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TEORIA PSICANALÍTICA – AULA 12 – 14/05/2021

 “O EU E O ISSO” (1923): O nosso psiquismo não funciona numa base do


conflito entre o Princípio do Prazer e o Princípio da Realidade. Pela observação
das neuroses da guerra (1ª Guerra Mundial), ele percebe existir algo além do
Princípio do Prazer, que são as Pulsões de Morte (retorno a um estado
inorgânico, anterior à vida em si). Este último conceito surge do empréstimo de
conceitos biológicos, os quais ele logo supera neste texto de 1923. Os princípios
que regem nosso psiquismo são Eros (Pulsões de Vida) e Tânatos (Pulsões de
Morte). As instâncias do psiquismo até então consideradas por Freud –
inconsciente, pré-consciente e consciente – tornam-se, a partir da atualização
teórica proposta por ele, em qualidades. As instâncias do psiquismo passam a
ser, a partir de então, o Eu (Ego), o Isso (Id) e o Supereu (Superego). A
Psicanálise não pode tomar o psiquismo apenas pela consciência (como sendo
sua essência), mas esta é considerada uma qualidade daquele (estar consciente);
a essência do psiquismo vai estar na relação entre o consciente e o inconsciente.
O que é estar consciente das coisas? Qual vai ser a diferença qualitativa entre o
consciente e o inconsciente? O consciente como percepção (a realidade produz
estímulos perceptórios para mim, que são elaborados e qualificados) fugaz
imediata e segura. Existem elementos na nossa consciência que não produzem
percepção manifesta; existe algo da nossa percepção (que se inscreve na nossa
consciência) que permanece latente. É uma realidade variável: o elemento
latente pode ser capaz de, a qualquer momento, tornar-se consciente, e vice-
versa. O que está latente está qualitativamente inconsciente, mas capaz de
consciência. A nossa consciência, em suma, tem elementos inconscientes.
Qualificamos nossas percepções a partir do exercício da nossa consciência, mas
nem tudo o que está nesta é consciente. “O reprimido é, para nós, o protótipo do
que é inconsciente. Mas vemos que possuímos dois tipos de inconsciente: o que
é latente, mas capaz de consciência, e o reprimido, que em si e sem dificuldades
não é capaz de consciência. (...) Ao que é latente, tão só descritivamente
inconsciente, e não no sentido dinâmico, chamamos de pré-consciente; o termo
inconsciente limitamos ao reprimido dinamicamente inconsciente, de modo que
possuímos agora trêstermos, consciente (cs), pré-consciente (pcs) e inconsciente
(ics), cujo sentido não é mais puramente descritivo. O Pcs, supomos, está muito
mais próximo ao Cs do que o Ics”. Consciente não percebido é diferente de
inconsciente. "Assim como há processos que são conscientes de maneira muito
viva, forte, tangível, também experimentamos outros que são conscientes de
forma débil, quase imperceptível, e os mais debilmente conscientes seriam bem
aqueles aos quais a psicanálise deseja aplicar o inadequado termo
"inconsciente". Mas eles seriam também conscientes ou estariam "na
consciência", e poderiam ser tornados conscientes de modo intenso e completo,
se lhes fosse dada suficiente atenção”. Há, em nossos processos psíquicos uma
certa organização coerente, que é o que se denomina de Eu. Deste partem as
ações de recalque: “A este Eu liga-se a consciência, ele domina os acessos à
motilidade, ou seja: a descarga das excitações no mundo externo; é a instância
psíquica que exerce o controle sobre todos os seus processos parciais, que à
noite dorme e ainda então pratica a censura nos sonhos. Desse Eu partem
igualmente as repressões através das quais certas tendências psíquicas devem
ser excluídas não só da consciência, mas também dos outros modos de vigência
e atividade”. Algo dos elementos preteridos podem ser recalcados, a partir da
ação do Eu. Reconhecimento de um conflito psíquico entre o Eu coerente e o
conteúdo recalcado. O conteúdo inconsciente não é o mesmo que o conteúdo
recalcado; mas tudo o que é recalcado tem uma característica inconsciente. O
nosso inconsciente (Ics), em outras palavras, é maior do que é recalcado; o
recalque não dá conta de todo o inconsciente. Como podemos tomar
conhecimento daquilo que é inconsciente? O caráter dinâmico refere-se ao
movimento de algo inconsciente que emerge para o nosso consciente. A nossa
consciência é a superfície do nosso aparelho psíquico. A questão: “Como algo
se torna consciente?” seria, mais apropriadamente formulada: “Como algo se
torna pré-consciente?”. E a resposta
seria: pela ligação com as
representações verbais
correspondentes. Essas
representações verbais são resíduos
de memória; foram uma vez
percepções e, como todos os resíduos
mnemônicos, podem voltar a ser
conscientes”. Na psicanálise, eu tomo
algo da minha vida, que não era
consciente, e construo um significado
– uma representação psíquica – em
cima disso. Há um preenchimento das
lacunas em nossos processos de
recordação, e este preenchimento se dá pelas representações psíquicas, a
construção de significado necessário ao indivíduo em seu processo de
autoconhecimento. Os resíduos que emergem nos abrem para uma nova
percepção da consciência. Conceito de Isso: ciência. Proponho que a levemos
em consideração, chamando de Eu a entidade que parte do sistema Pcp e é
inicialmente pcs, e de Id,* segundo o uso de Groddeck, a outra parte da psique,
na qual ela prossegue, e que se comporta como ics”. O Isso é o inconsciente
puro, representando as nossas paixões mais irracionais. Conceito do Eu: “Eu é a
parte do Id modificada pela influência direta do mundo externo, sob mediação
do Pcp-Cs (percepção e consciência), como que um prosseguimento da
diferenciação da superfície”. O Eu representa a nossa
razão. A título de explicação, Freud desenvolve a
analogia na qual o Eu é o cavaleiro e o Isso é o cavalo:
o primeiro tenta controlar as rédeas do segundo, mas
este é quem tem maior força. Os conteúdos do Isso
tentam obter descarga através do Eu, que é o que
mantém contato com o mundo externo. O Eu, de forma
inconsciente, é o que convoca a ação do recalque no
sentido de tentar conter o avanço do Isso (sob a égide do Princípio do Prazer). O
adoecimento psíquico do indivíduo aparece a partir deste conflito entre o Eu e o
Isso. O Eu sofre ante a pressão dos imperativos do Isso, do Supereu e o mundo
externo.
Trabalho: relações do Eu com o Isso e com o Supereu (capítulo 5 do texto desta
aula).

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