitimidade das Polícias
Militares em promoverem as investigações dos homicídios praticados por policiais militares em
serviço contra civis, demostra-se necessário reafirmar que em nenhum momento, conforme
observado na presente pesquisa, o Pretório Excelso reconheceu a inconstitucionalidade das
funções de polícia judiciária militar na apuração das condutas de seus militares.
Pelo contrário, em dois momentos distintos, em sede de controle concentrado de
constitucionalidade, o Supremo Tribunal Federal não deliberou que o texto normativo previsto
no art. 82, § 2º da CRFB/88 estivesse acometido pelo fenômeno da inconstitucionalidade.
Trazendo novamente à tona, no presente trabalho científico, no julgamento do pedido
liminar para suspender a eficácia do art. 82, § 2º, do CPPM, em vias de ação direta de
inconstitucionalidade n. 1494, do Distrito Federal, o Exmo. Min. Carlos Velloso, em seu voto,
afirmou que o primeiro contato de um aparato estatal na apuração de um crime doloso contra a
vida de civil praticado por policial militar é a própria polícia militar, no exercício da polícia
judiciária militar.
51

Essa atribuição, conforme o respectivo voto ministerial, terá o escopo de verificar a


elementar subjetiva presente na conduta dos supostos autores militares estaduais – dolo ou
culpa, e estará sujeita, como forma de assegurar a legalidade dos atos praticados, a controle
judicial pelos meios ordinários ou, até mesmo, pela via dos habeas corpus.
Nesse sentido:

A lei ordinária, a qual compete definir os crimes militares, excepciona: os crimes


dolosos contra a vida, praticados pelos policiais militares, contra civis, serão da
competência da Justiça comum: Lei 9.299, de 07.08.1996. Excepcionou-se, portanto,
a regra. Esses crimes, contidos na exceção, serão da competência da Justiça Comum.
Mas a própria lei, que assim procedeu, estabeleceu que, “nos crimes dolosos contra a
vida, praticados contra civil, a Justiça Militar encaminhará os autos do inquérito
policial militar à Justiça Comum”.
É dizer, a Lei 9.299, de 1996, estabeleceu que à Justiça Militar competirá exercer o
exame primeiro da questão. Noutras palavras, a Justiça Militar dirá, por primeiro, se
o crime é doloso ou não; se doloso, encaminhará os autos do inquérito policial militar
à Justiça Comum. Registre-se: encaminhará os autos do inquérito policial militar. É a
lei, então, que deseja que as investigações sejam conduzidas, por primeiro, pela
Polícia Judiciária Militar.
É claro que o exame primeiro da questão – se doloso ou não o crime praticado contra
civil – não é um exame discricionário, isento do controle judicial. Não. Esse exame
está sujeito ao controle judicial, mediante os recursos próprios e, inclusive, pelo
habeas corpus.
Mas o que deve ser reconhecido é que o primeiro exame é da Justiça Militar, que,
verificando se o crime é doloso, encaminhará os autos do IPM à Justiça Comum. É o
que está na lei.
Posta a questão em tais termos, força é concluir que a Polícia Civil não pode instaurar,
no caso, inquérito. O inquérito correrá por conta da Polícia Judiciária Militar.
Concluído o IPM, a Justiça Militar decidirá, remetendo os autos à Justiça Comum, se
reconhecer que se trata de crime doloso praticado contra civil (STF, 1996, p. 28-30).

Outro fator que se apresenta como relevante e que advoga em favor da atribuição das
Polícias Militares em investigar os atos de seus próprios militares estaduais, ainda que
configurem crime dolosos contra a vida de civil, é que a exclusividade do exercício da polícia
judiciária, ora reivindicada pelos defensores da corrente jurídica que se inclina em favor da
atribuição da Polícia Civil para tratar desses crimes, não fora reconhecida pelo Supremo
Tribunal Federal no julgamento do Habeas Corpus n. 89.837 (STF, 2009).
No mandamus supracitado, o STF reconheceu que o Ministério Público pode presidir
investigações criminais às margens das funções da Polícia Civil, eis que esta não possui o
monopólio da competência penal investigatória, a qual pode ser desencadeada por outros órgãos
administrativos imbuídos da respectiva missão exploradora.
Nesse sentido, foi a manifestação da Advocacia-Geral da União, em sua manifestação
pela improcedência da ADI n. 4164, do Distrito Federal, outrora referenciada no presente
trabalho científico. A Instituição, por ocasião da apresentação de suas razões para a defesa da
52

constitucionalidade do art. 82, § 2º, da CRFB/88, trouxe à baila a difusão das funções
investigativas pelas entidades administrativas responsáveis, afastando a reivindicada
exclusividade por parte da Polícia Civil:

Com efeito, dada a relatividade do valor probatório do inquérito policial, a ponto de


um vício ocorrido nesse procedimento administrativo não ser suficiente para a
anulação de processo penal já instaurado, não há que se falar em ofensa ao postulado
do devido processo legal, a qual decorreria, no entendimento da requerente, da
apuração da infração por autoridade policial incompetente.
Por fim, cumpre mencionar, em reforço à argumentação ora apresentada, recente
julgado proferido por essa Suprema Corte nos autos do HC nº 89.837/DF, no qual
restou assentado que a polícia judiciária não detém o monopólio da competência penal
investigatório, uma vez que o inquérito policial constitui apenas “um dos diversos
instrumentos estatais de investigação penal”. Nesse mesmo, precedentes, aliás,
reafirmou-se o entendimento de que “a acusação penal, para ser formulada, não
depender, necessariamente, de prévia instauração de inquérito policial.
Feitas essas considerações, constata-se a compatibilidade dos dispositivos
impugnados com o Texto Constitucional. (STF, 2008).

Em alinho à sapiência que voga pela preponderância das Polícias Militares na


investigação de crimes dolosos contra a vida de civil praticados por policiais militares, o
Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do Sul, no julgamento da Correição Parcial
n. 1000155-84.2016.9.21.0000, proferiu sua decisão no sentido de que compete à Brigada
Militar – polícia militar do Estado do Rio Grande do Sul – proceder a investigação de fato
supostamente criminoso envolvendo seus militares estaduais.
In casu, discutiu-se a competência da Justiça Militar para reconhecer a existência de
causa excludente da ilicitude nas condutas dos policiais militares que, em serviço e em operação
policial militar, efetuaram disparos de arma de fogo contra indivíduo civil. As investigações
policiais foram desencadeadas no cerne da polícia judiciária militar, que concluiu pela
inexistência da elementar subjetiva dolo na conduta dos investigados. Referida conclusão foi
seguida pelo Ministério Público Militar, que requereu o arquivamento do feito, com a
consequente homologação do pedido pela Justiça Militar.
Inconformado com a tramitação e conclusão dos fatos investigados, o Corregedor-Geral
do Tribunal de Justiça Militar, interpôs correição parcial contra a decisão que arquivou o
respectivo inquérito policial militar, com o fundamento de que a Justiça Estadual Castrense não
possuía competência para reconhecer causa excludente da ilicitude nas condutas dos militares
estaduais, posto que a matéria é de competência do Tribunal do Júri, e por este deveria ser
analisado.
O colendo Tribunal de Justiça Militar negou provimento à respectiva correição parcial,
haja vista que reconheceu a competência da Justiça Castrense para atuar na fase pré-processual
53

do feito, inclusive para arquivar as investigações, sob o pretexto de estar comprovado a


existência de justificante legal.
O egrégio Tribunal Militar externou em sua decisão que as investigações deveriam se
dar no seio da Polícia Militar, posto que a Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996, alterou apenas
a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticado por policiais
militares em serviço contra civil, posto que as investigações, nos termos do art. 82, § 2º, do
CPPM, são de atribuição da polícia judiciária militar.
No mais, em reforço à sua decisão, por meio do acórdão que negou provimento à
reclamação do Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do
Sul, a Corte Estadual reafirmou a natureza militar do crime contra a vida praticado por policial
militar contra civil.
Conforme o explanado:

Entendo não merecer acolhimento a presente representação, conforme ulteriores


esclarecimentos.
Ao contrário do que sustenta o Exmo. Corredor-Geral, pedindo vênia à sua posição,
entendo que embora incumba à Justiça Comum (Tribunal do Júri) o julgamento dos
crimes dolosos contra a vida, evidencia-se no caso a competência da Justiça Castrense
para a fase pré-processual.
Pois bem, a Lei nº 9.299/96, que modificou a redação do art. 9º do COM, não
modificou a natureza do crime doloso contra vida, com vítima civil, cometido por
militares, permanecendo-se esta militar. Alterou-se, contudo, a competência para
processar e julgar o aludido crime.
Com a permanência do fato como crime militar, subsiste a competência da Brigada
Militar para a investigação dos fatos, como se depreende da previsão constitucional
em relação a crimes militares, com fulcro no art. 144, § 4º, da Constituição da
República.
Assim, tratando-se de crime militar (art. 9º, parágrafo único, CPM), impõe-se a
atividade investigativa à Brigada Militar (art. 144, § 4º, CF) e, consequentemente, o
controle judicial da Justiça Militar na fase pré-processual – art. 82, § 2º, CPPM
(TRIBUNAL DE JUSTIÇA MILITAR – RS, 2016).

No que diz respeito à atuação pré-processual da Justiça Militar Estadual na possibilidade


em reconhecer causas excludentes da ilicitude suscitadas em sede de inquérito policial militar,
conforme suscitado pela decisão judicial supra, o STF detém entendimento de que, embora o
Tribunal do Júri seja o órgão responsável pelo processamento da demanda atinentes aos crimes
dolosos contra a vida, quando os autores do suposto delito são polícias militares no exercício
da função, compete à Justiça Militar conhecer das matérias preliminares e, no entendimento da
colenda corte, determinar o arquivamento do expediente investigativo realizado no seio da
polícia judiciária militar quando reconhecida a presença de situação legal que justifique a
conduta dos investigados. (STF, 2020).
54

Assim sendo, essa perspectiva permite inferir que para a atuação precoce da Justiça
Militar à Justiça Comum, em delitos contra a vida de civil, é precedida por expediente
investigativo policial militar inaugurado e concluído pela Polícia Militar com responsabilidade
funcional sobre os investigados, conforme explanado no decorrer da presente pesquisa
científica.
Por derradeiro, verifica-se que as correntes jurídicas inclinadas à transferir a atribuição
investigativa pertencente às Polícias Militares para às Polícias Civis, valem-se de fundamentos
jurídicos extralegais, isto é, cunhados a partir de construções dogmáticas, como a edificação
jurisprudencial e doutrinária acerca da natureza jurídica da infração penal estudada e, também,
da aplicação de uma teoria norte-americana que consagra que uma entidade imbuída de
determinada competência deve possuir os meios necessários ao atingimento de seu fim.
Nesse ponto específico, observou-se que respectivo entendimento se dá, até mesmo, em
contrariedade a dispositivo legal que reconhece a legitimidade das Polícias Militares em
instaurarem inquérito policial militar, no exercício de polícia judiciária militar, para investigar
seus policiais militares que em sua vida funcional, envolveram-se em óbito de vítima civil,
conforme observado por meio da exposição dos dizeres legais trazidos pela Lei n. 9.299, de 07
de agosto de 1996.
55

5 METODOLOGIA CIENTÍFICA

A elaboração da pesquisa científica em tela foi desenvolvida por meio de um


procedimento formal e metódico abastecida pelo método científico de exploração acadêmica.
Enquanto a pesquisa possui objetivo precípuo de alcançar explicações para os problemas
observados através da ciência exploratória (D’ROSA, 2007), o método científico, conforme
ensina Gil (1987, p. 27), é o: “conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para
atingir o conhecimento”.
Nesse sentido, o método empregado em face da respectiva investigação acadêmica foi
o dedutivo, posto que partiu de uma análise ampla dos assuntos estudados (constatações
jurídicas acerca da infração penal militar), até chegar as possíveis confirmações específicas do
tema, como ocorreu por meio das exposições dos fundamentos jurídicos que alicerçaram as
decisões judiciais proferidas no cerne do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal de
Justiça, do Tribunal de Justiça Militar do Estado de São Paulo e Tribunal de Justiça Militar do
Estado do Rio Grande do Sul, as quais conduziram à conclusão do respectivo tema.
No que importa a abordagem aplicada, tem-se a qualitativa, haja vista que, por meio de
uma revisão documental, indireta e descritiva, analisou-se as informações ora existentes acerca
do assunto: legislação constitucional e infraconstitucional, bibliografias e jurisprudências. No
que importa a pesquisa documental, esta pode ser definida como sendo a averiguação acentuada
de materiais que não foram objetos de investigação anterior, ou que podem ser reexaminados,
com a finalidade de identificar leituras heterogêneas, denominados de documentos (KRIPKA;
SCHELLER; BONOTTO, 2015).
Para alcançar a resposta ao problema proposto, valeu-se da interpretação jurídica dos
sustentáculos do ordenamento jurídico brasileiro. Por meio da análise da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, do Decreto-lei 1.001, de 21 de outubro de 1969 – CPM,
Decreto-lei 1.002, de 21 de outubro de 1969 – CPPM, da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996,
das doutrinas previstas no referencial bibliográfico e das jurisprudências pormenorizadas dos
Tribunais Superiores arroladas na presente monografia, foi possível concluir qual órgão
estadual da Segurança Pública – Polícia Militar ou Polícia Civil – detém atribuição para realizar
a investigação do homicídio doloso contra a vida de civil praticado por militar estadual em
serviço.
56

6 CONCLUSÃO

O presente trabalho científico abordou a divergência jurídico-institucional entre Polícia


Militar e Polícia Civil, acerca de qual órgão afeto à Segurança Pública possui atribuição para
deflagrar investigação em face de homicídio doloso contra a vida de civil praticado por policial
militar em serviço.
Por meio da promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o
constituinte originário conferiu à Justiça Militar Estadual a competência para o processamento
e julgamento dos crimes capitais contra civil perpetrado por policial militar ou bombeiro militar
em serviço. Em vista disso, as investigações preliminares do respectivo fato estavam no rol de
atribuições das Forças Auxiliares no exercício das funções de polícia judiciária militar.
Entretanto, como apresentado na presente pesquisa, a última década do século XX ficou
marcada por diversas atuações policiais militares em oposições a grupos sociais além da licitude
que resultaram em óbitos de civis e grande repercussão negativa às instituições castrenses
devido ao modus operandi empregado. Desfavoráveis fatos foram noticiados pelos veículos de
comunicação à época como foi o conhecido caso da Chacina de Vigário Geral.
Por ocasião de tais ocorrências, surgiu no mundo jurídico um movimento político-social
de descorporativização das Justiças Militares Estaduais, os quais buscaram reduzir as suas
competências. Sendo assim, no ano de 1996, foi promulgada a Lei n. 9.299, de 07 de agosto de
1996, a qual retirou da competência da Justiça Militar Estadual, transferindo à Justiça Comum,
a competência para o processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil
praticado por policial militar em serviço.
O supradito diploma normativo trouxe também ao ordenamento jurídico nacional uma
nova delimitação do procedimento em torno da investigação preliminar da respectiva infração
penal militar. Conforme nova previsão legal, o art. 82, § 2º, do CPPM, passou a dispor que a
Justiça Militar seria responsável por encaminhar à Justiça Comum os autos do inquérito policial
militar quando o objeto investigado fosse crime doloso contra a vida de civil praticado por
integrante das Forças Auxiliares.
Em decorrência de tais inovações legislativas, a Associação dos Delegados de Polícia
do Brasil (ADEPOL), no ano de 1997, propôs ação do controle concentrado de
constitucionalidade – Ações Direta de Inconstitucionalidade n. 1464, com o objetivo de
reconhecer a inconstitucionalidade do art. 82, § 2º, do CPPM, posto que no entendimento da
comitiva de classe nacional, em plano estadual, a Polícia Civil detinha com exclusividade o
57

exercício da polícia judiciária e, sendo assim, deveria ser o órgão da Segurança Pública
responsável por investigar as infrações penais correlatas.
Cumpre-se salientar que a respectiva ação do controle concentrado de
constitucionalidade não teve seu julgamento final realizado pela Colenda Corte, haja vista que
a mesma não reconheceu a legitimidade da parte autora para pleitear o reconhecimento da
inconstitucionalidade do dispositivo legal atacado.
Por outro lado, no ano de 2008, nos mesmos moldes da ação extinta sem resolução de
seu mérito, a mesma associação nacional de classe propôs a ADI n. 4164, com a finalidade de
que fosse reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal a nova natureza jurídica dos crimes
retratados na presente pesquisa científica como sendo de substância comum, em virtude da
alteração da competência para julgamento dos mesmos, os quais passaram a ser da alçada da
Justiça Comum desde a promulgação da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996.
Respectiva desnaturação jurídica do homicídio doloso contra a vida de civil praticado
por policial militar, por exemplo, teve por objetivo retirar das atribuições das polícias judiciares
militares – exercida pelas Forças Auxiliares, a investigação dos delitos objeto de análise.
Nesse prumo, uma vez que fosse reconhecida a essência comum do crime de homicídio
no contexto averiguado, estes deveriam ser alvos de análise pela mesma esfera jurídica da
Justiça Comum, qual seja: Polícia Civil. Destaca-se que a tratada ação direta de
constitucionalidade, ainda que sua propositura tenha sido levado a efeito na primeira década do
século XXI, seu julgamento final será realizado apenas na data de 22 de junho de 2022.
Em que pese a ausência de posicionamento definitivo no plano abstrato de
constitucionalidade que dissolvessem a divergência proposta, surgiram diversas decisões
judiciais sem efeitos erga omnes que dispuseram de forma antagônica, conferindo em cada
momento, conforme interpretação atribuída ao caso concreto, atribuição para ambas os órgãos
de Segurança Pública para que estes realizassem as investigações preliminares dos crimes
dolosos contra a vida de civil praticado por militar estadual em serviço.
Respectivos posicionamentos proferidos pelo Poder Judiciário, sobretudo pelo Superior
Tribunal de Justiça, afloraram um cenário de instabilidade jurídico-institucional e um debate
acadêmico que vem sendo acompanhado ao longo dos anos em torno dos principais aspectos
envoltos ao problema proposto na presente pesquisa cientifica, qual seja: qual o órgão policial
possui o dever-legal de realizar a investigação preliminar em face dos crimes dolosos contra a
vida de civil praticado por policiais militares em serviço?
Não obstante a contextualização do assunto debatido, cumpre-se destacar que os
objetivos propostos na presente pesquisa científica foram alcançados. Por meio das definições
58

apresentadas acerca do instituto da infração penal militar, além da análise do bem jurídico
objeto de sua tutela, bem como a identificação doutrinária e legal do que se entende por crime
militar em tempo de paz, contribuições acadêmicas para os resultados da pesquisa foram
extraídos.
Verificou-se, desse modo, que a infração penal militar é a instituição jurídica que possui
o mister de tutelar os mais variados patrimônios essenciais do ser humano de lesão ou ameaça
de lesão, como, por exemplo, a vida. Todavia, por ser considerado uma infração penal que
possui em seu núcleo uma roupagem castrense, a tutela dos bens jurídicos essenciais à vida
humana não são os únicos campos que estão na salvaguarda do instituto em tela, posto que os
axiomas mantedores das instituições marciais – hierarquia e disciplina – também são objetos
de respaldo normativo da infração penal militar.
No mais, se destaca que foi verificado que a respectiva infração penal castrense, quando
alçada para controle e análise do aparato estatal no que importa sua autoria e materialidade
delitiva, é submetida a um rigoroso expediente investigativo desencadeado pela Força Auxiliar
no exercício constitucional da atividade de polícia judiciária militar.
O procedimento adotado para deflagrar a investigação da ameaça de lesão ou lesão a
bem jurídico tutelado é denominado de inquérito policial militar e, este, será presidido por uma
autoridade de polícia judiciária militar originária, podendo ser, conforme dispõe o Código de
Processo Penal Militar, delegado, também, a outra autoridade de polícia judiciária militar que
atuará na função de forma delegada.
Em que pese fora constatado que a infração penal militar é o instituto que, além de
realizar a tutela dos bens jurídicos essenciais do ser humano, e que a mesma será posta a análise
das circunstâncias que desencadearam a lesão ou ameaça de lesão a bem jurídico pelas Forças
Auxiliares que detém o exercício da polícia judiciária militar, foi possível constatar a
divergência jurídico-institucional existente no que diz respeito a qual órgão da Segurança
Pública – Polícia Militar ou Polícia Civil, possui o dever-legal de realizar as investigações do
homicídio doloso praticado por policial militar em serviço contra civil.
Percebeu-se, também, que um cenário de insegurança e divergência jurídica instalou-se
desde a promulgação da Lei n. 9.299, de 07 de agosto de 1996. Ainda que a norma em comento
tenha surgido com o objetivo de retirar da competência da Justiça Militar, seja federal, seja
estadual, o processamento e julgamento do homicídio doloso contra a vida de civil praticado
por policial militar em serviço, restou cristalino, por meio da verificação da doutrina e
jurisprudência revisada, que a atribuição investigativa permanecera no âmbito das Policiais
59

Militares, em atendimento aos preceitos constitucionais do exercício da polícia judiciária


militar.
Ainda que existam decisões em sentido antagônico, observou-se que as mesmas buscam
construir um cenário que busca reconfigurar a natureza jurídica do homicídio doloso praticado
nas condições estabelecidas na presente pesquisa tendo como alicerce a transferência de
competência entre as Justiças averiguadas.
Entretanto, como bem destacado pela literatura proposta, respectiva alteração do
julgamento do crime de homicídio doloso contra a vida de civil praticado por policial militar
em serviço não teve o condão de retirar do crime em estudo a sua natureza militar, ainda mais
quando praticado dentro das circunstâncias caracterizadoras da infração penal militar em
tempos de paz previstas no art. 9º, II, alínea a, do Código Penal Militar, conforme constatado.
Desse modo, constata-se que o problema que deu origem ao presente trabalho científico
pode ser respondido da seguinte forma: as Polícias Militares, no exercício da atividade de
polícia judiciária militar, são os órgãos de Segurança Pública, na esfera estadual, responsáveis
por presidir as investigações de homicídios praticados por seus integrantes em serviço contra
indivíduo civil.
A alegação acima proposta, de acordo com o que fora extraído da pesquisa científica em
tela, possui fundamento nas disposições trazidas pela Carta Política de 1988 e, também,
previstas na esfera infraconstitucional por meio da leitura do art. 8º, alínea a, do Código
Processual Penal Militar, o qual dispõe que a polícia judiciária militar apurará os crimes
militares e sua autoria. Consequentemente, constata-se que hipótese aventada na exordial
introdutória resta confirmada.
Malgrado o apresentado, cumpre-se destacar que no decorrer da elaboração do presente
trabalho científico foi observado que apenas os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio
Grande do Sul mantém ativo no âmago de seus Poderes Judiciários Tribunais Marciais, os quais
são competentes para processar e julgar os militares estaduais quando estes praticam crimes
militares definidos em lei. Notou-se que número restrito de Cortes Militares Estaduais serviu
como elemento dificultador para a resposta da presente pesquisa acadêmica porque entre os
Tribunais Castrenses existentes, não foi possível verificar um número expressivo de demandas
processuais que discutem o objeto explorado.
Por fim, vale ressaltar que muito em breve, na data de 22 de junho de 2022, o Supremo
Tribunal Federal responderá a divergência jurídico-institucional que serviu como problema a
ser explorado no presente trabalho acadêmico, posto que adentrar-se-á, em julgamento
60

definitivo, ao mérito da Ação Direta de Inconstitucionalidade n. 4164, do Distrito Federal,


proposta pela Associação dos Delegados de Polícia do Brasil.
Na ocasião a Corte Constitucional enfrentará o cerne da questão e proferirá sua decisão
judicial, com efeito erga omnes, acerca de qual órgão da Segurança Pública terá o dever-legal
de presidir o inquérito policial, seja comum, seja militar, cujo objeto é o crime capital contra a
vida de civil praticado por militar estadual no exercício da função.
61

REFERÊNCIAS

ALEXANDRINO, Marcelo. Direito administrativo descomplicado. 25. ed. Rio de Janeiro:


Forense; São Paulo: Método, 2017.

ASSIS, Jorge César de. Direito Militar: aspectos penais, processuais penais e administrativos.
3. ed. Curitiba: Juruá, 2012.

BAYER, Diego Augusto. Teoria do Crime: Principais diferenças entre crime e contravenção
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