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DIREITOS DA PERSONALIDADE

- Toda pessoa dispõe de personalidade jurídica, e quem dispõe de personalidade


jurídica merece uma proteção básica fundamental, dispondo dos direitos da
personalidade.
- Personalidade x capacidade jurídica.
- Art. 1º, do CC: “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil” (toda
pessoa possui personalidade jurídica, e, portanto, possui capacidade de
direito/gozo).
- Todos que possuem personalidade, possui capacidade.
- Nem todos que possuem capacidade, possuem personalidade – existem entes
despersonalizados (ex.: condomínio edilício, massa falida, herança jacente e
vacante, sociedade de fato).
- Legitimação (capacidade específica) – é um requisito específico exigido das
pessoas capazes para a prática de determinados atos.

1. NOÇÕES CONCEITUAIS SOBRE OS DIREITOS DA PERSONALIDADE

- São direitos subjetivos tendentes a assegurar a dignidade da pessoa humana;


- Constitui direito da personalidade tudo aquilo que é necessário para se ter uma vida
digna;
- Alcançam as relações privadas;
- Rol exemplificativo;
- Enunciado 274, Jornada de Direito Civil: “Os direitos da personalidade, regulados de
maneira não-exaustiva pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da
pessoa humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da dignidade da
pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como nenhum pode sobrelevar os demais,
deve-se aplicar a técnica da ponderação”.
- Conteúdo mínimo do princípio da dignidade (referenciais):
• integridade física e psíquica (ex.: Lei 11.346/06 e o direito à alimentação adequada,
ADI4275/DF – o Supremo reconheceu o direito aos transgêneros de mudarem o nome e
o gênero diretamente no cartório por autodeclaração, independente de autorização judicial
ou de comprovação cirúrgica).
• liberdade e igualdade (ADI 4277/DF – o Supremo reconheceu a natureza familiar nas
uniões homoafetivas);
• o direito ao mínimo existencial (a lei 11.382/06 e o conceito de mínimo para viver com
dignidade. A questão da impenhorabilidade do bem imóvel de elevado valor – posição do
STJ, REsp. 715.259/SP).

2. DIREITOS DA PERSONALIDADE E PESSOA JURÍDICA

- As pessoas jurídicas, apesar de não serem titulares dos direitos da personalidade,


merecem a proteção que deles decorrem (atributo de elasticidade).
- Enunciado 286, Jornada de Direito Civil: “Os direitos da personalidade são direitos
inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as
pessoas jurídicas titulares de tais direitos”.
- Art. 52, do CC: “Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos
da personalidade”.
- A pessoa jurídica merece a proteção decorrente do nome, da imagem (imagem-atributo)
e da honra objetiva;
- No entanto, a pessoa jurídica não merece a proteção decorrente da integridade física e
psíquica, pois é com ela incompatível (ausência de estrutura bio-psicológica).
- Súmula 227, do STJ: “A pessoa jurídica pode sofrer dano moral” (no que couber);
- Ex.: REsp. 433.954, STJ: dano moral de pessoa jurídica em razão de protesto indevido
de duplicata.
- Pessoa jurídica de direito público não pode sofrer dano moral (entendimento do STJ).

3. INÍCIO DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

- Os direitos da personalidade são adquiridos desde a concepção uterina;


Obs.: o natimorto (aquele que não nasce com vida) possui direitos da personalidade – ex.:
direito ao sepultamento, ao nome, imagem.
- Enunciado nº 1, Jornada de Direito Civil: “A proteção que o Código defere ao nascituro
alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome,
imagem e sepultura”.
Obs. 2: art. 5º, da Lei de Biossegurança, foi declarado constitucional: prevê a
possibilidade de descarte de embriões inviáveis ou congelados há 3 anos ou mais para
encaminhamento para pesquisa/terapia com células-tronco.

4. CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE

- Art. 11, do CC: “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade
são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária”.
- São relativamente indisponíveis.
- Parâmetros para limitação voluntária dos direitos da personalidade:
• O ato não pode ser permanente;
• O ato não pode ser genérico;
• O ato não pode violar a dignidade humana.
- Enunciado 4, Jornada de Direito Civil: “O exercício dos direitos da personalidade pode
sofrer limitação voluntária, desde que não seja permanente nem geral”.
- Enunciado 139, Jornada de Direito Civil: “Os direitos da personalidade podem sofrer
limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos
com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons
costumes”.
- Outras características dos direitos da personalidade:
a) absolutos (oponíveis erga omnes);
b) extrapatrimoniais;
c) impenhoráveis;
Obs.: uma vez violados, os direitos da personalidade vão merecer uma compensação
(indenização por dano moral), esta é penhorável.
d) inatos (inerentes a condição humana);
e) imprescritíveis – a proteção dos direitos da personalidade é imprescritível, no entanto,
a reparação do dano prescreve (03 anos).
Obs.: 2 exceções (indenizações que não prescrevem): i) indenização decorrente de tortura
no regime militar, e ii) indenização por dano causado ao meio ambiente.

5. PROTEÇÃO JURÍDICA DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE


- Art. 12, do CC: “Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão (tutela preventiva), a
direito da personalidade, e reclamar perdas e danos (tutela compensatória), sem prejuízo
de outras sanções previstas em lei (ex.: possibilidade de tutela penal, administrativa, ou,
se for o caso, da autotutela)”.
- Houve uma ruptura do esquema jurídico lesão-sanção (perdas e danos como
consequência única – apenas a visão monetária).
- Enunciado 140, Jornada de Direito Civil: “A primeira parte do art. 12 do Código Civil
refere-se às técnicas de tutela específica, aplicáveis de ofício, enunciadas no art. 497/498
do Código de Processo Civil, devendo ser interpretada com resultado extensivo” (Tutela
preventiva). – Em busca do resultado prático equivalente.
- Tutela compensatória: indenização por dano moral;
Dano moral é a violação ao direito da personalidade.
Obs.: Impossibilidade de condenação em danos morais de ofício (em face do seu caráter
patrimonial) e a legitimidade residual do MP para as ações civis ex delicto (teoria da
inconstitucionalidade progressiva – CPP 68 e STF, RE 135.328/SP).
Obs. 2: Súmula 601-STJ: O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa
de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que
decorrentes da prestação de serviço público. – Ação civil pública.
- Art. 12, parágrafo único, do CC: “Em se tratando de morto, terá legitimação para
requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em
linha reta, ou colateral até o quarto grau”. – Lesados indiretos, dano por ricochete.
Ex.: O caso Garrincha (STJ, REsp. n. 521.697/RJ).
Obs.: quando se tratar de direito de imagem do morto, os colaterais não estão legitimados
(art. 20, parágrafo único, do CC).

6. TUTELA JURÍDICA DO CORPO HUMANO


- Tutela jurídica do corpo vivo:
• Art. 13, do CC: Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio
corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os
bons costumes. – É válido o ato de disposição do próprio corpo, desde que não importe
diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes (salvo por
exigência médica. Ex.: cirurgia de transgenitalização).
• Dano estético: quando se viola a integridade física alheia, caracteriza-se o dano estético.
O STJ entende que para que o dano estético se caracterize, não há necessidade de sequelas
permanentes.
Súmula 387, do STJ: “É lícita a cumulação das indenizações de dano estético e dano
moral”.
• As partes separáveis do corpo humano (sémen, ovulo etc.) também estão protegidas?
Sim. Ex.: STF, Rcl 2040/DF – Caso Glória Trevis (exame DNA forçado, placenta).
• Art. 13, parágrafo único: “O ato previsto neste artigo admitido para fins de transplante,
na forma estabelecida em lei especial (Lei 9434/97)”.

- Tutela jurídica do corpo morto:


• Art. 14, do CC: “É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita
do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte”.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Obs.: Não se aplica para fins de transplante. A lei 9434/97 é a lei especial que regular a
remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante.

- Art. 15, do CC: “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a
tratamento médico ou a intervenção cirúrgica” (consagra a autonomia do paciente, livre
consentimento informado).
Obs.: o médico é obrigado a prestar todas as informações ao paciente, em virtude do
princípio da autonomia do paciente. Caso não dê a informação ao paciente por algum
motivo, deve prestá-la a família.
Obs.2: não é admitida a internação forçada.
• O direito a autonomia do paciente não é absoluto. Lei 10.216/01 – hipóteses de
internação forçada (rol taxativo).
Obs. 3: A testemunha de Jeová pode se recusar ao procedimento de transfusão de sangue.

7. DIREITO AO NOME CIVIL


- O nome individualiza e identifica o indivíduo.
- Constitui direito da personalidade.
- Art. 16, do CC: “Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o
sobrenome”. – Elementos componentes do nome civil: prenome (identifica a pessoa) e
sobrenome (patronímico ou nome de família – identifica a origem familiar).
Eventualmente, é preciso ter o agnome (partícula diferenciadora que serve para distinguir
pessoas da mesma família que possuem o mesmo nome – ex.: junior, filho, neto, bisneto
etc.).
- O pseudônimo (nome utilizado para atividades profissionais) não integra o nome. No
entanto, merece a mesma proteção jurídica do nome. Art. 19, do CC: “O pseudônimo
adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome”.
- Art. 56, da Lei de Registros Civis: “O interessado, no primeiro ano após ter atingido a
maioridade civil, poderá, pessoalmente ou por procurador bastante, alterar o nome, desde
que não prejudique os apelidos de família, averbando-se a alteração que será publicada
pela imprensa” (Prazo decadencial de 1 ano) - Escolha imotivada do nome.
- Os pais fazem uma indicação provisória do nome, submetida a vontade daquela pessoa
dos 18 aos 19 anos de idade.
- Se os pais fizerem uma indicação abusiva, vexatória, que viole a dignidade do filho, é
possível que o oficial do cartório recuse o registro do nome. O próprio oficial do cartório
pode suscitar ao juiz o procedimento administrativo de dúvida.
- Possibilidade de mudança do nome nos casos previstos em lei e em casos não previstos
quando houver justa causa reconhecida pelo juiz com a fiscalização do MP (a
inalterabilidade relativa do nome – arts. 56/58, da Lei de Registros Públicos).
- Art. 17 e 18, do CC: asseguram ao titular a proteção jurídica do nome contra o uso
indevido por terceiros – com ou sem intenção difamatória ou exploração comercial.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou
representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.

8. DIREITO À IMAGEM
- Tutela constitucional e civil.
- Art. 5º, V, X e XXVIII, a, da CF;
- Art. 20, do CC.
- Tridimensionalidade do direito à imagem: imagem-retrato (identificação de alguém de
acordo com os seus atributos físicos), imagem-atributo (identificação de alguém pelas
suas características imateriais – obs.: pessoa jurídica possui imagem atributo) e imagem-
voz (timbre sonoro identificador).
- Art. 20, do CC: “Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à
manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a
publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas,
a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem a honra, a
boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais”.
- Atenção: a proteção jurídica da imagem na Constituição é autônoma e independente. Ou
seja, não depende de violação da honra ou destinação comercial. O direito a imagem não
se confunde com a honra.
- Art. 20, parágrafo único, do CC: “Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.” –
Lesados indiretos, dano por ricochete.
- Relativização do direito de imagem:
a) Função social da imagem: valores previstos no CC 20 como justificadores da
relativização da imagem (administração da Justiça, manutenção da ordem pública);
b) Cessão expressa ou tácita e o uso em local público.
c) Imagem de pessoas públicas.

9. DIREITO À VIDA PRIVADA


- Art. 21, do CC: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento
do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma”.
- Estruturação: privacidade e intimidade (aspectos da vida privada). Teoria dos círculos
concêntricos.

VIDA PRIVADA

PRIVACIDADE

INTIMIDADE

- Privacidade: diz respeito ao segredo/sigilo, são informações que pertencem ao titular,


mas que eventualmente podem ser compartilhadas com terceiros em nome do interesse
público. Ex.: sigilo bancário, sigilo fiscal etc.
- Intimidade: informações privadas que somente serão compartilhadas com a vontade do
titular. Ex.: orientação sexual, filosófica, política, patologias, cicatrizes, doenças.
Obs.: Nem toda informação privada é intimidade. Toda intimidade é informação privada.
Obs.: Possibilidade de publicação de biografias não autorizadas (STF, ADIn 4815) –
liberdade de imprensa e de informação. Técnica de ponderação de interesses: privilégio
ao direito de imprensa e informação, e relativização da vida privada.
Obs.: o direito a vida privada é autônomo e independente.

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