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UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO- UFMA
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CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS
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NÍVEL: MESTRADO
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DOCENTE: DORVAL DO NASCIMENTO CARGA HORÁRIA: 60hs
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HISTÓRIA INTELECTUAL E
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LITERATURA
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UMA DISCUSSÃO SOBRE O ESPAÇO RELIGIOSO
CAXIENSE A PARTIR DA IMPRENSA CATÓLICA
NAS DÉCADAS DE 1930 A 1950
iopasdfghjklzxcvbnmqwertyuiopasdfg 4/1/2012
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Verbetes
1. História intelectual
Campo de investigação que tem como objeto o contexto de produção de idéias, das
correntes de pensamentos, dos agentes sócio-profissionais. Visa dois pólos de análises:
de um lado, a compreensão do funcionamento de uma sociedade intelectual, ou seja,
suas práticas, seus modos de agir, seus mecanismos de legitimação, de outro lado, busca
perceber as características de um movimento histórico e conjuntural que impõe formas
de percepção e apreciação de uma produção cultural seja uma obra literária, científica
pictórica etc. Para o historiador Roger Chartier (2002), o conceito mais aceitável e
menos problemático de história intelectual, seria aquele pensado por Schorske, que
busca delimitá-la como o sub-campo da história que tem por objetivo a compreensão de
uma obra( seja ela literária, artística etc) e de um “autor” na intersecção de uma
temporalidade diacrônica, ou seja, relacionando a obra, o texto, o sistema de
pensamento com a produção que lhe antecedeu num mesmo ramo de produção cultural,
bem como em uma relação temporal sincrônica, no qual o historiador estabelece uma
relação entre esse produto ou artefato em relação as produções de outras na mesma
época no qual o objeto é produzido.
2. Intelectual
Jean François Sirinelli (2010) refere-se a duas acepções de intelectual, uma de caráter
sócio-cultural, sendo este o indivíduo criador e mediador cultural e a outra de caráter
mais restrito, baseado na noção de engajamento como ator nas questões político-sociais.
3. Estruturas de sociabilidades
4. Campo
1
Assim sendo, De acordo ainda com autora, o fenômeno definido como secularização da sociedade é
bastante questionável pelos estudos que se debruçam sobre o fenômeno religioso contemporâneo. O
que há segundo está, é uma nova configuração das crenças e práticas e maneiras novas de produção de
sentido da vivência religiosa que não se referem diretamente ao sentido do religioso veiculado pelos
grandes dogmas institucionais.
Bourdieu (2009), chega afirmar na sua análise da sobre a constituição do
campo religioso, que a religião contribui para a imposição dos sistemas de percepção e
apreciação do mundo, de maneira tal, que a estrutura objetivamente fundada na no
espaço de relações sociais, e por conseguinte, política, apresente-se como uma
estruturação natural da ordem cósmica. Neste sentido, Bourdieu tenta mostrar a
necessidade de procurar compreender e identificar a gênese dos processos de percepção
e apreciação do mundo, do qual o pensamento religioso é uma parte importante,
relacionando-a diretamente as estruturas sociais, que são objetivadas na posição em que
o sujeito se encontra nesse espaço. Neste sentido, no campo, como em todo espaço
social, há uma correlação de forças entres os sujeitos/agentes a partir da posição em que
se encontram. O que parece ser a idéia mais original de Bourdieu é demonstrar que
num espaço definido mais ou menos como um campo - artístico, literário, religioso,
etc-, as lutas tem um caráter específico e se dão em torno de um bem ou capital legítimo
ou seja, específico ao campo, e na conservação ou redefinição deste capital. Neste
sentido, nem todos os sujeitos ou agentes que se encontra no campo possui o capital na
mesma proporção.
De fato, segundo José Oscar Beozzo (1984), os primeiros trinta anos pós-
proclamação da República foi profundamente problemático para a Igreja, pois esta
perde progressivamente sua influência, baseado na delegação implícita aos senhores de
escravos, que impunha à sua escravaria a religião católica fazendo-a batizar e participar
vez por outro lado, das missas e das festas religiosas. Isto só foi possível, porque com o
advento da República, a Igreja Católica perde seu sustentáculo na esfera política, as
velhas oligarquias do café, que agora se vêem despojadas dos principais postos
burocráticos da esfera estatal pelas novas oligarquias dependentes nascidas da nova
articulação com o capitalismo, quer seja no campo, quer seja na cidade.
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Apesar da importância do estudo das trajetórias dos agentes nos trabalhos que tomam como esquema
analítico as reflexões de Bourdieu (2009) sobre a constituição dos campos, nesta análise, não
ofereceremos nenhum dado sobre as figuras que estavam diretamente relacionadas ao espaço católico
no período, pois a pesquisa encontra-se na fase de levantamento de dados, detendo-se assim na
dinâmica interna do referido espaço através dos discursos proferidos na imprensa periódica.
imperial, como o liberalismo e anarquismo, outras como as idéias socialistas e
anarquistas configura-se como um fenômeno típico dessa atual conjuntura.
Entretanto, não era só a Igreja Católica, que fora pega de surpresa com os
rumos do mais novo regime, a camadas populares, e dentro destas, aqueles setores mais
marginalizados também se viam extremamente excluídas das ações políticas da
República, é nesse sentido que podemos compreender as revoltas contra a nova ordem
tanto no campo como na cidade. Contudo, se a Igreja, se via alijada das esferas mais
decisórias da vida pública, nem por isso tentara um apoio nas camadas populares, ao
contrário, desde cedo tentou demonstrar seu afastamento dos anseios dos despossuídos
colocando-os sob o signo de fanatismos. Afastamento dos seios das elites e uma não
identificação com as aspirações das camadas mais populares a reorganização do
pensamento católico, a reorientação da Igreja Católica, se deu no sentido de uma
reorganização da sua estrutura organizacional e de um apelo à autoridade e a tradição.
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Este processo de europeização da Igreja ficou conhecido como ultramontanismo e significou um maior
enrijecimento da doutrina católica, pelo centralismo institucional em Roma e por uma recusa de contato
com o mundo moderno.
pois apesar das especificidades, os fenômenos típicos elencados pela historiografia da
Igreja reproduzem-se na maioria das falas e documentos do episcopado local.
Os tempos atuais estão bem definidos. Quem não é católico bom, é católico
inimigo. A síntese moderna, não quer saber de Deus, da família, da religião,
das boas obras. Os credos filosóficos ou não, culto e não cultos, semi-
católicos fazem campanha cerrada, aberta ou simulada ao católico. Somente a
Igreja é que repele e regeita a todos. Um só credo, um só mandamento, uma
só fé, um só batismo, como um só Deus, um só Cristo. [..]
Os anti católicos vivem pois de braços dados com os ateus, sem virtudes, sem
família, sem propriedade sem direito á vida. Os maus são destruidores da
sociedade familiar pela derrocada dos bons costumes (CRUZEIRO, 1946,
p.8)
Esta ótica permite pensar esta análise por duas vertentes, a primeira,
pensando a Igreja como uma instituição que se incumbia da produção, manipulação e
conservação dos bens religiosos e que por tal condição que buscava a constituição de
um corpus de especialistas socialmente reconhecidos como produtores, manipuladores e
guardiães legítimo dos bens de salvação. Por outro lado, esse corpus de especialistas
situados em um espaço que podemos chamar de atuação católica está em constante luta
pela monopolização da produção concernente a esfera religiosa. “Sem embargo, o
campo religioso se divide entre especialistas e leigos e, dentre os primeiros, entre
sacerdotes (burocraticamente designados para exercer suas funções institucionais) e os
bruxos e profetas, que oferecem seus serviços fora da instituição eclesial”. (NERIS,
2008, p.9)
A A.C é uma doutrina, acima de tudo. É uma doutrina posta em contacto com
a vida real, quotidiana do christão. É o cristianismo vivido, realizado. A A.C
é uma revalorização dos prinicipios evangélicos em toda a vida, na vida
inteirinha do christão. E não é só um revalorização individual dos princípios
christãos, mas uma revalorização social dos mesmos. É uma christianização
não só dos individuos, mas também dos vários meios ou ambientes sociaes.
Isto porque é utópico pensar em christianizar totalmente os homens, sem
christianizar os meios em que elle vivem, se movem e trabalham
(CRUZEIRO,1936 ,p.1)
A Ação Católica é uma instituição mundial e, por isso tem um campo vasto
de trabalho espiritual e de atuação moral em todas as regiões do mundo
cristão.
4
Silva (2008) na sua pesquisa sobre as relações entre o protestantismo e o catolicismo na década de 50,
identifica a existência de um seminário para formação de padres, localizado na Praça Vespasiano Ramos,
no centro da cidade. Com relação ao sistema educacional, é notório a influencia do catolicismo. A
considerada ainda hoje, melhor escola da cidade, escola São José, foi fundada por irmãs capuchinhas.
catolicismo. Com relação aos outros credos, houve um combate intenso através da
imprensa e dos órgãos de comunicação locais como as estações de rádio e debates
públicos nas praças principalmente entre católicos e protestantes. (Silva, 2008), refere-
se a existência de dois jornais na cidade quando da chegada do primeiro grupo de
presbiteriano na cidade, segundo este, esses periódicos –a Gazeta caxiense e Jornal de
Caxias- alinhava-se respectivamente ao pensamento católico e as concepções calvinistas
sendo um dos meios pelo qual esse debate era travado. No Cruzeiro, jornal católico de
circulação posterior, encontramos inúmeros indícios dessa tentativa de afirmação do
catolicismo como religião oficial da sociedade local, frente a uma a parcela da
sociedade adepta ao protestantismo bem como a elevação da Igreja a portadora do
conhecimento sobre os desígnios de Deus e sobre o verdadeiro caminho para salvação
do indivíduo, diante de um pluralismo de concepções religiosas cada vez mais evidente.
Num artigo intitulado exige o nosso senhor a confissão católica ou a confusão geral
protestante? Um articulista tece as seguintes considerações
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Segundo silva (2005), os protestantes a partir do fim do século XIX, passaram a utilizar a imprensa
como meio de divulgar suas concepções religiosas, bem como para rebater as críticas por parte da Igreja
Católica e dos contrários a sua presença na cidade. Silva refere-se à existência de um jornal da Igreja
presbiteriana na cidade. O periódico Estandarte.
referencial africano6, eram constantemente colocadas sob o signo do da ignorância e do
fatalismo das camadas subalternas. Fatalismo este, que na concepção do pensamento
católico da época, era oriundo tanto da ignorância das camadas populares, como dos
seus ascendentes raciais.
Neste caso se as práticas eram vistas como bárbaras e atrasadas por terem
origem numa cultura negra, os curandeiros eram vistos como pessoas extremamente
indesejáveis, sendo comumente serem acusados de exploradores da ingenuidade
popular. Sobre um famoso curandeiro um dos mais eminentes párocos locais e assíduo
colaborador do Cruzeiro, Monsenhor Arias Cruz tece os seguintes comentários
Considerações finais
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O eu aqui, é antes de tudo, uma autoridade conferida por delegação. É um porta-voz autorizado, que
concentra o capital simbólico do grupo que lhe conferiu o mandato. ( BOURDIEU, 1994, P.88)
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Para Bourdieu (2009, p.44), No âmbito de uma mesma formação social, a oposição entre a religião e a
magia, entre o sagrado e o profano, entre a manipulação legítima e manipulação profana do sagrado,
dissimula a oposição entre diferenças de competência religiosa que estão ligadas a estrutura da
distribuição do capital cultural.
A análise aqui elaborada buscou pensar a dinâmica interna do espaço
religioso caxiense a partir de algumas considerações Bourdiana sobre a constituição do
campo religioso mais especificamente aquelas em que o sociólogo francês trata dos
conflitos em torno da definição da competência legítima a produção e manipulação dos
bens religiosos. Análise teve como objetivo perceber quais os recursos utilizados pela
oficialidade católica local no processo de auto-afirmação do catolicismo como única
religião capaz de conduzir o homem e a sociedade ao mais alto grau de civilização, em
um momento que se esboça um pluralismo religioso dos mais marcantes. Um dos
recursos utilizados foi à recorrência constante a um ideal de cristandade perfeita sob a
tutela de uma Igreja que assentava a sua autoridade em uma memória coletiva
constantemente reelaborada que tinha como pano de fundo a autoridade e a tradição. O
discurso da primeira Igreja, aquela que foi fundada por Cristo, aquela que está mais
preparada para interpretação da palavra de Deus, etc., foi amplamente utilizado neste
projeto de reconversão. A imprensa nesse processo foi um local estratégico por agregar
em torno de si a intelectualidade próxima ao catolicismo, seja ela clériga ou leiga, e pela
possibilidade de maior alcance nesse processo de reorganização dos elementos para o
combate ao que considerava forças do mal. O combate ao comunismo neste contexto
ganha o primeiro plano, contudo as a eliminação das práticas religiosas que disputavam
com o catolicismo a preferência da população local não deixaram de serem visadas.
Bibliografia
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No caso do protestantismo, um argumento utilizado comumente nos conflitos com a Igreja Católica
era de que os princípios da doutrina protestantes norteavam a ação e os planos das maiores nações da
época, associando ao catolicismo à condição de ignorância e atraso do povo. (SANTOS, 2006, p. 156) O
que mostra que o campo, apesar de ter uma lógica própria, não sendo redutível aos outros espaços de
relações sociais, não estar “ imune” a “influências” de outros espaços de poder.
CHARTIER, Roger. História intelectual e história das mentalidades: uma dupla
reavaliação. IN: À beira da falésia: a história entre incertezas e inquietudes. Porto
Alegre: UFRGS, 2002.
SIRINELLI, Jean François. Os intelectuais. In: REMÓND, René (org). Por uma
história política. 2. Ed. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas lingüísticas: o que falar quer dizer. São
Paulo: editora universidade de São Paulo, 1998.