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MEMÓRIA

FREUDO-LACANIANA
Fundamentos da Psicanálise I
5º Termo
Prof. Me. Caio César Garcia Carniel
Memória

Aparelho
Psíquico
Linguagem

O artigo Sobre a concepção das afasias, de 1891, apresenta um


esboço de aparelho que articula imagens visuais, táteis,
acústicas, olfativas, gustativas e representações da palavra.
Nesse aparelho, as “representações de palavras” adquirem seu
significado pela relação que a imagem acústica do “complexo
representação-palavra” mantém com a imagem visual do
“complexo formado pelas associações de objeto”.
O aparelho associa não apenas os elementos em si (como a
representação da palavra que inclui imagens acústicas, visuais,
cinestésicas), mas as associações entre si. Como essas vias são móveis
e sujeitas a entrecruzamentos variados, o aparelho se apresenta como
uma intrincada trama de caminhos associativos (GARCIA-ROZA,
1991b, p. 52). É um aparelho de linguagem e memória. A memória
não se acrescenta secundariamente ao aparelho; desde o começo, está
presente. É memória de uma linguagem, de uma escritura.
PROJETO PARA UMA
PSICOLOGIA CIENTÍFICA
(1895)
Nesse artigo Freud propõe um aparelho neuronal
capaz de transmitir e transformar sua energia
interna. Assim, o neurônio é concebido como o
suporte material e o elemento constituinte do
aparelho, e se distinguem três sistemas neuronais
com características específicas, correspondentes à
percepção, à consciência e à memória.
TRILHA DA MEMÓRIA
O sistema PSI é um aparato de memória constituído pelas
facilitações/trilhas/trilhamentos existentes entre os neurônios. Há uma trama
de caminhos facilitadores em certas direções e dificultadores em outras, os
percursos são diferenciados. O que caracteriza a memória é que a diminuição
das resistências oferecidas por certas barreiras de contato facilita o percurso
em determinadas direções e não em outras, o que dá lugar à repetição dos
percursos facilitados. Se a facilitação fosse igual em todas as partes não se
explicaria a predileção por um caminho. A memória é formada pelas
diferenças entre as facilitações no sistema PSI. É a diferença entre as
facilitações/resistências que vai decidir a direção do fluxo de excitação. Não é
a retenção propriamente dita a responsável pela memória, mas as diferenças
nos percursos de excitação.
MEMÓRIA = TRAÇO
É por meio dos traços mnêmicos que os acontecimentos psíquicos ficam gravados
de forma permanente, sendo reativados por efeito do investimento. Todo traço é
traço de uma impressão, momento primário da elaboração mnêmica, anterior à
inscrição e posterior à sensação. O traço é a forma como a impressão mantém seus
efeitos e se constitui pela elevação das barreiras de contato ao livre escoamento da
excitação, dependendo da intensidade da impressão e da repetição. As primeiras
experiências deixarão, como produtos duradouros, certas tendências ou caminhos
preferenciais. O que está sendo constituído a partir das experiências infantis não é
apenas a memória, mas simultaneamente uma tendência ou força, o desejo primário,
o que Freud, posteriormente, conceituará como pulsão. É uma memória “desejante”,
pulsional.
O modelo de aparelho psíquico da “Carta 52” (FREUD, 2016, p. 36)

No esquema, a Percepção (P) corresponde à impressão do mundo exterior. É a pura transparência à qual vai se ligar a
consciência e que não retém qualquer traço. Essas percepções não correspondem a nenhuma experiência, são o dado bruto
desprovido de qualidade. As Percepções vão dar lugar a uma primeira inscrição, os signos de percepção (sP), primeiro
registro mnêmico organizado de acordo com associação por simultaneidade e inteiramente inacessível à consciência. O que
vai se oferecer como conteúdo do aparelho psíquico são signos que serão inscritos e transcritos. O registro seguinte é o da
Unbewusstsein, inconsciência (Ic), organizado provavelmente segundo a associação por causalidade e também inacessível
à consciência. O terceiro registro é a Vorbewusstsein, pré-consciência (Pc), ligada à representação-palavra, correspondente
ao eu. Os investimentos provenientes da Pc tornam-se conscientes segundo certas regras. Os registros são sucessivos, e a
passagem de um para o outro se faz através de uma tradução (reordenamento, retranscrição) do material psíquico
(GARCIA-ROZA, 1991a, p. 204). Nota-se que a percepção e a pré-consciência/consciência se situam em extremidades
separadas.
1ª TÓPICA DO APARELHO PSÍQUICO
FREUD (1900) 8

Um sistema situado na frente do aparelho (Pcpt) recebe os estímulos, mas não os


registra, uma vez que tem de estar permanentemente aberto às novas percepções. As
funções de retenção, registro, armazenamento e associação são atribuídas aos diversos
sistemas mnêmicos (Mnem) que recebem as excitações do primeiro sistema e as
transformam em traços permanentes. Não há um único, mas vários estratos/sistemas de
memória, o último dos quais o inconsciente (Ics), que precede e suporta o pré-
consciente (Pcs). O Pcs está ligado essencialmente à linguagem e desemboca
diretamente na motricidade, no ato e na consciência. O funcionamento do aparelho é
assegurado por uma série de sistemas estratificados de memória que precedem o Ics,
que, por sua vez, precede o Pcs. Entre esses sistemas há censuras que impedem o livre
trânsito das representações. Como no aparelho da Carta 52, a consciência se encontra
nas duas extremidades do aparelho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREUD, S. Carta 112[52]. In: Neurose, psicose, perversão. Belo Horizonte: Autêntica, 2016.
FREUD, S. Carta 52. In: Publicações Pré-Psicanalíticas. Rio de Janeiro: Imago, 1976a. (Edição Standard
Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, I).
FREUD, S. Estudos sobre a Histeria. Rio de Janeiro: Imago, 1976b. (Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, II).
FREUD, S. Nota sobre o bloco mágico. Rio de Janeiro: Imago, 1976c. (Edição Standard Brasileira das Obras
Psicológicas Completas de Sigmund Freud, XVI).
FREUD, S. A psicopatologia da vida cotidiana. Rio de Janeiro: Imago, 1976d. (Edição Standard Brasileira das
Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud).
FREUD, S. Projeto de uma Psicologia Científica [1895]. In: Publicações Pré-Psicanalíticas. Rio de Janeiro:
Imago, 1976e. (Edição Standard Brasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud, I).
FREUD, S. Sobre a concepção das afasias: um estudo crítico. Trad. Emiliano Rossi. Belo Horizonte: Autêntica,
2013. (Obras Incompletas de Sigmund Freud).
GARCIA-ROZA, A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991a, v. I.
GARCIA-ROZA, A. Introdução à metapsicologia freudiana. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991b, v. II.
GARCIA-ROZA, A. Freud e o inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1987.

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