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Algumas considerações sobre a primeira tópica freudiana e as formações do

Inconsciente
Artigos: A Interpretação dos Sonhos – capítulo 7 – B Regressão (1990 – 1901) e O
Inconsciente (DAS UNBEWUSSTE) (1915)
De acordo com a psicanálise existem processos inconscientes, o que é
fundamental para esta teoria.
O interesse de Freud pelo Inconsciente era prático, pois era capaz de explicar
ou descrever muitos fenômenos com que se defrontava, por outro lado possibilitou a
abertura de um caminho para novas descobertas.
Freud na seção B do capítulo 7 - regressão nos sonhos elaborou a primeira
tópica, utilizou o termo como adjetivo e como substantivo, para definir o aparelho
psíquico em duas etapas essenciais de sua elaboração teórica.
A primeira tópica do aparelho psíquico era visto como um instrumento
composto por instâncias, que segundo Freud teria um sentido semelhante à expressão
“Tribunal de Primeira Instância” (N.R, FREUD, 1974 [1900], p. 492), ou sistemas.
Constrói um aparelho psíquico estruturado em três instâncias: inconsciente,
pré-consciente e consciente. Freud relata que:
retrataremos o aparelho psíquico como um instrumento composto a
cujos componentes daremos o nome de instâncias ou sistemas. (...) A
rigor, não há necessidade da hipótese de que os sistemas psíquicos
realmente se disponham em uma ordem espacial. Bastaria que uma
ordem fixa fosse estabelecida pelo fato de, num determinado
processo psíquico, a excitação atravessar os sistemas numa dada
sequência temporal. (FREUD, 1987 [1900] p. 492)

Como vemos, Freud descreve essas instâncias ou sistemas em um sentido


metafórico que não se relacionam com as localizações cerebrais.
Esse aparelho psíquico tem um sentido e uma direção. “Toda a nossa
atividade psíquica parte de estímulos internos ou externos e termina em inervações.”
(FREUD, 1987 [1900], p.492). Ou seja, este processo tende à descarga.
No quadro esquemático mais geral do aparelho psíquico, temos:
• Extremidade sensorial: sistema que recebe as percepções.
• Extremidade motora: sistema que abre as comportas da atividade motora.
• Os processos psíquicos transcorrem da extremidade perceptual para a
extremidade motora.
• O aparelho psíquico deve construir-se como um aparelho reflexo. Os processos
reflexos continuam a ser o modelo de todas as funções psíquicas.
(FREUD, 1987 [1900], p.493)

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As duas extremidades Pcpt e M podem ser consideradas como constitutivas
do sistema consciente.
Primeira diferenciação na extremidade sensorial (extremidade S):
No aparelho psíquico permanece um traço das percepções que incidem sobre
ele, denominado como traços mnêmicos que se relaciona com a função da memória.
Os traços mnêmicos só podem consistir em modificações permanentes dos elementos
dos sistemas.
Freud atribui as funções de percepção e memória a sistemas diferentes. O
primeiro sistema recebe somente os estímulos perceptivos – sistema consciente, o
segundo sistema transforma as excitações momentâneas do primeiro em traços
permanentes, tem a função da memória – é o sistema pré-consciente, pois de acordo
com Freud, não podemos receber e reter ao mesmo tempo todas as nossas percepções
em um mesmo sistema.
As percepções acham-se ligadas na memória segundo a simultaneidade de
sua ocorrência, ou seja por associação.
A associação consistiria no fato de que, em decorrência de uma diminuição
das resistências e do estabelecimento de vias de facilitação, a excitação é mais
prontamente transmitida de um primeiro elemento Mnem. para um segundo do que
para um terceiro. (FREUD, 1987 [1900]), p.494) então, existem diversos elementos
Mnem que se ligam através de simultaneidade temporal, ou por relações de
similaridade. Porém, como sabemos que o sistema perceptivo é desprovido de
memória, precisa de algo que supre a consciência de toda multiplicidade das
qualidades sensoriais. “Nossas lembranças são inconscientes em si mesmas. Podem
tornar-se conscientes, mas produzem todos os seus efeitos quando em estado
inconsciente.” (FREUD, 1987 [1900], p. 494)
De acordo com Freud:
“O que descrevemos como nosso caráter baseia-se nos traços mnêmicos de
nossas impressões; além disso, as impressões que causaram maior efeito em nós – as
de nossa primeira infância – são precisamente as que quase nunca se tornam
conscientes.” Assim, para Freud, a base da nossa personalidade está na infância, mas
como sabemos fica armazenada de forma inconsciente. Então, não podemos ter
somente dois sistemas – Consciente e pré-consciente, que se acham ligados à
consciência e às percepções sensoriais, que podem tornar-se conscientes a qualquer
momento, existe um sistema que “não tem acesso à consciência senão através do pré-

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consciente, ao passar pelo qual o seu processo excitatório é obrigado a submeter-se a
modificações” (FREUD, 1987[1900], p.496), denominado de sistema inconsciente.
Mas, como isso ocorre, por que certas excitações ficam no pré-consciente, como em
momentos que precisamos da função de atenção, que fazemos ligações quase que
imediatas através das nossas percepções e outras excitações não têm este acesso?
Para Freud “existem duas instâncias psíquicas, uma das quais submeteria a
atividade da outra a uma crítica que envolveria sua exclusão da consciência. A
instância critica tem uma relação mais estreita com a consciência do que a criticada,
situando-se como uma tela entre esta última e a consciência. (...) A instância crítica é
a instância que dirige a nossa vida de vigília e determina nossas ações voluntárias e
conscientes.” Ou seja é o sistema pré-consciente que se situa na extremidade motora,
que permite os processos excitatórios penetrarem na consciência sem maiores
empecilhos.
Como vimos, existem três sistemas, consciente pré-consciente e
inconsciente, veremos como são eles e a sua constituição de acordo com Reis, 2010:
Essas três instâncias são demarcadas por barreiras que as separam entre si.
Recalcamento – é um ato preciso que constitui a barreira que separa o
inconsciente do pré-consciente. Exclui da consciência toda representação psíquica que
a crítica formulada pelo princípio que norteia nossa vida desperta e voluntária julgue
inaceitável.
Inconsciente é “uma outra cena da personalidade”, não é uma negação do
consciente. É constituído de dois aspectos principais:
1. Um conteúdo definido pela presença de atos psíquicos, o qual consiste em
impulsos carregados de desejo. Composto por formações herdadas (protofantasias ou
fantasia originária que são precipitados de eventos reais acontecidos no inicio da
humanidade, transmitidos simbolicamente de geração em geração, passando a
constituir o núcleo inconsciente de cada indivíduo). A essas formações herdadas
junta-se tudo aquilo que foi descartado durante o desenvolvimento infantil e que não é
admitido no consciente adulto. Em geral a divisão entre inconsciente e consciente só
ocorre na puberdade.
2. Um modo de funcionamento que o define como sistema organizado.
Características do inconsciente – os representantes psíquicos convivem lado a lado,
sem contradição, não existe a negação, os representantes pulsionais exigem a
satisfação; ignora a realidade; os processos inconscientes são atemporais – passado e
presente se relacionam por relações de semelhança e contiguidade; os conteúdos estão
sempre ativos e permanecem presentes no inconsciente, mesmo que passem para a
consciência; a energia é livre e móvel, procura ser imediatamente descarregada de
forma rápida e direta, permitindo os processos de deslocamento e condensação.
Características básicas do sistema inconsciente:
- ausência de contradição, de negação e de temporalidade;
- presença de um processo primário (mobilidade dos investimentos libidinais
orientados pela série prazer-desprazer)
- possiblidade de substituir a realidade externa pela realidade psíquica.

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Sobre a consciência podemos dizer que ela se divide em dois sistemas o pré-
consciente e o consciente.
Pré-consciente (pgs. 15 e 16 de Reis, 2010)
Sistema situado entre o consciente e o inconsciente. Entre o pré-consciente e
o inconsciente existe a censura cuja função é impedir que certos conteúdos situados
no inconsciente tenham livre acesso aos sistemas conscientes, se estes conteúdos não
passarem é porque sofreram o processo de recalcamento, se forem liberados, passam a
pertencer ao sistema pré-consciente. Então, no sistema pré-consciente, os
representantes e atos psíquicos não enfrentam nenhuma resistência de se tornarem
conscientes.
Energia ligada – refere-se a um funcionamento energético que pressupõe um
grau mais elevado na estruturação da personalidade. Faz parte do processo secundário
que possui um movimento controlado, posterga e inibe a tendência à satisfação
imediata, associa-se integralmente ao princípio de realidade.
O princípio de realidade opõe-se ao princípio de prazer, que é dominante no
inconsciente. No princípio da Realidade busca-se obter o prazer de acordo com as
condições oferecidas, ou impostas, pela realidade.
Funcionamento do sistema pré-consciente: controle da motilidade, do
pensamento ágil, da atenção, da memória e do raciocínio.
Responsabilidade do sistema pré-consciente: pela censura que bloqueia o
livre acesso dos conteúdos inconscientes ao consciente e à realidade. Quando os
conteúdos do sistema inconsciente passam pela censura, cabe ao sistema pré-
consciente assimilá-los imediatamente organizando-os e coordenando-os através das
categorias de espaço e tempo e, finalmente são associados a um código
representacional.
Consciente
Sistema percepção-consciência (Pcpt.- Cs).
Função principal: consiste na recepção de excitações provenientes do mundo
externo ou do interior do sujeito.
O consciente não se deixa marcar por nenhuma excitação (sistema de traços
mnêmicos).
Censura funcional: separa o consciente do pré-consciente, deixa passar os
elementos psíquicos pré-conscientes que interessam à consciência num dado
momento.

Como Freud queria esclarecer o Inconsciente e, esse termo era ambíguo,


investigou essas ambiguidades e estabeleceu diferenças entre os empregos descritivo,
dinâmico e sistemático da palavra. O artigo metapsicológico, escrito em 1915, “O
Inconsciente”, o autor tenta estabelecer a importância do conceito e descrevê-lo.
Neste artigo, relata que a essência do processo de recalque baseia-se em evitar
que a ideia que representa uma pulsão se torne consciente e, que o recalcado é apenas
uma parte do Inconsciente.
Destaca que a suposição do Inconsciente:

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- é necessária, porque os dados da consciência apresentam um número muito
grande de lacunas.
A experiência diária freudiana lhe familiarizou com “ideias que assomam à
nossa mente vindas não sabemos de onde, e com conclusões intelectuais que
alcançamos não sabemos como. (FREUD, 1974 [1915], p. 191)
- possibilita a construção de uma norma bem sucedida, através da qual
podemos exercer uma influência efetiva sobre o curso dos processos conscientes.
“O conteúdo da consciência é muito pequeno, de modo que a maior parte do
que chamamos conhecimento consciente deve permanecer, por consideráveis períodos
de tempo num estado de latência, isto é, deve estar psiquicamente inconsciente.”
(FREUD, 1974 [1915], p. 193)
“Uma lembrança latente é um resíduo inquestionável de um processo
psíquico.” Sendo assim, “a equivalência convencional do que entre o psíquico e o
consciente é totalmente inadequada.” (FREUD, 1974 [1915], p. 193)
“O único aspecto em que alguns desses estados latentes se diferem dos estados
conscientes é precisamente na ausência de consciência.” (FREUD, 1974 [1915], p.
194)
- é legitima, pois a consciência torna cada um de nós cônscio apenas de seus
próprios estados mentais.
De acordo com Freud, “a psicanálise nos adverte para não estabelecermos uma
equivalência entre as percepções adquiridas por meio da consciência e os processos
mentais inconscientes que constituem seu objeto”. (FREUD, 1974 [1915], p. 197)
II Vários significados de O Inconsciente
Ponto de vista topográfico
O inconsciente abrange, por um lado, atos que são
meramente latentes, mas que em nenhum outro aspecto
diferem dos atos conscientes, e, por outro lado, abrange
processos tais como os conteúdos recalcados, que caso se
tornassem conscientes, estariam propensos a sobressair num
contraste mais grosseiro com o restante dos processos
conscientes.
No sentido sistemático, Freud propõe utilizar a abreviação Cs. para
Consciência e Ics. para o que é inconsciente. Segundo ele, um ato psíquico passa por
duas fases quanto a seu estado, entre as quais se interpõe uma espécie de teste
(censura).
Primeira fase: o ato psíquico é inconsciente e pertence ao sistema Ics. – se for
rejeitado pela censura, fica recalcado e permanece no Ics., se passar pelo teste, vai
para a segunda fase e, pertencerá ao sistema Cs.
Segunda fase: o ato psíquico ao passar pela censura ainda não é consciente,
mas pode tornar-se consciente, sem qualquer resistência especial. “Em vista desta
capacidade de se tornar consciente, também denominamos o sistema Cs. de pré-
consciente.” (p.199) Então, o sistema Pcs participa das características do sistema Cs.
A psicanálise leva em conta a topografia psíquica e, indica, “em relação a
determinado ato mental, dentro de que sistema ou entre que sistemas ela se verifica.”
(ps. 199 e 200)

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A topografia psíquica proposta pela psicanálise “refere-se a regiões do
mecanismo mental, onde quer que estejam situadas no corpo.” (p. 201)
III Emoções Inconscientes
Freud era da opinião de que uma pulsão nunca pode tornar-se objeto da
consciência – só a ideia que o representa pode. Além disso, mesmo no inconsciente,
uma pulsão não pode ser representado de outra forma a não ser por uma ideia. De
acordo com o autor, a possibilidade do atributo da inconsciência seria completamente
excluída no tocante às emoções, sentimentos e afetos.
Mas, como assim?
Um impulso afetivo ou emocional pode ser sentido, mas mal interpretado.
“Devido ao recalque de seu representante adequado, é forçado a ligar-se a outra ideia,
sendo considerado pela consciência manifestação dessa ideia. Se restaurarmos a
verdadeira conexão, chamaremos o impulso afetivo original de inconsciente. Contudo
seu afeto nunca foi inconsciente; o que aconteceu foi que sua ideia sofreu recalque.”
(p. 204)
A verdadeira finalidade do recalque é suprimir o desenvolvimento do afeto.
Em todos os casos em que o recalque consegue inibir o desenvolvimento de afetos,
denominamos esses afetos (que restauramos quando desfazemos o trabalho de
recalque) de inconscientes. [...] Não existem afetos inconscientes da mesma forma
que existem ideias inconscientes. [...] A diferença toda decorre do fato de que ideias
são investimentos – basicamente de traços de memória -, enquanto que os afetos e
emoções correspondem a processo de descarga, cujas manifestações finais são
percebidas como sentimentos. (ps. 204 e 205).
“O recalque pode conseguir inibir um impulso pulsional, impedindo–o de se
transformar numa manifestação de afeto” (p.205), o que mostra que o sistema Cs.:
controla a afetividade e o acesso à motilidade e, que o recalque além de reter as coisas
provenientes da consciência, cerceia o desenvolvimento do afeto e o
desencadeamento da atividade muscular.
De acordo com Freud, existe a possibilidade do afeto proceder diretamente do
sistema inconsciente, “nesse caso, o afeto tem a natureza da angústia, pela qual são
trocados todos os afetos recalcados.” (p. 205) Mas, normalmente, o caminho a ser
percorrido pelo impulso pulsional é de esperar encontrar uma ideia substitutiva no
sistema Cs. [...] No recalque ocorre uma ruptura entre o afeto e a ideia à qual ele
pertence, e que cada um deles então passa por vicissitudes isoladas. Descritivamente,
isso é incontestável; na realidade, porém, o afeto de modo geral, não se apresenta até
que o irromper de uma nova representação no sistema Cs. tenha sido alcançado com
êxito. (FREUD, 1974 [ 1915], p. 206)
IV. Topografia e dinâmica do Recalque
Recalque: processo que afeta as ideias na fronteira entre os sistemas Ics. e Pcs
(Cs).
Freud elabora a seguinte questão: em que sistema ocorre a retirada da catexia
(investimento) e a que sistema pertence a catexia retirada?
1. Recalque propriamente dito (pressão posterior): “afeta os derivados mentais do
representante recalcado, ou sucessões de pensamento que, originando-se em outra

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parte, tenham entrado em ligação associativa com ele. Por causa desta associação,
essas ideias sofrem o mesmo destino daquilo que foi propriamente recalcado.” (Freud,
1974 [1915], p. 171)
Quando o recalque propriamente dito afeta uma ideia pré-consciente ou
mesmo consciente consiste em retirar da ideia a catexia (investimento) (pré)-
consciente que pertence ao sistema Pcs. A ideia portanto, ou permanece não
catexizada (ficando solta a ideia anterior), ou recebe a catexia do Ics. (substitui a
catexia pré-consciente por uma inconsciente), ou retém a catexia do Ics. que já
possuía.
Suposição “a transição do sistema Ics. para o sistema seguinte não se processa pela
efetuação de um novo registro, mas por uma modificação em seu estado, uma
alteração em sua catexia (seu investimento)” (FREUD, 1974 [1915], p. 207) – esta é
a hipótese funcional.
Uma outra questão surge: por que a ideia que permaneceu catexizada ou
recebeu a catexia do Ics não deve renovar a tentativa de penetrar no sistema Pcs.?
Partindo desta questão, Freud investiga os caminhos anteriores ao Recalque
propriamente dito que é a primeira fase do processo de recalcamento – o Recalque
primário, em que consiste em negar entrada no consciente do representante psíquico
(ideacional) da pulsão.
Então, no processo de recalcamento temos duas fases, a primeira denominada
de Recalque primário e a segunda chamada de recalque propriamente dito.
Para Freud existe um outro processo que vem auxiliar na explicação, o da anticatexia
(contra-investimento), onde o sistema Pcs se protege da pressão que sofre por parte da
ideia inconsciente. “É isso que representa o permanente dispêndio [de energia] de um
recalque primário, garantindo, igualmente, a permanência desse recalque. A
anticatexia é o único mecanismo do recalque primário, no caso do recalque
propriamente dito (pressão posterior) verifica-se além disso, a retirada da catexia do
Pcs.” (FREUD, 1974 [1915], p. 208) – este é o ponto de vista econômico.
Freud exemplifica este processo nas: histeria de angústia – que forma a fobia,
na histeria de conversão (caso Anna O.) e na neurose obsessiva, mostraremos o que
ocorre na histeria de conversão.
Na histeria de conversão o papel da anticatexia do sistema Pcs (Cs) é nítido e se
manifesta na formação do sintoma.

A porção escolhida para ser um sintoma atende à condição de


expressar a finalidade impregnada de desejo do impulso pulsional.
[...] Dessa circunstância podemos concluir sem hesitação que a
quantidade de energia despendida pelo sistema Cs no recalque não
precisa ser tão grande quando a energia catexial do sintoma, pois a
força do recalque é medida pela quantidade de anticatexia
despendida, ao passo que o sintoma é sustentado não somente por
essa anticatexia pulsional oriunda do sistema Ics que se acha
condensada no sintoma. (FREUD, 1974 [1915}, p. 212)

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V. Características especiais do sistema Ics.
Núcleo do Ics.: representantes pulsionais que procuram descarregar sua
catexia – impulsos carregados de desejo.
No processo primário existem dois processos:
Deslocamento: uma ideia pode ceder a outra parte sua quota de catexia.
Condensação: uma ideia pode apropriar-se de toda catexia de várias outras
ideias.
“A isenção de contradição mútua, o processo primário (mobilidade das
catexias), a atemporalidade e a substituição da realidade externa pela psíquica – tais
são as características que podemos esperar encontrar nos processos pertencentes ao
sistema Ics.”
O sistema Ics se acha muito prematuramente sobrecarregado pelo sistema
Pcs que ganhou acesso à consciência e à motilidade. por si só o sistema Ics. não seria
capaz, em condições normais, de provocar quaisquer atos musculares adequados, à
exceção dos já organizados como reflexos.
Os processos do sistema Pcs exibem uma inibição da tendência de ideias
catexizadas à descarga. O Pcs não condensa só desloca – quando um processo passa
de uma ideia para outra, a primeira ideia conserva parte de sua catexia e apenas uma
pequena parcela é submetida a deslocamento. Os deslocamentos e as condensações,
tais como ocorrem no processo primário, são excluídos ou bastante restringidos.
VI. Comunicação entre os dois sistemas
“O Ics. continua naquilo que conhecemos como derivados, que é acessível às
impressões da vida, que influencia constantemente o Pcs, e que, por sua vez, está
inclusive sujeito à influência do Pcs.” (FREUD, 1974 [ 1915], p. 218)
O Ics. é rechaçado na fornteira do Pcs, pela censura, mas os derivados do Ics.
podem contornar essa censura, atingir um alto grau de organização e alcançar certa
intensidade de catexia no Pcs. Quando essa intensidade é ultrapassada e eles tentam
forçar sua passagem para a consciência, são reconhecidos como derivados do Ics e
outra vez recalcados na fronteira da censura entre o Pcs e o Ics. (ps. 221 e 222)
O Ics é afetado por experiências da realidade externa, todos os caminhos do
Ics estão abertos para a consciência, só os conteúdos que partem do Ics estão sujeitos
ao bloqueio pelo recalque.
Se existem no ser humano formações herdadas – algo análogo ao
instinto nos animais -, elas constituem o núcleo do Ics. Depois
junta-se a elas o que foi descartado durante o desenvolvimento da
infância como sendo inútil; e isso não precisa diferir, em sua
natureza, daquilo que é herdado. Em geral, uma divisão acentuada e
final entre o conteúdo dos dois sistemas não ocorre até a puberdade.
(FREUD, 1974 [1915], p. 223)

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