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OS ARQUÉTIPOS E O INCONSCIENTE COLETIVO

2021

Maria José do Amaral Ferreira

mariajaf2@gmail.com
JUNG E A PSICOLOGIA

• Jung se insere na tradição da psicologia profunda, que se interessa pelos níveis


inconscientes da psique, ou seja, pelos sentidos mais profundos da alma

• Alma: palavra que se refere àquele componente desconhecido que torna possível o
significado, transforma os eventos em experiências, ao aprofundá-los, é comunicado no
amor e tem um anseio religioso. Ainda que intangível e indefinível, a alma assume a
importância mais elevada na hierarquia dos valores humanos
O OLHAR JUNGUIANO

• No dizer poético de um analista, o olhar junguiano busca o outro lado da Lua. Procura não
tanto a face por detrás da máscara, mas o que se oculta por detrás da própria face.

• Para desvendá-lo e compreendê-lo, a psicologia junguiana assume um modo de observar,


pensar e fazer no qual se fundem objetividade e arte, ciência e poesia, formação e iniciação,
tudo isto mediado pela alma
JUNG E O INCONSCIENTE

• A tarefa fundamental da vida de Jung consistiu em inventar ou descobrir modos e


ferramentas para abordar o inabordável, cunhar termos para referir-se ao transcendente e
abrir espaço para o não-manifesto no terreno da experiência – no seu caso, na área menos
iluminada da psique, o inconsciente

• O inconsciente é a noção básica da psicologia junguiana. Trata-se daquela parcela da


realidade psíquica que não pode ser diretamente observada, descrita, mensurada ou
conceituada, mas que, no entanto, tem importância fundamental. Jung a considera como
uma “camada viva, criativa, a germinar em cada um de nós”, fonte de potenciais e de
criatividade
INCONSCIENTE

• A princípio, a noção de inconsciente limitava-se a designar o estado dos conteúdos


reprimidos e esquecidos. Para Freud, o inconsciente nada mais é do que o espaço de
concentração desses conteúdos

• Já Jung reconhece duas camadas no inconsciente: uma, mais superficial, que é o


inconsciente pessoal, e outra, mais profunda, o inconsciente coletivo
INCONSCIENTE PESSOAL

• Para Jung, o inconsciente pessoal compreende percepções e impressões subliminares


dotadas de carga energética insuficiente para atingir o consciente; combinações de ideias
ainda demasiado fracas e indiferenciadas; traços de acontecimentos ocorridos durante o
curso da vida e perdidos pela memória consciente; recordações penosas de serem
relembradas; os complexos; nossas áreas pouco iluminadas, escuras; e nosso lado negativo
INCONSCIENTE COLETIVO

• Já o inconsciente coletivo corresponde aos fundamentos estruturais da psique comuns a


todos os homens. Trata-se da “matriz de todas as ocorrências psíquicas”

• Representa nossa herança comum, que transcende todas as diferenças de cultura e de


atitudes conscientes

• Compreende nossas disposições latentes para reações idênticas, herdadas, que estruturam
nossa mente
Saiba
(Arnaldo Antunes)

Saiba: todo mundo foi neném/ Einstein, Freud e Platão também.


Hitler, Bush e Saddam Hussein/ Quem tem grana e quem não tem
Saiba: todo mundo teve infância/ Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu/ E também você e eu
Saiba: todo mundo teve medo/ Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir/ Fernandinho Beira-Mar
Saiba: todo mundo vai morrer/ Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano/ Todo e qualquer ser humano
Saiba: todo mundo teve pai/ Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé, Moisés, Ramsés, Pelé/ Gandhi, Mike Tyson, Salomé
Saiba: todo mundo teve mãe/ Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet/ E também eu e você
E também eu e você/ E também eu e você
INCONSCIENTE COLETIVO

Fonte: www.hyperscience.com
INCONSCIENTE COLETIVO

Fonte: www.estudokids.com.br
INCONSCIENTE COLETIVO

Fonte: NASA (divulgação)


INCONSCIENTE COLETIVO

Fonte: www.brasilescola.uol.com.br
INCONSCIENTE COLETIVO

Fonte: www.leblogtvnews.com
INCONSCIENTE COLETIVO

• Corresponde à expressão psíquica da estrutura cerebral. É uma espécie de arcabouço que


determina a forma geral e as fronteiras da vida psíquica. Assim como o corpo herda uma
estrutura que nos determina os contornos físicos, a mente também é estruturada por fatores
herdados, por potenciais, padrões de percepção psíquica, disposições para certos tipos de
atividade humana – estruturas mentais, em suma
INCONSCIENTE COLETIVO

• Não tem sua origem em experiências ou aquisições pessoais: é inato.

• Não é de natureza individual, mas coletiva, universal

• Possui conteúdos idênticos em toda parte e em todos os seres humanos

• Constitui um substrato psíquico comum a toda a humanidade, que existe em cada indivíduo
ORIGEM DA NOÇÃO

• Jung observava que, em sonhos e visões, ocorriam imagens mitológicas típicas

• Alucinações de paciente esquizofrênico (fálus ereto no sol como a origem do vento - 1906).
Em 1910, Jung estabeleceu um paralelo com um texto antigo e, a partir daí, formulou a
hipótese do inconsciente coletivo

• Além dos aspectos pessoais, estão presentes no inconsciente de cada indivíduo fantasias
derivadas das possibilidades herdadas da imaginação humana, com as quais o indivíduo
nasce
RAÍZES COMUNS A TODOS

• Trata-se de estruturas inatas, chamadas arquétipos, que compõem o inconsciente coletivo

• Correspondem a disposições que levaram eras e eras para se formar

• São os padrões mais profundos do funcionamento psíquico, comuns a todos nós. Raízes da
alma, governam a psique e as perspectivas que temos de nós mesmos e do mundo
RAÍZES COMUNS A TODOS

• Os arquétipos não podem ser entendidos conceitualmente. A dificuldade de explicá-los


sugere algo específico a eles: tendem a ser metáforas, ao invés de coisas. É mais possível
descrever um arquétipo em imagens do que dizer literalmente o que ele é. Não podemos
tocar, ou mesmo apontar um arquétipo; em vez disso, mostramos com o que eles se
parecem

• Os arquétipos são moldes psíquicos no qual são despejadas as experiências básicas da


humanidade
RAÍZES COMUNS A TODOS

• Não podemos ver o inconsciente coletivo, já que ele consiste em disposições, potenciais,
virtualidades. Podemos apenas inferir sua existência, a partir das várias imagens e símbolos
que, independentemente de raça e cultura, surgem de modo recorrente em todas as épocas
e lugares (nos mitos, nos contos de fadas, nos sonhos, no folclore, etc.). O inconsciente
coletivo é, portanto, um campo invisível, que, contudo, pode se tornar visível através de
imagens e símbolos
RAÍZES COMUNS A TODOS

• Arquétipos: são uma espécie de matriz, de raízes comuns a toda humanidade

• Consistem nas leis e princípios dominantes e típicos dos eventos que ocorreram no ciclo de
experiências da alma humana ao longo do tempo. São uma figuração do mundo, a
sedimentação multimilenar da experiência

• Trata-se de herança potencialmente presente em todos os indivíduos


RAÍZES COMUNS A TODOS

• Os arquétipos, são, portanto, os conteúdos do inconsciente coletivo

• Assumem matizes que variam de acordo com as experiências individuais nas quais se
manifestam, expressando-se através de determinadas representações (antropomórficas ou
não)
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Arquétipos: são conceitos vazios, não-preenchidos. Consistem nas “estruturas esqueléticas”


da psique

• São formas universais coletivas, básicas e típicas da vivência de determinadas experiências


recorrentes

• Definimos como conteúdos coletivos todos os instintos e formas básicas de pensamento e


sentimento, tudo aquilo que consideramos como universal
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Os arquétipos nos predispõem a viver de acordo com alguns padrões estabelecidos na


psique

• Por seu intermédio, somos levados a repetir certas situações típicas de comportamento e
adquirir determinadas experiências

• Não se trata de experiências herdadas; herda-se o potencial de repetição dessas


experiências
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Os arquétipos são dinamismos que criam as representações coletivas conscientes, sem


contudo ser idênticos a elas

• Formam os símbolos ao se revestirem das experiências pessoais do indivíduo

• Arquétipos: são como o leito de um rio por onde flui a energia psíquica do homem (mostram
como a energia psíquica percorreu seu curso desde tempos imemoriais)
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Os arquétipos possibilitam e organizam a manifestação da energia psíquica; fornecem


significado simbólico que integra a percepção sensorial externa às vivências internas;
liberam a energia psíquica e guiam nossas ações

• Canalizam o instinto puro para formas mentais, fazendo a conexão entre natureza e espírito.
São os precursores das ideias
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Arquétipo: conceito comparável ao conceito platônico de ideia. Para Platão, a realidade


fundamental é composta de ideias ou formas abstratas (o mundo das ideias), e a aquisição
de conhecimento representa uma espécie de recordação, na qual formas ou ideias,
aprendidas antes do nascimento, vêm à tona graças ao estímulo da experiência sensorial

• Mito da caverna: aquilo que o homem enxerga na entrada da caverna (o mundo sensível),
acreditando que se trata de coisas reais, nada mais é do que sombras de figuras projetadas
nas paredes interiores

• As essências imutáveis descritas por Platão seriam comparáveis aos arquétipos


A CAVERNA

Fonte: www.12.senado.leg.br
REPRESENTAÇÕES COLETIVAS INCONSCIENTES

• Arquétipos: não provêm dos fatos físicos. Por meio de nossas imagens, mostram a maneira
como a psique experimenta as ocorrências físicas. Trata-se, assim, de impressões
produzidas por reações subjetivas

• Arquétipos: abrangem a dimensão biológica e a espiritual. São conceitos intuitivos dos


fenômenos físicos. Certos arquétipos talvez já estejam presentes nos animais, pertencendo
assim ao próprio sistema da vida
Fonte: www.tudonavidaetreino.blogspot.com
SEBASTIÃO SALGADO

Fonte:www.revistaprosaversoearte.com
“Em minha primeira reportagem em Galápagos, por exemplo, certo dia
acompanhei uma iguana, réptil que a princípio não tem muito a ver com
nossa espécie. Mas ao observar uma de suas patas dianteiras, de repente
vi a mão de um guerreiro medieval. Suas escamas me fizeram pensar
numa cota de malha, sob a qual reconheci dedos parecidos com os meus.
Pensei: essa iguana é minha prima”. (SALGADO, S. “Da minha terra à
Terra”, p. 103-104. São Paulo, Paralela, 2014).
O PANO DE FUNDO DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS

• Vivemos arquetipicamente (somos guiados, queiramos ou não, por arquétipos)

• Possuímos uma predisposição arquetípica para desempenhar papéis (pai, mãe, filho, filha,
amigo, amiga, professor, aluno, etc.)

• Impulsionados pelos arquétipos, fazemos escolhas e enfrentamos situações


O PANO DE FUNDO DE NOSSAS EXPERIÊNCIAS

• Um arquétipo não é idêntico a suas manifestações, mas funciona como um pano de fundo
da experiência. São as experiências do indivíduo que irão preenchê-lo. Por isso sua forma
muda continuamente (são como “um vaso que nunca podemos esvaziar nem preencher
totalmente”). Não podemos conhecer um arquétipo; só conseguimos perceber as suas
manifestações
A NUMINOSIDADE DO ARQUÉTIPO

• Arquétipos: não são conceitos com valor apenas teórico. Ganham vida em nossa
experiência quando se manifestam através de sonhos, fantasias ou na vida concreta.
Quando surgem, têm um caráter numinoso, isto é, têm um efeito emocional possessivo

• Numinosidade de um arquétipo: é o sentimento de que se trata de uma coisa especial e


mesmo espiritual, sagrada, que parece transcender os limites da experiência comum. A
força do arquétipo pode, algumas vezes, levar o indivíduo a agir como se estivesse
possuído por um impulso desenfreado (Ex: alguém loucamente apaixonado...)
A NUMINOSIDADE DO ARQUÉTIPO

• Quando ativado, o arquétipo atrai como que por imantação conteúdos da consciência,
acumulando em torno de si as ideias e experiências emocionais carregadas de afetividade
que compõem o complexo pessoal

• Complexo: agrupamento de conteúdos dotado de carga energética intensa, conferida por


um arquétipo situado em seu núcleo central
A NUMINOSIDADE DO ARQUÉTIPO

• Arquétipo: é ativado quando o indivíduo se vê em uma situação ou próximo a uma pessoa


que apresente similaridade com ele (Ex: pessoa que cuida de uma criança pequena ativa o
arquétipo da Grande Mãe, que representa a maneira típica como as experiências da
maternidade foram acumuladas na psique humana desde tempos imemoriais). Mas aí
reveste-se de peculiaridades próprias da cultura, tempo e lugar em que se manifesta: a
energia em estado potencial se atualiza, resultando numa imagem arquetípica (não mais
uma virtualidade)
A NUMINOSIDADE DO ARQUÉTIPO

• Para a ativação saudável do arquétipo, é preciso estar em contato com pessoas e situações
apropriadas (rituais) e em sintonia com o funcionamento predeterminado do arquétipo

• Bebê: vivenciando o arquétipo da Grande Mãe, começa a desenvolver seu complexo


materno. Vivenciando o arquétipo do Pai, começa a desenvolver seu complexo paterno
CURA OU VENENO

• A energia psíquica que se expressa em um arquétipo é sempre ambivalente, dupla, pois ele
contém os aspectos positivos e negativos de um determinado tema

• Quando atuam positivamente, os arquétipos estão por trás de toda atividade criadora
humana

• Quando atuam negativamente, manifestam-se como unilateralidade, rigidez, fanatismo


CURA OU VENENO

• Todos os arquétipos são, assim, estruturas bipolares, que apresentam aspectos criativos e
estruturantes e aspectos negativos e destruidores. Ambos os pólos devem ser acolhidos
pela consciência como possibilidades de comportamento humano

• A existência dupla dos arquétipos aparece em diversos pares de opostos: positivos e


negativos, instinto e espírito, congênitos, ainda que herdados, estruturas formais e
conteúdos, incognoscíveis e cognoscíveis através de imagens
CURA OU VENENO

• Podemos comparar a consciência com a flor e o fruto de uma planta cujas raízes fincam-se
profundamente nos arquétipos, que representariam a porção do solo de onde as raízes da
planta retiram seus nutrientes básicos. O conjunto das camadas mais profundas do solo
representa o inconsciente coletivo. Quanto menor o contato da flor e do fruto com suas
raízes, mais unilateral e rígida será a ativação do arquétipo
CURA OU VENENO

• Falamos de arquétipo no plural: a multilateralidade da natureza humana requer o espectro o


mais amplo possível de estruturas básicas

• Através dos arquétipos podemos reunir eventos pessoais disparatados e descobrir um


sentido e uma profundidade para além de nossos hábitos e peculiaridades individuais; e
com eles podemos estabelecer uma conexão entre o que acontece em cada alma individual
e o que acontece a toda gente, em todos os lugares
CURA OU VENENO

• Um arquétipo nunca se esgota nem pode ser reduzido a uma fórmula qualquer

• Uma boa tradução do arquétipo implica a possibilidade de fazer uma conexão significativa
entre a consciência e o inconsciente, por meio da compreensão e da integração do símbolo
criado por ele

• Falha na tradução do arquétipo: resultará numa atitude inadequada


CURA OU VENENO

• Arquétipos que com muita frequência afetam nossa vida: Grande Mãe, Pai, Persona,
Sombra, Anima, Animus, Herói e Self (Si - Mesmo)
GRANDE MÃE

Fonte: www.revistacrescer.globo.com
Canção Amiga
(Milton Nascimento e Carlos Drummond de Andrade)

Eu preparo uma canção/ Em que minha mãe se reconheça


Todas as mães se reconheçam/ E que fale como dois olhos
Caminho por uma rua/ Que passa em muitos países
Se não me vêem, eu vejo/ E saúdo velhos amigos

Eu distribuo um segredo/ Como quem ama ou sorri


No jeito mais natural/ Dois carinhos se procuram
Minha vida, nossas vidas/ Formam um só diamante
Aprendi novas palavras/ E tornei outras mais belas

Eu preparo uma canção/ Que faça acordar os homens


E adormecer as crianças
Clareana
(Joyce Moreno)

Um coração
de mel de melão
de sim e de não
é feito um bichinho
no sol de manhã
novelo de lã
no ventre da mãe
bate o coração
de Clara, Ana
e quem mais chegar
água, terra, fogo e ar
GRANDE MÃE

Fonte: www.primeirainfancia.org.br
GRANDE MÃE

Fonte: www.paisefilhos.uol.com.br
GRANDE MÃE

Fonte: www.diariodonordeste.verdes-mares.com.br
GRANDE MÃE

Fonte: www.pt.wahooart.com
GRANDE MÃE

Fonte: www.gestaoeducacional.com.br
GRANDE MÃE

Fonte: Acervo pessoal


GRANDE MÃE

Fonte:www.correiobraziliense.com.br
GRANDE MÃE

Fonte: www.digitalvet.com.br
GRANDE MÃE

Fonte: Agência Reuters


GRANDE MÃE

Fonte: www.g1.globo.com
GRANDE MÃE

Fonte:www.seropedicaonline.com
GRANDE MÃE

Fonte: Acervo pessoal


GRANDE MÃE

Fonte: www.tvcomunitariadf.com
GRANDE MÃE

• Corresponde à imagem primordial que condensa todas as experiências relacionadas à maternidade


acumuladas pela humanidade ao longo dos séculos

• Polaridade positiva: amor, carinho, proteção, nutrição e aceitação (todo impulso ou instinto benigno,
tudo o que acaricia, sustenta e propicia o crescimento e a fertilidade)

• Polaridade negativa: a mãe terrível devoradora, que seduz, asfixia, rejeita, abandona e aprisiona
PAI

Fonte: www.revistacrescer.globo.com
Naquela Mesa
(Sérgio Bittencourt)

Naquela mesa ele sentava sempre/ E me dizia sempre o que é viver melhor
Naquela mesa ele contava histórias/ Que hoje na memória eu guardo e sei de cor
Naquela mesa ele juntava a gente/ E contava contente o que fez de manhã
E nos seus olhos era tanto brilho/ Que mais que seu filho eu fiquei seu fã
E nos seus olhos era tanto brilho/ Que mais que seu filho eu fiquei seu fã

Eu não sabia, eu não sabia que doía tanto/ Uma mesa no canto, uma casa e um jardim
Se eu soubesse o quanto dói a vida/ Essa dor tão doída não doía não doía assim
Agora resta uma mesa na sala/ E hoje ninguém fala no seu bandolim
Naquela mesa tá faltando ele/ E a saudade dele tá doendo em mim
Naquela mesa tá faltando ele/ E a saudade dele tá doendo em mim
PAI

Fonte: www.saude.abril.com.br
PAI

Fonte:www.blog.mooui.com.br
PAI

Fonte: www.família.com.br
PAI

Fonte: www.folhape.com.br
PAI

Fonte: www.uol.com.br
PAI

Fonte: Acervo pessoal


PAI

• Corresponde à imagem primordial que condensa todas as experiências relacionadas à


paternidade acumuladas pela humanidade ao longo dos séculos

• Polaridade positiva: organização, responsabilidade, estruturação de regras, limites, leis etc.

• Polaridade negativa: autoritarismo, repressão


PERSONA

Fonte: www.br.depositphotos.com
Poema em linha reta - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Nunca conheci quem tivesse levado porrada.Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E
eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, eu, tantas vezes irrespondivelmente
parasita, indesculpavelmente sujo, eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, eu,
que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das
etiquetas, que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, que tenho sofrido enxovalhos e
calado, que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda. Eu, que tenho sido cômico às
criadas de hotel, eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, eu, que tenho feito
vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, eu, que quando a hora do soco surgiu, me tenho
agachado para fora da possibilidade do soco. Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas
ridículas, eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu conheço e que fala
comigo nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu um enxovalho, nunca foi senão príncipe - todos eles
príncipes - na vida... Quem me dera ouvir de alguém a voz humana que confessasse não um pecado,
mas uma infâmia; que contasse não uma violência, mas uma covardia! Não, são todos o Ideal, se os
oiço e me falam. Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? Ó príncipes, meus
irmãos, arre, estou farto de semideuses! Onde é que há gente no mundo? Então sou só eu que é vil e
errôneo nesta terra? Poderão as mulheres não os terem amado, podem ter sido traídos - mas ridículos,
nunca! E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, como posso eu falar com os meus superiores
sem titubear? Eu, que tenho sido vil, literalmente vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza.
PERSONA

Fonte:www.todamateria.com.br
PERSONA

Fonte: www.br.freepik.com
PERSONA

Fonte:www.estudopratico.com.br
PERSONA

Fonte:www.pt.wikipedia.org
PERSONA

Fonte: www.veja.abril.com.br
PERSONA

• A persona diz respeito ao que é esperado socialmente de uma pessoa e à maneira como ela
acredita que deva parecer. Trata-se de um compromisso entre o indivíduo e a sociedade

• Funciona como uma roupagem, como um mediador em relação ao mundo externo. Anuncia
aos outros como a pessoa deseja ser vista.

• A adaptação social relaciona-se à adequação da persona


PERSONA

• Roupas, postura corporal, movimentos, ornamentos e adereços, etc.: compõem a persona

• A persona pode tanto expressar como esconder

• A persona ideal é a flexível, que permite a adequação a diferentes situações (desde que as
máscaras que adotarmos correspondam de fato ao que somos)

• Se houver rigidez, há uma identificação com a persona, o que fragiliza a identidade e


esvazia a interioridade
SOMBRA

Fonte:www.wemystic.com
Sete Estrelas
(Fátima Guedes)
Eu sou a música da gente quando nua e crua, escorro do nariz do pobre quando ele se assua, sou
Carolina na janela, desejando a rua, com a solitude eu ando acompanhado, cada virtude minha é um
pecado. Varejeira come lixo feito creme chantilly. Que mistério tem aí? E qual lição que eu aprendi?
Sou o cachorro na viela cobiçando a lua, sou o vermelho da donzela quando ela menstrua, o
amassado na baixela feito com gazua. A solitude eu quis por companheira, cada mentira minha é
verdadeira.Trepadeira borda folha feito ponto macramê, é um mistério de se ver, é uma lição pra se
aprender, pior que a morte é desviver. Varejeira faz zoeira do monturo do meu coração. Sete estrelas,
eu quisera, sete vezes azuis, sentinelas do meu violão, ô...ô...

Eu sou a lágrima e o sal que o triste chora e sua, eu sou a fome que há na santa quando ela jejua, e o
grito doido na garganta de uma cacatua. Com a solitude eu ando acompanhado, cada virtude minha é
um pecado. Varejeira come lixo feito creme chantilly. Que mistério tem aí? E qual lição que eu
aprendi? Sou a paixão que faz sequela quando pega e incrua, eu sou o monstro da lagoa, quando ele
flutua, se tu disser que é a minha, eu digo que é a tua. A solitude eu quis por companheira, cada
mentira minha é verdadeira.Trepadeira borda folha feito ponto macramê, é um mistério de se ver, é
uma lição pra se aprender, pior que a morte é desviver. Trepadeira tece esteira, nas paredes do meu
coração, sete estrelas benfazejas, sete vezes irmãs sertanejas do meu violão.
SOMBRA

Fonte: www.jmcoaching.com.br
SOMBRA

Fonte: www.osegredo.com.br
SOMBRA

Fonte: www.clicksergipe.com.br
SOMBRA

Fonte: www.mundoeducacao.uol.com.br
SOMBRA

Fonte: www.andergeo2012.blogspot.com
SOMBRA

Fonte: www.revistagalileu.globo.com
SOMBRA

Fonte: www.greenpeace.org
SOMBRA

• O avesso do avesso, o desconhecido que nos acompanha

• Conteúdos privados da luz da consciência

• A sombra mantém uma relação compensatória com a persona (muitas vezes aparece, nos
sonhos, como figuras negativas ou sinistras ou destrutivas ou feias ou desadaptadas)

• Mostra nossas inferioridades, nossos impulsos inaceitáveis, nossos desejos vergonhosos (mas
não só)

• A vivência da sombra costuma ser dolorosa

• Iluminar a escuridão, não simplesmente imaginar figuras de luz


SOMBRA

• Mecanismos de defesa (projeção, negação, repressão...): atuam mantendo os conteúdos da


sombra dissociados do consciente

• Se abandonarmos a sombra, corremos o risco de vê-la surgir com violência redobrada

• Sombra: também contém nossas qualidades positivas reprimidas ou abandonadas, assim


como conteúdos que nunca estiveram na consciência

• Confronto com a sombra: diminui o seu poder e pode torná-la uma aliada, restituindo-nos
energia
ANIMA E ANIMUS

Fonte:www.formação.cancaonova.com
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.consultapsicologa.com.br
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.pt.dhgate.com
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.pt.aliexpress.com
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.arteeartistas.com.br
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.elo7.com
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.psicologoeterapia.com.br
ANIMA E ANIMUS

Fonte: www.campograndenews.com.br
ANIMA E ANIMUS

• Pontes para o inconsciente, guias para as profundezas da psique, mediadores entre a


consciência e o inconsciente

• Ligam-nos ao Outro, ao desconhecido, por meio das projeções

• No inconsciente de cada homem, há aspectos femininos; e no de cada mulher, aspectos


masculinos

• Esses arquétipos contrassexuais convidam e guiam a pessoa para uma compreensão mais
profunda de seu mundo inconsciente
ANIMA E ANIMUS

• Para a psicologia analítica clássica, a anima é a personificação do princípio feminino no


inconsciente do homem. É projetada inicialmente na mãe, depois pode ser transferida para
outras figuras (professora, irmã, uma atriz, uma cantora, a namorada, a esposa...)
ANIMA E ANIMUS

• Para a psicologia analítica clássica, o animus é a personificação dos aspectos masculinos


no inconsciente da mulher. É projetado inicialmente no pai, depois transferido ao professor,
irmão, avô, a um esportista, a um político, ao homem amado, etc.
ANIMA E ANIMUS

• É importante considerar, no entanto, as mudanças culturais e o espírito da época quanto ao


que é reconhecido como masculino e feminino (não associar rigidamente a anima à mulher
e a Eros e o animus ao homem e ao Logos)

• Hoje esses arquétipos são vistos como imagens da alma, a personificação íntima da psique
de uma pessoa, não apenas como o seu lado feminino ou masculino
ANIMA E ANIMUS

• São os arquétipos envolvidos no relacionamento com o Outro e funcionam na relação afetiva.


Fazem as pessoas se apaixonarem, estabelecerem relacionamentos amorosos

• Juntos, representam os arquétipos da união ou da coniunctio conjugal

• Quando constelados, mobilizam grandes emoções, podem “tomar” a psique da pessoa,


“possuí-la”
ANIMA E ANIMUS

Exemplo de possessão pela anima:

“Camilo quis sinceramente fugir, mas não pôde. Rita, como uma serpente, foi-se acercando
dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca.
Ele ficou atordoado e subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura,
mas a batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o sapato se
acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada afora, braços dados...” (A cartomante, Machado
de Assis)
ANIMA E ANIMUS

• Função psicológica principal: estabelecer uma ponte entre os mundos consciente e


inconsciente, possibilitando uma relação dialética entre ambos

• Evocam imagens diferentes do modo pelo qual a pessoa se vê, um Outro desconhecido e,
mais que isso, misterioso

• Levam a um contato com objetos internos da psique que, para poderem ser vistos,
escutados, são projetados em objetos externos
HERÓI

Fonte: www.pt.wikipedia.org
HERÓI

Fonte: www.blogletras.com
HERÓI

Fonte: www.rainhastragicas.com
HERÓI

Fonte: www.agenciaade.com.br
HERÓI

Fonte: www.nationalgeographic.com
HERÓI

Fonte: www.correiobraziliense.com.br
HERÓI

Fonte: www.carro.blog.br
HEROÍNA

Fonte: www.brasil.elpais.com
HEROÍNA

Fonte: www.metrópoles.com
HERÓI COLETIVO

Fonte: www.cinemaitaliano.blogspot.com
Exaltação a Tiradentes
(Samba-enredo da Império Serrano, de Mano
Décio da Viola, Estanislau Silva e Penteado)

Joaquim José da Silva Xavier


Morreu a vinte e um de abril
Pela independência do Brasil
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Foi traído e não traiu jamais
A Inconfidência de Minas Gerais
Joaquim José da Silva Xavier
Era o nome de Tiradentes
Foi sacrificado pela nossa liberdade
Esse grande herói
Pra sempre deve ser lembrado
HERÓI

• O tema do herói existe em várias mitologias (um jovem luta contra o monstro devorador ou o
poder das trevas para conquistar a princesa, sua futura esposa, ou o tesouro com o qual se
tornará o futuro rei)

• O herói enfrenta perigos, despede-se do lar e da rotina, e participa de uma série de


aventuras e provações
HERÓI

• Arquétipo fundamental para o desenvolvimento pessoal e da cultura

• Todas as grandes transformações pelas quais passamos são, ao se iniciarem,


impulsionadas pela busca heroica

• Dá-nos força para enfrentar situações novas, enfrentar novos desafios. Aparece na atitude
heroica em relação aos eventos
HERÓI

• Atualiza-se no comportamento: no impulso à atividade, na exploração externa, na


responsividade ao desafio, no pegar, agarrar, estender

• Também pode ser visto nas imagens de heróis realizando suas tarefas específicas
(Hércules, Aquiles, Ulisses...)

• Por fim, implica em sentimentos de independência, força, realização, ideias de ação


decisiva, luta, planejamento, virtudes e conquistas
HERÓI

• A pessoa tomada pelo arquétipo do herói sente-se dotada de uma força e autoconfiança às
vezes sobre-humana

• A ativação do herói permite-nos enfrentar o desafio e o perigo de entrar no desconhecido

• Trata-se de arquétipo ativado em qualquer época da vida, mas tem destaque na


adolescência, quando saímos da infância e caminhamos para nos tornarmos adultos (busca
de independência, desenvolvimento sexual completado, sentido de identidade conquistado,
profissão, etc.)
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Fonte: www.metmuseum.org
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Fonte: Acervo pessoal


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• Programa arquetípico que constitui nosso ser em potencial. Fonte de energia presente
desde o nascimento, é o núcleo mais interior da psique. Trata-se do princípio organizador da
psique. É o centro profundo e também a totalidade

• Abrange toda a nossa psique, com suas partes conscientes e inconscientes. Expressa, pois,
nossa totalidade, num campo maior do que aquele que a consciência conhece

• Costuma ser projetado em instituições ou pessoas de prestígio, ou em figuras mitológicas


de deuses ou no próprio cosmos
SI-MESMO OU SELF

• Nos sonhos, pode aparecer como deuses, deusas, a figura do velho sábio, figuras
quaternárias, como o quadrado, a cruz e o próprio número 4 (as 4 estações, os 4 pontos
cardeais), além de em símbolos que representam a totalidade, ou o deus interior, como o
círculo, a mandala (imagens dispostas ao redor de um centro ou figuras radiadas), ou outras
imagens
Se Eu Quiser Falar Com Deus
(Gilberto Gil)

Se eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós


Tenho que apagar a luz, tenho que calar a voz
Tenho que encontrar a paz, tenho que folgar os nós
Dos sapatos, da gravata, dos desejos, dos receios
Tenho que esquecer a data, tenho que perder a conta
Tenho que ter mãos vazias, ter a alma e o corpo nus
Se eu quiser falar com Deus, tenho que aceitar a dor
Tenho que comer o pão, que o diabo amassou
Tenho que virar um cão, tenho que lamber o chão
Dos palácios, dos castelos, suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho
E apesar de um mal tamanho, alegrar meu coração
Se eu quiser falar com Deus, tenho que me aventurar
Tenho que subir aos céus, sem cordas pra segurar
Tenho que dizer adeus, dar as costas, caminhar
Decidido, pela estrada, que ao findar vai dar em nada
Nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada, nada
Nada, nada, nada, nada, do que eu pensava encontrar
Bibliografia básica:

JUNG, C. G. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. (1934).


O. C. vol.9/1. Cap.2. § 01-86. Petrópolis, Vozes, 2000.

Bibliografia complementar:

JUNG, C. G. Psicologia do inconsciente. (1928). O. C. vol.


7/1. Cap. 5. § 97-191. Petrópolis, Vozes, 2000.
JUNG, C. G. O eu e o inconsciente. (1928). O. C. vol. 7/2. §
202-242. Petrópolis, Vozes, 1979.
JUNG, C. G. A vida simbólica. (1935). O. C. vol.
18/1. Segunda conferência. § 74-144. Petrópolis, Vozes,
2000.
CAVALCANTI, T. R. de A. Jung. São Paulo, Publifolha, 2007.
GRINBERG, L. P. Jung: o homem criativo. Cap. 6. São Paulo,
FTD, 2003.
HILLMAN, J. Re-vendo a psicologia. São Paulo, Vozes, 2010.
SILVEIRA, N. da. Jung: vida e obra. Rio de Janeiro, Paz e
Terra, 1997.

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