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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA DA

FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DA CAPITAL - SC

TUTELA ANTECIPADA

AUTOR, brasileiro, solteiro, empresário, inscrito no RG sob o n... e CPF


n..., residente e domiciliado na Av..., Florianópolis/SC, CEP..., endereço
eletrônico..., vem, à presença de Vossa Excelência, por seu advogado,
propor

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE ATO


ADMINISTRATIVO MULTA AMBIENTAL COM PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA 

em face de ESTADO DE SANTA CATARINA, pessoa jurídica de direito


público, por seu Procurador, com endereço profissional na Av..., Centro,
Florianópolis-SC, CEP..., pelas razões de fato e de direito a seguir
expostas.
1. SÍNTESE DO AUTO DE INFRAÇÃO AMBIENTAL
No dia 28.12.2019 o Batalhão de Polícia Militar Ambiental lavrou auto de infração
ambiental em face do Autor, pela suposta infração capitulada no art. 50 do Decreto 6.514/08, com a
seguinte redação:

Art. 66.  Construir, reformar, ampliar, instalar ou fazer funcionar estabelecimentos,


atividades, obras ou serviços utilizadores de recursos ambientais, considerados efetiva ou
potencialmente poluidores, sem licença ou autorização dos órgãos ambientais
competentes, em desacordo com a licença obtida ou contrariando as normas legais e
regulamentos pertinentes:
Multa de R$ 500,00 (quinhentos reais) a R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais). 

Na mesma ocasião, foi lavrado o termo de embargo e arbitrada multa no valor de


R$ 155.000,00, originando o Processo Administrativo de Infração Ambiental.

O Autor apresentou defesa prévia no dia 03.01.2020, e o fiscal foi instado a se


manifestar acerca da defesa prévia. Posteriormente, foi expedida intimação por via postal para que o
Autor apresentasse alegações finais. No entanto, a intimação restou inexitosa, porque foi enviada a
endereço errado.

A certidão juntada aos autos do processo administrativo ambiental comprova que


constou “MUDOU-SE”. Inexiste nos autos qualquer tentativa de localização ou consulta do novo
endereço do Autor. Diante disso, foi procedida a intimação por edital em 04.04.2020, mas o prazo
para apresentar alegações finais transcorreu in albis.

No dia 15.07.2020, a autoridade ambiental julgou o processo administrativo e


homologou o auto de infração ambiental, mantendo a sanção de multa ambiental no valor de R$
155.000,00 e determinando a demolição da edificação.

Ocorre que, o processo administrativo relativo ao Auto de Infração Ambiental e


Termo de Embargo está eivado de vícios, porquanto a intimação por edital para apresentação de
alegações finais viola direitos fundamentais do autuado, razão pela qual requer seja anulado,
conforme passa a expor.

2. AUSÊNCIA DE REGULAR INTIMAÇÃO PARA


APRESENTAÇÃO DE ALEGAÇÕES FINAIS
É mister esclarecer que da análise perfunctória do processo administrativo, verifica-
se a ausência de regular intimação do Autor/Autuado para apresentar alegações finais, porquanto
não houve o esgotamento das tentativas de notificá-lo ou intimá-lo pessoalmente ou por via postal.
Isso porque, o art 107 da Portaria Conjunta CPMA/IMA n. 143/2019 determina
expressamente a necessidade de intimação do autuado para que apresente alegações finais.
Destaca-se:

Art. 107. O autuado será intimado sobre a apresentação de Alegações Finais através de
ofício, por via postal registrada, com aviso de recebimento - AR ou mediante intimação
pessoal.
Parágrafo único. Considerando-se, ainda, a impossibilidade de intimação pessoal do
autuado, após 02 (duas) tentativas devidamente certificadas nos autos de entrega via
postal, deverá a ciência ser realizada mediante edital, por meio de publicação no Diário
Oficial do Estado - DOE.

Regra símile está prevista no Decreto 6.514/08:

Art. 122.  Encerrada a instrução, o autuado terá o direito de manifestar-se em alegações


finais, no prazo máximo de dez dias. 
Parágrafo único. A autoridade julgadora notificará o autuado por via postal com aviso de
recebimento ou por outro meio válido que assegure a certeza de sua ciência, para fins de
apresentação de alegações finais.

No plano constitucional, o direito ao contraditório e ampla defesa foi consagrado


como um direito fundamental, nos termos do inciso LV do art. 5° da Lei Maior, in verbis:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são


assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

O princípio do devido processo legal se erige como um valor caro à democracia e


indispensável à própria existência de um Estado de Direito. Demonstrada, destarte, a ocorrência do
cerceamento de defesa da Excipiente, com a violação clara aos princípios constitucionais da ampla
defesa e do contraditório.

Ademais, o princípio da legalidade também é garantia constitucional, vinculando à


Administração à Lei, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, [...].

Aliás, o próprio Decreto 6.514/08 determina que o processo administrativo será


orientado pelo princípio da legalidade:

Art. 95.  O processo será orientado pelos princípios da legalidade, finalidade, motivação,


razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança
jurídica, interesse público e eficiência, bem como pelos critérios mencionados no
parágrafo único do art. 2º da Lei no 9.784, de 29 de janeiro de 1999. 
Por sua vez, o referido art. 2º da Lei no 9.784/99, enfatiza:
Art. 2º A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade ,
finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa,
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
I - atuação conforme a lei e o Direito;
II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou
competências, salvo autorização em lei;
III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de
agentes ou autoridades;
IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;
V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas
na Constituição;
VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e
sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do
interesse público;
VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão;
VIII – observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados;
IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza,
segurança e respeito aos direitos dos administrados;
X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção
de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e
nas situações de litígio;
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei;
XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos
interessados;
XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento
do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação.

Nesse diapasão, o emérito Professor Carvalho Filho ensina:

O princípio da legalidade é certamente a diretriz básica da conduta dos agentes da


Administração. Significa que toda e qualquer atividade administrativa deve ser autorizada
por lei. Não o sendo, a atividade é ilícita. Tal postulado, consagrado após séculos de
evolução política, tem por origem mais próxima a criação do Estado de Direito, ou seja, do
Estado que deve respeitar as próprias leis que edita. O princípio “implica subordinação
completa do administrador à lei. Todos os agentes públicos, desde o que lhe ocupe a
cúspide até o mais modesto deles, devem ser instrumentos de fiel e dócil realização das
finalidades normativas”. [...] O princípio da legalidade denota exatamente essa relação: só
é legítima a atividade do administrador público se estiver condizente com o disposto na
lei.1

1
CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 30ª Edição. São Paulo. Editora Atlas. 2016. P. 72-73.
O professor Celso Antônio Bandeira de Mello lembra da subordinação da
Administração às leis, principalmente à Constituição:

O princípio da legalidade explicita a subordinação da atividade administrativa à lei e surge


como decorrência natural da indisponibilidade do interesse público, noção, esta, que,
conforme foi visto, informa o caráter da relação de administração. No Brasil, o art. 5º,
inciso II, da Constituição dispõe: "Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei".2

Fato incontroverso, é que não há nos autos do processo administrativo, qualquer


tentativa de intimação do Autor/Autuado para apresentar alegações finais, limitando-se, a autoridade
administrativa, a determinar a intimação por edital, sem esgotar os meios necessários de localização
do autuado.

Logo, não se afigura razoável admitir que, a pretexto da autoridade administrativa,


seja estatuído um rito diferente daquele previsto no ordenamento jurídico, suprimindo fase de total
relevância, sem macular a garantia constitucional.

Com efeito, em se tratando de processo administrativo para aplicação de multa por


danos ambientais e penalidade de demolição, devem ser observados o contraditório e a ampla
defesa, oportunizando-se ao autuado a efetiva intimação pessoal ou postal para fins de manifestação
quanto à autuação, tanto para o pleno exercício da defesa, como para ciência dos atos
administrativos.
Nesse sentido, quando o endereço do autuado for conhecido do órgão ambiental, a
intimação para apresentação de alegações finais somente pode ocorrer pela via editalícia, se
frustradas todas as tentativas de intimação pessoal ou postal. E, se o endereço for desconhecido,
caberá a autoridade administrativa realizar as devidas consultas e pesquisas para se certificar de que
o endereço do autuado não consta nos sistemas.
Isso porque, a intimação editalícia constitui ultima ratio, porquanto induz a um juízo
ficto, de presunção, acerca da ciência do interessado, e não de certeza como a intimação pessoal ou
postal. Ressalte-se, que não é possível presumir a intimação do autuado antes de empreender
diligências para localizar o autuado.
Ora. A autoridade ambiental tem o dever de cientificar o autuado no seu domicílio,
mormente quando esse dado existe no processo administrativo, não podendo tratar esse requisito
fundamental como se fosse exigência meramente formal.
Repise-se que, quando emitida a decisão final de primeira instância, a autoridade
ambiental se deslocou até o endereço do Autuado/Autor para intimá-lo a pagar a multa e cumprir com
a sanção imposta de demolição.

2
MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 32ª Edição. São Paulo. Malheiros Editores. 2014. P. 78.
Portanto, requer a anulação do processo administrativo relativo ao Auto de Infração
Ambiental e Termo de Embargo, porque a intimação do Autuado/Autor foi realizada por edital sem
que tivessem sido esgotadas as tentativas de intimá-lo pessoalmente ou pela via postal.

3. TUTELA DE URGÊNCIA

O que se pretende com o pedido de tutela de urgência é tão somente suspender os


efeitos da Decisão Administrativa de Penalidade proferida nos autos do Processo Administrativo de
Infração Ambiental, até o julgamento definitivo da presente ação.

O art. 300 do novo Código de Processo Civil assim dispõe sobre a tutela de
urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a
probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.
§ 1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso, exigir caução
real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
oferecê-la.
§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após justificação prévia.
§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.

Constata-se que o novo diploma processual estabelece que, para concessão


da tutela de urgência, será necessário preencher cumulativamente os requisitos da probabilidade do
direito e perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

Sobre os requisitos, Luiz Guilherme Marinoni3 anota:

A probabilidade que autoriza o emprego da técnica antecipatória para a tutela dos direitos


é a probabilidade lógica - que é aquela que surge da confrontação das alegações e das
provas com os elementos disponíveis nos autos, sendo provável a hipótese que encontra
maior grau de confirmação e menor grau de refutação nesses elementos. O juiz tem que
se convencer de que o direito é provável para conceder a tutela.

In casu, os requisitos para concessão da tutela de urgência restam preenchidos.

A probabilidade do direito resta consubstanciada nos documentos acostos ao


processo administrativo, que comprovam a falha na intimação por edital do Autuado/Autor para
apresentação de alegações finais, quando o endereço do Autor era plenamente conhecido, e ainda
3
MARINONI, Luiz Guilherme: Novo Código de Processo Civil comentado. 2ª ed. rev. atual. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2016. p 382.
que não fosse, não há nenhuma prova nos autos do processo administrativo de pesquisa de
endereço ou tentativa de intimação ou notificação.

Já o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo subsiste no fato de que


o descumprimento das obrigações estabelecidas poderá acarretar na aplicação de multa R$ 1.000,00
a R$ 1.000.000,00 por infringência do art. 80 do Decreto 6.514/2008, além da deflagração de ação
civil pública para cobrança de indenização e imposição de reparar integralmente o suposto dano
ambiental, aplicando a penalidade de demolição, uma medida extrema que somente pode ser
adotada em casos excepcionais.

Ainda, o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo se faz presente


diante do risco de o Autor ser inscrito em dívida ativa e consequentemente deflagrada execução
fiscal.

Portanto, demonstrados os requisitos, requer a concessão de tutela de urgência


para tão somente suspender os efeitos da decisão proferida nos autos do Processo Administrativo de
Infração Ambiental até o julgamento definitivo da presente ação.

4. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS


Ante o exposto requer:

a) A concessão de tutela urgência para suspender os efeitos do despacho proferida nos


autos do Processo Administrativo de Infração Ambiental, até o julgamento definitivo da
presente ação;

b) A citação do Réu para querendo, apresentar contestação;

c) Ao final, requer seja julgada totalmente procedente a ação ─ confirmando eventual tutela
antecipada concedida ─, para anular o Processo Administrativo de Infração Ambiental em
decorrência da intimação por edital para apresentação de alegações finais;

d) A condenação do Réu ao pagamento das custas, despesas processuais e de honorários


advocatícios.

e) Há desinteresse em conciliar.

f) Protesta provar o alegado, através de todos os meios de provas em direitos admitidos;

g) Que as futuras intimações e notificações sejam todas feitas em nome do advogado


subscritor.
Dá-se à causa o valor de R$ 155.000,00.

Pede deferimento.
Florianópolis/SC, 20 de janeiro de 2021.

Advogado
OAB/SC
Petição assinada digitalmente
(Lei 11.419/2006, art. 1º, §2º, III, “a”)

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