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Direitos da Personalidade

Profª Tula Wesendonck


Evolução
• Alemanha pós-guerra – proteção da pessoa humana usando artigos
da Constituição para criar Direito Geral de Personalidade
• Limongi França – muitos direitos da personalidade integram as
declarações de Direitos que servem como garantia dos cidadãos
contra arbitrariedades do Estado
• Direitos que são importantes para o indivíduo e para o Estado
Democrático de Direito – devem ser tutelados pelo Direito Público e
Privado
CF 88
• direitos e garantias fundamentais – garantias genéricas e
fundamentais ao ser humano.
• sem elas a pessoa não pode atingir a sua plenitude e as vezes não
pode sobreviver
• Concepção Civil Constitucional – Gustavo Tepedino – cláusula geral de
tutela e promoção da pessoa humana
Noções introdutórias aos Direitos da
Personalidade
• direitos inerentes ao homem, essenciais à condição humana, à sua
dignidade
• absolutos, imprescritíveis, inalienáveis e indisponíveis
• proteção não apenas em face do Estado, mas também para coibir a
exploração do homem pelo homem.
• não confundir com os direitos fundamentais – nem todo direito da
personalidade será obrigatoriamente um direito fundamental, ex.:
direito ao nome
Direitos da personalidade são inerentes à
pessoa e à sua dignidade
• Ícones dos direitos da personalidade
• a) integridade físico-psíquica
• b) nome da pessoa natural e jurídica e sua proteção – art. 16 - 19 CC
• c) imagem: retrato (reprodução corpórea da imagem) e atributo
(soma de qualificações de algúem ou repercussão social da imagem)
• d) honra: subjetiva (autoestima) e objetiva (reprecussão social da
honra)
• e) intimidade – vida privada da pessoa natural é inviolável – art. 5º X
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação
voluntária.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha
reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo, quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os
bons costumes.
Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de transplante, na forma estabelecida em lei especial.
Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte.
Parágrafo único. O ato de disposição pode ser livremente revogado a qualquer tempo.
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica.
Art. 16. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome.
Art. 17. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja
intenção difamatória.
Art. 18. Sem autorização, não se pode usar o nome alheio em propaganda comercial.
Art. 19. O pseudônimo adotado para atividades lícitas goza da proteção que se dá ao nome.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou
a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe
atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais. (Vide ADIN 4815)
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Art. 21. A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato
contrário a esta norma. (Vide ADIN 4815)
Enunciado 274 STJ - IV Jornada

• Os direitos da personalidade, regulados de maneira não-exaustiva


pelo Código Civil, são expressões da cláusula geral de tutela da pessoa
humana, contida no art. 1º, inc. III, da Constituição (princípio da
dignidade da pessoa humana). Em caso de colisão entre eles, como
nenhum pode sobrelevar os demais, deve-se aplicar a técnica da
ponderação.
Rol do art. 11 e ss do CCB é aberto
• Ex. Direito ao Esquecimento
• Enunciado 531 A tutela da dignidade da pessoa humana na sociedade
da informação inclui o direito ao esquecimento.
• Enunciado 576 O direito ao esquecimento pode ser assegurado por
tutela judicial inibitória.
• Ex. Caso da Chacina da Candelária e programa Linha direta – réu
absolvido – TV Globo condenada em R$50.000,00
1) Direito ao próprio corpo e à integridade
física – Art. 13 e 15
• Art. 13. Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do
próprio corpo, quando importar diminuição permanente da
integridade física, ou contrariar os bons costumes.
• Parágrafo único. O ato previsto neste artigo será admitido para fins de
transplante, na forma estabelecida em lei especial.
• Exigência médica - Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a
submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico ou a
intervenção cirúrgica.
• Questões polêmicas
• Testemunha de Jeová
• Testamento vital
• Enunciado 403. O Direito à inviolabilidade de consciência e de crença, previsto no art. 5º, VI, da
Constituição Federal, aplica-se também à pessoa que se nega a tratamento médico, inclusive
transfusão de sangue, com ou sem risco de morte, em razão do tratamento ou da falta dele,
desde que observados os seguintes critérios: a) capacidade civil plena, excluído o suprimento pelo
representante ou assistente; b) manifestação de vontade livre, consciente e informada; e c)
oposição que diga respeito exclusivamente à própria pessoa do declarante.
• Enunciado 528.É válida a declaração de vontade expressa em documento autêntico, também
chamado "testamento vital", em que a pessoa estabelece disposições sobre o tipo de tratamento
de saúde, ou não tratamento, que deseja no caso de se encontrar sem condições de manifestar a
sua vontade.
• Enunciado 533. O paciente plenamente capaz poderá deliberar sobre todos os aspectos
concernentes a tratamento médico que possa lhe causar risco de vida, seja imediato ou mediato,
salvo as situações de emergência ou no curso de procedimentos médicos cirúrgicos que não
possam ser interrompidos.
• Enunciado 276. O art. 13 do Código Civil, ao permitir a disposição do próprio corpo por exigência
médica, autoriza as cirurgias de transgenitalização, em conformidade com os procedimentos
estabelecidos pelo Conselho Federal de Medicina, e a consequente alteração do prenome e do
sexo no Registro Civil.
• Enunciado 532 É permitida a disposição gratuita do próprio corpo com objetivos exclusivamente
científicos, nos termos dos arts. 11 e 13 do Código Civil. (Cessão gratuita de direitos de uso de
material biológico para fins de pesquisa científica )
Limitações ao direito ao próprio corpo, órgãos
humanos e a questão do cadáver
• corpo nos termos do art. 13 diz respeito ao corpo de pessoa viva –
não se confunde com o regime jurídico do cadáver – haveria o
direito ao cadáver cujo sujeito passivo são todas as pessoas –
obrigadas a não lesar os direitos da personalidade umas das outras.
• Disposição do próprio corpo para depois da morte – art. 14 – ato
revogável – DIREITO DA PERSONALIDADE DO MORTO?
• Art. 14. É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição
gratuita do próprio corpo, no todo ou em parte, para depois da morte
Direito às partes separadas do corpo
não são protegidos pelo núcleo essencial do art. 13 objetos como
dentaduras, apliques de cabelo, perucas ou membros artificiais
– caso curioso da Placenta – Glória Trevi – STF – presa no processo de
extradição se negou a fazer exame para averiguar a paternidade de
nascituro. Exame foi feito na placenta (STF, Tribunal Pleno, Rel 2040
QO, ReI. Min. Néri da Silveira, j. 21.02.2002, Df 27.06.2003, p. 31.) –
PONTES EXECUÇÃO DE DENTE DE OURO
2) Direito ao nome (direito a identidade
pessoal)
• não é direito fundamental (embora a CF tenha reconhecido a
gratuidade do registro para os pobres)
• Toda pessoa tem direito ao nome (prenome + sobrenome)
• Nome é em regra imutável e não pode ser vexatório
• ao pseudômino é dada a mesma proteção é dada ao nome – art. 19.
A proteção ao nome é extensiva às propagandas comerciais – não se
pode usá-lo sem autorização do titular o uso do nome da pessoa não
pode ser empregado em publicações ou representações que a
exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção
difamatória – art. 17 CC
Enunciados
Enunciado 1. A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o
natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome,
imagem e sepultura.
Enunciado 278. A publicidade que divulgar, sem autorização, qualidades
inerentes a determinada pessoa, ainda que sem mencionar seu nome, mas
sendo capaz de identificá-la, constitui violação a direito da personalidade.
Enunciado 608. É possível o registro de nascimento dos filhos de pessoas do
mesmo sexo originários de reprodução assistida, diretamente no Cartório do
Registro Civil, sendo dispensável a propositura de ação judicial, nos termos
da regulamentação da Corregedoria local.
Alteração do nome - excepcional
• Alteração do sobrenome – alteração do estado civil, alteração do
estado de filiação
• Alteração do prenome – exposição ao ridículo, erro de grafia
Lei dos Registros públicos (6015/73) Art. 56, 57
Lei n. 9.708/98 admite a substituição do prenome por apelidos
públicos e notórios (Xuxa, Lula etc.)
Lei n. 11.924/2009, que autoriza o enteado ou enteada a adotar o
nome de família do padrasto ou madrasta (a chamada Lei Clodovil)
Alteração do nome no caso de abandono
afetivo – informativo STJ n. 555
(Informativo 555, de 11 de março de 2015. REsp 1.304.718-SP, Terceira
Turma., Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 18/12/2014, DJe
5/2/2015): “O princípio da imutabilidade do nome não é absoluto no sistema
jurídico brasileiro. Além disso, a referida flexibilização se justifica pelo
próprio papel que o nome desempenha na formação e consolidação da
personalidade de uma pessoa. Desse modo, o direito da pessoa de portar um
nome que não lhe remeta às angústias decorrentes do abandono paterno e,
especialmente, corresponda à sua realidade familiar, sobrepõe-se ao
interesse público de imutabilidade do nome, já excepcionado pela própria
Lei de Registros Públicos. Sendo assim, considerando que o nome é
elemento da personalidade, identificador e individualizador da pessoa na
sociedade e no âmbito familiar, conclui-se que o abandono pelo genitor
caracteriza o justo motivo de o interessado requerer a alteração de seu
nome civil, com a respectiva exclusão completa dos sobrenomes paternos.”
Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
4275 1º.03.18
STF entendeu possível a alteração de nome e gênero no assento de registro civil
mesmo sem a realização de procedimento cirúrgico de redesignação de sexo.
Todos os ministros da Corte reconheceram o direito, e a maioria entendeu que,
para a alteração, não é necessária autorização judicial, podendo ser apresentado
diretamente em cartório. O oficial do registro civil pode suscitar o procedimento de
dúvida, submetendo a apreciação da matéria ao Judiciário.
STF afastou qualquer exigência referente a idade, perícia médica ou outros limites
que pudessem obstar a tutela do direito à identidade.
Procedimento é sigiloso: documentos retificados não podem fazer referência às
alterações, expondo a intimidade da pessoa transgênero.
Na esteira da decisão do STF, foi editado o Provimento n. 73/2018 do CNJ, que
dispõe sobre a averbação da alteração do prenome e do gênero nos assentos de
nascimento e casamento de pessoa transgênero no Registro Civil das Pessoas
Naturais, de modo a viabilizar o cumprimento da decisão.
REsp 662.799) julg. em set. 2019
Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) deu provimento ao
pedido de uma recorrente para permitir que retifique novamente o seu
registro civil, acrescentando outro sobrenome do marido, sete anos após o
casamento.
"Ademais, o ordenamento jurídico não veda aludida providência, pois o
artigo 1.565, parágrafo 1º, do Código Civil não estabelece prazo para que o
cônjuge adote o apelido de família do outro em se tratando, no caso, de
mera complementação, e não de alteração do nome",
"A tutela jurídica relativa ao nome precisa ser balizada pelo direito à
identidade pessoal, especialmente porque o nome representa a própria
identidade individual e, ao fim e ao cabo, o projeto de vida familiar, escolha
na qual o Poder Judiciário deve se imiscuir apenas se houver insegurança
jurídica ou se houver intenção de burla à verdade pessoal e social."
3) Direito à honra
Para alguns doutrinadores (Tepedino) está misturado com a norma do Art.
20 do CC, para outros (Schreiber) , vem no Art. 17 do CC que dispõe que o
nome não pode ser empregado em publicações ou representações que
exponham a pessoa ao desprezo público. A referência ao nome deve ser
entendida como referência à pessoa.

honra subjetiva – aquilo que diz respeito à percepção que a pessoa tem de si
mesma - autoestima
honra objetiva – aquilo que diz respeito à percepção que a sociedade tem do
indivíduo – repercussão social da honra
*distinção importante para embasar a dano moral à PJ
4) Direito à imagem – imagem retrato e
imagem atributo
• Imagem retrato: aparência da pessoa e sua figura física, quase sempre
representadas por uma foto grama, uma película, um desenho, uma caricatura,
uma escultura ou pelos modernos meios de comunicação telemática e as novas
tecnológicas da informação. A imagem-retrato diz respeito aos elementos físicos
que identificam, individualizam e caracterizam a pessoa em sua vida civil.
• imagem-atributo - forma como a pessoa é vista pelos outros em sociedade.
Elementos como a capacidade de trabalho, a organização, o asseio pessoal, a
inteligência, a destreza profissional, a probidade, a eficiência como administrador
público, a serenidade como policial, a pontualidade, e tantas outras
características que são reconhecidas socialmente como atributos da imagem de
alguém.
• Direito à imagem como direito da personalidade encontra paralelo com o direito
fundamental à imagem – Art. V e X da CF, V imagem-atributo e o X a imagem-
retrato
Súmula 403 STJ
Independe de prova do prejuízo a indenização pela publicação não
autorizada de imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais.
Precedente Resp 270730
Ponderação: direito à imagem
liberdade de informação

Enunciado 279 A proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses
constitucionalmente tutelados, especialmente em face do direito de amplo acesso à
informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-se-á em conta a
notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda,
as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se
medidas que não restrinjam a divulgação de informações.
l
Liberdade de expressão e biografias não
autorizadas
• ADIN 4815 - entendimento do STF – interpretação dos artigos 20 e 21
do CC conforme a CF – decisão afastou a exigibilidade de prévia
autorização para publicação de biografia de pessoas famosas
• Abuso ao exercício da liberdade de informação – controle a posteriori
– inviabilidade de controle prévio (censura)
Enunciado 587
O dano à imagem restará configurado quando presente a utilização
indevida desse bem jurídico, independentemente da concomitante
lesão a outro direito da personalidade, sendo dispensável a prova do
prejuízo do lesado ou do lucro do ofensor para a caracterização do
referido dano, por se tratar de modalidade de dano in re ipsa.
5) Direito à privacidade
• Críticas ao dispositivo
• Proteção negativa
• Vida privada é inviolável? Contemporaneidade violação sistemática da
privacidade – necessário questionar se a violação é justificável na
situação concreta – necessário ponderações
Proteção de dados pessoais – Lei
13.709/2018 – LGPD
• Regula a proteção de dados pessoais com incidência em todas as
operações de dados de pessoas físicas
• Dados não são de quem os coleta – titularidade da pessoa natural –
quem coleta e trata dados precisa prestar contas

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