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Processo Administrativo Fiscal

Profª Lívia Ribeiro


11/10/2023
DEFINIÇÃO DO PROCEDIMENTO
ADMINISTRATIVO FISCAL
Conceito:

CONJUNTO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ORDENADOS A DIRIMIR OS


CONFLITOS ENTRE O CONTRIBUINTE E A ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA
SOBRE QUESTÕES RELATIVAS À INTERPRETRAÇÃO E APLICAÇÃO DA
LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA

Instauração do procedimento:

IMPUGNAÇÃO, PELO SUJEITO PASSIVO, DA PRETENSÃO IMPOSITIVA


DO FISCO
Procedimento X Processo
Procedimento ou Processo?

Importância da classificação: definição do regime jurídico

 Procedimento (unidade formal tendente à constituição de ato)


– natureza inquisitorial e investigatória (não contenciosa).

 Processo (unidade teleológica que visa a dirimir conflitos)


– surge com a linguagem que formaliza o conflito de interesses
(contencioso);

– princípios (contraditório e ampla defesa).


Conjuntamente, podem ser identificadas cinco fases:

i. fiscalização; ii. constituição do crédito iii. defesa; iv instrução


probatória e v. julgamento.
Legislação
 Evolução Legislativa federal
 Antes do Decreto nº. 70.235/72
 Legislação esparsa em diversos diplomas legais.
 Com o Decreto nº. 70.235/72
 Unificação da Legislação Processual.
 Leis / Regulamentos Posteriores
 Lei nº 8.748/93;
 Lei nº 9.430/96;
 Lei nº 9.784/99 (regra geral do processo administrativo);
 Lei nº 11.941/09;
 Decreto nº 7.574/11;
 Portarias MF 125 e 256/2009 (RI CARF); e
 Instruções Normativas da SRFB.
Princípios
são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus
postulados básicos e seus fins.

 Função de integração dos dispositivos


– Constituição Federal
– Lei 9.784/99 (lei geral)
– Decreto 70.235/72 (PAF)
– Portaria MF 256/09 (RI CARF)
Lei 9.784/99

Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da


legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade,
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público
e eficiência.
1. Devido Processo Legal
 Ampla Defesa:

i. possibilidade de se manifestar / diligência / perícia; ii. decisão nula


se for preterido esse direito – PAF, art. 59, II

 Contraditório (igualdade das partes/ informação /direito à reação)


 Juiz Natural (competência do órgão julgador pré-definida)
 Decisão fundamentada e que termina o processo

CF, Art. 5º - Todos são iguais...:


LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal;
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos
a ela inerentes;
Alguns desdobramentos do princípio do
devido processo legal

Devido processo
legal

Vedação a juízo ou Direito de produzir


Direito de ser tribunal de exceção provas/ publicidade
ouvido / ampla / direito de dos atos / decisão
defesa / contra- representação fundamentada
ditório
2. Legalidade
 Processo deve ser instaurado nos estritos ditames da lei;
 Formal (procedimento) e material (conteúdo);
 Desdobramento: vinculação do lançamento – art. 142, CTN.

CF, Art. 5º:


II – ninguém será obrigada a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei;

Lei 9.784/99
Art. 2º: (...) Parágrafo único: Nos processo administrativos serão
observados, entre outros, os critérios de
I- atuação conforme a lei e o Direito;
3. Informalismo moderado
 simplicidade, dispensa de formas rígidas;
 desdobramento da busca da verdade material;
 não há prejuízo da certeza ou da segurança jurídica

Lei 9.784/99
Art. 2º: (...) Parágrafo único: Nos processo administrativos
serão observados, entre outros, os critérios de

IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar


adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos
administrados;
4. Busca da verdade material
liberdade para apurar os fatos – ampla possibilidade de trazer ao processo todos os dados
(documentos, informações etc.) sobre a matéria discutida, sem se ater apenas aos elementos
carreados pelas partes – amplos poderes instrutórios;
 as decisões devem se pautar em fatos reais;
 decorrência da legalidade e da tipicidade

PAF
Art. 18. A autoridade julgadora de primeira instância determinará, de ofício ou a
requerimento do impugnante, a realização de diligências ou perícias, quando entendê-las
necessárias, indeferindo as que considerar prescindíveis ou impraticáveis, observando o
disposto no art. 28, in fine.

Art. 28. Na decisão em que for julgada questão preliminar será também julgado o mérito,
salvo quando incompatíveis, e dela constará o indeferimento fundamentado do pedido de
diligência ou perícia, se for o caso.

Art. 29. Na apreciação da prova, a autoridade julgadora formará livremente sua convicção,
podendo determinar as diligências que entender necessárias.
5. Oficialidade
 impulsão de ofício, não restrita a iniciativa das partes;
 maior eficiência no controle de legalidade;
 economia processual, rapidez e simplicidade

Lei 9.784/99

Art. 2º: (...)

Parágrafo único: Nos processo administrativos serão


observados, entre outros, os critérios de

XII - impulsão de ofício, do processo administrativo, sem


prejuízo da atuação dos interessados;
8. Outros Princípios
 segurança jurídica – preservar as relações jurídicas já estabelecidas:
previsibilidade, certeza, irretroatividade, direito adquirido, ato jurídico perfeito,
prescrição e decadência – art. 5º, XXXVI, CF; art. 54, Lei 9.784/99;

 motivação das decisões – art. 93, IX, CF; 131 do CPC; 6º, parágrafo único, 48 e 50
da Lei 9.784/99;

 moralidade – complementos à legalidade para alcançar a justiça;

 proporcionalidade e razoabilidade – amenizar o rigor de determinadas regras


processuais – art. 2º, VI, da Lei 9.784/99;

 padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé;

 gratuidade – proibição de custas;

 eficiência – art. 37, CF;

 duplo grau de cognição – art. 5º, LV, CF;

 proibição de prova ilícita – art. 5º, LVI e art. 332, CPC.


FASES DO PROCESSO ADM TRIBUTARIO

O Processo Administrativo Tributário tem por


objetivo realizar o controle da legalidade dos
lançamentos tributários. O feito é dividido em cinco
fases, sendo elas: Fiscalização; Constituição do
Crédito/Lavratura do Auto de Infração; Defesa;
Instrução Probatória; Julgamento.
Fase 01: fiscalização
Sucessão de atos com o fim de identificar a realização de fato jurídico
tributário desacompanhados do respectivo pagamento de tributos e/ou o
descumprimento de deveres instrumentais

 Início da fiscalização (PAF, art. 7º)

 primeiro ato de ofício do agente;

 apreensão de mercadoria;

 começo do despacho aduaneiro de mercadoria importada.

 Mandado de Procedimento Fiscal (Portaria SRF 1.265/99)

Informações sobre o procedimento fiscal (fiscalização, diligência etc.)


Procedimento de fiscalização
Deveres do Fisco:

Cientificar o Contribuinte a respeito de todos os atos


ou documentos na fase investigatória (art. 7º, §2º do Decreto
nº 70.235/72 )

“NULIDADE – CERCEAMENTO DO DIREITO DE DEFESA –


FALTA DE PARTICIPAÇÃO NOS TRABALHOS DE
FISCALIZAÇÃO – Não há que se cogitar em cerceamento de
defesa o fato de a fiscalização prescindir da participação da
contribuinte durante a execução dos trabalhos investigatórios
anteriores à formalização do auto de infração. Tratando-se de
lançamento fiscal, a garantia da ampla defesa se dá a partir da
ciência da lavratura do auto de infração. (...)”(Recurso nº
144.957 – 1ª Câmara do 1º Conselho)
Fase 01: fiscalização

 o início do procedimento exclui a espontaneidade;


 amplos poderes de fiscalização do Fisco (CTN,
Art. 195 – direito de examinar documentos e demais
elementos que entender relevantes)
 deveres do contribuinte: contribuir com a
investigação
 embaraço - punição (Lei 9430/96, Art. 44, § 2º -
acréscimo de ½)
Fase 2: constituição do crédito
A exigência de crédito tributário será formalizada em declaração tributária, notificação
de lançamento ou auto de infração, de acordo com a legislação de cada tributo.

O crédito também pode ser constituído por ato do particular, mas nos ateremos a
analisar apenas os atos administrativos.

CRITÉRIOS DO ATO-NORMA Decreto 70.235/72 (art. 10)


Elementos obrigatórios do AI Motivação Fato Jurídico
III – a descrição do fato (critério material, espacial e temporal do fato jurídico tributário)
Conteúdo
Relação Jurídica
I – qualificação do autuado (Sp)
V – determinação da exigência e a intimação para cumpri-la ou impugná-la no prazo de
30 dias
(BC x Alíquota)
IV – disposição legal infringida e a penalidade
aplicável (fundamento legal)
O segundo momento procedimental, fase da
constituição do crédito/lavratura de auto de infração,
finda-se com a intimação do sujeito passivo, do
encerramento do ato ou de seu lançamento.
Fase 3 - Da Defesa
Caso o contribuinte discorde do lançamento do tributo, do auto
de infração ou de outro ato que tenha instaurado o
procedimento fiscal, poderá apresentar reclamação
administrativa (defesa). Com isso, o procedimento passa a ser
litigioso, sendo está a terceira fase do feito.

o sujeito passivo poderá apresentar defesa para atacar a


notificação do ato ou lançamento do crédito tributário. As
modalidades de defesa são: Pedido de restituição, pedido de
parcelamento, reconhecimento de imunidade/isenção ou
consulta fiscal.
Os referidos meios de impugnação do contribuinte, devem apresentar alguns
elementos em comum, vejamos o que dispõe o artigo 16 do Decreto nª
70.235/72:

Art. 16. A impugnação mencionará:


I - A autoridade julgadora a quem é dirigida;
II - A qualificação do impugnante;
III - os motivos de fato e de direito em que se fundamenta, os pontos de
discordância e as razões e provas que possuir;
IV - As diligências, ou perícias que o impugnante pretenda sejam efetuadas,
expostos os motivos que as justifiquem, com a formulação dos quesitos
referentes aos exames desejados, assim como, no caso de perícia, o nome, o
endereço e a qualificação profissional do seu perito.
V - Se a matéria impugnada foi submetida à apreciação judicial, devendo ser
juntada cópia da petição.
características do processo administrativo tributário
litigioso.
- o processo é administrativo, por isso, mesmo que este contenha inúmeras
especificidades a serem observadas não há o fator jurisdicional ou
coercibilidade do ato.

- O artigo 38, p.ú, da Lei 6.830/80, impede a tramitação de processo tributário


na seara administrativa e judicial. No mesmo sentido, a Súmula CARF nº 1º
destaca que:

Súmula CARF nº 1: Importa renúncia às instâncias administrativas a


propositura pelo sujeito passivo de ação judicial por qualquer modalidade
processual, antes ou depois do lançamento de ofício, com o mesmo objeto do
processo administrativo, sendo cabível apenas a apreciação, pelo órgão de
julgamento administrativo, de matéria distinta da constante do processo
judicial.
- o Princípio da Inafastabilidade jurisdicional resta assegurado, uma vez que, sendo a
pretensão do contribuinte julgada improcedente, este poderá ajuizar ação judicial. Noutro
sentido, a decisão de última instância favorável ao sujeito passivo, finaliza a lide
administrativa e impede que a Fazenda Pública competente recorra às vias judiciais.

- Súmula Vinculante nº 21 do STF, é inconstitucional a cobrança de depósito ou


arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade do recurso administrativo.
Cumpre informar que, durante a tramitação do processo administrativo a exigibilidade do
Crédito Tributário ficará suspensa, impedindo que, enquanto durar o processo, o fisco
realize qualquer ato de cobrança.

- Não há custas ou despesas no processo administrativo fiscal, não sendo possível


condenações em honorários advocatícios sucumbenciais. No entanto, o processo não
impede a incidência de encargos moratórios, sendo necessário o depósito administrativo
para impedir a mora.

- Não há legislação que discipline o processo tributário administrativo tributário. Portanto,


deve-se observar a legislação de cada ente da federação, aplicando-se as regras do Código
de Processo Civil, supletivamente e subsidiariamente.
Fase 4 - Instrução Probatória

artigo 18 do Decreto nº 70.235/72, se dá quando a


autoridade julgadora determina, de ofício, ou a
requerimento das partes a realização de diligências
ou perícias, quando necessário, indeferindo as que
considerar prescindíveis ou impraticáveis.
Quinta Fase julgamento

ocorre após a instrução probatória. Com base nos


documentos apresentados pelo sujeito passivo e o
fisco, a administração tributária julgará o processo
em primeira instancia. Contra decisão desfavorável,
o contribuinte poderá apresentar recurso em segunda
instancia administrativa.
2ª parte na próxima aula!!

Obrigada!!

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