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PROCESSO ADMINISTRATIVO

- Conceito: sequência encadeada de atos para a obtenção de uma decisão administrativa.


Uma série concatenada de atos administrativos, respeitada uma ordem posta por lei, com
uma finalidade específica, ensejando a prática de um ato final.
- O Brasil adotou o sistema de jurisdição única, ou sistema inglês, no qual o processo
administrativo não exaure a discursão de nenhuma matéria em caráter de definitividade,
sendo sempre a admitida a discursão judicial da matéria já decidida definitivamente na
via judicial.
- O sentido de coisa julgada administrativa, no Brasil, é restrito, definindo somente uma
situação que não pode mais ser arguida e analisada em sede administrativa, mas sem
conferir a essa decisão o caráter de definitividade, haja vista a possibilidade de recurso à
via judicial.

1. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO

1.1 PRINCÍPIO DA OFICIALIDADE


- Diferentemente do que ocorre na função jurisdicional, os processos administrativos
podem ser instaurados sem a necessidade de provocação de qualquer particular
interessado. O início do processo, na esfera administrativa, pode decorrer da vontade
originária do Poder Público, no exercício das suas atividades.
- A movimentação do processo incumbe ao pode publico, que deve atuar independente
de provocação do interessado.
- Em síntese, a administração pública pode atuar, de ofício, na condução de todas as fases
do processo, inclusive com iniciativa de investigação de fatos, podendo produzir provas
de ofício e proteger os direitos dos cidadãos interessados na regular condução do
processo.
- Súmula 611-STJ: Desde que devidamente motivada e com amparo em investigação ou
sindicância, é permitida a instauração de processo administrativo disciplinar com base em
denúncia anônima, em face do poder-dever de autotutela imposto à Administração.

1.2 DEVIDO PROCESSO LEGAL


- Art. 5º, LIV, CF: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”.
1.3 CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA
- Art. 5º, LV, da CF: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos
acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e
recursos a ela inerentes”.
- O particular terá direito a ser notificado dos atos a serem praticados, bem como de
produzir provas e participar da produção de todas as provas produzidas nos autos.
- Súmula Vinculante nº 5 – STF: A falta de defesa técnica por advogado no processo
administrativo disciplinar não ofende a Constituição. (Súmula 343 STJ foi superada).
- Defesa prévia: todo o procedimento a ser seguido pela Administração Pública, em um
processo, bem como todas as penalidades que possam dele resultar precisam ser de
conhecimento prévio do particular interessado, para que seja possível a ele traçar planos
e estratégias de defesa. Todavia, em situações emergenciais, nas quais o interesse público
esteja em perigo admite-se que a atuação administrativa anteceda à manifestação do
particular.
- Duplo grau de julgamento ou direito ao recurso administrativo: prerrogativa que
possibilita a reanalise dos atos praticados pela Administração Pública, por provocação do
particular, com a finalidade de evitar que se perpetuem injustiças ou decisões ilegais.
- Súmula Vinculante nº 21 – STF: É inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.
- Súmula Vinculante nº 3 – STF: Nos processos perante o Tribunal de Contas da União
asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação
ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação
da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão.

1.4 INFORMALISMO OU FORMALISMO NECESSÁRIO OU


FORMALISMO MODERADO
- Como regra geral, os atos praticados pelos particulares em processos administrativos
não dependem de forma prescrita em lei.
- No entanto, devem ser garantidas as formalidades essenciais à garantia da segurança do
particular e, por esse motivo, o processo se torna formal para a Administração Pública.
Para o Poder Público, o processo deve respeitar determinadas formalidades determinadas
formalidades, para se evitar prejuízos ao interessado.
- Desse modo, são obrigatórias as formalidades indispensáveis à segurança jurídica do
cidadão que devem ser observadas pela Administração Pública na condução do feito, a
despeito de não se poder exigir formalidades ao particular interessado no procedimento.

1.5 VERDADE REAL


- O processo administrativo busca a verdade material em contraponto aos processos
judiciais, na esfera cível, que apontam na busca da verdade formal, ou seja, verdade
apresentada nos autos.
- Os processos administrativos admitem todos os tipos lícitos de prova, apresentados em
qualquer fase do processo, ainda que após o encerramento da instrução, bem como admite
a produção de provas realizadas de ofício pela própria Administração Pública condutora
do feito. Isso tudo ocorre em respeito à busca pelo conhecimento do fato efetivamente
ocorrido, a verdade absoluta.
- É admissível, em sede de recursos administrativos, a reformatio in pejus.

1.6 GRATUIDADE
- Os processos administrativos são gratuitos, não havendo cobranças de custas,
emolumentos ou ônus sucumbenciais aos particulares envolvidos.
- Lei 9.784/99, Art. 2o A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios
da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade,
ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.
Parágrafo único. Nos processos administrativos serão observados, entre outros, os
critérios de:
XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei.

2. DIREITOS DOS ADMINISTRADOS

Lei 8.784/99, Art. 3o O administrado tem os seguintes direitos perante a Administração,


sem prejuízo de outros que lhe sejam assegurados:
I - ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o
exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações;
II - ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a
condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles
contidos e conhecer as decisões proferidas;
III - formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão
objeto de consideração pelo órgão competente;
IV - fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a
representação, por força de lei.

3. DEVERES DOS ADMINISTRADOS


Lei 8.784/99, art. 4o São deveres do administrado perante a Administração, sem prejuízo
de outros previstos em ato normativo:
I - expor os fatos conforme a verdade;
II - proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé;
III - não agir de modo temerário;
IV - prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o
esclarecimento dos fatos.

4. COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA
- A competência para a prática de atos administrativos deve ser definida em lei ou em ato
administrativo geral.
- Refere-se à indicação do sujeito competente para a condução e julgamento do processo
administrativo.
- É irrenunciável, mas permite a delegação e a avocação, desde que temporária e
excepcional, devendo ser justificadas.
- Delegação: transferência temporária de parte da competência a outro órgão ou titular
em razão de circunstância técnica, social, econômica, jurídica ou territorial.
Obs.: é possível delegação a órgão não hierarquicamente subordinado a autoridade
delegante.
Obs. 2: deve haver publicação no diário oficial.
Obs. 3: deve-se definir o tempo e a matéria a ser transferida de forma expressa. Quando
um ato de delegação é genérico, ele é considerado nulo.
Obs. 4: o ato de delegação não retira a competência do delegante.
Obs. 5:
-Art. 13. Não podem ser objeto de delegação:
I - a edição de atos de caráter normativo;
II - a decisão de recursos administrativos;
III - as matérias de competência exclusiva do órgão ou autoridade.
- Avocação: transferência temporária e excepcional de parte da competência de um órgão
ou titular hierarquicamente inferior para órgão superior. Se sujeita as mesmas vedações
da delegação.

4.1 IMPEDIMENTOS
- Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que:
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria;
II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou
representante, ou se tais situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou
parente e afins até o terceiro grau;
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou
respectivo cônjuge ou companheiro.
- A autoridade ou servidor que incorrer em impedimento deve comunicar o fato à
autoridade competente, abstendo-se de atuar, sendo que a omissão do dever de comunicar
o impedimento constitui falta grave, para efeitos disciplinares.

4.2 SUSPEIÇÃO
- Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima
ou inimizade notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges,
companheiros, parentes e afins até o terceiro grau.
- Art. 21. O indeferimento de alegação de suspeição poderá ser objeto de recurso, sem
efeito suspensivo.

5. RECURSO ADMINISTRATIVO
- Princípio da recorribilidade (art. 56, Lei 9.784/99). Art. 56. Das decisões administrativas
cabe recurso, em face de razões de legalidade e de mérito.
- Efeito regressivo: § 1o O recurso será dirigido à autoridade que proferiu a decisão, a
qual, se não a reconsiderar no prazo de cinco dias, o encaminhará à autoridade superior.
- Caução: não pode ser exigida. § 2o Salvo exigência legal, a interposição de recurso
administrativo independe de caução (dispositivo superado pela súmula vinculante nº 21).
Obs.: Súmula Vinculante nº 21 - É inconstitucional a exigência de depósito ou
arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.
- § 3o Se o recorrente alegar que a decisão administrativa contraria enunciado da súmula
vinculante, caberá à autoridade prolatora da decisão impugnada, se não a reconsiderar,
explicitar, antes de encaminhar o recurso à autoridade superior, as razões da
aplicabilidade ou inaplicabilidade da súmula, conforme o caso.
- Em regra, sem efeito suspensivo. Art. 61. Salvo disposição legal em contrário, o recurso
não tem efeito suspensivo.
- Art. 57. O recurso administrativo tramitará no máximo por três instâncias
administrativas, salvo disposição legal diversa.

5.1 LEGITIMADOS
Art. 58. Têm legitimidade para interpor recurso administrativo:
I - os titulares de direitos e interesses que forem parte no processo;
II - aqueles cujos direitos ou interesses forem indiretamente afetados pela decisão
recorrida;
III - as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interesses
coletivos;
IV - os cidadãos ou associações, quanto a direitos ou interesses difusos.

5.2 PRAZOS
- Interposição do recurso: 10 dias, contado a partir da ciência ou divulgação oficial da
decisão recorrida (art. 59).
- Prazo para decisão: 30 dias, prorrogável mediante justificativa explicita (art. 59,
parágrafo 1º).
- Art. 63. O recurso não será conhecido quando interposto:
I - fora do prazo;
II - perante órgão incompetente;
III - por quem não seja legitimado;
IV - após exaurida a esfera administrativa.
Obs.: § 1o Na hipótese do inciso II, será indicada ao recorrente a autoridade competente,
sendo-lhe devolvido o prazo para recurso.

5.3 REFORMATIO IN PEJUS


- É possível, em material de fato e de direito.
- Art. 64. O órgão competente para decidir o recurso poderá confirmar, modificar, anular
ou revogar, total ou parcialmente, a decisão recorrida, se a matéria for de sua
competência.
Parágrafo único. Se da aplicação do disposto neste artigo puder decorrer gravame à
situação do recorrente, este deverá ser cientificado para que formule suas alegações antes
da decisão.

5.4 REVISÃO
- Art. 65. Os processos administrativos de que resultem sanções poderão ser revistos, a
qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando surgirem fatos novos ou circunstâncias
relevantes suscetíveis de justificar a inadequação da sanção aplicada.
Parágrafo único. Da revisão do processo não poderá resultar agravamento da sanção.
Obs.: não há prazo para pedido de revisão, depende, entretanto, da alegação de fatos
novos a serem analisados pela autoridade julgadora que justifiquem o entendimento de
inadequação da penalidade imposta.

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