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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA – ISTA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE DIREITO

SEMIÓTICA LINGUÍSTICA, HERMENEUTICA


DO TEXTO JURÍDICO

O ABORTO A LUZ DO
ORDENAMENTO JURÍDICO
RELAÇÃO NOMINAL DOS INTEGRANTES DO GRUPO Nº 09
1. MARIA ANGELICA DA COSTA
2. MARIANA ISABEL JUSTU DAMIÃO
3. MATEUS JOSÉ ANTÓNIO
4. MIGUEL NSINGUI FERNANDO NGUDICAMA
5. NELSON FRANCISCO CACOLA
6. NILTON LOURENÇO CRISTÓVÃO
7. PAULO CHAVES CAIANDA

DOCENTE: PROF. Eliseu Cardoso

VIANA-LUANDA
2023
DEDICATÓRIA

Tendo em conta as dificuldades enfrentadas nos dias actuais e porque não tem sido fácil o
processo de ansino e aprendizagem no nosso país e depois de grandes desafios, certamente
chega um alívio que podemos dizer que ainda não é a meta, mas sim a visão de um longo
percurso cheio de surpresas. Por todo este esforço dedicamos este trabalho antes;

Ao Criador, Deus Pai todo Poderoso

Aos nossos pais que sempre acreditaram em nós.

Aos nossos esposos (as), pelos dias e noites aturadas sem a nossa presença e atenção.

Aos nossos queridos irmãos, amigos e familiares.

Semiótica, Linguística, Hermenêutica do Texto Jurídico


AGRADECIMENTOS

As nossas palavras de apreço vão em primeira instância para Deus o nosso criador e a razão
da nossa existência, as nossas famílias, que nos têm ajudado a custear as despesas dos nossos
estudos.

Aos nossos colegas que nos forneceram sugestões valiosas durante o processo de elaboração
deste trabalho.

Os nossos agradecimentos especial vai também aos Professores que com os seus
ensinamentos nos ajudam na descoberta de um novo mundo, que por falta de bases, muitas
são as dificuldades de acha-lo, aquando da sua procura.

E finalmente vão também os nossos agradecimentos a Direção do Instituto Superior Técnico


de Angola (ISTA) que com uma grande visão procuram sempre dedicar-se as causas nobres.
Por outra a colaboração dos Professores e em particular nosso professor da cadeira de
Direito Romano. Professor Eliseu Cardoso…

Semiótica, Linguística, Hermenêutica do Texto Jurídico


RESUMO

O presente trabalho visa oferecer uma visão geral a respeito do aborto, suas
modalidades, o aborto em Angola, e suas evoluções, principalmente de uma recente vitória
nos Tribunais a respeito da descriminalização do aborto de anencéfalos. Este tema é de
grande complexidade, pois no país pouco ou quase nada se avançou. É preciso que não se
feche os olhos e se negue a realidade, pois o aborto tem sido usado como forma de método
contraceptivo, alicerçado na falta de esclarecimento de uma população desprovida de
condições financeiras e de um planeamento familiar. Além desse factores sabe-se que há o
aborto praticado de forma clandestina provocando diversas consequências graves, tanto
físicas como psicológicas entre outras

Palavras-chaves: Aborto; Modalidade de Aborto; Vida.

Semiótica, Linguística, Hermenêutica do Texto Jurídico


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO…………………………………………….…………………………......….9
1.1. Problematização …………………………………………………………………..…….10
1.2. Objectivo Geral ……….……………………………………………...………………….10
1.2.1. Objectiv~~os Específicos
…………….…………………………………………………..10
2. A LUTA CONTRA A OCUPAÇÃO COLONIAL ……………………………………….11
3. A LUTA DOS ESTADOS AFRICANOS CONTRA A OCUPAÇÃO IMPERIALISTA.12
4. A RESISTÊNCIA NA AFRICA AUSTRAL ……………………….…………………….12
5. LUTAS PELA LIBERTAÇÃO AFRICANA………………………………….………….13
6. A EVOLUÇÃO RELATIVA AOS PAPÉIS DOS HOMENS E DAS MULHERES ........... 14
7. A EDUCAÇÃO COLONIAL: A LIBERTAÇÃO SEM O DESENVOLVIMENTO……………...14
8. FORMAS DE GOVERNO E DESENVOLVIMENTO……….…………………………15
9. POPULAÇÃO E ECOSSISTEMA.................................................................................................................. 15
10. HISTÓRIA DE ANGOLA .............................................................................................................................. 16
11. CONCLUSÃO …………………………………………………..……………………….22
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………….………………………..…23

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1. INTRODUÇÃO

Vida e morte são temas de eterna discussão, desde os temos mais remotos, devido aos
mais diversos e diferentes pontos de vista. Não se tem uma resposta irrefutável para os
questionamentos que surgem a respeito desses temas. O que tem é um confronto de opiniões
que norteiam esse impasse.
O aborto pode ser tido como uma escolha entre a vida e a morte. Mergulhando na
história, a prática do aborto nem sempre foi objecto de incriminação, ficava de regra, impune,
quando não acarretasse danos à saúde ou a morte da gestante, sendo comum entre as
civilizações. Nos tempos posteriores o aborto passou a ser considerado como uma lesão do
marido à prole, sendo que a sua prática passou a ser castigada.
Santo Agostinho pregava que o aborto só era crime quando o feto já tivesse recebido
alma, o que se julgava ocorrer quarenta ou oitenta dias após a concepção. Mais tarde, a igreja
Católica aboliu a distinção e passou a condenar severamente o aborto.
Nos dias de hoje, é comum questionar a respeito da liberdade que a mulher dispõe
sobre a decsão do aborto, pois de um lado está o direito a vida do feto e do outro o direito da
mulher decidir sobre o seu próprio corpo. De acordo com os princípios dos direitos humanos
e da cidadania a mulher tem o reconhecimento da sua competência ética para decidir sobre a
sexualidade e reprodução. Sem discriminação, e tendo garantidos os direitos à concepção, à
protecção da materniade, à anticoncepção, e a interrupção de uma gravidez não desejada ou
não planeada.

1.1. Objectivo geral


O objectivo geral, baseado no problema exposto, está em socializar o assunto com
toda a sociedade, pois esse tipo de problema é enfrentado por diversas mulheres em várias
faixas etárias. É preciso um maior enfoque no que diz respeito à legalidade do aborto e aderir
a um posicionamento que revele um contexto dos aspectos social, religioso, político, moral e
ético.

1.2. Objectivos específicos


Para alcançar nosso objectivo maior, pretendemos especificamente:
 Analisar as opiniões de especialistas no caso, procurando uma fundamentação crítica e
consistente;
 Colectar dados referentes apesquisas documentais e bibliográficas a partir de
mulheres que sofrem um conflito entre o direito do seu corpo e o direito a vida;
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 Focalizar o sentido da vida em diversos aspectos e em determinadas ocasiões, a partir
de diferentes conceitos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEORICA
2.1. O DIREITO À VIDA

Como nos ensina Galente (2008) O direito à vida é um direito fundamental do


homem, podemos dizer que é um super direito, pois todos os demais direitos dependem dele
para se concretizar, assim sem o direito a vida, não haveria os relativos a liberdade, a
intimidade, etc.

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O direito a vida assim como os demais direitos, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos Angolanos e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito a vida.

Sabemos que todos os direitos são invioláveis; não existe direito possível de violação.
Mas a Constituição fez questão de frisar a inviolabilidade do direito à vida exactamente por
se tratar de direito fundamental. Importante lembrar que a Constituição é a Lei Maior do
país, à qual devem se reportar todas as demais leis. Assim observa-se o dever e a
preocupação do Estado de assegurar o Direito a vida, defedendo-o de forma geral, dentre
elas a uterina.

Pois bem, se é indiscutível que a vida é um direito fundamental, e que a Constituição


e a Convenção Internacional dos Direitos Humanos o declaram invioláveis, só resta saber
quando começa a vida. Para isso nos valemos da ciência, desde 1827, com Karl Ernest Von
Baer, considerado pai da embriologia moderna, em seu livro, “ovi mammalium et hominis
genesi” (sobre a origem do óvulo dos mamíferos e do homem) descobriu-se que a vida
humana começa na concepção, isto é, no momento em que o espermatozoide entra em
contacto com o óvulo, facto que ocorre já nas primeiras horas após a relação sexual.

É nesta fase, na fase do zigoto, que toda a identidade genética do novo ser é definida.
A partir daí, segundo a ciência, inicia a vida biológica do ser humano. Fomos todos
concebidos assim, o que somos hoje geneticamente, já o eram desde a concepção. É baseado
nesse dado científico acerca do início da vida que o a Convenção Internacional dos Direitos
Humanos afirma que a vida deve ser protegida desde a concepção.

A personalidade começa do nasciemnto com vida, mas a lei põe a salvo desde a
concepção do nascituro, ora se a lei põe a salvo desde a concepção os direitos do nascituro,
parece óbvio que ela põe a salvo o mais importante desses direitos, que é o direito à vida.
Sendo assim, todo ataque à vida do embrião significa uma violação do direito à vida.

2.2. ABORTO
2.2.1. CONCEITO

Capez (2004, p. 108), em sua obra, conceitua o referido assunto:

Considera-se aborto a interrupção da gravidez com a consequente destruição


do produto da concepção. Consiste na eliminação da vida intra-uterina. Não
faz parte do conceito de aborto, a posterior expulsão do feto, pois ocorrer que
o embrião seja dissolvido e depois reabsorvido pelo organismo materno, em

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virtude de um processo de autólise; ou então pode ssuceder que ele sofra
processo de mumificação ou maceração, de modo que continue no útero
materno. A lei não faz distinção entre o óvulo fecundado (3 primeiras semanas
de gestação), embrião (3 primeiros meses), ou feto ( a partir de 3 meses), pois
em qualquer fase da gravidez estará configurado o delito de aborto, quer dizer
desde o início da concepção até o início do parto.

A palavra aborto vem do latim ab-ortus que significa privação do nascimento a


interrupção voluntária da gravidez com a expulsão do feto do inetrior do corpo materno,
tendo como resultado a destruição do produto da concepção, assim também conceitua
Pierandeli (2005, p. 109).

Este conceito é usado para fazer referência ao oposto de orior, isto é, o contrário de
nascer. Como tal, o aborto é a interrupção do desenvolvimento do feto durante a gravidez.

2.3. CAUSAS DO ABORTO


2.3.1. ABORTO PROVOCADO

As causas são muitas e variadas, sendo difícil avaliar a importância de cada uma delas.
Além daquelas referentes à própria mulher (medo à gravidez e ao parto e os poucos recursos
financeiros para sustentar o novo rebento), há as de origem familiar (pressão dos familiares,
principalmente do marido) e as de ordem social (campanhas contra a fecundidade e familias
numerosas).

2.3.2. PRINCIPAIS MOTIVAÇÕES E DADOS ESTATÍSTICOS

Pesquisa realizada em 2004, nos EUA, com 1.209 mulheres em onze grandes clínicas de
aborto, apontou como motivações para o aborto (dadas pelas próprias mulheres):

27% - eu não estou pronta para uma criança;

21% - eu não tenho condições financeiras;

13% - eu não quero ser mãe solteira;

11% - eu não sou madura o suficiente para cuidar de uma criança;

10% - um bebê iria interferir na minha educação/carreira;

1,0% - meu marido/namorado quer que eu aborte;

0,5% - meus pais querem que eu aborte;

2,5% - o feto tem um possível problema de saúde;

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1,0% - sou vítima de estupro ou incesto;

1,0% - outras razões.

Conclui-se, assim, que 8% das mulheres resolveram não abortar. Das 92% restantes, apenas
6% alegaram que fizeram o aborto por motivações terapêuticas ou humanitárias. Assim, 85%
dos abortos foram realizados por questões circunstânciais, facilmente evitáveis se se
utilizassem métodos contraceptivos ou se preservassem de relações sexuais prematuras.

Por fim, um estudo em 27 países, de 1998, verificou as razões pelas quais as mulheres
tem um aborto induzido, nos seguintes termos:

30,9% - eu não quero (mais) crianças;

21,1% - eu quero adiar a maternidade;

19,9% - ter um filho vai atrapalhar meus estudos ou trabalho

6,6% - eu não tenho condições financeiras agora;

4,4% - tenho problema no meu relacionamento e meu parceiro não quer essa gravidez;

1,5% - sou muito jovem ou meu pai ou outro (s) não querem minha gravidez;

9,8% - minha saúde mental está em risco;

3,1% - há um risco para a saúde do feto;

1,1% - minha saúde física está em risco;

1,6% - outras razões apontadas.

Além disso, estima-se que, segundo estimativas da OMS para o ano de 2011, em
Angola: cerca de 83 mulheres morrem por ano pelo facto de se submeterem a procedimentos
abortivos; 1 em cada 5 mulheres, aos 40 anos, já fez aborto; e ocorre 1 aborto a cada 33
segundos.

2.33. ABORTO ESPONTÂNEO

Cerca de 15% e 25% das gestações evoluem para o abortamento, ou seja, para a
interrupção espontânea antes de 22 semanas. A principal causa dessas perdas são alterações
cromossômicas dos embriões não compatíveis com a evolução natural da gestação. Essas
mudanças podem ser as chamadas aneuploidias, isto é, as alterações no número dos
cromossomos em relação ao esperado pela espécie. Dessa forma, podemos ter as trissomias
(aumento de um ou mais pares e cromossomos), as triploidias (aumento do número de todos
os pares de cromossômicos), ou as monossomias (redução de um ou mais pares).
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Ao contrário do que se imagina, a ocorrência dessas anomalias é muito comum,
afectando cerca de 47% dos embriões gerados em mulheres de 30 anos de idade. No entanto,
a maioria não evolui ao ponto de gerar uma gravidez clínica.

Ainda em relação as alterações genéticas, podemos citar as doenças monogênicas, nas


quais o indivíduo apresenta alterações em determinados genes, o que causa doenças
específicas. Embora essas modificações sejam compatíveis com a vida, a doença se manifesta
em algum período, podendo muitas vezes levar ao óbito precoce ou à uma qualidade de vida
muio ruim. Os portadores desses genes “mutantes” podem transmiti-los a seus filhos, que
desenvolverão as mesmas manifestações no futuro. Como exemplo de doenças de origem
genética, ou seja, causadas pela manutenção de genes específicos, temos: a Fibrose Cística, a
Síndrome de Marfan, a Doença de Huntington, a Hemofilia A, entre outras.

2.4. TIPOS DE ABORTO

O aborto geralmente é dividido em dois tipos, aborto espontâneo e aborto induzido.


Outras classificações também são usadas, de acordo com o tempo de gestação por exemplo.

2.4.1. ABORTO ESPONTÂNEO OU NATURAL

Para Nucci (2010) aborto espontâneo, involuntário ou casual, é a interrupção da gravidez


oriunda de causas patológicas, que ocorre de maneira espontânea.

ABORTO ACIDENTAL

Nas preciosas palavras Teles (2006, p. 130)

O aborto acidental também pode ser chamado de ocasional ou circunstancial,


acontece quando inexiste qualquer propósito em interromper o ciclo
gravídico, geralmente provocado por um agente externo, como emoção
violenta, susto, queda, ocasionando traumatismo, não existindo acto culposo,
ou seja, negligência imprudência ou imperícia.

Neste sentido também discorre a respeito Belo (199, p. 21)

O aborto espontâneo e acidental, não são puníveis. No primeiro a interrupção


espontânea da garvidez, ocorrendo por exemplo, quando presente alguma
anormalidade no crescimento do feto, ou, uma doença infecciosa, ou ainda um
distúrbio glandular. O segundo o aborto acidental, ocorre com interferência
externa involuntária, como por exemplo a queda.

2.4.2. PRECEDENTES HISTÓRICOS DO ABORTO


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No que se refere aos precedentes históricos, a prática do aborto nem sempre foi
objecto de incriminação, sendo comum entre as civilizações hebraicas e gregas. Em Roma, a
lei das XII Tabuas e as leis da República não cuidavam do aborto, pois consideravam
produto da concepção como parte do corpo da gestante e não como ser autônomo, de modo
que a mulher que abortava nada mais fazia que dispor do próprio corpo. Em tempos
posteriores o aborto passou a ser considerado uma lesão do Direito do marido a prole sendo
sua prática castigada. Foi então com o cristianismo que o aborto passou a ser efectivamente
reprovado no meio social, tendo os imperadores Adriano, Constantino, e Teodósio,
reformado o direito e assimilado o aborto criminoso ao homicídio.

Já o autor Capez (2004, p. 108/9) cita que:

Na idade média o teólogo Santo Agostinho com base na doutrina de


Aristóteles considerava que o aborto seria crime apenas quando o feto
tivesse recebido alma, o que se julgava correr quarenta ou oitenta dias
após a concepção segundo se tratasse de varão ou mulher. Já são
Basílio, não admitia qualquer distinção, considerando o aborto sempre
criminoso.

No Velho Testamento, também, se pode considerar que as crianças são vistas como
uma bênção. A primeira bênção sobre o homem foi sagradas escrituras – Bíblia Sagrada.
Gênesis. 1, 28 “Crescei e multiplicai-vos, povoai e submetei a terra”.

Assim, a posição tradicional da igreja é repelir a prática do aborto, sendo, portanto


uma questão de grande repercursão, pois envolve questões religiosas, ou seja, crença de um
povo.

2.5. ABORTO EM ANGOLA

No actual Código Penal, o aborto é um crime previsto no artigo 154º e tem interesse
tutelado a vida intra-uterina (a vida do feto), a normalidade da formação da vida e o
nascimento.

Ao abrigo do Código Penal vigente no país, o aborto é punido com pena de prisão que vai
dos dois aos oito anos, salvo quando cometido para ocultar a desonra da mulher ou quando
esta decida abortar em virtude de relações sexuais forçadas.

De acordo com o Código Penal Angolano, “a licitude do aborto terapêutico resulta do


facto de haver conflito de interesses entre a vida da mãe e a do feto e, embora a vida humana

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seja igual, entende-se que a mãe, por ser autónoma e já ter forma acabada da vida humana,
deve ser privilegiada em detrimento da vida do feto”

A carta do Governo angolano para o Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas
responde a uma recomendação do para a revisão das leis do aborto em diversos países. Na
missiva, o Executivo revela: “Acolhemos bem a recomendação do Comité para rever a
legislação sobre o aborto no sentido de permitir que ele seja feito por razões terapêuticas e,
em caso de gravidez, resultante de estupro ou incesto” revela a carta.

O Código Penal refere no artigo 156º que a interrupção da gravidez não punível prevê a
possibilidade de aborto consentido pela mulher grávida nas mais varidas situações, nas
primeiras dez semanas de gravidez, em caso de risco de vida da mulher, nas primeiras 16
semanas, em caso de possibilidade de malformação ou doença de feto nas primeiras 24
semanas ou nos casos em que a gravidez tenha resultado de uma relação forçada.

2.6. ABORTO CRIMINOSO

Nas palavras de Bitencourt (2007) o aborto só é criminoso quando provocado, pois,


possui a finalidade de interromper a gravidez, e eliminar o produto da concepção, sendo
exercido sobre a gestante, ou sobre o próprio feto ou embrião.

Nas lições Diniz (2008, p. 36):

“a) Gravidez, período que abrange a fecundação do ovulo, com a constituição do ovo, até o
começo do processo de parto, devendo ser sua existência devidamente comprovada pelos
meios legais admissíveis.[...] não haverá tutela penal na gravidez molar, ante o
desenvolvimento anormal do ovo que provoca sua degeneração, causando a expulsão do
útero da “mola hidatifone” nem na gravidez extra-uterina, por ser um estado Patólogico. b)
dolo, isto é, intenção livre e consciente de interromper a gravidez, provocando a morte do
produto da concepção [...] c) emprego de técnicas abortivas[...] d) morte do concepto no
ventre materno ou logo após sua expulsão”.

Assim, para que exista o aborto criminoso é necessária a comprovação, da gravidez, do


dolo e da morte da concepção.

2.6.1. MODALIDADES DO ABORTO CRIMONOSO

O aborto provocado pela própria gestante (auto-aborto) de acordo com Capez (2004) é a
própria mulher que executa a acção material, ou seja, ela própria emprega os meios ou
manobra abortiva em sim mesma.

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Já Bitencourt (2007) esclarece que: a mulher apenas consente na prática abortiva, mais a
execução material do crime é feito por terceira pessoa, podendo, porém haver o concurso
material de pessoas.

Há de se concluir diante de tais afirmativas que quem pratica o auto aborto, ou até
mesmo, auxilia, induz ou colabora sem interferir deverá responder no mínimo pelo crime na
condição de participe.

No aborto consentido (art. 156, nº 1) a mulher apenas consente com a prática abortiva,
mas a execução material do crime é realizada por terceira pessoa (CAPEZ, 2004).

O aborto Provocado por Terceiro, com consentimento da gestante, ocorre quando o


agente obtém o consentimento valido da gestante e provoca a interrupção da gravidez
devendo responder pelo mesmo crime.

Cape (2004) cita que o Aborto provocado por Terceiro, sem consentimento da gestante
trata-se da forma mais gravosa do delito de aborto, pois neste caso não há o consentimento
da gestante no emprego dos meios ou manobras abortivas por terceiros, afinal a ausência de
consentimento da gestante.

2.6.2. ABORTO HUMANITÁRIO E O NECESSÁRIO

Assim bem conceitua Capez (2004, p. 124):

Trata-se do aborto realizado pelos médicos nos casos em que a gravidez decorreu de
um crime de estupro. O estado não pode obrigar a mulher a gerar um filho que é fruto de um
coito vagínico violento, dados os danos maiores, em especial psicológicos, que isso lhe pode
acarretar.

Nada justifica que se obrigue a mulher estuprada a aceitar uma maternidade odiosa,
que dê vida a um ser que lhe recordará perpetuamente o horrível episódio da violência
sofrida

Assim a excludente da ilicitude vai incidir, quando a gravidez for decorrente de estupro,
e quando a gestante consentir o aborto.

2.7. CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO

A condenação do aborto fundamenta-se numa apreciação moral, principalmente aquela


trazida pela religião em que se acredita num Deus criador. Depreende-se que há um direito
inalienável à vida. Nesse sentido, só Deus é senhor da vida. Assim, o ser humano não tem o
direito de tirar a vida do seu próximo.
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2.7.1. CONSEQUÊNCIAS FÍSICAS

A gravidade das complicações mórbidas que provêm do aborto, tendem a aumentar


com a duração da gravidez, por exemplo, um aborto no segundo trimestre de gestação é mais
perigoso que um no primeiro trimestre. Embora também possam ocorrer nos casos de
aborto espontâneo, as complicações são mais graves e mais frequentes quando o aborto é
provocado.

A hemorragia, nos casos de aborto espontâneo, raramente se espalha com


abundância. Já no aborto provocado, ela é mais intensa e pode até mesmo levar ao choque.
As infecções, apresentam-se relativamente raras e benignas no aborto espontâneo, mas
podem ser graves e mortais no aborto provocado.

O traumatismo mais perigoso associado ao aborto provocado, é a perfuração uterina,


que pode ocasionar peritonite e morte. O colo do útero também pode ser lesado durante a
prática do aborto e, mais raramente, outros órgãos como a bexiga e alças intestinais.

2.7.2. CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS

Além das possíveis consequências físicas, o aborto costuma provocar crises de


arrependimento e culpa, e reacções psiconeuróticas ou mesmo psicóticas graves.

A maioria das mulheres pratica o aborto em situações desesperadas de medo ou


insegurança. Depois disso, muitas deixam de se cuidar e, sem apoio psicológico para lidar
com os seus sentimentos, acabam por engravidar de novo.

Por mais liberta que a mulher esteja dos padrões morais e religiosos, por mais
consciente da impossibilidade de levar a termo a sua gestação, ou por mais indesejada que
tenha sido a gravidez, abortar é uma decisão que, na maioria das vezes, envolve medo e
angústia. Estes sentimentos aumentam quando o aborto é realizado em clínicas clandestinas.

2.8. SOLUÇÃO PARA O PROBLEMA


1. Criar centros de ajuda, atenção e assessoria nas comunidades, que impulsionem a
resolução efectiva dos conflitos mediante uma política de ajudas sociais para a
mulher, especialmente em casos de gravidez indesejada;
2. Criar comissões centralizadas e interdisciplinares, que adotem a decisão final sobre
admitir ou negar o recurso ao aborto nos casos descriminados, levando em
consideração os certificados oferecidos pelos especialistas;

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3. Permitir a objecção de consciência colectiva e da equipa envolvida na prática do
aborto. Estabelecer como único requisito para notificar a objecção de consciência a
comunicação oral ao responsãvel do centro, com o fim de preservar a
confidencialidade;
4. Concretizar e pormenorizar as medidas de apoio à mulher grávida, incluindo novas
prestações sociais e trabalhistas;
5. Promover a inspecção e os controles das clínicas onde se realizam os abortos, para
evitar abusos e a violação dos casos previstos por lei.
6. Unificar a informação de todos os profissionais sobre o desenvolvimento fetal os
possíveis riscos e sequelas do aborto, impulsionando a protocolação da informação,
com a colaboração dos colégios de médicos e suas comissões deontologicas;
7. Abordar programas específicos de ajuda à adolescente grávida para enfrentar os
problemas particulares que este grupo especialmente vulnerável pode ter;
8. Indicar e facilitar a atenção preferencial nos centros de referência em tratamento
intrauterino para os casos pertinentes;

3. CONCLUSÃO
Conforme, esta modesta concepção, afirma-se que o aborto, fora dos casos legais, fere o
principal direito fundamental garantido a todos os cidadãos (a vida, além é claro do princípio
da dignidade da pessoa humana).
Meu posicionamento é desfavorável ao aborto, visto que as pessoas devem ter em mente
que é necessário um planeamento familiar para que haja a diminuição do aborto, pois existem
diversos métodos contraceptivos para evitar a gravidez: pílulas, implantes injectáveis,
dispositivos intra-uterinos, preservativos, além dos naturais, que as pessoas devem tomar
conhecimento e saber que eles existem, pois hoje há uma série de problemas, que vão desde
as dificuldades de sobrevivência da família, em um meio globalizado, e uma desenfreada
urbanização, até a carência de programas educativos e de planeamento reprodutivo, além da
alta do custo de vida, entre outros.
É nesses problemas, que reside o medo de que essas mulheres procurem o aborto como
forma de terminar a gravidez indesejada, impossível de ser concluída, devido à precariedade
de sua situação pessoal de suas condições de vida. Outro problema reside entre os
adolescentes, que apresentam um início de vida sexual mais precoce, não visualisando as
consequências dos seus actos e sofrendo com os mesmos.
Diante da gama de aspectos que envolvem não somente questões de natureza políticas,
sociais e éticas, mas também, as questões sócio-economicas, psicologica e, sobretudo de saúde
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pública, colocando o aborto como um problema cuja existência não pode ser ignorada, na
actualidade, exigindo uma ampla discussão social e novas legislações para o tema.
Perecebe-se que o aborto é praticado em Angola, tanto nas populações carentes como nas
financeiramente abastadas, em meio às condições de higiene ou não, em adolescente e em
mulheres maduras. Para esse problema ser amenizado é necessário uma solução urgente,
buscando novas directrizes, para uma política social e de saúde, que atenda as necessidades
da sociedade, abrindo espaço para o planeamento familiar, a saúde reprodutiva, o controle de
natalidade, a qualidade de assistência à mulher, a qualidade de vida da população, a falta de
esclarecimento e a, polêmica questão, da liberdade da mulher, em relação ao seu próprio
corpo.
A gravidez é algo sagrado, o milagre da vida é uma dádiva somente da mulher, e ainda
assim não lhe da o direito de interrompê-la.

12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


BELO, Warley Rodrigues. Aborto

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