Você está na página 1de 53

UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

CAROLINE MARILÉIA TEIXEIRA

ANÁLISE DA LEI Nº 8.501/92 QUE AUTORIZA A ENTREGA DE CORPOS NÃO


RECLAMADOS PARA UNIVERSIDADES EM SANTA CATARINA

Tubarão
2019
CAROLINE MARILÉIA TEIXEIRA

ANÁLISE DA LEI Nº 8.501/92 QUE AUTORIZA A ENTREGA DE CORPOS NÃO


RECLAMADOS PARA UNIVERSIDADES EM SANTA CATARINA

Monografia apresentada ao Curso de


Direito da Universidade do Sul de Santa
Catarina como requisito parcial à
obtenção do título de Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Mateus Medeiros Nunes, Esp.

Tubarão
2019
À minha família, especialmente ao meu
pai e minha mãe, que incondicionalmente
me apoiaram, incentivaram e ajudaram a
chegar ao fim de mais uma etapa de
minha vida.
AGRADECIMENTOS

A Deus, pela minha vida; por sua presença e ajuda constante para
enfrentar todos os obstáculos que surgiram e surgirão em minha jornada.
Aos meus pais, Jaime e Mariléia, por me ensinarem o sentido de família, e
pelo apoio carinhoso e incondicional sempre presente. Os seus conselhos estarão
comigo para sempre.
Aos meus irmãos Helton e Cristine; e sobrinhos Augusto e Olívia por
fazerem com que a nossa família seja completa.
A minha Vó Zélia, por todas as vezes que preciso, ela vem me acudir -
mesmo que reclamando. Ao meu orientador Professor Mateus Medeiros Nunes, pelo
auxílio e por acreditar em meu trabalho.
A todos os professores do curso de Direito, pelos ensinamentos
passados. Aos meus amigos que me acompanharam e acreditaram no meu
sucesso.
E tantos outros.
“Não há vida sem morte, como não há
morte sem vida, mas há também uma
“morte em vida”. E a “morte em vida” é
exatamente a vida proibida de ser vida”.

Paulo Freire
RESUMO

O direito de doar ou de adquirir bens é amplamente conhecido pela população e


protegido pelo direito; porém, a liberdade de dispor do próprio corpo; ou, de não
dispor, como é caso dos corpos não reclamados - apesar da legislação - pode
apresentar características ainda não tuteladas pelas normas vigentes ou pelo menos
não ser de uso corriqueiro. O objetivo desta Monografia é buscar na Lei nº 8.501/92
as possibilidades de doação de corpos; a destinação dos mesmos; a possibilidade
de caracterização do crime de vilipêndio; mostrar as práticas que chocam os
costumes; e, o atrito entre ciência e religião. Elucidando, assim, muitas das dúvidas
que pairam sobre muitas pessoas. Foi utilizado, quanto ao nível: exploratória.
Abordagem, qualitativa, uma vez que foram analisadas de forma indutiva e subjetiva
as doutrinas, legislação, artigos científicos, periódicos jurídicos e especificamente a
Lei n° 8.501, de 30 de novembro de 1992, trazendo assim, respostas do problema
que envolve a pesquisa. Com relação ao procedimento é classificada como
bibliográfica uma vez que foram analisadas, doutrinas, legislações, periódicos,
artigos científicos, e, documental, uma vez que foi analisada a Lei n° 8.501/92, de
forma específica.

Palavras-chave: Cadáver. Legislação. Religião. Crime de vilipêndio.


ABSTRACT

The right to donate or to acquire property is widely known to the population and
protected by law; but the freedom to dispose of one's own body; or, failing which, as
is the case with unclaimed bodies - despite the legislation - may have characteristics
that are not yet covered by the current norms or at least not of common use. The
purpose of this monograph is to seek in Law 8.501 / 92 the possibilities of donating
bodies; their destination; the possibility of characterizing the crime of vilification; show
the practices that clash customs; and, the friction between science and religion. Thus
elucidating many of the doubts that hang over many people. The level was:
exploratory. Approach, qualitative, since the doctrines, legislation, scientific articles,
legal periodicals and specifically Law No. 8,501, of November 30, 1992, were
analyzed in an inductive and subjective way, thus bringing answers to the problem
that involves the research. Regarding the procedure, it is classified as a bibliography
once it has been analyzed, doctrines, legislations, periodicals, scientific articles, and,
documentary, since Law No. 8.501 / 92 was analyzed in a specific way.

Keywords: Cadaver. Legislation. Religion. Crime of vilification.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 10
1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA .......................................................... 12
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 12
1.4 OBJETIVOS ................................................................................................................... 13
1.4.1 Geral............................................................................................................................. 13
1.4.2 Específicos................................................................................................................. 13
1.5 CARACTERIZACAO BÁSICA PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............ 14
2 GARANTIAS INDIVIDUAIS ACERCA DO USO DE CORPOS ............... 15
2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA ............................................................................................ 15
2.2 DIREITO A VIDA E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ................................... 16
2.3 DIREITO DA FAMÍLIA .................................................................................................... 19
2.4 DIREITOS DE PERSONALIDADE ............................................................................... 20
2.4.1 DO ATAQUE AOS DIREITOS DA PERSONALIDADE APÓS A MORTE ........ 22
2.5. DIREITOS SOCIAIS ...................................................................................................... 24
2.6 CADÁVER E RELIGIÃO ................................................................................................ 25
3 LEGISLAÇÃO SOBRE UTILIZAÇÃO DE CADÁVER NÃO
RECLAMADO E O CRIME DE VILIPÊNDIO ................................................... 30
3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DE CADÁVER ......................................... 30
3.2 A LEI Nº 8.501/92............................................................................................................ 31
3.2.1 CONTROVÉRSIAS ..................................................................................................... 32
3.2.2 REQUISITOS PARA A DESTINAÇÃO DO CADÁVER. ...................................... 36
3.3 CRIME DE VILIPÊNDIO ................................................................................................ 38
3.3.1 OBJETO JURÍDICO ................................................................................................... 39
3.3.2 SUJEITOS DO CRIME ............................................................................................... 40
3.3.3 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA ................................................................................ 41
3.3.4 MODALIDADES COMISSIVA E OMISSIVA .......................................................... 41
3.3.5 AÇÃO PENAL .............................................................................................................. 42
4 ANÁLISE DA LEI Nº 8.501/92, QUE AUTORIZA A ENTREGA DE
CORPOS NÃO RECLAMADOS PARA UNIVERSIDADES EM SANTA
CATARINA E A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL ..... 43
4.1 RESPONSABILIDADE PENAL ..................................................................................... 43
4.2 DA ENTREGA DE CORPOS AS UNIVERSIDADES E A POSSIBILIDADE DE
RESPONSABILIDADE PENAL ........................................................................................... 45
5 CONCLUSÃO ................................................................................................... 48
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 50
10

1 INTRODUÇÃO

O tema, a entrega de corpos não reclamados para universidades é


relevante em sua análise, sem dúvida, dada importância, na medida em que,
dificilmente poder-se-á formar médicos, como bem salientado as especialidades
cirúrgicas, sem o adequado conhecimento da Anatomia humana.
Nesse sentido, se faz necessária a prática da dissecação de cadáveres e
o exame das variadas peças anatômicas e suas características, permitindo a
indispensável familiarização dos acadêmicos de medicina, com todos os aspectos da
Anatomia.
O Direito tampouco é imune a esse conceito e também entende que o
estudo da Anatomia Humana se faz imprescindível para o conhecimento e
compreensão do corpo humano como um todo, enquanto técnica, arte e ciência, no
seu primeiro e mais expressivo compromisso.
Suscetível ao problema houve por bem o Governo Federal, em 1992, de
editar a Lei 8.501, sobre a utilização de cadáver não reclamado para fins de estudos
ou pesquisas científicas e dá outras providências.
É importante salientar que a legislação permite o encaminhamento para
estudos de anatomia, os cadáveres das vítimas de morte violenta, somente fazendo
ressalva expressa quanto às hipóteses em que houver suspeita da prática de crime.
É sabido que os cadáveres destinados aos estudos de anatomia passam por um
processo de preparação, inclusive com a remoção de vísceras e/ou, ao menos, de
seu conteúdo. Nesse processo, as diferentes peças anatômicas, haverão de sofrer a
necessária separação e dissecação, com o que resultará inequivocamente
comprometida toda e qualquer pesquisa de caráter médico-legal, sobre a
denominada causa jurídica da morte.
Assim, este estudo tem como principal característica elucidar as dúvidas
pertinentes que acabam ocorrendo, quando o assunto “corpo não reclamado” é
levantando. Trata-se de um assunto desconhecido para muitos na sociedade.
Pouco se sabe que os direitos relacionados aos corpos reclamados
(quando a família “busca o corpo”), e; com os não reclamados são completamente
diferentes. O objeto da presente análise é descaracterizar os mitos relacionados; e
mostrar o verdadeiro processo que é utilizado.
11

1.1 DESCRIÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

A Constituição Federal 1988, em seu artigo 5º, “caput”, nos traz a ideia de
inviolabilidade do ser humano:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, [...]. (BRASIL, 1988).

Mas a dúvida que paira é: depois da morte? O corpo humano tem algum
direito perante a lei? Há igualdade de tratamento dos corpos? É ético? Porque
alguns corpos são enterrados com “dignidade”, e, outros são enviados para serem
usados como ferramenta de estudo?
Para entramos na descrição da situação problema, devemos nos remeter
ao início; Antes da Lei n° 8.501, de 30 de novembro de 1992, muitos anatomistas
(cientistas de corpos), em sua sede de conhecimento obtinham cadáveres de forma
ilegal/criminosa, e os utilizavam em nome da ciência, porém, com esta prática, ficou
muito difícil dividir, aqueles que realmente queriam ajudar a população, e, aqueles
que queriam se divertir com o diferente.
O Brasil, ainda é um país que vê o corpo humano como algo inviolável,
tanto pela questão religiosa, quanto por trazer daqueles que não fazem mais parte
do mundo dos vivos, lembranças devem ser respeitadas, cuidados que devem ser
mantidos, mesmo que as pessoas antes vivas e presentes estejam mortos. Este,
principal motivo do choque e discussões perpassado pela sociedade.
O professor, escritor e desembargador aposentado Paulo Roberto
Gonçalves (2006), que se dedica ao estudo do direito civil, exemplifica:

“[...] denota um padrão de significados transmitidos historicamente [...], um


sistema de concepções herdadas expressas em formas simbólicas por meio
das quais os homens comunicam, perpetuam e desenvolvem seu
conhecimento e suas atividades em relação à vida.”. (GONÇALVES, 2006,
p.103).

Antigamente os corpos que não eram reclamados eram enterrados sem


identificação em cemitérios e em aterros pertencentes à prefeitura (há uma
legislação própria em cada cidade); outros eram deixados por dias no Instituto
Médico Legal (IML), que não tinha o que fazer com os mesmos - prática que hoje
ainda acontece muito - e empilhados ao chão, por não ter onde colocá-los.
12

Hoje, além das práticas elencados acima, muitos cadáveres são


mandados para universidades, para fim de servirem como objetos de estudo, para
universitários da área da saúde. Ponto este a qual queria chegar.
Pouco comentada, mesmo nos cursos para bacharéis de direito, a Lei n°
8.501, de 30 de novembro de 1992, criada pelo Congresso Nacional, e, que dá aos
alunos de medicina e biomedicina, o direito de utilizar cadáveres doados, ou não
reclamados, para ciência. Antes desta, país não tinha legislação para tal ato.
Por mais falha que seja a Lei, uma vez em que é expresso em seu artigo
que o Estado autorizaria os alunos da medicina e biomedicina, na pratica, é liberado
para todas as áreas da saúde.
Quem desconhece a lei, acaba confundindo a prática com o crime
previsto no artigo 212 do Código Penal que diz: “Vilipendiar cadáver ou suas cinzas:
Pena - detenção, de 1 a 3 anos, e multa.” (BRASIL, 1940).
O jurista, professor e Ex-Procurador de Justiça do Ministério Público do
Estado de Minas Gerais, Rogério Greco (2017, p.1117), entende que “vilipendiar
deve ser entendido no sentido de menoscabar, aviltar, ultrajar, tratar com desprezo,
sem o devido respeito exigido ao cadáver ou a suas cinzas”.
Diante de tal lei, devem-se analisar quais seriam os requisitos exigidos
para a doação e se é possível alguma responsabilidade penal dos responsáveis pelo
manuseio ilegal do cadáver.

1.2 FORMULAÇÃO DA SITUAÇÃO PROBLEMA

A análise da Lei nº 8.501/92; e a possibilidade de caracterização do crime


de vilipêndio.

1.3 JUSTIFICATIVA

A justificativa situa a importância do estudo, uma vez que pouco se fala


sobre o assunto. O choque com que as pessoas se deparam com o que acontece
com os corpos não reclamados; o desconhecimento das formas de obtenção dos
13

corpos; se a morte foi natural ou decorreu de crime; a declaração de óbito; o tempo


de espera que é necessário para puderem doar os corpos.
O processo de pedido das universidades diante do Estado, o
levantamento da Universidade, a moral e a infraestrutura necessária para o bom
tratamento e conservação do cadáver.
A pesquisa é uma forma de mostrar os prós e contras da utilização de
corpos para estudo em universidades e a ética que deve ser utilizada para não ferir
princípios, estes muito importantes, e a não desrespeitar o corpo e/ou os familiares.
Pouco se conhece as formas de se obter os corpos, muitas pessoas
acham que é fácil, uma vez que não é falado.
Ademais, no que concerne às bases de dados Rede de Informação
Legislativa e Jurídica (Lexm), SciElo e ICAP, não foram encontrados artigos que
tratam da Lei n° 8.501/92. Ainda, nos periódicos assinados pela Universidade do Sul
de Santa Catarina (UNISUL), consultando a base de dados CAPES, também não
foram encontrados assuntos com referência ao tema.

1.4 OBJETIVOS

1.4.1 Geral

Analisar a Lei nº 8.501/92 que autoriza a entrega de corpos não


reclamados para universidades em Santa Catarina.

1.4.2 Específicos

 Estudar os princípios e garantias aplicados aos corpos não reclamados;


 Analisar o método utilizado pelas universidades para que estas consigam a
autorização para o recebimento dos corpos, tanto de indigentes, quanto para
os doados pela família;
 Verificar a divergência doutrinária, acerca da caracterização de crime, na
prática, dos alunos da área da saúde que não foram promulgados na Lei nº
8.501/92;
14

 Demonstrar como ocorre à movimentação e os tramites dos corpos que estão


no IML e que irão para as universidades.

1.5 CARACTERIZACAO BÁSICA PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

“Quanto ao nível, a presente pesquisa se caracteriza como exploratória,


levando-se em conta que se visa obter maior familiaridade com o objeto do estudo.”.
(CERVO; BERVIAN, 2006, p.100).
Em relação à abordagem, será qualitativa, uma vez que irá ser analisada
de forma indutiva e subjetiva as doutrinas, legislação, artigos científicos, periódicos
jurídicos e especificamente a Lei n° 8.501/92, trazendo assim, respostas do
problema que envolve a pesquisa.
Com relação ao procedimento é classificada como bibliográfica uma vez
que serão analisadas, doutrinas, legislações, periódicos, artigos científicos. Como
leciona Cervo e Bervian (2006, p.44) “[...] é desenvolvido com base no material já
elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos de e
documental.”, e documental, uma vez que será analisada a Lei n° 8.501/92, de forma
específica.
Analisando, por fim, de forma criteriosa, os questionamentos levantados,
a fim de responder o problema levantado do presente trabalho científico.
15

2 GARANTIAS INDIVIDUAIS ACERCA DO USO DE CORPOS

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Antônio Carlos Wolkmer (2008), Mestre em Ciência Política, Doutor em


Filosofia do Direito e da Política pensa que, na evolução da sociedade humana a
morte sempre foi um mistério. Em determinadas civilizações como a egípcia, os
mortos eram mumificados para seguir numa nova vida. Esse processo técnico
chegou até os nossos dias por escritos encontrados em papiros.
O escritor Lucio José Petrucelli (1997), colabora explicando que a
Anatomia Humana é ciência que estuda as estruturas do corpo humano sendo
considerada como fundamento para as ciências médicas. Petrucelli (1997), estimula
o questionamento daqueles que, incessantemente, miram ao descobrimento sobre a
verdade que se esconde sobre o corpo humano. Muito ainda se desconhece sobre a
Anatomia Humana, pois há muitas camadas ainda que são necessárias serem
desvendadas.
Em tese, os primeiros registros de dissecações feitas em seres humanos,
aconteceram em Alexandria, essas, foram realizadas pelos pioneiros Herófilo e
Erasístrato no século II a.C. Porém, muitos acreditam e consideram que o início dos
estudos em corpos aconteceram em meados do século V a.C. quando, no sul da
Itália, Alcméon de Crotona realizou dissecações em animais, na tentativa de
estender suas descobertas à espécie humana.
A partir do ano de 150 a. C. a dissecação de corpos humanos foi proibida,
envolvendo-se para isto razões éticas e religiosas (PETRUCELLI, 1997),
predominado, assim, a prática da dissecação em animais. Juarez Chagas (2001),
que estudou sobre a terminalidade humana começou quando o homem,
conscientemente, questionou sobre a morte, afirma que o grande estudioso deste
período foi Galeno, que trabalhou no Coliseu - arena famosa de gladiadores em
Roma - como médico; e, como filósofo; onde demonstrou e escreveu sobre anatomia
descrevendo seus achados em animais e não em corpos humanos.
Com a queda do Império Romano e a ascensão do Clero Cristão ao poder
no século V; o estudo sobre anatomia, tanto em animais quanto em humanos foi
proibido e lhe atribuído características de cunho hediondo. O que durante os séculos
16

III, IV e V, reinou por toda a Europa, com a Escola de Galeno, sofreu com a situação
e culminou em uma estagnação.
Com a legalização da prática de dissecação em cadáveres, um passo foi
dado para que as universidades pudessem utilizar os corpos, porém, como o
exercício ainda era muito rudimentar devido à inexistência de quaisquer formas de
conservação dos corpos, deveria ser realizada sempre em até 48 horas, pois, depois
deste período se iniciava putrefação dos corpos.
A escritora Ana Flávia Mendes (2009), comenta que, na Idade Média, o
Renascimento foi o período em que os artistas/anatomistas propuseram reviver os
ideais culturais greco-romanos. A influência da anatomia humana sobre as artes é
algo que se caracteriza, além do interesse estético, pelo desejo de aliar arte e
ciência, expresso pelos artistas dos mais diversos períodos.
Deste cenário é possível citar nomes como Leonardo da Vinci,
Michelangelo, Rafael, Albrecht Düer, Luca Signorelli e Andréa Verrochio. Neste
século XXI, a disciplina de Anatomia Humana é de caráter obrigatório para todos os
cursos da Área da Saúde.

2.2 DIREITO A VIDA E A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

Conforme dispõe a parte inicial do Art. 6° do Código Civil Brasileiro, “a


existência da pessoa natural termina com a morte”. Pode-se, então, dizer que a
morte é fim dos direitos da pessoa humana? Sobre esse questionamento muitas
discussões surgem, tais como: o morto não possui direito algum? Ou o falecido
continua sendo um sujeito de direito? Existem direitos da personalidade após a
morte? Quais as proteções legais que o de cujus possui? Esses questionamentos
serão respondidos ao longo deste trabalho.

“Com a morte natural ou física ocorre com a cessação de todas as funções


vitais, cabendo, porém à medicina legal a definição do momento de sua
ocorrência e devendo o óbito ser registrado no registro civil de pessoas
naturais”. (GONÇALVES, 2012, p. 23).

O que se pode adiantar, é que com o fim da vida não existe o fim dos
direitos, pois o cadáver possui proteção jurídica, e isso se pode comprovar pelas leis
existentes, tais como: a Lei n.º 8.501/92, que dispõe sobre a destinação de
17

cadáveres junto às autoridades públicas; a Lei n.º Lei 9.434/97, que dispõe sobre a
remoção de Órgãos, Tecidos e Partes do Corpo Humano para fins de transplante e
tratamento; bem, como, o Art. 12 do Código Civil Brasileiro:

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da


personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau. (BRASIL, 2002).

O jurista e magistrado Guilherme de Souza Nucci (2017, p. 677),


comenta: “assegura a Constituição Federal a liberdade de consciência e de crença,
possibilitando o livre exercício dos cultos religiosos, bem como garantindo a proteção
aos locais de culto e a suas liturgias, na forma da lei, ou seja, desde que não haja
excessos ou abusos de modo a prejudicar outros direitos e garantias individuais -
Art. 5º, VI, Constituição Brasileira Federal de 1998”.
Já os artigos 209 a 212, do Código Penal Brasileiro preveem:

Impedimento ou perturbação de cerimônia funerária


Art. 209 - Impedir ou perturbar enterro ou cerimônia funerária:
Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Se há emprego de violência, a pena é aumentada de um
terço, sem prejuízo da correspondente à violência. (BRASIL, 1940).

“Impedir significa interromper ou obstar o prosseguimento, enquanto


perturbar é apenas estorvar ou atrapalhar. O objeto, neste caso, é enterro ou
cerimônia funerária‟. Violação de sepultura, Art. 210 - Violar ou profanar sepultura ou
urna funerária. Pena - reclusão, de um a três anos, e multa; (BRASIL, 2003). “Violar
significa devassar ou invadir e profanar quer dizer tratar com irreverência ou
macular. O objeto é a sepultura ou a urna funerária. Reserva-se a primeira figura
para quem abre à sepultura ou invade o sepulcro, enquanto a segunda serve para
quem infama o mesmo objeto” (NUCCI, 2017, p. 679).

A jurisprudência do STJ: “A reprovabilidade da conduta delituosa praticada


pelo agravante foi bem evidenciada pelo modus operandi empregado no
cometimento do delito – o agravante era líder de um grupo gótico que se
autointitulava „vampiros‟. Por razões homofóbicas, ele e dois amigos
atraíram a vítima para um cemitério, fizeram-na desmaiar com um soco, a
estrangularam, bateram nela com uma cruz, morderam seu pulso, provaram
seu sangue e depois a deixaram em uma cova” (AgRg no AREsp 613.134-
PA, 5.a T., rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, 02.06.2015, v.u.).
18

Destruição, subtração ou ocultação de cadáver. Art. 211 - Destruir,


subtrair ou ocultar cadáver ou parte dele. Pena - reclusão, de um a três anos, e
multa (BRASIL, 2013). “Destruir (arruinar, aniquilar), subtrair (fazer desaparecer ou
retirar) ou ocultar (esconder) são condutas alternativas. O objeto é o cadáver (corpo
sem vida de ser humano) ou parte dele. Se o agente concretizar uma ou todas
responderá por um único delito”. NUCCI; 2017 p. 680).

Na jurisprudência STJ: “É cabível a decretação de prisão preventiva, para


garantia da ordem pública, em hipótese de homicídio praticado por motivo
torpe – vítima manteve relacionamento amoroso com a companheira de um
dos pacientes enquanto ele esteve preso –, sendo a vítima encontrada com
as mãos amarradas, amordaçada e com um saco plástico na cabeça, e
tendo sido ateado fogo no cadáver com intuito de destruí-lo, obtendo-se
parcialmente tal resultado. A relação entre os motivos que ensejaram o
suposto homicídio e o modus operandi do delito, praticado de forma cruel,
mediante sufocamento, bem como o fato de terem os pacientes, em tese,
ateado fogo ao cadáver após a prática do delito, denotam alta
periculosidade e desprezo pela vida humana” (HC 300.494-SP, 5.a T., rel.
Reynaldo Soares da Fonseca, 23.02.2016, v.u.).

O vilipêndio a cadáver: Art. 212 - Vilipendiar cadáver ou suas cinzas.


Pena - detenção, de um a três anos, e multa (BRASIL, 2003). “Vilipendiar significa
desprezar ou aviltar. O objeto é o cadáver ou suas cinzas. A conduta pode ser
praticada através de gestos ou palavras, estas na forma escrita ou verbal.” (NUCCI,
2017, p. 681).

Na jurisprudência do STJ: “Caso em que o recorrente é acusado de ter


asfixiado sua companheira e depois vilipendiado o corpo sem vida,
deixando vestígios de violência sexual, tendo o cadáver sido encontrado
sem roupas e empalado por um cano de PVC, tudo, ao que parece, por
desavenças entre o casal, ambos usuários de drogas” (RHC 63.965-BA, 5.a
T., rel. Jorge Mussi, 21.06.2016, v.u.).

O artigo 1º inciso III da Constituição Federal diz: Art. 1º A República


Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do
Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana (BRASIL, 1988)
Essa proteção existe, pois, com a morte à dignidade da pessoa falecida
não é retirada, existindo, assim, um amparo legal. A dignidade da pessoa humana é
um dos princípios fundamentais, que regem a vida dos cidadãos; bem como os
resguardam após a morte; determinando, quais medidas devem ser respeitadas.
19

Os constitucionalistas e tributaristas Celso Ribeiro Bastos e Ives Granda


Martins (2005), entendem que o referido princípio engloba todos os direitos
fundamentais (que são os direitos do homem, jurídico - institucionalmente garantidos
e limitados espacio-temporalmente), quer sejam os individuais clássicos. Já o direito
a personalidade consiste em cada um ter ou de permitir que seu corpo seja tocado
por atos ou fatos alheios. Neste caso, a família do morto, tem este direito de
autorização.

2.3 DIREITO DA FAMÍLIA

O promotor de Justiça em São Paulo, Cleber Masson (2009), afirma que


previsto no Livro IV, do Código Civil, o direito de família é um complexo de princípios
que regulam a moral, em que se vislumbra a celebração do casamento, sua validade
e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade
conjugal, a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo do parentesco
e os institutos complementares da tutela, da curatela e da ausência. Num sentido
restrito, o vocábulo abrange tão somente o casal e a prole. Num sentido mais largo,
cinge o vocábulo todas as pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade.
Os advogados Alberto Silva Franco e Tadeu Antônio Dix (2007),
comentam que quando a pessoa não esta mais viva, ocorre a sucessão de alguns
direitos, e fica a cargo da família, a responsabilidade pelos últimos desejos do morto.
Porém, a família jamais poderá ceder o cadáver a uma instituição de ensino ou
científica se esta não era a vontade do morto. Os familiares podem escolher a
destinação do morto/cadáver, desde que, esta, não seja contrária, a vontade
expressa do falecido, quando ele ainda estava vivo. E, que esta vontade, não venha
a contrariar a ordem pública ou a moral, ou, ainda, que a família não tenha
condições materiais de executar a última vontade do morto.
A necropsia clínica ou científica nos casos de morte natural só poderá ser
realizada com o consentimento da família. O mesmo não se passa com a morte
violenta, pois há um interesse de ordem legal que se sobrepõe à vontade dos
particulares.
20

2.4 DIREITOS DE PERSONALIDADE

O objeto dos direito de personalidade são os diversos aspectos da própria


pessoa, [...] bem como a sua projeção essencial no modo exterior, esses aspectos
são basicamente o físico, o intelectual e o moral (NUCCI, 2017).
Embora a maioria dos doutrinadores nos diga que com a morte ocorre a
extinção da pessoa humana; e, que por consequência os direitos de personalidade,
eles nos garantem também, que, alguns desses direitos se estendem após o
falecimento, exemplo deste é os direitos da personalidade, que subsistem com a
morte.
O filósofo e advogado Justino Adriano Farias da Silva (2000), é bastante
claro, quando, certifica que não se pode ter certeza de que com a morte, ocorre à
extinção da personalidade jurídica, já que os direitos e deveres daquele que faleceu,
mesmo que limitados, ainda existem.
As palavras do Professor Catedrático da Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, Doutor Rabindranath Valentino Aleixo Capelo de Sousa
(1995), quando, o mesmo diz que: “Os mortos continuam a agir para além da morte”,
traz a “certeza” de que com a morte acaba a vida, mas, não, os direitos daquele que
morreu. Rabindranath (1995), ainda diz que cadáveres sofrem decomposição,
todavia, as obras que criaram; as instituições que ousaram; as ideias em que se
arriscaram a criar; as ideias que foram lançadas ao mundo; as afeições que
geraram; e, que mesmo após a morte. Mantém-se “vivas”.
Quando um corpo volta ao nada, a consciência segue um destino social
entre os vivos. Deste modo, os direitos da personalidade subsistem com a morte, os
direitos sociais e morais persistem no mundo das relações jurídicas; e, são
autonomamente protegidos.

“O tipo mais importante de rites de passage tende a acompanhar o que


Lloyd Warner (1959: 303) chamou „a trajetória do homem ao longo de sua
vida, desde a situação placentária no ventre de sua mãe, até sua morte e
última localização em sua tumba como organismo morto – pontuada por
uma série de momentos críticos de transição que todas as sociedades
tendem a ritualizar e marcar publicamente, mediante observações
adequadas que deixam gravadas nos membros da comunidade o
significado do indivíduo e do grupo. São esses os importantes momentos do
nascimento, da puberdade, do matrimônio e da morte.” (SZANIAWSKI,
1993, p. 104-105).
21

É o caso dos arranjos de última vontade, da sua identidade, da imagem,


da honra, do seu nome, da sua vida privada, das suas obras e das demais
objetivações criadas pelo defunto, enquanto vivo; e, com os quais ele tenha de um
modo muito especial, imprimido sua marca.
O legislador quis proteger individualmente as pessoas já falecidas contra
qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à respectiva personalidade física e
moral que existia em vida e que permaneça após a morte, assim, se pode falar de
uma tutela geral da personalidade do defunto.
Portanto, os direitos da personalidade, se estendem após a morte. A
família do falecido tem a legitimidade para resguardar todos os direitos essenciais à
personalidade que eles possuem.
Na contramão, o Bacharelado em Direito pela Universidade Federal do
Paraná, Elimar Szaniawski (1993) entende que [...] o Direito tem se ocupado em
proteger o corpo humano após a morte no sentido de lhe dar um destino onde
mantenha sua dignidade. Este direito respeita aos parentes do morto, tratando-se de
um direito familiar, diferente do tratamento que se dá às partes separadas do próprio
corpo, e possui conotações e natureza de um direito de propriedade. O direito ao
cadáver diz respeito ao próprio defunto, à sua memória, pois em certas ocasiões
podem ocorrer atentados à memória do morto.
Malgrado afirma que o direito que predomina é o de propriedade, e não
de personalidade. Porque, após a morte, os familiares exercem o direito de
propriedade sobre o morto. Porém o legislador diz que o direito de propriedade é o
direito de usar, gozar, ou fruir do bem; o que de certo modo, não pode ser feito com
os mortos. Já que não se pode sair com um cadáver embaixo do braço, sem ao
mínimo causar um alvoroço na sociedade.
Com base nas disposições existentes, concluímos que a disposição do
cadáver é limitada; e, só pode ser realizada em determinadas circunstâncias e de
forma gratuita. O que é diferente do estabelecido no direito de propriedade; no qual
garante que o proprietário tem autonomia para vender e doar seus bens, conforme
suas vontades.
No direito brasileiro, o cadáver possui direito de personalidade, o que se
verifica através da interpretação do Art. 12 e parágrafo único do Código Civil
Brasileiro. Observa-se:
22

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da


personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge
sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o
quarto grau. Grifo nosso. Obstante isso, conclui-se que o cadáver possui
uma extensão dos direitos de personalidade, que serão exercidos pelos
familiares. -Grifo meu - (BRASIL, 2002).

Os direitos de personalidade são oponíveis erga omnes, e sua violação


configura descumprimento de obrigação legal de não fazer, dando, porém ensejo a
sanções de natureza pública ou privada.

2.4.1 Do ataque aos direitos da personalidade após a morte

Não se pode ofender a moral do morto, imputando-lhe condutas


desonrosas; não se pode utilizar sua imagem ou retirar qualquer parte de seu corpo;
nem viola-lo sem a devida autorização dos responsáveis; pois, todos esses direitos
são passíveis de proteção pelo nosso ordenamento jurídico. Já que mesmo após a
morte, se tem direito de proteção à honra, à imagem, a intimidade, a integridade
física.
Silva (2000), em relação à ofensa moral, determina que “a honra,
inquestionavelmente, consiste no agrupamento de alguns desses valores (as
virtudes do homem). Portanto, o simples desaparecimento do corpo físico, não há
faz desaparecer”.
E quantos as afrontas? Quem serão os legitimados para defender estes
direitos? Levando em consideração aos artigos e doutrinas estudados, serão
transmitidos os direitos as famílias, ou as pessoas deixadas como responsáveis,
pelo morto.
Caso a ofensa a esses direitos tenha ocorrido antes do falecimento,
mesmo que o falecido não tenha ingressado com a ação; após a morte, os familiares
podem ingressar com alguma ação, substituindo-o em seu direito.
Ocorre também quando a ofensa é feita após a morte, tendo como a
diferença, de que os sucessores são os legitimados a realizar a defesa da memória
do falecido, devido à violação do direito, e não como substituto deste.
23

A ordem de legitimidade está estabelecida no parágrafo único do art. 12,


combinado com o artigo 943, ambos do Código Civil Brasileiro.

Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da


personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções
previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la
transmitem-se com a herança. (BRASIL, 2002).

As pessoas legitimadas a atuarem em nome do falecido são: o cônjuge,


descendentes, ascendentes e os colaterais em linha reta até o quarto grau, sendo
atribuído este direito por exclusão, ou seja, primeiramente cabe ao cônjuge, na falta
deste, aos descendentes e assim sucessivamente. “[...] os herdeiros, desde o
instante do falecimento do autor da herança, não só de indenização já fixada em
favor do falecido como mesmo a ação tendente a postulá-la”. Cumpre ressaltar que
o enunciado 275 do CEJ, sobre este assunto, complementa que “o rol dos
legitimados de que tratam os Art. 12 p.ú; e, o Art. 20, p.ú, do Código Civil também
compreende o companheiro”.
O Centro de Estudos Judiciários (CEJ) integra o Conselho da Justiça
Federal (CJF) e é dirigido pelo Corregedor-Geral da Justiça Federal. Sua estrutura é
complementada pelo Conselho das Escolas da Magistratura Federal (CEMAF),
formado pelos diretores das escolas das regiões que compõem a Justiça Federal.
Os artigos mencionados no Enunciado 275 do CEJ:

Art.12 [...]
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a
medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente
em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
Art.20 [...]
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes
legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os
descendentes. (BRASIL, 2002).

Todavia, se existir conflito entre os herdeiros sobre a destinação a ser


dada ao falecido. O recurso para o “problema” é dado por Silva (2000), que diz que
se dará a preferência ao cônjuge sobrevivo; em seguida aos descendentes; depois
aos ascendentes; e, na falta de todos, os colaterais mais próximos. Entretanto,
deverá prevalecer à vontade daquele que estivesse vivendo com o falecido ou em
24

íntima convivência com este, em caso de controvérsia entre parentes do mesmo


grau, uma vez que tem, assim, melhor conhecimento das suas ideais e sentimentos.
O Mestre em Direito Negocial Adauto Tomaszewski (2006) levanta a
possibilidade, de que se o falecido não tiver família, os legitimados poderão ser: os
amigos e vizinhos. Algumas pessoas vivem sozinhas, sem parentes legitimados
(pela limitação do grau ou por viverem em lugares longínquos). Então para propor a
tutela a violações aos Direitos da Personalidade após o seu falecimento, nada
deveria impedir de que seus vizinhos e amigos buscassem a atividade jurisdicional
para fazer cessar lesão ou ameaça de lesão. Porém, este interesse atravessaria as
barreiras da legitimidade processual.
O autor ainda complementa sobre o direito de proteção àquele que não
possua parentes, evidenciando, assim, que ninguém deveria ficar desamparado
após a morte. E como essa extensão do direito da personalidade se trata da
proteção da memória do morto, ensina que na falta destes parentes legitimados, não
pode tal direito ficar em aberto, devendo ser protegido pelas pessoas próximas ao
falecido, protegendo os direitos da personalidade após a morte.

2.5. DIREITOS SOCIAIS

Quando olhamos para a Constituição Federal de 1988, percebemos que o


capítulo II, trata dos direitos e garantias fundamentais. O artigo 6º, do mesmo, diz,
que “são direitos sociais: a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia,
o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade, à
infância e a assistência aos desamparados”. O que se discutirá é se direitos sociais
têm amparo no texto constitucional como “direitos fundamentais”.
Uma característica fundamental dos direitos humanos (e também dos
direitos fundamentais) é a impossibilidade de pensarmos em um único direito
humano, sendo que há muitos outros direitos. A ideia é que não seria possível
pensar sobre a liberdade de concorrência sem a liberdade contratual.
25

“Em síntese, firma-se aqui posição em torno da tese de que – pelo menos
no âmbito do sistema de direito constitucional positivo nacional – todos os
direitos, tenham sido eles expressa ou implicitamente positivados, estejam
eles sediados no Título II da CF (dos direitos e garantias fundamentais),
estejam localizados em outras partes do texto constitucional ou nos tratados
internacionais regularmente firmados e incorporados pelo Brasil, são direitos
fundamentais.”. (SOUZA, 1995, p. 201).

Exemplo disto, é que não parece ser possível imaginar que uma criança
possa usar plenamente do direito à sua educação se não tiver o direito de também
usar o direito à saúde e à alimentação. Sendo os direitos sociais interdependentes,
também, por isso, devem ser considerados direitos humanos fundamentais.
Para a sociedade, o corpo ainda tem muito valor. O reconhecimento do
direito da família sobre o cadáver, respeitando o princípio da piedade, é uma análise
final da proteção dos direitos da sociedade em seus interesses superiores. É
necessário entendermos que o cadáver não é uma matéria inanimada; não é um
objeto, um material de estudo. O cadáver tem um estatuto que lhe é próprio; e,
devemos sempre lembrar que antes de ser um cadáver, foi um homem na plena
acepção do termo.
Para o Mestre em Direito Processual, Rogério Marrone de Castro
Sampaio (2000), ao lado desse respeito, segue paralelamente um direito novo,
nascido do grande progresso das ciências biológicas, que, consequentemente,
trouxe uma nova estruturação na ordem jurídica constituída. O ideal será que se
encontre uma maneira de ajustar os interesses do morto, da família e da sociedade
dentro das normas estabelecidas e dos costumes consagrados (religiosos).

2.6 CADÁVER E RELIGIÃO

As religiões tem um papel importantíssimo para a humanidade,


principalmente quando o amargura e a desgosto se fazem presentes na vida,
oferecendo, assim, amparo e meditação nestes momentos (TOMASZEWSKI, 2006).
As crenças religiosas estão entre as mais acalentadas convicções do ser humano,
cuja vida é tremendamente influenciada por sua visão dos atributos de Deus (SILVA,
2000). Segundo o ex-magistrado e desembargador no estado do Rio Grande do Sul,
26

Arnaldo Rizzardo (2015), quem rejeita as religiões precisa levá-las a sério como
realidade social e existencial básica.
Segundo o jurista, advogado, filósofo e professor universitário Miguel
Reale (1992), as religiões e culturas se manifestaram sobre a morte de forma
diferente. Os cultos aos mortos foram as primeiras manifestações de religiosidade do
homem primitivo, perplexo diante do mistério desconcertante da morte. É certo que
esse culto era bastante diferente dos de hoje, indo ao ponto de crer na continuação
de uma segunda vida após a morte, na qual a alma permanecia apegada ao corpo
(em certas religiões –como a espirita- ainda seguem essa doutrinação).
Sendo tão firme era essa crença que todos os povos indo-europeus
cumpriam as cerimônias da oferenda de alimentos para os mortos. Roma, herdeira
de antiquíssimas tradições, posteriormente legadas à civilização ocidental, insculpiu
na Lei das XII Tábuas regras severíssimas sobre o respeito aos mortos.
Na Grécia, também havia as mesmas tradições, de Roma; e, a maior das
penas, superior à própria morte, consistia também na inviolabilidade da sepultura, já
nem mesmo as leis civis poderiam revogá-la. No Egito, as pirâmides representam os
monumentos erguidos em homenagem ao anseio de vida e de imortalidade em torno
do cadáver. Quanto maior sua posição na sociedade, maior a pirâmide. Os egípcios
consideravam o coração como o órgão vital mais importante (PETRUCELLI, 1997).
É certo que os tempos são outros, mas as crenças ainda estão vivas,
mesmo que de forma inconsciente e, nos mais profundos fundamentos da mente
humana, criando uma aversão natural para a entrega voluntária do corpo para
estudos anatômicos ou para qualquer outro fim que não seja a paz no sepulcro. Os
sentimentos das pessoas são protegidos por instituições, que não podem ser
desafiadas impunemente (PETRUCELLI, 1997).
Na doutrina espírita, ninguém morre, apenas ocorre uma transmutação. O
corpo físico morre, mas a consciência continua viva. As intervenções que são feitas
no corpo neste período são sentidas pela consciência, inclusive as dores e
sofrimentos.
Na área de transplantes esta concepção de morte e separação do espírito
tem uma importante implicação. Pois, a doação de órgãos de um cadáver somente
poderia ocorrer após a liberação do espírito. Outro ponto importante a ser lembrado
é que a doação de órgãos deve sempre ser fruto da vontade do doador. Caso
contrário pode haver um apego com relação o órgão transplantado.
27

Os cristão-ortodoxos consideram que a alma ainda permanece por


quarenta dias no corpo, este então não podendo ser violado (PETRUCELLI, 1997).
Esta situação fica ainda mais grave com relação à comunidade judaica, já
que é tradição que o corpo seja enterrado no todo. Petrucelli (1997), afirmou que “o
corpo de um judeu deve ser enterrado com a devida dignidade, não fazer isso é um
crime grave”. Segundo este mesmo rabino, as únicas exceções admissíveis seriam
as relacionadas à doação de órgãos do cadáver para transplantes, pois assim
ajudariam a salvar a vida de outra pessoa (CHAGAS, 2001).
Para os judeus, a vida é a preparação para um mundo que há de vir. Não
se velam os mortos com caixão aberto porque a exibição do corpo é considerada
desrespeito. A cremação é proibida e os homens são enterrados com seu xale de
oração. O luto judaico acontece em três fases: Shivá, nos sete primeiros dias;
Shloshim, período de 23 dias, e Avelut, que se estende até o primeiro ano após o
falecimento (MENDES, 2009).
Os cristãos creem na vida eterna. Acreditam que após a morte o espírito
vai para o céu ou para o inferno (os católicos, por exemplo, creem no purgatório),
conforme os atos praticados em vida. Creem no juízo Final, quando os mortos
ressuscitarão para uma vida eterna junto a Deus. Os rituais de luto têm similares,
incluindo unção, velório, enterro e orações (cultos e missas) (PETRUCELLI, 1997).
Segundo a tradição islâmica, a vida humana é sagrada e tudo deve ser
feito para protegê-la; o mesmo vale para o corpo, que não deve ser mutilado em vida
ou depois da morte, por isso quem morre deve ser enterrado em 24 horas. O corpo
deve ser lavado por um muçulmano do mesmo sexo e depois perfumado com
cânfora e envolto em um grande tecido de algodão. Após o enterro, os participantes
fazem a refeição juntos e dão comida aos pobres (MENDES, 2009).
Já no hinduísmo, após a morte de uma pessoa, é costume a incineração
do corpo. Antes, o morto passa por um banho purificante nas águas de um rio
sagrado. Após a boca ficar cheia d‟água, o corpo é colocado sobre a pira. As cinzas
são jogadas em águas sagradas. Os familiares, para a purificação, observam uma
atitude de recolhimento e uma dieta restrita por cerca de 15 dias (SZANIAWSKI,
1993).
Os budistas equiparam a vida presente a uma situação de “sono”,
motivada pela ignorância que mantém o homem inconsciente de sua verdadeira
natureza e preso a um ciclo de renascimentos e mortes (tudo é transitório e
28

interligado). Ao obter a “Verdadeira Sabedoria”, ele se liberta, alcançando o Nirvana


ou estado de perfeição espiritual. Os budistas adotam a cremação. Durante o luto, é
importante cultivar a gratidão em relação aos mortos e aprender sobre a
inevitabilidade da morte (SZANIAWSKI, 1993).
Um aspecto fundamental que tem uma relação direta entre a Bioética
Clínica e o Budismo Tibetano é o que diz respeito ao período do fim de vida. De
acordo com a tradição budista tibetana existe um período após a morte biológica ou
física do indivíduo e a liberação de sua consciência. Neste período o corpo não pode
ser tocado ou transferido, pois poderia alterar este processo de liberação da
consciência. Este período pode durar de horas a dias. As intervenções que fossem
feitas no corpo, já morto desta pessoa, ainda poderiam ser "sentidas" pela sua
consciência. Desta forma, procedimentos invasivos, além de perturbarem o processo
de liberação da consciência, ainda poderiam gerar desconforto, dor e até mesmo
sofrimento (MENDES, 2009).
Na busca de um melhor entendimento do processo de morte de acordo
com a tradição budista tibetana e suas inter-relações com a área da saúde, alguns
pontos, merecem ser aprofundados, tais como: o fornecimento do atestado de óbito
nestas condições, a ocorrência de morte em procedimentos diagnósticos ou
terapêuticos, as mortes ocorridas em acidentes, às mortes causadas por doenças
infectocontagiosas (PETRUCELLI, 1997).
O importante, porém, é ressaltar que para os Budistas Tibetanos, mesmo
após a morte biológica, a pessoa ainda persiste naquele mesmo corpo, por um
período de tempo, denominado de bardo, merecendo, como tal respeito à sua
dignidade. Este fato deve ser considerado quando da ocorrência de situações deste
tipo (MENDES, 2009).
Observando as peculiaridades de algumas das principais religiões
apresentadas, a morte e o destino do cadáver, (pois como visto é a morte que
transforma o indivíduo em cadáver), são pontos de conflitos e discussões o que leva
á questionamentos sobre a autoridade divina e a possibilidade de autodeterminação
do ser humano e, por isto, o diálogo entre ética e religião é fundamental. Lembrando
que a vida não é só biológica e sim biográfica, incluindo: estilo de vida, valores,
crenças e opções (SZANIAWSKI, 1993).
29

“Algumas pessoas sem religião, sem tradição, tem qualidades humanas


tão válidas quanto as que professam determinada religião porque a abordagem da
morte continua sendo, apesar de tudo, uma abordagem humana” (CHAGAS, 2001).
30

3 LEGISLAÇÃO SOBRE UTILIZAÇÃO DE CADÁVER NÃO


RECLAMADO E O CRIME DE VILIPÊNDIO

3.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA E CONCEITO DE CADÁVER

O cadáver significa “corpo sem vida”, conforme é do entendimento do


doutrinador Carlos Alberto Bittar (2003). O escritor Santos Cifuentes (1995), ensina
que o homem quando morre se transforma em um ser opaco, insensível, sem
movimento e sem vida.
Porém há que se destacar que há controvérsias que o rodeiam, pois,
mencionado conceito, em si, não diz se o cadáver ainda é considerado uma
“pessoa” com direitos e obrigações, ou se aquele corpo sem vida deve ser tratado
como uma coisa/objeto. Entende-se que com a morte o cadáver deixa de ser
considerada pessoa, perdendo assim, todos os atributos inerentes a esta.

“Oficialmente, uma morte só é considerada fato quando registrada através


da Declaração de Óbito, assim como uma Declaração de Óbito só pode ser
registrada a partir da existência de um cadáver. A Declaração de Óbito é um
documento público detentor de fé pública onde a morte de um indivíduo é
transformada em dado oficial. É através dela que o morto pode ser
oficialmente declarado como morto.”. (GONÇALVES, 2012, p. 04).

Isto porque quando se fala em pessoa, sujeito de direitos e obrigações,


existe uma conexão entre o corpo e o espírito; com a morte, o espírito desaparece
não se podendo mais afirmar que aquele corpo (sem vida) é um sujeito de direitos e
obrigações, pois se transforma em um cadáver. Silva (2000), define o cadáver como
um despojo inanimado do ser humano, mesmo que não tenha sido pessoa em
sentido jurídico, pois como tal deve ser considerado o natimorto.
Destaca ainda que o cadáver não precisa estar com todas as suas partes
intactas para assim ser considerado, todavia, também não pode ser considerado
cadáver apenas as partes isoladas do corpo, como órgãos, ossos. Porém os corpos
mumificados devem ser considerados relíquias históricas, conforme entendimento de
Silva (2000).
É importante comentar sobre as controvérsias que possuem na doutrina,
pois, elas abordam que o cadáver é considerado uma coisa, ou uma semi-pessoa; e,
31

há quem diga que se trata de um resíduo de personalidade. Mas na verdade qual a


natureza jurídica do cadáver?
Grecco (2017), aborda que com o passar dos anos, verifica-se que tal
atribuição não estava de acordo com a prática social, uma vez, que o cadáver,
através de seus herdeiros, tinha o direito de defender sua memória. Existindo, assim,
toda uma preocupação com o indivíduo após sua morte, o que não correspondia
com a natureza até então dada.
Os doutrinadores passaram a questionar qual realmente seria a natureza
jurídica do cadáver. E se após a morte haveria ao corpo do morto, uma conotação
de direito de propriedade sobre o mesmo pelos herdeiros, apesar de reconhecer a
estes, pela “transferência da personalidade”, o direito de defender a memória do de
cujus contra injúrias praticadas por outros.

3.2 A LEI Nº 8.501/92

Os pesquisadores Paulo Vicente e Marcelo Alexandrino (2017), com a


intensificação de suas pesquisas, entendem que se faz necessário uma legislação
que regulamentasse sobre a autorização de entrega de corpos, para estudos, pois,
usando o corpo humano como objeto de experimentação, se fez necessário que
houvesse uma grande repercussão sobre a ordem jurídica constituída, em relação
ao destino do cadáver.
Ficou a cargo da família, a responsabilidade pela iniciativa das honras
fúnebres e os proclames do sepultamento; dentro das normas sanitárias,
estabelecidas, em cada Estado. E a autorização para a doação do cadáver.
No entanto, o Estado, a qualquer tempo, tem direito de posse sobre os
corpos. Os cadáveres pertencem ao estado. Desta forma, percebesse que há uma
“máscara” em torno da relação, uma vez em que é levado a crer que a família do
morto tem a decisão final sobre a destinação do corpo, mas, como será
demonstrado, na verdade é do Estado (SOUZA, 2005).
Em tese, o cadáver não pode ser utilizado para fins lucrativos, porém, no
Direito Civil se reconhece o direito patrimonial de uma pessoa jurídica; e, não o
interesse extrapatrimonial da pessoa humana, embora o interesse à vida, à saúde e
32

à integridade física seja reconhecido e protegido tanto pelo Direito Civil, quanto, no
Direito Penal (VICENTE; ALEXANDRINO, 2017).
Hoje, existe um estatuto sobre cadáveres, que lhe é próprio; e este é
determinado pela tradição e pela piedade, baseado no culto dos mortos, muito
antigo, mas ainda atual. Assentasse essencialmente sobre os valores afetivos que
ele representa e não sobre a matéria de que se compõe. É essencialmente um
objeto de piedade e de homenagem. Essa existência material tem uma significação
secundária. Os valores morais que ela representa são de importância transcendente
(SOUZA, 2005).
A presença de cadáveres em laboratórios universitários de anatomia é
observada, pelo menos, desde o século XVI. Alvo de polêmicas no decorrer de seus
primeiros momentos, a prática, atualmente, é garantida pela Constituição Federal
Brasileira, que define não apenas as finalidades para as quais tais cadáveres podem
ser utilizados, como também quais podem ser estes cadáveres. (SAMPAIO, 2000).
O direito do homem sobre seu cadáver é da mesma natureza que tem
sobre seu próprio corpo. Se o homem tem direito de viver conforme suas
concepções filosóficas e religiosas, ele tem também o direito de exigir que suas
vontades sejam respeitadas e executadas após sua morte.
O homem que cede seu cadáver a uma instituição científica é amparado
pela lei e consagrado pelos costumes. Se a questão se passa em termos de cessão,
é plenamente aceitável. A lei não faz obstáculo. Não impõe que o cadáver seja
inumado nem quando essa inumação seja feita, levando-se em conta a doação.
Para o professor e promotor de justiça, Rogério Sanches da Cunha
(2016), é impossível concluir até onde vai à licitude dessa cessão, muito embora
todo ato deva ser de acordo com o que estabelece a ordem pública e os bons
costumes.

3.2.1 Controvérsias

Em um rápido apanhado, vemos que há uma divisão entre duas correntes


que não são completamente contrárias, mas, são de certa forma, complementares. A
primeira corrente é liderada por Hungria (1954). Nélson Hungria Guimarães
33

Hoffbauer foi um dois mais importantes penalistas brasileiros, com diversas obras
publicadas ao longo da vida. Foi desembargador do Tribunal de Justiça do antigo
Distrito Federal, delegado de Polícia e, culminando sua carreira de jurista, ministro
do Supremo Tribunal Federal, que afirmava que os crimes contra o respeito aos
mortos de certa forma têm parentesco com os crimes contra o sentimento religioso,
de modo que "o respeito aos mortos reveste-se de um cunho religioso". Assim,
justificava a reunião das duas classes de crime sob um mesmo título. Igualmente, ao
definir o que a lei penal protege com esses delitos, afirmava ter a norma um caráter
constitutivo (não meramente sancionatório), pois não serve à proteção da paz dos
mortos, mas, sim, ao sentimento de reverência dos vivos para com os mortos.
Por tal razão, defendia que o "respeito aos mortos (do mesmo modo que
o sentimento religioso) é um relevante valor ético-social, e, como tal, um interesse
jurídico digno, por si mesmo, da tutela penal". Para Hungria (1954) a tutela penal na
esfera de tais condutas serve para "resguardar a incolumidade dos atos fúnebres, do
cadáver em si mesmo e da sepultura". No mesmo sentido, Edgar Magalhães
Noronha (1976) afirmava que os crimes contra o respeito aos mortos está vinculado
a preceitos religiosos. Segundo o autor, isso não ocorre apenas pela disposição no
mesmo título, mas também pelo fato de que "é vulgar a expressão "culto dos
mortos", ainda que culto aqui não seja tomado no conceito estrito que lhe dá a
religião".
Noronha (1976) afirmava existir no homem um respeito "para os que se
foram desta vida em demanda a um estado que importa uma ordem sobrenatural e
que se acha acima da razão humana". Para este autor, ainda que o culto dos
mortos esteja impregnado de sentimento religioso, os que não creem (chamados por
ele de materialistas e agnósticos) também demonstram respeito aos mortos, seja por
piedade ou pela dignidade da criatura humana que a acompanha ao túmulo.
Por tal razão, defende que o objeto jurídico tutelado é "o sentimento de
respeito para com os mortos, direito do qual é titular a pessoa viva", mas que
interessa "também à coletividade sua defesa, pois dito sentimento se apoia na ética
e condiz com a civilização, motivo por que o Estado não se pode mostrar indiferente
às infrações contra ele". Igualmente, ao comentar cada um dos quatro crimes, reitera
que o bem jurídico tutelado é o "sentimento de respeito para os que morreram", isto
é, "a piedade que se tem para com eles, sentimento individual e coletivo que cerca
os túmulos, cemitérios e as coisas que servem ao seu culto".
34

Celso Delmanto (2007), advogado criminalista e idealizador do Código


Penal Comentado, na mesma vertente, em sua obra, afirma que a proteção do
respeito aos mortos é "essencial para a vida em democracia; que requer pluralismo;
solidariedade; compreensão; e, sobretudo, respeito à memória dos que se foram, tão
importantes à formação de cada um de nós, perpetuando em nossas almas as suas
lembranças". Afirmam, ainda, que "é o sentimento de honra aos antepassados um
dos vetores de nossa caminhada". Ao analisar cada um dos quatro tipos penais,
defendem que o objeto jurídico tutelado é o sentimento de respeito pelos mortos.
Para a jurista, advogada e professora Maria Helena Diniz (2005) e para o
bacharelado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo,
Ricardo Antônio Andreucci (2018), os quatro crimes têm por objetividade jurídica "o
sentimento de respeito aos mortos, que configura um interesse individual coletivo,
bem como um valor ético-social". Segundo estes autores são possíveis identificar,
em um plano secundário, quando a solenidade de cerimônia fúnebre for de cunho
religioso, também este aspecto - sentimento religioso - como objeto de tutela. Ao
comentar os demais crimes, identificam o mesmo bem jurídico (sentimento de
respeito aos mortos), com uma ressalva ao posicionamento do professor em Direito
pela Universidade Estadual de Maringá, Wanderlei de Paula Barreto (2005), quanto
ao crime de violação de sepultura, para o qual, neste delito, o objeto da tutela
consiste no interesse público em proteger o sentimento de piedade com relação aos
defuntos, garantindo o respeito ao cadáver e às cinzas.
Para as pesquisadoras, Juliana Aprygio Bertoncelo e Marcela Berlinck
Pereira (2002), ao comentar tais crimes também defendem que o bem jurídico é o
respeito (enquanto valor ético-social) aos mortos, mas fazem algumas ressalvas
pertinentes ao delito de violação de sepultura, destacando a existência de quatro
concepções sobre o bem jurídico tutelado, ainda que para ele não exista divergência
na doutrina nacional quanto à identificação do objeto de tutela como sendo o
sentimento de respeito aos mortos. Guilherme de Souza Nucci (2014), seguindo o
mesmo entendimento, identifica como objeto jurídico de tutela nas quatro
modalidades delitivas "o sentimento de respeito à memória dos mortos". Em idêntico
posicionamento, os escritos de Rogério Greco (2009) e o jurista Julio Fabbrini
Mirabete (2005).
O mesmo entendimento é encontrado na doutrina estrangeira. Em
Portugal, o jurista, filósofo, matemático, advogado, sociólogo, magistrado e
35

diplomata Pontes de Miranda (2004), afirma que nos crimes contra o respeito devido
aos mortos (Arts. 253 e 254 do CP - Português) o bem jurídico tutelado é o
sentimento de piedade para com os defuntos, por parte da coletividade, o qual se
constitui em um bem jurídico imaterial originário de um sentimento moral coletivo,
não vinculado a qualquer fé religiosa.
É possível identificar uma segunda corrente, a qual parece partir de um
mesmo ideal, contudo com embasamento nos direitos e garantias fundamentais.
Nessa vertente, encontra-se o posicionamento de Alberto Silva Franco (2007),
Tadeu Antonio Dix Silva (2000) e o professor em Direito pela Universidade Estadual
de Londrina, Paulo César Busato (2014), após apresentarem nota crítica aos
posicionamentos que vinculam o Direito penal à proteção de valores ético-sociais,
estruturam uma construção do sentimento de respeito aos mortos como derivação
dos direitos e garantias fundamentais alicerçada na dignidade da pessoa morta.
Desta forma, defendem ser a dignidade da pessoa morta um valor cultural
com amparo constitucional, considerada como um valor que não possui existência
material/tangível, mas que necessita de pessoas ou coisas para sua percepção. Em
outras palavras, apontam como bem jurídico tutelado “a dignidade da pessoa morta”,
ao se considerar que “sendo o cadáver a projeção ultra existencial da pessoa
humana, o bem personalista da dignidade da pessoa morta constitui o objeto
primário e constante da tutela contra os atos de desrespeito e aos despojos
humanos e aos sepulcros'". Além da dignidade da pessoa morta, identificam a
existência de um bem jurídico secundário, consistente no valor da solidariedade,
identificada pelos autores como sendo um direito fundamental de segunda geração.
Gonçalves (2016), a solidariedade na morte é inerente às concepções
atuais de cultura, sendo que a "dor decorrente da morte de alguém recai diretamente
sobre seus familiares e pessoas próximas, as quais possuem direitos subjetivos de
ver realizadas as exéquias do ente falecido e promover seu sepultamento de
maneira harmônica".
Nesta percepção, defendem que a proteção da intimidade e privacidade
das pessoas que são vítimas desses crimes pode ser reclamada a partir da noção
da “privacidade e dignidade”, a qual recupera o valor do homem, assentando-se na
dignidade individual da pessoa e não mais limitada à visão intersubjetiva do
"ensinamento" do indivíduo. Em suma, fundamentam a existência deste bem
jurídico nos valores culturais e de solidariedade, os quais acabam por abrigar a
36

noção enraizada na comunidade de dignidade da pessoa morta. Por fim, Paulo


César Busato (2007) afirma que a partir dos direitos fundamentais, é perfeitamente
possível à preservação da incriminação dos crimes contra o sentimento de respeito
aos mortos.
A interpretação de Busato (2007) é bem próxima da apresentada pelos
outros dois autores, apenas com uma diferença: para estes o interesse solidário é
secundário diante do interesse de dignidade, enquanto para aquele os interesses
são equivalentes. Ao analisar os quatro crimes já mencionados, Busato (2007) critica
o posicionamento generalizado da doutrina de identificar a proteção do sentimento
de respeito aos mortos como bem jurídico tutelado, reafirmando seu posicionamento
na tutela dos valores constitucionais da dignidade humana e da solidariedade
humana.
Verifica-se que há duas correntes tutelandas sobre a utilização dos
corpos, onde a primeira corrente, o que se tutela, é o sentimento de respeito aos
mortos. Já a segunda defende que o bem jurídico tutelado é a dignidade da pessoa
morta e o valor de solidariedade comunitária.
Assim, ainda que a doutrina apresente essas duas vertentes, são
perceptíveis que, tanto de uma forma quanto de outra, se está a tutelar sentimento
(que não deixam de serem valores morais) de respeito e veneração aos mortos, o
que traz à tona novos problemas, principalmente no sentido de ser necessário
verificar se não se está diante de um bem jurídico aparente, o qual é identificado
pelo "uso reiterante da linguagem e da adoção de uma perspectiva distanciada", que
resulta por ocultar a ausência de um efetivo bem jurídico tutelado pela norma.

3.2.2 Requisitos para a destinação do cadáver.

Os requisitos que devem ser preenchidos são os estabelecidos no Art. 3°


da Lei n° 8.501, de 30 de novembro de 1992:

Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:


I -- sem qualquer documentação;
II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços
de parentes ou responsáveis legais.
37

§ 1° Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará


publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo
menos dez dias, a notícia do falecimento.
§ 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será,
obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente.
§ 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver
indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
§ 4° Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável
manterá, sobre o falecido:
a) os dados relativos às características gerais;
b) a identificação;
c) as fotos do corpo;
d) a ficha datiloscópica;
e) o resultado da necropsia, se efetuada; e
f) outros dados e documentos julgados pertinentes. (BRASIL, 1992).

Uma vez que para a doação de órgão poder ser efetivada perante as
Universidades, muitos requisitos devem ser preenchidos. A burocracia para tal ato é
grande (talvez, nem sempre cumprida), uma vez que são os corpos de pessoas que
não tiveram família para reclamarem.
Ou que doaram seus corpos, como última vontade, e, a família não
concorda com o ato; já que hoje, as pessoas, não de forma geral, mas em sua
grande maioria, ainda veem a doação de órgãos como um mal que acaba com o
tradicionalismo, das promessas bíblicas.
De acordo com o artigo 3º, parágrafos 2º e 3º, inciso II, da Lei 8.501/92:

Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:


[...]
§ 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será,
obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente.
§ 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver
indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
[...]
II - identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de
parentes ou responsáveis legais. (BRASIL, 1992).

Apenas os cadáveres de morte natural devem ser encaminhados a estudo


e pesquisa em escolas de Medicina. Cadáveres de morte natural, cuja causa básica
do óbito é uma doença ou estado mórbido, poderão ser destinados para estudo,
visto que não haverá responsabilidade alheia a apurar. Já os cadáveres que tiveram
uma morte provocada por mecanismos violentos ou suspeitos não deverão ser
destinados a estudo, visto que há necessidade de esclarecer as circunstâncias em
que se deu o fato.
Entre os cadáveres de morte natural, destinados a ensino e pesquisa
foram identificados: cadáver não reclamado com declaração de óbito emitida pelo
38

Serviço de Verificação de Óbitos; cadáver não reclamado com declaração de óbito


emitida pelo hospital da rede pública onde ocorreu o óbito; cadáver doado em vida;
cadáver doado pela família. Por cadáver não reclamado entende-se aquele de
pessoa não identificada ou identificada sem responsável (parentes ou
representantes legais).
O cadáver de pessoa não identificada é aquele que não dispõe de
qualquer documentação. Já o cadáver de pessoa identificada compreende aquele
sobre o qual inexistem informações relativas a endereços de parentes ou
representantes legais, entretanto apresentam ou documento emitido pelas
autoridades públicas (cédula de identidade, certificado de reservista, título de eleitor,
carteira profissional) ou outro documento de identificação (carteira de identidade
expedida por empresas e/ou quaisquer outros documentos que sirvam para
estabelecer sua identidade).

3.3 CRIME DE VILIPÊNDIO

Sendo um crime previsto no capítulo II do Código Penal; onde fala: Dos


Crimes contra o Respeito aos Mortos: O Artigo 212, diz que:

Art. 212- Vilipendiar cadáver ou suas cinzas.


Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
(BRASIL, 1940).

Podemos buscar na Língua Portuguesa o significado da palavra


”vilipendiar”; uma vez, que se trata de um verbo transitivo direto; que significa
destratar ou humilhar; tratar com desdém; fazer com que algo ou alguém se sinta
desprezado ou desdenhado; menosprezar; julgar algo ou alguém por baixo; ofender
através de palavras, gestos ou ações.
Para Gonçalves (2016, p. 644):

“O ato de vilipendiar é sinônimo de desrespeitar, ultrajar, e admite qualquer


meio de execução (palavras, gestos, escritos). É necessário que o ato seja
praticado na presença do cadáver ou de suas cinzas. Configura o delito
aproximar-se do cadáver e passar a xingá-lo ou a dar gargalhadas
apontando para o falecido, desferir cusparada ou desarrumar sua roupa ou
seu cabelo, abrir sua boca para que assim fique exposto no caixão, colocar
uma fruta em sua boca para que pareça um leitão servido, chutar o corpo
após encontrá-lo morto etc.”.
39

Já na doutrina de Greco (2009, p. 545), diz que: “vilipendiar deve ser


entendido no sentido de menoscabar, aviltar, ultrajar, tratar com desprezo, sem o
devido respeito exigido ao cadáver ou as suas cinzas”.
No mesmo sentido, o jurista português José Gomes Canotilho (1993):

A ação nuclear típica é vilipendiar (desprezar, desdenhar, aviltar,


menoscabar, rebaixar) o cadáver ou suas cinzas. É crime de execução livre,
podendo ser praticado pelo escarro, pela conspurcação, desnudamento,
colocação do cadáver em posições grosseiras ou irreverentes, pela
aposição de máscaras ou de símbolos burlescos e até mesmo por meio de
palavras; pratica o vilipêndio quem desveste o cadáver, corta-lhe um
membro com propósito ultrajante, derrama líquidos imundos sobre ele ou
suas cinzas. (CANOTILHO, 1993, p. 55).

Dessa forma, como nosso objeto de estudo aqui é o cadáver, incorre no


crime previsto no art. 212 do CP, quem incidir em quaisquer das condutas acima
descritas em relação a ele. Tutela-se no crime em estudo o sentimento de respeito
pelos mortos, repudiando, assim, condutas “desonrosas” para com o de cujus.
Muito importante citar que o vilipêndio pode ser praticado por diversos
modos como, por exemplo, proferir palavrões contra o morto, atirar excrementos no
cadáver, desdenhar da situação em que o corpo se encontra; praticar atos sexuais
com o falecido entre outros.
“Trata-se de crime comum (aquele que não demanda sujeito ativo
qualificado ou especial); formal (delito que não exige resultado naturalístico,
consistente em efetiva lesão ao bem jurídico tutelado). Ver a nota 15 ao art. 208; de
forma livre (podendo ser cometido por qualquer meio eleito pelo agente); comissivo
(“vilipendiar” implica ação) e, excepcionalmente comissivo por omissão (omissivo
impróprio, ou seja, é a aplicação do art. 13, § 2.º, do Código Penal); instantâneo
(cujo resultado se dá de maneira instantânea, não se prolongando no tempo);
unissubjetivo (que pode ser praticado por um só agente); unissubsistente (um único
ato integra a conduta) ou plurissubsistente (como regra, vários atos integram a
conduta); admite tentativa na forma plurissubsistente” (NUCCI, 2017, p. 682).

3.3.1 Objeto jurídico


40

O cadáver, pessoa que faleceu, não pode ser vítima do crime porque não
tem mais a capacidade de sentir o aviltamento, a ofensa física, a profanação, enfim
nenhuma ação dirigida contra ele (cadáver) pelo agente, pois o falecido não possui
mais a honra objetiva. Daí podermos concluir que o bem jurídico lesado é o
sentimento de boa lembrança, de respeito e veneração que se guarda em relação ao
morto, seja por parte da coletividade, dos conhecidos e admiradores, seja por parte
dos amigos mais próximos e dos familiares. As pessoas, em grupo ou
individualmente, que guardam esses sentimentos de respeito, lembrança, saudades,
veneração é que são considerados sujeitos passivos do crime.
Para o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo
Fernando Capez (2017, p.546), “o bem juridicamente protegido pelo tipo penal Art.
212 do diploma repressivo é o sentimento de respeito aos mortos, isto é, à sua
memória”. O doutrinador também fala que o bem jurídico tutelado é o respeito aos
mortos.
No mesmo sentido, Gonçalves (2006) defende que o objeto jurídico é o
respeito aos mortos.

3.3.2 Sujeitos do crime

“O sujeito ativo do crime de Vilipêndio é qualquer pessoa; que, com


gestos ou ações desrespeitem o cadáver ou a imagem do morto.”. (GRECO, 209, p.
546)
Nucci (2017, p.681) em sua doutrina também diz que “o sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa”. Seguindo assim uma mesma corrente.
O sujeito passivo, não é o cadáver - pessoa que faleceu -, pois, este, não
pode ser vítima do crime quando não se tem mais a capacidade de sentir o
aviltamento, a ofensa física, a profanação, enfim nenhuma ação dirigida contra ele
(cadáver) pelo agente, pois o falecido não possui mais a honra objetiva.
Greco (2009, p. 246), em sua doutrina, diz que “o sujeito passivo do crime
é a coletividade, bem como a família do morto, que teve o seu cadáver ou suas
cinzas”. E Nucci (2017, p. 681) no mesmo sentido, fala que: “O sujeito passivo é a
coletividade, cuja ética prevê o respeito aos mortos. Secundariamente, está a família
do morto”.
41

Ainda com relação ao sujeito passivo, o professor em Direito pela


Universidade Federal de Pernambuco, Silvio Romero Beltrão (2005, p. 455) explica
que o “sujeito passivo será a coletividade e, em especial, os familiares e outros
indivíduos ligados ao falecido”.
Para Gonçalves (2016), trata-se de crime vago, que pode ser cometido
por qualquer pessoa, além dos familiares da pessoa morta.

3.3.3 Consumação e tentativa

Para Capez (2017, p. 258), “o crime consumado é aquele em que foram


realizados todos os elementos constantes de sua definição legal”. Ou seja, no crime
de vilipendio “consuma-se o delito no momento em que os atos que se configuram
em vilipêndio a cadáveres são praticados”. (GRECO; 2009; p.546), ou seja, a
consumação se dá no exato momento em que houve a prática de ato de desrespeito
ao morto; seja por gestos, ações ou palavras.
“Consuma-se, ainda, com a efetiva destruição do cadáver ou, ainda
quando é subtraído (também total ou parcialmente), isto é, quando é retirado,
conforme Hungria “da espera de proteção jurídica ou da custódia de seus legítimos
detentores (cônjuge, supérstite, parentes do morto, vigia do necrotério, guarda do
cemitério etc.)”, ou deles é ocultada”. (GRECO; 2012, p. 638).
Por se um crime plurissubsistente (crimes que podem ser cometidos por
mais de uma pessoa), por este motivo é admissível à forma tentada.

3.3.4 Modalidades comissiva e omissiva

Barreto (2005, p.546), diz que “a conduta de vilipendiar pressupõe um


comportamento comissivo do agente, por parte (quando faz alguma coisa que estava
proibido) podendo, no entanto, ser cometido via omissão própria (aquele em que o
agente comete o crime ao deixar de fazer alguma coisa).”.
No mesmo sentido Bertoncelo e Pereira, (2002, pag. 453) ensinam:

“É o dolo, consubstanciado na vontade consciente de aviltar o cadáver.


Tem-se decidido ser indispensável a presença do elemento moral,
consistente no desejo de desprezar o corpo sem vida, com intenção de
42

depreciá-lo, o que caracterizaria a necessidade da presença do elemento


subjetivo especial do injusto.”. (BERTONCELO; PEREIRA, 2002, p. 123).

3.3.5 Ação penal

A ação penal é de iniciativa pública incondicionada. Mirabete (2007,


p.135) salienta que “o Ministério Público, órgão do Estado-Administração,
representado por Promotores e Procuradores de Justiça, é o dominus litis da ação
penal pública, cabendo lhes promovê-las sua propositura. Não prevendo a lei
expressamente, que a ação penal dependa de queixa, de representação do ofendido
ou de requisição do Ministro de Justiça”.
Para Greco (2017):

“A pena cominada pelo preceito secundário do art. 212 do Código Penal é


de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. A ação penal é de iniciativa
pública incondicionada. Será possível a proposta de suspensão condicional
do processo, nos termos preconizados pelo art. 89 da Lei nº 9.099/95, tendo
em vista a pena mínima cominada ao delito em estudo.”. (GRECO, 2017, p.
1083).

Para Bittar (2003), no mesmo sentido a ação é pública incondicionada.


43

4 ANÁLISE DA LEI Nº 8.501/92, QUE AUTORIZA A ENTREGA DE


CORPOS NÃO RECLAMADOS PARA UNIVERSIDADES EM SANTA
CATARINA E A POSSIBILIDADE DE RESPONSABILIDADE PENAL

Inicialmente cabe destacar a existência de outras espécies de


responsabilidade, sendo necessário diferenciar responsabilidade penal e
responsabilidade civil.
“A responsabilidade jurídica origina-se da violação ao ordenamento
jurídico, gerando algum dano a pessoa ou a sociedade. Diante disso, o autor do
dano deverá reparar seu dano, através do cumprimento de uma pena ou pagando
algum dispêndio pecuniário.”. (GONÇALVES, 2012, p. 20).

4.1 RESPONSABILIDADE PENAL

O princípio da responsabilidade penal está previsto no art. 5º, inc. XLV, da


Constituição Federal:

“Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de


reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do
valor do patrimônio transferido.”. (BRASIL, 1988)

Em razão dessa norma fica afastada a possibilidade de a


responsabilidade penal atingir parentes, amigos ou sucessores do condenado, que
não tenham participado da conduta por ele praticada. Ao mesmo tempo, a morte do
agente, antes ou depois da condenação, implica automática extinção da punibilidade
ou da execução da pena. (ALEXANDRINO; VICENTE, 2017).
Contudo, com a morte do condenado, não fica excluída a possibilidade de
reparar o dano e o perdimento de bens alcançarem os sucessores, desde que a
respectiva execução não ultrapasse o valor do patrimônio a eles transferido pela
sucessão. (ALEXANDRINO; VICENTE, 2017).
A responsabilidade penal (dolosa ou culposa) institui circunstâncias
estabelecidas em lei como crime ou contravenção penal. Determinadas condutas
estabelecem um desprestígio a toda coletividade, sendo assim, o Estado tem o
poder (ius puniendi), de aplicar uma punição (pena). Ou seja, na presença de uma
44

infração penal, o Estado pode estabelecer uma pena, limitando um direito. Este
poder do Estado refere-se a uma ação da sociedade. (SAMPAIO, 2000, p. 22).
Já na responsabilidade civil pretende-se, com a sua constatação, instituir
a uma pessoa a responsabilidade de reparar o prejuízo a vitima, precisamente por
ser uma conduta humana violadora de uma obrigação legal ou contratual (ato ilícito).
Nota-se que esse tipo de responsabilidade, busca a restauração de uma
circunstância anterior, zelando, assim, ao interesse da vitima. Desta forma, não tem
como desígnio a aplicação de uma pena, ao autor do prejuízo apenas que ele repare
os danos causados. (SAMPAIO, 2000, p. 22-23).
A esse respeito, é preciso considerar que:

“Entende-se que a responsabilidade civil decorre da falta de cumprimento


das leis civis e dos contratos, enquanto a penal advém da infração de leis
penais, que cominam a incidência de sanções e restrições de direitos e da
liberdade, como o encarceramento, a proibição de certas atividades, o
pagamento de cifras e dinheiro, a prestação de serviços, e a limitação no
exercício de categorias determinadas de direitos.”. (RIZZARDO, 2015, p.
319).

Diniz (2005, p. 40), entende que a responsabilidade civil é quando um


indivíduo pratica danos morais ou materiais, a uma terceira pessoa, ele fica sujeito a
reparação destes danos, sejam os danos praticados pelo próprio indivíduo, ou por
aquelas pessoas que ele detém responsabilidade, e pelo ato de seus animais ou por
exigência legal.
É entendimento de Gonçalves sobre responsabilidade penal (2012):

“No caso de responsabilidade penal, o agente infringe uma norma de direito


público. O interesse lesado é o da sociedade. Na responsabilidade civil, o
interesse diretamente lesado é o privado. O prejudicado poderá pleitear ou
não a reparação.”. (GONÇALVES, 2012, p. 42).

Para Rizzardo, 2015, “a responsabilidade penal é perante a sociedade. A


responsabilidade civil, conquanto fundada também no interesse social, é perante o
lesado.”.
Caracteriza Masson (2009, p. 01), “direito Penal é o conjunto de princípios
e leis destinados a combater o crime e a contravenção penal, mediante a imposição
de sanção penal.”.
45

Direito Penal é parte do ordenamento jurídico que possui o cargo de


distinguir as condutas mais gravosas da coletividade, podendo assim, ter certos
riscos nos valores fundamentais da convivência social, e por consequência, vem
descrevendo-as como infrações penais, e assim trazendo as devidas sanções, além
de indicar todas as normas essências para a sua devida aplicação. (CAPEZ, 2017,
p. 17).
Segundo Nucci (2018, p. 3) “é o conjunto de normas jurídicas voltado à
fixação dos limites do poder punitivo do Estado, instituindo infrações penais e as
sanções correspondentes, bem como regras atinentes à sua aplicação.”

4.2 DA ENTREGA DE CORPOS AS UNIVERSIDADES E A POSSIBILIDADE DE


RESPONSABILIDADE PENAL

Com a observância da crescente utilização de cadáveres nas


universidades como instrumento de ensino acadêmico; e, por ser alvo de discussões
nas questões ético-legais, uma vez que nada, até então, dispunha a legislação sobre
tal discussão.
Com isso, foi criada a Lei nº 8.501/92, a qual regulamenta a destinação
dos cadáveres não identificados ou aqueles dos quais não se dispõem de
informações relativas a endereços de parentes ou responsáveis legais, no entanto
foram identificados.
A dificuldade de obtenção de cadáveres para estudo reside no fato de não
haver uma legislação bem elucidada (já que a Lei nº 8.501/92 tem poucos
dispositivos), somado aos aspectos culturais e religiosos da população.

Art. 1° Esta Lei visa disciplinar a destinação de cadáver não reclamado junto
às autoridades públicas, para fins de ensino e pesquisa.
Art. 2° O cadáver não reclamado junto às autoridades públicas, no prazo de
trinta dias, poderá ser destinado às escolas de medicina, para fins de ensino
e de pesquisa de caráter científico.
Art. 3° Será destinado para estudo, na forma do artigo anterior, o cadáver:
I -- sem qualquer documentação;
II -- identificado, sobre o qual inexistem informações relativas a endereços
de parentes ou responsáveis legais.
§ 1° Na hipótese do inciso II deste artigo, a autoridade competente fará
publicar, nos principais jornais da cidade, a título de utilidade pública, pelo
menos dez dias, a notícia do falecimento.
§ 2° Se a morte resultar de causa não natural, o corpo será,
obrigatoriamente, submetido à necropsia no órgão competente.
46

§ 3° É defeso encaminhar o cadáver para fins de estudo, quando houver


indício de que a morte tenha resultado de ação criminosa.
§ 4° Para fins de reconhecimento, a autoridade ou instituição responsável
manterá, sobre o falecido:
a) os dados relativos às características gerais;
b) a identificação;
c) as fotos do corpo;
d) a ficha datiloscópica;
e) o resultado da necropsia, se efetuada; e
f) outros dados e documentos julgados pertinentes.
Art. 4° Cumpridas as exigências estabelecidas nos artigos anteriores, o
cadáver poderá ser liberado para fins de estudo.
Art. 5° A qualquer tempo, os familiares ou representantes legais terão
acesso aos elementos de que trata o § 4° do art. 3° desta Lei.
Art. 6° Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 7° Revogam-se as disposições em contrário
(BRASIL, 1992).

Assim, percebesse que o cadáver não reclamado junto às autoridades


públicas sem qualquer documentação e nenhuma informação referente a endereço
de parentes ou responsáveis, após a publicação em meios de comunicação do
referido falecimento, tem um prazo de até 30 dias, para poder ser liberado e
encaminhado para um centro de estudos na área da Saúde. Cabe ainda à instituição
manter dados referentes à identificação do corpo, tais como: fotos, dados relativos
às características gerais, ficha datiloscópica, e outros dados e informações
pertinentes.
De acordo com o artigo 6º do Código Civil Brasileiro “A existência da
pessoa natural termina com a morte”. Contrariando o artigo, o autor Jean Ziegler
defende que os mortos continuam a agir para além da morte. Barreto (2005), diz que
alguém só é responsável criminalmente, pela prática de um ato reputado delituoso,
quando deve responder por ele perante o poder social.
A violação da norma penal cria para o Estado uma "pretensão punitiva".
Mas, a responsabilidade pressupõe, como condição fundamental, certas condições
sem as quais ela não pode ocorrer. É indispensável que o agente a quem se atribui
a prática do ato punível seja imputável, isto é, que esteja em condições de se lhe
puder atribuir a responsabilidade pela infração.
Para que ocorra a responsabilidade penal, é necessária a previsão legal
de tal conduta na legislação penal, tendo em vista o princípio da legalidade.
O princípio da legalidade esta descrito no inciso XXXIX do art. 5º da CF:
“Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal.”
(BRASIL, 1988).
47

O principio da legalidade também é conhecido com o princípio da reserva


legal, uma vez que, a descrição das infrações e de determinadas sanções deve ser
aplicada unicamente pela lei, eliminando quais quer outros tipos de fonte legislativa.
A lei deve especificar as condutas que considerar crime, e ainda, elaborar sanções
adequada a cada conduta, retirando o arbitramento do julgador e fazendo com que
os cidadãos conhecem, qual a conduta é ilícita (ANDREUCCI, 2018).
No presente caso, a utilização dos corpos para fins de estudo, não é
atribuído responsabilidade de cunho criminal, já que a prática não é caracterizada
como vilipêndio.
O crime de vilipêndio caracteriza-se quando o agente realiza condutas
como: menoscabar, aviltar, ultrajar, tratar com desprezo, sem o devido respeito
exigido ao cadáver ou a suas cinzas (GRECO, 2017).
Cabe ressaltar, que não somente o cadáver pode sofrer a ação, mas
também suas cinzas podem ser vilipendiadas.
Tendo em vista que o crime de vilipêndio admite apenas a modalidade
dolosa, ou seja, vontade consciente de aviltar o cadáver ou suas cinzas, é
indispensável a presença do elemento moral, consistente no desejo de desprezar o
corpo sem vida, com intenção de depreciá-lo (CUNHA, 2016)
Com isso, não há a possibilidade de caracterizar o crime de Vilipêndio na
utilização de corpos para fins de estudo em universidades, tendo em vista, que além
da autorização legal, tal conduta não se enquadra na tipificação do crime de
vilipêndio, que exige a vontade consciente de aviltar o cadáver ou suas cinzas.
48

5 CONCLUSÃO

Com uma análise aprofundada da Lei nº 8.501/92, percebe-se que o


cadáver tem muitos direitos, visto que com a morte não ocorre o fim da
personalidade jurídica, já que a família pode suceder aos direitos do de cujos.
Essa proteção existe, pois, com a morte à dignidade da pessoa falecida
não é retirada, existindo, assim, um amparo legal; regendo a vida dos cidadãos; bem
como os resguardam após a morte; e, determinando, quais medidas devem ser
respeitadas. Além destes direitos previstos em Lei, o sentimento religioso tem muita
importância na sociedade; as religiões e culturas se manifestam sobre a morte de
forma diferente.
Percebeu-se que os familiares podem escolher a destinação do
morto/cadáver, desde que, esta, não seja contrária, a vontade expressa do falecido.
Desde que esta vontade, não contrarie a ordem pública ou a moral, ou, ainda, que a
família não tenha condições materiais de executar a última vontade do morto.
Portanto, as pessoas legitimadas a atuarem em nome do falecido são: o
cônjuge, descendentes, ascendentes e os colaterais em linha reta até o quarto grau,
sendo atribuído este direito por exclusão, ou seja, primeiramente cabe ao cônjuge,
na falta deste, aos descendentes e assim sucessivamente.
Para a sociedade, o corpo ainda tem muito valor. O reconhecimento do
direito da família sobre o cadáver, respeitando o princípio da piedade, é uma análise
final da proteção dos direitos da sociedade em seus interesses superiores. É
necessário entender que o cadáver não é uma matéria inanimada; não é um objeto,
um material de estudo. O cadáver tem um estatuto que lhe é próprio;
Com isso o legislador quis proteger individualmente as pessoas já
falecidas contra qualquer ofensa ilícita ou ameaça de ofensa à respectiva
personalidade física e moral que existia em vida e que permanece após a morte,
assim, se pode falar de uma tutela geral da personalidade do defunto.
Não se pode ofender a moral do morto, imputando-lhe condutas
desonrosas; não se pode utilizar sua imagem ou retirar qualquer parte de seu corpo;
nem viola-lo sem a devida autorização dos responsáveis; pois, todos esses direitos
são passíveis de proteção pelo nosso ordenamento jurídico. Já que mesmo após a
morte, se tem direito de proteção à honra, à imagem, a intimidade, a integridade
física.
49

Então, concluísse que não há a possibilidade de caracterizar o crime de


vilipêndio na utilização de corpos para fins de estudo em universidades, tendo em
vista, que além da autorização legal, tal conduta não se enquadra na tipificação do
crime de vilipêndio, que exige a vontade consciente de aviltar o cadáver ou suas
cinzas.
50

REFERÊNCIAS

ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de direito penal. 12. ed. São Paulo:
Saraiva. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca, 2018.

BARRETO, Wanderlei de Paula. Comentário ao Código Civil Brasileiro. v.1. Rio


de Janeiro: Forense, 2005.

BASTOS, Celso Ribeiro. MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do


Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005.

BELTRÃO, Silvio Romero. Direitos da Personalidade: de acordo com o Novo


Código Civil. São Paulo: Atlas, 2005.

BERTONCELO, Juliana A; PEREIRA, Marcela B. Direito ao cadáver. Disponível:


www.publicadireito.com.br/conpedi/2502.pdf. 2002. Acesso 08 de fev. 2019.

BITTAR, Carlos Alberto. Os direitos da Personalidade. 6ª ed. atualizada por


Eduardo Carlos Bianca Bittar. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2003.

BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. 1988.


Disponível: www.planalto.gov.br/constituicao/.htm. Acesso 08 de fev. 2019.

Legislação da República Federativa do Brasil. Código Penal. 2003. Disponível:


www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8501.htm. Acesso 10 de fev. 2019.

República Federativa do Brasil. Lei 9.434. 2003. Disponível:


www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L9434.htm. Acesso 15 de mar.

BUSATO, Paulo César. Direito penal: Parte Geral. São Paulo: Atlas, 2014.

CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Direito Constitucional. 6ª ed. Coimbra:


Livraria Almeida, 1993.

CAPEZ, Fernando. Curso de direito penal. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Prentice


Hall do Brasil, 2006

CIFUENTES, Santos. Derechos personalíssimos. 2ª ed. atualizada y ampliada.


Buenos Aires, 1995.

CHAGAS, Juarez. Cadáver desconhecido: importância histórica e acadêmica para


o estudo da anatomia humana. 2001. 137 f. Dissertação (Mestrado em Morfologia) –
Departamento Ciências Morfológicas, Universidade Federal de São Paulo, 2001.

CUNHA, Rogério Sanches da. Manual de direito penal. 4. ed. Rio de Janeiro:
Editora Juspodivm, 2016.
51

DELMANTO, Celso. Código Penal comentado. 7. ed. Rio de Janeiro: Renovar,


2007.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 19. ed. São Paulo: Saraiva.
E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca, 2005.

FRANCO, Alberto Silva; SILVA, Tadeu Antonio Dix. Dos crimes contra o
sentimento religioso e contra o respeito aos mortos. Código Penal e sua
interpretação: doutrina e jurisprudência. 8. ed. São Paulo: Ed. RT, 2007.

GONÇALVES. Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 6ª ed. v.1. Parte Geral. São
Paulo: Saraiva, 2006.

Direito civil brasileiro. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

GONÇALVES, Victor Eduardo Rios. Curso de direito penal: parte geral. São Paulo:
Saraiva. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca, 2016.

GRECO, Rogério. Curso de direito penal. 19. ed. Rio de Janeiro: Impetus, 2017.

HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense,


1959.

MASSON, Cleber. Direito penal esquematizado: parte geral. 2. ed. São Paulo:
Método, 2009.

MENDES, Ana Flávia de Mello. A dança do corpo dissecado: o reverso revelado


na cena da pós-modernidade coreográfica. Revista Ensaio Geral, Belém, 2009.

MIRABETE. Julio Fabbrini Mirabete. Manual de Direito Penal. Parte Especial:


arts.121 a 234 do CP. 17ª ed. v.2. São Paulo: Atlas, 2001.

Código Penal interpretado. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MIRANDA, Pontes de, Tratado de direito privado: Parte Especial. V.07. Direitos
das Sucessões: Sucessão em geral. Capinas: Bookseller, 2004.

NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de direito penal. 14. ed. Rio de Janeiro:
Forense. E-book. Acesso restrito via Minha Biblioteca, 2018.

Código Penal comentado. 14. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014.

PETRUCELLI, L. J. História da medicina. São Paulo: Manole, 1997.

REALE, Miguel. O direito como experiência: introdução à epistemologia jurídica. 2.


ed. São Paulo: Saraiva, 1992.

RIZZARDO, Arnaldo. Responsabilidade civil. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015.


52

SAMPAIO, Rogério Marrone de Castro. Direito civil: responsabilidade civil. São


Paulo: Atlas, 2000.

SILVA, Justino Adriano Farias da. Tratado do direito funerário. V.1. São Paulo:
Método Editora, 2000.

SOUZA, Rabindranath Valentino Aleixo Capelo de. O direito geral da


personalidade. Coimbra: Coimbra Editora, 1995.

SZANIAWSKI, Elimar. Direitos de Personalidade e sua Tutela. São Paulo:


Revistados Tribunais, 1993.

TOMASZEWSKI. Adauto de. Lições Fundamentais de Direito. Direitos da


Personalidade: abordagens constitucionais, civis e processuais. Londrina:
Midiograf, 2006.

VICENTE, Paulo. ALEXANDRINO, Marcelo. Direito Constitucional


Descomplicado. São Paulo: Forense, 2017.

WOLKMER, A. C. Fundamentos da história do direito. Minas Gerais: Del Rey,


p.464, 2008.

Você também pode gostar