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Quatro destinos possíveis da pulsão: ● reversão a seu oposto ● retorno em direção ao próprio eu
● recalque ● sublimação
Verdrängung
Recalque/Recalcamento: Para Sigmund Freud, o recalque designa o processo que visa a manter
no inconsciente* todas as ideias, lembranças, imagens e representações ligadas às pulsões e cuja
realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo,
transformando-se em fonte de desprazer. Freud, que modificou diversas vezes sua definição e seu
campo de ação, considera que o recalque é constitutivo do núcleo original do inconsciente.
Fundamentalmente, o conceito de recalque está ligado a um processo pelo qual o sujeito procura
repelir, empurrar algo para o fundo do seu inconsciente; seria viável a possibilidade de que
recalcar seja uma espécie de metáfora de que, com o calcanhar, o sujeito empurre para o fundo
do seu inconsciente, tudo o que for indesejável e, daí, ter surgido o verbo recalcar, com os
derivados recalque e recalcamento.
O recalque pode ser decomposto em 3 fases distintas, que permitem distinguir três conceitos
diversos: ● a fixação ● o recalque propriamente dito ● o retorno do recalcado
- A fixação precede e condiciona todo recalque. Como uma pulsão ou algum componente
pulsional permanece imobilizado num estádio infantil, essa corrente libidinal passa então a se
comportar como uma corrente que pertence ao sistema inconsciente, como uma corrente
recalcada. É nas fixações que reside a predisposição à patologia posterior, pois em relação à etapa
subsequente elas funcionam como um resto passivo que ficou para trás.
- O recalque originário, Freud precisará que este recalque primevo é “uma primeira fase do
recalque, que consiste em negar entrada no consciente ao representante psíquico (ideacional) da
pulsão. Com isso, estabelece-se uma fixação; a partir de então, o representante em questão
continua inalterado, e a pulsão permanece ligada a ele.”
É nesse momento de teorização metapsicológica do recalque que se impõe a Freud a necessidade
de conjecturar a ocorrência de um recalque originário, na medida em que os processos de
recalque secundário só podem surgir “quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a atividade
mental consciente e a inconsciente”. Nesse sentido, o recalque originário é verdadeiramente
constitutivo do inconsciente.
- Recalque Orgânico ---- Recalque Originário ---- Fixação --- Clivagem Subjetiva
“A própria idéia de que o inconsciente é constituído individualmente para cada sujeito pelo
recalque originário está relacionada, para Freud, com a idéia de que, para o próprio advento da
espécie humana, operou um outro recalque — o recalque orgânico. E, mais essencialmente ainda,
o núcleo do inconsciente está, para Freud, relacionado com esse evento filogenético, pois o
recalque originário como que repete, na história de cada sujeito, o evento do recalque orgânico,
que teria se dado em algum momento da evolução da espécie. O recalque orgânico, sobre o qual
vamos nos deter mais à frente, teria aberto um verdadeiro creodo para a espécie humana, a partir
do qual o recalque passou a ser um elemento estrutural.” (Fundamentos Vl. 01; pg 29)
Visão → Olfato
Predomínio do olfato (estímulos cíclicos) → Funcionamento instintual Predomínio da visão
(estímulos permanentes) → Funcionamento pulsional
O recalque propriamente dito, afeta os derivados mentais do representante recalcado e seus elos
associativos. (...) “tudo se passa como se a resistência do consciente contra eles constituísse uma
função da distância entre eles e aquilo que foi originariamente recalcado”.
- Exige um constante dispêndio de força. Pois, se o recalcado exerce uma pressão constante em
direção ao consciente, é necessária igualmente uma contrapressão também incessante para
equilibrá-la. “(...) Essa ação empreendida para proteger o recalque é observável no tratamento
analítico como resistência.”
“(...) constatamos não ser correto que o recalque mantenha afastados do consciente todos os
derivados do recalcado primordial. Quando estes se distanciaram o suficiente da representante
recalcada, seja assumindo deformações, seja pelo número de elos intermediários que se
interpuseram, o acesso ao consciente se torna livre para eles. É como se a resistência que o
consciente lhes opõe fosse uma função do seu distanciamento do originalmente recalcado.”
“Para a histeria de angústia escolherei um exemplo bem analisado de zoofobia. A pulsão sujeita
ao recalque é uma atitude libidinal frente ao pai, acompanhada da angústia em relação a ele.*
Depois do recalque esse impulso desapareceu da consciência, o pai já não aparece aí como objeto
da libido. Como substituto, em lugar correspondente, encontra-se um animal, que se presta
relativamente bem para objeto de angústia. A formação substitutiva da parte ideativa [da
representante instintual] realizou-se pela via do deslocamento ao longo de uma cadeia de
relações determinada de certa maneira. A parte quantitativa não desapareceu, mas sim
converteu-se em angústia. O resultado é angústia diante do lobo, em vez de reivindicação do
amor do pai. Naturalmente as categorias aqui aplicadas não bastam para fornecer explicação nem
mesmo para o caso mais simples de psiconeurose. Há outros ângulos a serem considerados.”
Neurose Obsessiva – “Aqui ficamos em dúvida, a princípio, sobre o que devemos considerar como
representante submetida ao recalque, se uma tendência libidinal ou uma hostil. A incerteza vem
de que a neurose obsessiva tem por pressuposto um recalque, por meio da qual uma tendência
sádica tomou o lugar de uma afetuosa. É esse impulso hostil para com uma pessoa amada que é
sujeito ao recalque. Numa primeira fase do trabalho de recalque, o efeito é bem diferente do que
será depois. De início, o êxito é completo, o conteúdo ideativo é rechaçado e o afeto é levado a
desaparecer. (...)Formação substitutiva e formação de sintomas não coincidem aqui. (…)É muito
provável que o processo inteiro seja tornado possível pela relação de ambivalência em que se
inscreve o impulso sádico a ser reprimido.” (ibid, pg 12)
“Mas o recalque, inicialmente bom, não se sustenta, e com a progressão das coisas o seu fracasso
ressalta cada vez mais. A ambivalência, que permitiu o recalque através da formação reativa, é
também o lugar onde o recalcado consegue retornar. O afeto desaparecido volta transformado em
angústia social, angústia da consciência, recriminação desmedida, a ideia rejeitada é trocada por
um substituto por deslocamento, com frequência deslocamento para algo menor, indiferente. Em
geral há uma tendência inegável para restabelecer intacta a ideia recalcada. O fracasso na
repressão do fator quantitativo, afetivo, põe em jogo o mesmo mecanismo de fuga por meio de
proibições e escapatórias que já vimos na formação da fobia histérica. Mas a ideia rejeitada do
consciente é tenazmente mantida dessa forma, porque envolve um impedimento da ação, um
entrave motor ao impulso. Assim o trabalho de recalcamento, na neurose obsessiva, prolonga-se
numa luta interminável e sem êxito.”