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INTRODUÇÃO AO NARCISISMO

Duas grandes questões colocadas por Freud em face à dificuldade do tema:


1. Que relação há entre o narcisismo e o autoerotismo (que seria um estágio inicial
da libido)?
2. Se admitimos para o Eu um investimento primário com libido, por que é
necessário separar uma libido sexual de uma energia não sexual dos instintos do
Eu? Postular uma única energia psíquica não pouparia todas as dificuldades da
separação entre energia dos instintos do Eu e libido do Eu, libido do Eu e libido
de objeto?

*lembrar que aqui, na teoria freudiana, há o conflito instintual: instinto sexual x


instinto de autopreservação (ou do Eu).

É preciso supor aqui, a partir desta afirmação: o Eu não existe desde o começo do
indivíduo – o Eu tem que ser desenvolvido. No entanto, os instintos autoeróticos são
primordiais  ENTÃO DEVE HAVER ALGO QUE ACRESCENTA AO
AUTOEROTISMO, UMA NOVA AÇÃO PSÍQUICA, PARA QUE SE FORME O
NARCISIMO.

OS INSTINTOS E SEUS DESTINOS (1915)

Um conceito básico (ainda que um tanto obscuro) na psicologia que não podemos
dispensar é o de instinto [Trieb].  Freud tenta, aqui, preenchê-lo a partir de ângulos
diversos.
*Primeiramente, a partir da fisiologia:
“Ela nos deu o conceito de estímulo e o esquema do arco reflexo, segundo o qual um
estímulo que vem de fora para o tecido vivo (substância nervosa) é descarregado para
fora por meio da ação. Esta ação se torna apropriada na medida em que subtrai a
substância estimulada à influência do estímulo, afasta-o do raio da ação dele” (pp. 40-
41).

MAS QUAL A RELAÇÃO ENTRE O INSTINTO E O ESTÍMULO?


*O instinto é um estímulo para a psique (existem estímulos não instintuais, que se
comportam de maneira semelhante aos estímulos fisiológicos).
DIFERENCIAÇÃO ENTRE ESTÍMULO INSTINTUAL E FISIOLÓGICO:
“Primeiro, o estímulo instintual não provém do mundo exterior, mas do interior do
próprio organismo. Por isso atua de modo diferente sobre a psique e requer outras ações
para ser eliminado. Além disso, tudo de essencial no estímulo está na suposição de que
ele age como um impacto único; então pode ser liquidado também com uma única ação
apropriada, cujo exemplo típico está na fuga motora diante da fonte de estímulo.
Naturalmente esses impactos podem se repetir e se acumular, mas isso nada muda na
concepção do processo e nas condições para a abolição do estímulo. O instinto, por sua
vez, não atua jamais como uma força momentânea de impacto, mas sempre como uma
força constante. Desde que não ataca de fora, mas do interior do corpo, nenhuma fuga
pode servir contra ele” (p. 40).

******Uma denominação melhor para o estímulo instintual é a “necessidade”; o


que suprime essa necessidade é a “satisfação”. Ela pode ser alcançada por meio de
uma modificação pertinente (adequada) da fonte interior de estímulo.
O “INSTINTO” NOS APARECE COMO UM CONCEITO-LIMITE ENTRE O
SOMÁTICO E O PSÍQUICO, COMO O REPRESENTANTE PSÍQUICO DOS
ESTÍMULOS ORIUNDOS DO INTERIOR DO CORPO E QUE ATINGEM A ALMA,
COMO UMA MEDIDA DO TRABALHO IMPOSTO À PSIQUE POR SUA
LIGAÇÃO COM O CORPO.

Agora, se discute alguns termos utilizados em relação com o conceito de instinto, tais
como: impulso, meta, objeto, fonte do instinto.
*Impulso de um instinto  O seu elemento motor, a soma de força ou a medida de
trabalho que ele representa. O caráter impulsivo é uma característica geral dos instintos,
é mesmo a ESSÊNCIA deles. [todo instinto é uma porção de atividades, ativa ou
passiva]

*Meta de um instinto  SEMPRE a satisfação. Esta pode ser alcançada apenas pela
supressão do estado de estimulação na fonte do instinto. Mas embora essa meta final
permaneça imutável para todo instinto, diversos caminhos podem conduzir à mesma
meta final, de modo que um instinto pode ter várias metas próximas ou intermediárias,
que são combinadas ou trocadas umas pelas outras.
A experiência também nos permite falar de instintos “inibidos na meta”, em processos
que são tolerados por um trecho de caminho, na direção da satisfação instintual, mas
que logo experimentam uma inibição ou desvio. É de supor que uma satisfação parcial
também esteja ligada a esses processos.
*Objeto do instinto  Aquele com o qual ou pelo qual o instinto pode alcançar sua
meta. É o que mais varia no instinto, não estando originalmente ligado a ele, mas lhe
sendo subordinado apenas devido à sua propriedade de tornar possível a satisfação. Não
é necessariamente um objeto estranho, mas uma parte do próprio corpo. Pode ser
mudado frequentemente, no decorrer das vicissitudes que o instinto sofre ao longo da
vida; esse deslocamento do instinto desempenha papéis dos mais importantes. Pode
ocorrer que o mesmo objeto se preste simultaneamente à satisfação de vários instintos, o
caso do “entrelaçamento instintual”, segundo Alfred Adler.
*Uma ligação particularmente estreita do instinto ao objeto é qualificada de “fixação”
do mesmo. Ela se efetua com frequência nos períodos iniciais do desenvolvimento
instintual e põe termo à mobilidade do instinto, ao se opor firmemente à dissolução do
laço.

*Fonte do instinto  O processo somático num órgão ou parte do corpo, cujo estímulo
é representado na psique pelo estímulo. Não se sabe se tal processo é normalmente de
natureza química ou se pode corresponder também à liberação de outras forças,
mecânicas, por exemplo.
*O estudo das fontes de instintos já não pertence à psicologia; embora a procedência a
partir da fonte somática seja o mais decisivo para o instinto, na psique nós o
conhecemos tão só através de suas metas. Um conhecimento mais exato das fontes
instintuais não é estritamente necessário para fins de investigação psicológica. Às vezes
podemos inferir com segurança as fontes do instinto, a partir de suas metas.

O QUE A OBSERVAÇÃO NOS ENSINA A RECONHECER COMO DESTINOS


DOS INSTINTOS:
-A reversão no contrário;
-O voltar-se contra a própria pessoa;
-A repressão;
-A sublimação.

*A reversão no contrário se divide em dois processos distintos: a conversão da


atividade em passividade e a inversão de conteúdo. Por serem essencialmente distintos,
serão tratados separadamente.
A REVERSÃO DIZ RESPEITO APENAS ÀS METAS DO INSTINTO; substitui-se a
meta ativa: atormentar, olhar, pela passiva: ser atormentado ser olhado.
*A inversão de conteúdo se encontra apenas no caso da transformação de amor em
ódio.

A REPRESSÃO (1915)
*Um destino possível para um impulso instintual é encontrar resistências que buscam
torna-lo inoperante. Em determinadas condições, que passaremos a examinar mais
detidamente, ele chega ao estado da repressão.  mais tarde se verá na rejeição
baseada no julgamento (condenação) um bom recurso contra o impulso instintual.
REPRESSÃO  Um estágio preliminar da condenação, um meio termo entre a fuga e
a condenação (a fuga se daria contra estímulos externos).
“Por que deveria um impulso instintual sucumbir a esse destino?
Evidentemente, deve ser preenchida a condição de que a obtenção da
meta instintual produza desprazer em vez de prazer. Mas esse caso é
dificilmente concebível. Não existem tais instintos, uma satisfação
instintual é sempre prazerosa. Teríamos de supor condições particulares,
algum processo mediante o qual o prazer da situação é transformado em
desprazer” (p. 62).

*A experiência psicanalítica com as neuroses de transferência nos leva a concluir que a


repressão não é um mecanismo de defesa existente desse o início, que não pode surgir
antes que se produza uma nítida separação entre atividade psíquica consciente e
inconsciente, e que a sua essência consiste apenas em rejeitar e manter algo afastado
da consciência.
-A satisfação do instinto submetido à repressão seria possível, e também prazerosa
em si mesma, mas também seria inconciliável com outras exigências e intenções;
isto é, geraria prazer num lugar e desprazer em outro.
*CONDIÇÃO PARA A REPRESSÃO: que o motivo do desprazer adquira um poder
maior que o prazer da satisfação.

*anterior ao estágio repressivo de organização psíquica, cabe a outras vicissitudes dos


instintos, como a transformação no contrário e a reversão contra a própria pessoa, a
tarefa da defesa frente a impulsos instintuais.
“Agora nos parece haver uma tão extensa correlação entre repressão e
inconsciente que teremos de adiar um aprofundamento da essência da repressão
até sabermos sobre a estrutura das instâncias psíquicas e a diferenciação de
consciente e inconsciente. Antes disso podemos apenas reunir, de modo
puramente descritivo, algumas características da repressão que foram notadas
clinicamente, arriscando repetir sem alteração coisas afirmadas em outros
lugares.” (p. 63).

*Assim temos uma repressão primordial, uma primeira fase que consiste no fato de ser
negado, à representante psíquica do instinto, o acesso ao consciente.

Com isso, se produz uma fixação; a partir daí a representante em questão persiste
inalterável, e o instinto permanece ligado a ela. Isso acontece devido às propriedades
dos processos inconscientes que discutiremos depois.

*O segundo estágio da repressão, a repressão propriamente dita, afeta os derivados


psíquicos da representante reprimida ou as cadeias de pensamentos que, originando-se
de outra parte, entraram em vínculo associativo com ela. Graças a essa relação, tais
representações sofrem o mesmo destino que o que foi reprimido primordialmente.  A
REPRESSÃO PROPRIAMENTE DITA É, PORTANTO, UMA PÓS-REPRESSÃO.

******A REPRESSÃO NÃO IMPEDE A REPRESENTANTE DO INSTINTO DE


PROSSEGUIR EXISTINDO NO INCONSCIENTE, DE CONTINUAR SE
ORGANIZANDO, FORMANDO DERIVADOS E ESTABELECENDO CONEXÕES
 Na realidade, a repressão perturba apenas a relação com um sistema psíquico, o do
consciente.

ALGUMAS OUTRAS CARACTERÍSTICAS DA REPRESSÃO:

*Ela é individual e extremamente móvel;

*O processo de repressão não é algo que ocorre uma única vez e que tem resultado
duradouro. Na verdade, a repressão exige, isto sim, um constante gasto de energia, cuja
cessação colocaria em perigo o seu êxito, de modo que um novo ato de repressão se
tornaria necessário.

*Portanto, manter uma repressão pressupõe um permanente dispêndio de energia, e sua


eliminação significa, economicamente, uma poupança.

*A repressão visa evitar o desprazer. Se uma repressão não consegue impedir o


surgimento de sensações de desprazer ou de angústia, então podemos dizer que ela
fracassou, ainda que tenha alcançado sua meta na parte ideativa.

AGORA PRETENDEMOS OBTER UMA VISÃO DO MECANISMO DO


PROCESSO DE REPRESSÃO, E SABER, PRINCIPALMENTE, SE EXISTE
APENAS UM MECANISMO DE REPRESSÃO OU VÁRIOS DELES, E SE CADA
UMA DAS PSICONEUROSES SE DISTINGUIRIA POR UM MECANISMO DE
REPRESSÃO OU VÁRIOS DELES, E SE CADA UMA DAS PSICONEUROSES SE
DISTINGUIRIA POR UM MECANISMO DE REPRESSÃO TODO PRÓPRIO.

*Limitando a observação aos seus resultados na parte ideativa da representante,


descobrimos que em geral a repressão produz uma formação substitutiva. Qual é então o
mecanismo dessa formação substitutiva? Ou serão vários? - Sabemos, no entanto, que a
repressão deixa sintomas.

-Atualmente, a probabilidade é que a formação substitutiva e a repressão divirjam


bastante, de que não seja a repressão mesma que produz formações substitutivas e
sintomas, mas que estes surjam como indícios de um retorno do reprimido, em
virtude de processos inteiramente outros.

O INCONSCIENTE (1915)

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