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INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA – ISTA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS


CURSO DE DIREITO

FILOSOFIA DO DIREITO

VIANA-LUANDA
2023
INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO DE ANGOLA – ISTA
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS
CURSO DE DIREITO

FILOSOFIA DO DIREITO

DOCENTE: PROF. LIC. EDUARDO MACUÉRIA

VIANA-LUANDA
2023
RELAÇÃO NOMINAL DOS INTEGRANTES DO GRUPO Nº 9

1. MARIA ANGELICA DA COSTA


2. MARIANA ISABEL JUSTU DAMIÃO
3. MATEUS JOSÉ ANTÓNIO
4. MIGUEL NSINGUI FERNANDO NGUDICAMA
5. NELSON FRANCISCO CACOLA
6. NILTON LOURENÇO CRISTÓVÃO
7. PAULO CHAVES CAIANDA
8. PAULO FAUSTINO QUETA HEBO

DEDICATÓRIA

Tendo em conta as dificuldades enfrentadas nos dias actuais e porque não tem sido fácil o processo de
ansino e aprendizagem no nosso país e depois de grandes desafios, certamente chega um alívio que
podemos dizer que ainda não é a meta, mas sim a visão de um longo percurso cheio de surpresas. Por
todo este esforço dedicamos este trabalho antes;
Ao Criador, Deus Pai todo Poderoso

Aos nossos pais que sempre acreditaram em nós.

Aos nossos esposos (as), pelos dias e noites aturadas sem a nossa presença e atenção.

Aos nossos queridos irmãos, amigos e familiares.


AGRADECIMENTOS

As nossas palavras de apreço vão em primeira instância para Deus o nosso criador e a razão da nossa
existência, as nossas famílias, que nos têm ajudado a custear as despesas dos nossos estudos.

Aos nossos colegas que nos forneceram sugestões valiosas durante o processo de elaboração deste
trabalho.

Os nossos agradecimentos especial vai também aos Professores que com os seus ensinamentos nos
ajudam na descoberta de um novo mundo, que por falta de bases, muitas são as dificuldades de acha-
lo, aquando da sua procura.

E finalmente vão também os nossos agradecimentos a Direção do Instituto Superior Técnico de Angola
(ISTA) que com uma grande visão procuram sempre dedicar-se as causas nobres. Por outra a
colaboração dos Professores e em particular nosso professor da cadeira de Filosofia do Direito.
Professor Eduardo Macuéria…..
RESUMO

De grande repercussão no meio jurídico, a teoria tridimensional do direito, do notável jus filósofo
brasileiro Miguel Reale, compreende o direito como produto de três elementos: fato, valor e norma. Na
percepção do jurista, estas três dimensões são de tal importância para o fenômeno jurídico que não
podem ser contempladas de modo individual, como feito por algumas teorias monistas. Nessa senda, o
presente trabalho tem como objectivo explicar como acontece a integração entre esses três elementos
constitutivos do Direito na óptica de Reale.

Palavras-chaves: facto, valor e norma.


ABSTRACT

Of great repercussion in the legal field, the three-dimensional theory of law, by the notable
Brazilian philosopher jus Miguel Reale, understands law as a product of three elements: fact, value and
norm. In the jurist's perception, these three dimensions are of such importance to the legal phenomenon
that they cannot be contemplated individually, as done by some monist theories. In this vein, the present
work aims to explain how the integration between these three constitutive elements of Law in Reale's
perspective takes place.

Keywords: fact, value and norm.


SUMÁRIO
1.

INTRODUÇÃO…………………………………………………………….…………..………….........……….9
1.1. Problematização ………………………………………………………………………………..…........….10
1.2. Objectivo Geral ……….…………………………………………………………………………........…….10
1.3. Objectivos Específicos …………….………………………………………………………….............…..10
1.4 Hipotése……………………………………………………………………………………….......………….10
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA……………………...................................................................……….11
3. REALIDADES HISTÓRICA-CULTURAL TRIDIMENSIONAL…................................................................12
4. TRIDIMENSIONALISMO GENÉRICO E DINÂMICO.... ……………….………………………………….12
5. ELENCAMENTO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO SEGUNDO REALE ………..13
6. TEORIAS TRIDIMENSIONALISTAS PRECURSORAS À DE REALE E TEORIAS REDUCIONISTAS............13
7. TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO DE MIGUEL REALE …………………………....……………………..16
15. CONCLUSÃO ………………………………………………….……………………………….......……….17
16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ……………………………….……………………………….................……18
1. INTRODUÇÃO

Teoria Tridimensional do Direito é uma concepção de Direito, conhecida e elaborada pelo jus


filósofo brasileiro Miguel Reale, que surgiu ao inscrever-se que o direito positivo e o jurisdicional
deixavam o direito apenas como algo parcial, incompleto e, portanto, ineficiente. Não é viável ver o
direito simplesmente como uma norma e, por esse motivo surgiu a teoria, segundo a qual existem três
aspectos que formam o direito, aspectos estes que estão sempre se relacionando, tão unidos que não
podem ser separados.
Miguel Reale não foi o primeiro filósofo a postular uma teoria tríplice, uma vez que autores como
Emil Lask, Gustav Radbruch, Roscoe Pound Wilhelm Sauer e Werner Goldschmidt já tinham, em suas
obras, abordado, ainda que de forma superficial, a tridimensionalidade jurídica.
À época de sua divulgação, tratou-se de uma forma absolutamente revolucionária e inovadora de
se abordar as questões da ciência jurídica, tendo esse pensamento arregimentado adeptos e
simpatizantes em todo o universo do Direito.
Miguel Reale buscou, através desta teoria, unificar três concepções unilaterais do direito:
O sociologismo jurídico, associado aos fatos e à eficácia do Direito;
O moralismo jurídico, associado aos valores e aos fundamentos do Direito; e
O normativismo abstracto, associado às normas e à mera vigência do Direito.
De forma especial e sucinta, objectivar-se-á aqui, analisar a Teoria Tridimensional do Direito
formulada pelo jus filósofo brasileiro Miguel Reale, de modo a apresentar suas características e
particularidades.

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A Teoria Tridimensional do Direito
1.1. Problematização
O direito é um conjunto de normas jurídicas que visam regular a convivência em sociedade. O
Direito, segundo Reale, é produto da correlação entre facto, valor e norma. Mas de que forma se chega
a essa conclusão?

1.2. Objectivo geral


Compreender o verdadeiro sentido das três dimensões do Direito segundo o jurista Brasileiro
Miguel Reale

1.3. Objectivos específicos


 Compreender o facto;
 Compreender o valor;
 Compreender a nomra;

1.4. Hipótese
Apresentamos como solução ao problema levantado, o estudo feito pelo jusfilósofo Brasileiro e
fundador desta teoria, o professor Miguel Reale.

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A Teoria Tridimensional do Direito
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo a teoria tridimensional, o Direito se compõe da conjugação harmónica dos três


aspectos básicos e primordiais:
O aspecto fáctico  (facto) ou seja, o seu nicho social e histórico;
O aspecto axiológico  (valor) ou seja, os valores buscados pela sociedade, como a Justiça; e
O aspecto normativo  (norma) ou seja, o aspecto de ordenamento do Direito.
A conjugação proposta por Reale pressupõe uma constante comunicação entre o primeiro e o
segundo aspecto, que origina e também se relaciona com o terceiro. Esta comunicação é denominada
pelo próprio autor como a "dialéctica de implicação-polaridade", ou "dialéctica de
complementariedade". Essa dialéctica consiste na percepção de que fatos e valores estão
constantemente relacionados na sociedade de maneira irredutível (polaridade) e de mútua
dependência (implicação).
Onde quer que haja um fenômeno jurídico, há, sempre e necessariamente, um fato subjacente
(facto económico, geográfico, demográfico, de ordem técnica etc.); um valor, que confere determinada
significação a esse fato, inclinando ou determinando a acção dos homens no sentido de atingir ou
preservar certa finalidade ou objectivo; e, finalmente, uma regra ou norma, que representa a relação ou
medida que integra um daqueles elementos ao outro, o fato ao valor. Tais elementos ou factores ( fato,
valor e norma) não existem separados um dos outros mas coexistem numa unidade concreta, e não só
exigem reciprocidade, mas atuam como elos de um processo de tal modo que a vida do direito resulta
na interacção dinâmica e dialéctica dos três elementos que a integram.
Vejamos análise da estrutura de uma norma ou regra jurídica de conduta, para exemplificar o
caso utilizado pelo próprio autor:
Na legislação sobre títulos de crédito, há previsão para o pagamento de uma letra de
câmbio na data de seu vencimento, caso contrário, ela estará sujeita a protesto e consequente a
cobrança do título pelo credor. Nesse caso podemos identificar que a norma de direito cambial
representa uma disposição legal que se baseia num fato de ordem económica (o fato de, na época
moderna, as necessidades do comércio terem exigido formas adequadas de relação) e que visa
assegurar um valor, o valor do crédito, a vantagem de um pronto pagamento com base no que é
formalmente declarado na letra de câmbio. Como se vê, um fato económico liga-se a um valor de
garantia para se expressar através de uma norma legal que atende às relações que devem existir entre
aqueles dois elementos. Como consequência desta teoria, Reale implica seus reflexos na actividade do
jurisperito: a análise por parte de advogados e juízes do Direito não deve se manter presa a somente

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A Teoria Tridimensional do Direito
uma, ou mesmo duas destas dimensões, devendo estar constantemente vinculada à interpretação do
sistema tridimensional como um todo.

3. REALIDADE HISTÓRICO-CULTURAL TRIDIMENSIONAL

O autor também definiu o Direito como "realidade histórico-cultural tridimensional", ordenada de


forma bilateral atributiva, seguindo valores de convivência. O Direito é fenômeno histórico, mas não se
acha inteiramente condicionado pela história, pois apresenta uma constante axiológica. O Direito é uma
realidade cultural, porque é o resultado da experiência do homem. A bilateralidade é essencial ao
Direito. A bilateralidade-atributiva é específica do fenômeno jurídico, uma vez que apenas ele confere a
possibilidade de se exigir um comportamento.

4. TRIDIMENSIONALISMO GENÉRICO E DINÂMICO

Superado o estágio inicial de percepção da existência e da importância da integração dos três


aspectos acima apontados em oposição às visões monistas que falham em considerar ou valores,
originando numa alienação à Filosofia e a qualquer tipo de análise não-fática do Direito ou à ignorância
contextual provocada pela anti-historicidade do monopólio do valor, Reale propõem ainda uma
diferenciação interna à Teoria Tridimensional.
Afirma que ao passar pela simples harmonização do sociologismo, moralismo e normativismo
jurídicos, chegamos à chamada tridimensionalidade genérica do Direito  que, apesar de levar em conta
de maneira sistemática mais aspectos do que outras teorias, ainda falha em analisar a correlação
essencial entre estes elementos primordiais.
Surge então a proposta da tridimensionalidade específica e dinâmica , teoria que, a partir da
tridimensionalidade genérica, analisa o conceito de valor, reconhecendo seu papel de elemento
constitutivo da experiência ética e a implicação constante entre valor e história.
Desta forma, afirma a inserção do valor na realidade fática de maneira dinâmica - que todo o valor
implica na tomada de determinada posição, seja ela positiva ou negativa, da qual resulta uma noção de
dever ou não-dever. Esta dicotomia ocorre ao determinar, através dos juízos de valor inerentes ao ser
humano, uma realidade ideal ou um dever ser em oposição à realidade ou é. Esta distinção permite
que, no plano normativo, a sociedade possa inserir um fim no ordenamento social, uma forma de
alcançar os objectivos valorizados pela sociedade em harmonia ou oposição à realidade fática..

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A Teoria Tridimensional do Direito
Esta composição, integrada pela simples humanidade dos fatos históricos ao aspecto histórico
do direito e à norma por ser esta uma cristalização da vontade composta da percepção histórica e da
valoração dos juízos de valor humanos, é o cerne da Teoria Tridimensional Dinâmica de Miguel Reale.

5. ELENCAMENTO DOS ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO DIREITO SEGUNDO


REALE

Realizando uma análise histórica, Miguel Reale conjectura que o homem viveu inicialmente o
direito de forma empírica, na forma de fato social, sempre envolto de misticidade e religiosidade, pois o
facto jurídico, assim como o social, foi intrínseco ao viver do homem na sociedade. Ou seja,
inicialmente, não havia uma concretude jurídica suficiente para desenvolver uma ciência.
Porém, quando o facto passa a possuir significado no plano da consciência, este se torna um
momento decisivo, diz Reale. Surge, dessa forma, o valor, que é resultado do contacto humano com a
ordem social. Porém, inicialmente, o homem não considerava os valores como produções próprias,
mas os viu como dádivas divinas. Assim ocorreu na Grécia, onde o sentimento de justiça que foi
paulatinamente fomentado no âmago dos cidadãos helénicos, foi externado e atribuído a divindades
como Themis e Diké. Assim, os valores eram projectados para fora do indivíduo e em seguida
transformados em entidades.
Apesar de ter vivenciado o problema da justiça, a investigação do Direito como facto só ocorreu
na época moderna, com os estudos de Maquiavel, Jean Bodin, Thomas Hobbes, Montesquieu, e
sobretudo, com o trabalho de sociólogos e históricos dos séculos XIX e XX (REALE, 2002).
A civilização romana contribui com a acepção do direito enquanto norma ou como  lex, explica
Reale em Filosofia do Direito: “A importância do Direito Romano vem daí, de ter tomado contacto com o
Direito como regra e de ter formulado a possibilidade de uma Ciência do Direito como  ordem
normativa”. Esta ciência seria a Jurisprudência, que não se limita ao simples estudo dos valores da
justiça, mas aos frutos que a humanidade colheu da Justiça. Dessa forma, a norma surge como um
elemento que materializa, na forma da lei, o facto e os valores.

6. TEORIAS TRIDIMENSIONALISTAS PRECURSORAS À DE REALE E TEORIAS


REDUCIONISTAS

Antes de Miguel Reale formular a Teoria Tridimensional do Direito, houve algumas teorias, que
de forma explícita ou implícita, concebiam o direito também por uma óptica tridimensionalista. Estas se
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A Teoria Tridimensional do Direito
dividiam em dois grupos, quais sejam, o Tridimensionalismo Abstracto ou Genérico e
Tridimensionalismo Específico.
Nestas teorias, o tripé fato-valor-norma não foi concebido como objecto de correlação, logo foi
comum os teóricos contemplarem um ou outro factor, reduzindo o direito a um dos três elementos. São
as Teorias Reducionistas ou Monistas. Desta forma, faz-se mister uma prévia análise destas teorias
para depois buscar um contexto mais amplos nas teorias Tridimensionalistas.
Ao reduzir o estudo do direito unicamente ao campo do facto, tem-se o Sociologismo Jurídico, assim
definido por Reale:
Sob a rubrica de sociologismo jurídico [...] reunimos todas as teorias que consideram o Direito
sob o prisma predominante, quando não exclusivo, do fato social, apresentando-o como simples
componente dos fenómenos sociais e susceptível de ser estudado segundo nexos de causalidade não
diversos dos que ordenam os fatos do mundo físico (REALE, 2002, p. 434).
Este foi um movimento surgido no século XIX, após a criação da Sociologia, que priorizava o
estudo do direito como um conjunto de factos sociais, utilizando assim uma abordagem indutiva e
causal. Priorizava-se a efectividade como atributo normativo, ou seja, a dimensão fáctica da
experiência jurídica, o direito tal como ele é e não como deve ser no mundo abstracto das regras
jurídicas; isto é, tem-se como objecto o “ser” e não o “dever ser” do direito. Nega que o direito nasce de
forma monística pelo Estado, mas sim de forma plural pelo conjunto da sociedade.
Porém, quando ao contrário do facto, o enfoque é o valor, há o Moralismo Jurídico. Reale
(2002) define como moralistas os juristas que não aceitam a juridicidade indiferente à licitude,
vinculando de forma absoluta o Direito à Moral. Eles se aproximam dos normativistas lógicos ao
entender o direito como expressão do dever ser, que é resultado dos fins aos quais o homem se
propõe devendo resistir aos fatos, porém se distanciam destes por não aceitarem uma norma que não
positive a licitude da conduta exigida, o que seria uma norma vazia.
Ao dispor o foco do estudo jurídico, tão-somente ao campo da norma, tem-se o Normativismo
Lógico, legado de Kelsen para o mundo jurídico do século XX. Esta doutrina está inserida no
positivismo, definido por Norberto Bobbio “como um conjunto de factos, de fenómenos ou de dados
sociais em tudo análogos àqueles do mundo natural”. Portanto, no Normativismo, a norma positivada é
um sentido final do dever ser. A Teoria Pura do Direito, de Kelsen, é uma teoria do direito positivo que
afasta todos os objectos meta jurídicos, ou seja, que não podem ser apreciados pela jurisprudência. De
tal forma, em uma segunda fase do pensamento kelsiano, ele também passa a ver o direito sob uma
visão mais pragmática, como demonstra Miguel Reale:
O certo é que Kelsen deixa de considerar o Direito apenas como sistema de normas
logicamente escalonadas, para examiná-lo também em sua aplicação prática: o seu estudo, por tais
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A Teoria Tridimensional do Direito
motivos, embebe-se de preocupação social e histórica, perfilando-se o facto ao lado da norma, pelo
menos em termos de possível conversão pragmática da vigência das normas de Direito na eficácia do
comportamento dos consociados aos quais ela se refere (REALE, 2002, p. 473).
O Tridimensionalismo Abstracto ou Genérico procura equiponderar os frutos do sociologismo
jurídico, do moralismo jurídico e do normativismo jurídico. Logo, não estabelece uma relação inicial
entre as três para realizar a actividade jurídica, mas estabelece uma relação final decorrente dos
resultados alcançados por cada modalidade de modo independente. Seus principais autores
são Emil Lask, Frederico Münch e Gustav Radruch
Emil Lask procurar superar a contraposição da valoração e do fato por intermédio cultural,
incluindo nela o Direito. Também segundo o mesmo autor a filosofia jurídica deve precaver-se com o
historicismo e com o jus naturalismo, pois, segundo ele, o direito natural visa extrair do valor o seu
conteúdo empírico, e o historicismo pretende extrair do conteúdo empírico o absoluto do valor (REALE,
2002).
Gustav Radbruch reapresenta a diferença entre realidade e valor, entre ser e dever ser, porém
acrescenta que não pode substituir a antítese entre os domínios. Porém, segundo ele, é necessário dar
um lugar à categoria da cultura. Expõe, desse modo, a tridimensionalidade como característica
fundamental do culturalismo jurídico. Nessa senda, ele determina três maneiras pela qual o Direito
pode ser encarado. Assim explica Reale:
Gustav Radbruch procura determinar as três maneiras por que podemos encarar o Direito. A
atitude da Ciência do Direito é a que refere as realidades jurídicas a valores, considerando o Direito
como facto cultural; a atitude da Filosofia do Direito é valorativa (bewertend), visto como considera o
Direito como um valor de cultura; havendo uma terceira atitude, superadora dos
valores (wertüberwindend) que considera o Direito na sua essência, ou como não dotado de essência:
é a atitude ou o tema da Filosofia religiosa do Direito (REALE, 2002, p. 521).
Na concepção de Frederico Münch, o Direito é visto como realidade concreta, sendo sem
fundamento qualquer distinção entre facto e valor. "o Direito é conhecido, concebido e realizado
enquanto válido, e não pode ser conhecido, nem compreendido senão como Direito vigente".
Porém, quando se faz um estudo prévio da correlação existente entre os elementos constitutivos do
direito que são apreciados de forma isolado nas correntes mencionadas acima, tem-se a
tridimensionalidade específica. Segundo Reale (2002), a teoria tridimensional só se completa quando
se afirma a interdependência dos elementos que fazem do direito um estrutura social axiológico-
normativa. Partindo dessa premissa, Miguel Reale desenvolveu sua teoria.

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A Teoria Tridimensional do Direito
7. TEORIA TRIDIMENSIONAL DO DIREITO DE MIGUEL REALE

As teorias tridimensionais abstractas, apesar de criticarem as teorias monistas, pecaram ao


não combinar o tripé fato-valor-norma, e quando se propuseram para tal, o fizeram sob diferentes
perspectivas.
Ao perceber esse erro, Miguel Reale afirma que há no direito três elementos, dimensões
imprescindíveis: o facto, o valor e a norma. Estes estão correlacionados, de forma a criar uma
interdependência entre estes três factores na experiência jurídica, devendo então, ser analisado de
forma dialéctica
O facto pode ser considerado como uma realidade objectiva que influencia a conduta humana.
O fato, no mundo jurídico, revela uma particularidade em cada momento no processo do direito. O valor
indica a parte do direito que está relacionada com a moral. Reale parte da constatação de que toda
actividade humana é embebida de valores, logo, da mesma forma se daria no direito. A normal consiste
no ordenamento que regula a conduta humana na sociedade. Conclui Reale, então, que o direito reuni
os três elementos, formando um ordenamento jurídico de factos determinados por valores.
Entretanto, não há uma simples relação entre as três dimensões, há uma correlação funcional e
dialéctica. Ou seja, Reale afirma que há uma implicação mútua e recíproca dos três elementos, o que
ele chama de dialéctica de implicação.
Em resumo, segundo a Teoria Tridimensional do Direito, o Direito é uma relação conjunta de
três aspectos: o aspecto fático, o aspecto axiológico e o aspecto normativo. Vale lembrar que facto,
valor e norma não existem, na experiência jurídica, de modo isolado.
Explicada a tridimensionalidade de Reale, vale ressalva observar de que modo esta teoria influencia na
monogénese.
A monogénese jurídica é o acto de criação de uma norma jurídica. Nesse procedimento, as três
dimensões de Reale estão em constante interacção. Segundo à monogénese, o ordenamento jurídico
não resulta exclusivamente dos factos, haja visto que são influenciados axiologicamente pela
sociedade, logo, todo facto está intrínseco a valores. Nessa senda, o poder escolhe um destes valores
para compor a norma jurídica. Este poder pode ter validade constitucional, ao ser proveniente de uma
norma legal, ou pode ser originado pela própria sociedade. Porém, vale lembrar que esta teoria só
surgiu quando se observou a relação de interdependência entre fato, valor e norma.

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A Teoria Tridimensional do Direito
8. CONCLUSÃO
O tridimensionalismo de Miguel Reale é de grande importância para o entendimento do
fenómeno jurídico. A teoria elaborada demonstra que os juristas não devem se ater somente ao campo
das normas, mas devem observar o facto e o valor como elementos constitutivos do Direito.
Desse modo, os vários direccionamentos axiológicos, actuantes em uma mesma realidade
fáctica, contribuem para uma experiência jurídica diversificada e atenuante.

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A Teoria Tridimensional do Direito
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ACADEMIA Brasileira de Letras. Miguel Reale. 2016.


REALE, Miguel. Teoria Tridimensional do Direito. 5ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2003
REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 20ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012.
REALE, Miguel. O direito como experiência. 2ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1992.
BiNDER, La Fondazione della Scienza dei Diritto, p. 154

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A Teoria Tridimensional do Direito

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