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CURITIBA
1o. Semestre de 2009
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Sumário
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................4
2 CIDADANIA, SUBJETIVIDADE E CRISE PARADIGMÁTICA...................................6
2.1 Cidadania e a Teoria Política Liberal ......................................................................7
2.2 O primeiro Período do Capitalismo.........................................................................9
2.3 Segundo Período do Capitalismo..........................................................................11
3 RELIGIÃO E SOCIEDADE MODERNA...................................................................15
4 HOMO RELIGIOSUS...............................................................................................18
5 IDENTIDADE RELIGIOSA: INDIVIDUALISMO OU COLETIVISMO?.....................21
6 CIDADANIA E IDENTIDADE RELIGIOSA NO CONTEXTO DA EDUCAÇÃO
PÚBLICA.....................................................................................................................23
6.1 INGLATERRA: O PLURALISMO RELIGIOSO......................................................24
6.2 BRASIL: UM SINCRETISMO SILENCIOSO?.......................................................25
7 TÓPICO METODOLÓGICO: CRENÇAS RELIGIOSAS..........................................28
8 CONCLUSÃO...........................................................................................................32
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS...........................................................................33
4
1 INTRODUÇÃO
muito próximos desta atitude (SANTOS, 2005, p.148) - vide, por exemplo, a
referência a Deus em discursos de posse de presidentes norte americanos1 e
brasileiros, outrossim no caso do Brasil é importante se considerar o fenômeno do
crescimento das religiões midiáticas de massa.
A questão portanto da relação entre cidadania e identidade religiosa -
presente também na subjetividade dos cidadãos - se mostra não somente relevante
como desafiadora, principalmente em um país como o Brasil onde a distinção entre
as esferas do público e do privado é na maioria das vezes difusa, onde acima de
tudo as relações pessoais parecem desempenhar "um papel crítico na concepção e
na dinâmica da ordem social" (DaMATTA, 1987, p.71), caracterizando assim conflitos
de perspectivas e atitudes pessoais em detrimento de normatizações coletivas.
Neste caso, propomos a seguinte pergunta: como se dá então a relação entre
cidadania e identidade religiosa no Brasil? Considerando-se por um lado o caráter
universalizador daquela, face a idéia de indivíduo, sua identidade, e sua
subjetividade, por outro.
Na tentativa de empreender uma reflexão sociológica que possa lançar luz
sobre a questão: a) consideramos relevante a análise da relação entre cidadania e
subjetividade realizada por Boaventura de Sousa Santos, cujos pontos principais
apresentaremos sucintamente com vistas a um panorama geral sobre o tema; b) no
entanto, uma vez que a análise de Santos é pautada fortemente pela relação entre
cidadania subjetividade em sua ligação com o capitalismo, carecendo portanto, para
nossos propósitos, de uma abordagem mais ampla da variável identidade religiosa e
a questão do secularismo e do pluralismo, elencaremos alguns elementos da
sociologia da religião elaborados por Peter Berger; c) em seguida tentaremos
apresentar algumas especificidades da relação entre cidadania e identidade
religiosa a partir da observação de algumas especificidades da formação cidadã no
contexto da escola pública, tomando comparativamente o caso do Brasil e da
Inglaterra; d) analisaremos a definição de crença religiosa, elaborada pelo filósofo
1 Por exemplo o estudioso norte americano Robert N. Bellah, em um artigo sobre a religião civil na
América, aponta o discurso inaugural do mandato de John F. Kennedy, de 20 de janeiro de 1961,
que argumenta em certa altura a crença de que os direitos do homem não se originam na
generosidade do Estado, mas da mão de Deus. No mesmo artigo aponta também que o termo
Religião Civil se origina da obra Contrato Social de Rousseau e aponta também para o
reconhecimento deste conceito na obra de Alexis de Tocqueville, que observa que a religião da
maioria dos cidadãos americanos é republicana (BELLAH, 1991).
6
2 Para uma melhor explanação acerca do conceito de paradigma da modernidade, juntamente com
uma crítica nossa conferir Britto (2008b).
7
sacralizados, onde este último requer inclusive uma "profissão de fé puramente civil"
ainda que observada "como sentimentos de sociabilidade sem os quais é impossível
ser bom cidadão, ou súdito fiel" (ROUSSEAU, 1981, p.143).
O outro pilar apontado por Santos, o da Emancipação, é marcado em
contrapartida, por três lógicas de racionalidade, cuja base é caracterizada por
processos de especialização e diferenciação funcional, como apontado por Max
Weber. Neste sentido, a lógica Moral-Prática, estabelecida pela ética e pelo direito
moderno; juntamente com a lógica cognitivo instrumental, que se expressa na
ciência e em sua aplicação pragmático-produtiva, a tecnologia; e finalmente pela
racionalidade estético-expressiva, que encontra como proponentes principais as
artes e a literatura. Estes pólos distintos, Regulação e Emancipação, exercem entre
si tensões, ou cálculos de correspondência tendo como objetivo compromissos
pragmáticos, cujo motivo básico é o anseio pela liberdade, como bem explica Weber:
“O destino de nossos tempos é caracterizado pela racionalização e intelectualização
e, acima de tudo, ‘pelo desencantamento do mundo3’” (WEBER, 1974, p.182). É
importante citar que nesta busca, a racionalidade cognitivo-instrumental da ciência e
da técnica acabou por desenvolver-se em detrimento das demais racionalidades,
colonizando-as, explica Santos. No que tange a formação da cidadania, por
exemplo, pode-se facilmente observar esta colonização através da promoção de um
currículo escolar, salvaguardado pelo Estado, cujo objetivo principal é a preparação
cidadã pelo domínio da ciência, ideal observado por exemplo nos dizeres da
Declaração de Budapeste: “Para que um país esteja em condições de atender às
necessidades fundamentais de sua população, o ensino das ciências e da tecnologia
é um imperativo estratégico [...] a fim de melhorar a participação dos cidadãos na
adoção de decisões relativas à aplicação de novos conhecimentos.” (BUDAPESTE,
1999)
pelo voto, como na sociedade civil, neste sentido tal relação parece legitimar
freqüentes abusos aos trabalhadores submetendo-os não muito raramente a
situações de trabalho desumanizadoras, que por sua vez os submete a uma
cidadania desprivilegiada, com relação a seus empregadores, sem falar no
embotamento de suas potencialidades individuais.
5 Seja esta materialidade corporal real ou fictícia, como no caso da subjetividade jurídica – pessoa
Jurídica, cuja idéia é a abstração monolítica de pessoas coletivas, explica Santos.
10
que para este sociólogo só pode ser superada caso ocorra no pilar da Emancipação
e não da Regulação.
para além do marco liberal da distinção entre Estado e sociedade civil, nas palavras
de santos:
A politização do social, do cultural e, mesmo, do pessoal abre um campo
imenso para o exercício da cidadania e revela, no mesmo passo, as
limitações da cidadania de extração liberal, inclusive da cidadania social,
circunscrita ao marco do Estado e do político por ele constituído. (SANTOS,
2005, p. 263).
Esta percepção dá luz a uma nova forma de cidadania, que não meramente
individuais são coletivas, assentes em formas político-jurídicas - não mais em
direitos gerais e abstratos - que incentivam a autonomia, que personaliza as
competências interpessoais e coletivas ao invés de uma sujeição a padrões
abstratos. Outrossim, esta nova cidadania está atenta às novas formas de exclusão
social baseadas no sexo, na raça, na perda da qualidade de vida, no consumo, na
guerra e também, em a questão da identidade religiosa - embora esta não seja
citada por Santos. Em suma:
uma cidadania de nível superior capaz de compatibilizar o desenvolvimento
pessoal com o coletivo e fazer da "sociedade civil" uma sociedade política
onde o Estado seja um autor privilegiado mas não o único. (SANTOS, 2005,
p. 268)
Mas para que esta novo ideal de cidadania seja viabilizado Santos explicita
duas questões importantes: a) uma nova teoria de subjetividade, que possa
reconstruir o conceito de sujeito, e; b) uma nova teoria da democracia, que permita
reconstruir o conceito de cidadania e que atenda as novas demandas da ampliação
do campo político.
Em suma, partindo da análise de Santos, observamos três tipos distintos de
cidadania, a saber: 1) a cidadania política e civil, que dota os indivíduos de direitos
e deveres perante o Estado; 2) a cidadania social, que confere aos cidadãos
direitos e uso frutos na sociedade civil; 3) cidadania de nível superior, ou nova,
onde a sociedade civil é transformada em sociedade política, empreendimento que
conclama uma nova democracia e atualizada concepção de sujeito.
Com a ampliação do campo político às demais relações sociais, como as
econômicas, sociais, familiares, profissionais, culturais e religiosas, uma exigência
da cidadania de nível superior torna-se importante a observação da identidade
religiosa. Mas, por que esta questão realmente é importante? Ao se acrescentar a
variável identidade religiosa na complexa relação entre cidadania e subjetividade
15
se manifestar como retórica pública e virtude privada, como no caso da religião civil
americana ou na referência a Deus por políticos brasileiros, assim, nas palavras do
próprio Berger:
Um homem de negócios ou um político podem aderir fielmente às normas
da vida familiar legitimadas pela religião, ao mesmo tempo em que
conduzem suas atividades na esfera pública sem qualquer referência a
valores religiosos de qualquer tipo (BERGER, 1985, p.145).
4 HOMO RELIGIOSUS
o caso do Judaísmo no período hebreu pré-moderno e antigo, este que é uma das
mais antigas tradições religiosas do mundo e ainda em continuidade, cuja
fundamentação é bases tanto para o cristianismo quanto para o islamismo (WEBER,
1974, p.309). Precisamos, portanto, de um conceito mais elaborado. Segundo Peter
Berger, diversos estudiosos abordaram o termo de maneira distinta, por exemplo,
Max Weber ao tratar do assunto argumentou que uma definição de religião deveria
vir ao final de uma pesquisa profunda e detalhada de todas as formas encontradas
desta manifestação nas sociedades (BERGER, 1985, p.182). Contudo, este
posicionamento traz em si uma curiosidade, afinal, como poderíamos empreender
uma pesquisa sobre qualquer coisa sem antes sabermos o que estamos
procurando? Ainda assim é certo que Weber tinha algo em mente, ainda que não o
torne patente, por isto tomou o termo como dado, ou seja, como se o fenômeno
religioso pudesse ser distinguindo intuitivamente por qualquer pessoa, em outras
palavras reconhecido tacitamente7. Para Marx, como já vimos, a religião seria
apenas um espelho da sociedade como produto exclusivamente humano, um reflexo
das mais altas aspirações humanas presentes na ideologia das classes. Já para
Emile Durkheim, aponta Berger, a religião seria importante na sua funcionalidade
social geral, no que ordena a dá sentido às sociedades realizando uma distinção
entre o que é sagrado e profano. Em Thomas Luckman, outro sociólogo, e parceiro
de Berger, a religião “é a capacidade de o organismo humano transcender sua
natureza biológica através da construção de universos de significado objetivos, que
obrigam moralmente e que tudo abarcam” (BERGER, 1985, p.183). Finalmente, para
Berger:
A existência humana é essencial e inevitavelmente uma atividade
exteriorizante. No decorrer da exteriorização os homens conferem
significado à realidade. Toda sociedade humana é um edifício de
significados exteriorizados e objetivados, que tendem sempre a uma
totalidade inteligível. [...] Historicamente considerados, os mundos do
homem têm sido, na sua maioria, mundos sagrados. [...] Pode-se dizer
portanto, que a religião desempenhou uma parte estratégica no
empreendimento humano da construção do mundo. A religião representa o
ponto máximo da auto-exteriorização do homem pela infusão, dos
seus próprios sentidos sobre a realidade. A religião supõe que a ordem
humana é projetada na totalidade do ser. Ou por outra, a religião é a
ousada tentativa de conceber o universo inteiro como humanamente
significativo. (BERGER, 1985, P.40-1, grifo nosso)
7 Para uma abordagem didática a respeito conhecimento tácito, como elaborada por Michael
Polanyi, consultar Cláudio Saiani (2004).
20
Acreditamos, vale dizer, que enfatizar esta proposição parece não ter sentido útil
frente a cultura do relativismo contemporâneo, que tende a negar sua possibilidade
objetiva, mas tal afirmação relativista para ser logicamente válida parte de si como
sendo absoluta, o que invalida tal proposição8. Assim, mesmo para um ateu que não
crê em um Deus como sendo esta Origem, acaba crendo, como para muitos, que
aqui estamos pelo resultado da combinação entre tempo, acaso e matéria,
mostrando portanto que para ele algo, a matéria, estava lá.
Em suma, se o fenômeno religioso abarca todas as sociedades se
caracterizando como fenômeno antropológico e é fonte de crenças fundamentais
que compõem uma cosmovisão (weltanshauung) e valores que permeiam as
atitudes individuais - além de estar atrelada a questões profundas da humanidade,
que a ciência encontrando seus limites não consegue tratar - provavelmente pode
exercer estreita influência na prática cidadã, cuja perspectiva faz parte da tarefa de
construção do mundo, em outras palavras diferentes ethos religiosos poderiam gerar
práticas diferenciadas na esfera pública?
8 Neste sentido, aprece ser importante se considerar o Teorema da Incompletude, elaborada pelo
matemático Kurt Gödel, cuja asserção básica é a de que todo sistema axiomático necessita de um
fator externo que o valide, uma ilustração para isto pode ser o Paradoxo do Mentiroso onde a
afirmação, feita por um cretense, de que todos os cretenses são mentirosos, somente pode ser
verdadeira se for falsa. Para uma introdução informal e didática ao assunto consultar Angelini
(2009).
22
9 Nas palavras do próprio Durkheim: "Entre Deus e a sociedade, é preciso escolher. Não examinarei
aqui as razões que podem militar em favor de uma ou de outra das soluções, uma vez que são
ambas coerentes. Acrescento que, do meu ponto de vista, essa escolha deixa-me bastante
indiferente, pois não vejo na divindade mais que a sociedade transfigurada e simbolicamente
imaginada" (DURKHEIM, 1906, p.68).
10 Para uma discussão mais elaborada das idéias de Clouser conferir nosso artigo Roy Clouser e "O
mito da neutralidade religiosa" (BRITTO, 2008).
11 Esta asserção do autor se baseia na crítica transcendental da Filosofia Reformacional, elaborada
por Herman Dooyeweerd e aprimorada por Clouser, e outros. Além disso, no que tange a questão
da necessidade de causas externas para a validação axiomática pode ser interessante averiguar a
relevância do Teorema da Incompletude de Gödel.
23
12 Berger não utiliza o termo reflexividade, que apropriamos aqui num sentido próximo ao utilizado
por Blaise Pascal, que diz: "Em vez de recebermos a idéia pura das coisas, tingimo-la com nossas
qualidades e impregnamos de nosso ser composto todas as coisas simples que contemplamos"
(PASCAL, 1979, p.56). Destarte, uma ação individual que ,exteriorizada, se objetiva pode então
ser interiorizada por outros indivíduos com significação simbólica diferenciada devido a seus
quadros de referência internos, em "estruturas da consciência subjetiva" (BERGER, 1985, p.16).
Contudo, é importante reconhecermos o caráter dinâmico, e dialético, de tal processo, que nos
aproxima do conceito como aplicado por Giddens, que propõe que a "reflexividade da vida social
moderna consiste no fato de que as práticas sociais são constantemente examinadas e
reformadas à luz de informação renovada sobre estas próprias práticas, alterando assim
constitutivamente seu caráter" (GIDDENS, 1993, p.45).
24
deve ser melhor analisado. No site do MEC não encontramos nenhum documento
específico acerca da relação entre religião e cidadania, ou entre identidade religiosa
e esta.
Outro esforço laborado pelo Governo Federal é a criação de um programa
chamado Fórum Escolar de Ética e de Cidadania, cuja base é a discussão dentro
das escolas de temas relacionados a prática cidadã e os problemas da comunidade
(MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007), cuja análise pode se constituir em
interessante campo para pesquisa empírica. Outro esforço que marca a
preocupação brasileira com a cidadania é a inclusão da disciplina de sociologia no
Ensino Médio como conhecimento necessário ao exercício da cidadania (BRASIL,
2006). Neste sentido, nas Orientações Curriculares Nacionais o papel da sociologia
como ciência é o de grosso modo desnaturalizar e estranhar os fenômenos sociais
levando, como já referido, o aluno a uma postura crítica sobre o tema abordado
capacitando-o a posicionar-se perante a sociedade e sua comunidade local.
No que tange a aplicação destas Orientações ao caso do estado do Paraná,
podemos lançar mão da análise do Livro Didático Público de Sociologia, que por sua
vez atende a recomendação de incluir, em meio aos diversos temas abordados, a
questão da religião e das crenças religiosas.
2006, p. 84) e em outra parte do texto acrescenta: "não importam suas crenças
religiosas, não importa se você é ateu" (SOCIOLOGIA, 2006, p. 84). Ora, dada a
importância de tal instituição, sem falar no papel da religião no projeto de construção
do mundo, tanto uma pequena definição quanto um descaso para com o conteúdo
das crenças religiosas e seus reflexos na estrutura social são descabidos, além do
que não geram a esperada postura crítica de um cidadão.
Em nossa análise do texto encontramos duas informações erradas, a
primeira, se apoiando no conceito de alienação de Marx, está no seguinte dizer:
Essa é mais uma forma de compreendermos a religião. Que nos leva à
acomodação, à submissão, à aceitação de nosso lugar na sociedade sem
questionamentos como nos sugere o ensinamento "é mais fácil um camelo
passar num buraco da agulha que um rico entrar no reino dos céus"
(SOCIOLOGIA, 2006, p.84)
(1) seja uma crença em algo como sendo divino per se não
importando como isso será finalmente descrito, ou
(2) seja uma crença sobre como o não-divino depende do divino per
se, ou
(3) seja uma crença sobre como os humanos vêm a estar em uma
relação apropriada com o divino per se,
(4) o núcleo essencial da divindade per se é ter o status de realidade
incondicionalmente não-dependente (CLOUSER, 2005, p.24,
tradução nossa).
Com base nesta definição, crenças religiosas nem sempre dizem respeito a
um ser supremo, nem sempre envolvem algum tipo de culto o códigos de ética ; ou
seja, qualquer crença em algo não-dependente é uma crença religiosa não
importando como esse algo é concebido. É importante pontuarmos que Clouser
explica que a elaboração de tal conceito se deu como fruto de mais de 40 anos de
estudos em religião comparada, sua área de expertise, sendo portanto conclusão de
análise e não simples ponto de partida teórico, contudo deixa claro que o tal
abordagem semelhante pode ser encontrada em diversos outros autores, a saber:
13 Segundo Clouser, a tipologia "pagão" não é empregada aqui da mesma forma como utilizada pela
igreja cristã no período da idade média, cujo sentido seria antagônico ao de "alcançado" pela
igreja, no que distinguia seus membros de seus inimigos.
30
(2) Panteísta: Tipo cuja característica básica é a crença de que tudo o que é
experimentado como realidade, ou seja o não-divino, é de fato uma sub-divisão da
realidade divina, o divino per se, que por sua vez é infinita e a tudo engloba
31
(CLOUSER, 2005, p.48). De maneira geral esta realidade não-divina só pode ser
experimentada misticamente onde uma pessoa por exemplo, pode chegar a romper
com um mundo de meras aparências chegando a ter acesso a uma realidade divina
escondida por esta. Exemplos de realidade divina, ou divino per se nesta
perspectiva seriam o Brahman-Atman no Hinduísmo, Dharmakaya - ou Vazio, Nada,
Nirvana - no Budismo e o Tao no Taoísmo (CLOUSER, 2005, p.49).
as nuanças (1), (2), (3) e (4) do conceito de crença religiosa passam a compor
características fundamentais que formam a identidade religiosa permitindo-nos
tipificá-las de acordo com o tipo (2). Assim, partindo desta reflexão, torna-se
relevante a aplicação de pesquisa empírica que possa comprovar a viabilidade da
identificação de identidades religiosas verificando se estas poderiam ser
categorizadas entre os tipos pagão, panteísta e bíblico, propostos por Clouser,
observando também a existência de sub-tipos, como bíblico cristão evangélico, ou
católico, por exemplo, e hibridações que possam adequar o conceito ao caso
brasileiro.
8 CONCLUSÃO
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