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Universidade de Rio Verde - UNIRV


Faculdade de Psicologia
Disciplina: Psicopatologia I
Professora: Ma. Fabiana Darc Miranda

A Consciência
O termo “consciência” procede da palavra latina “cum-scientia” que foi
traduzido por Cícero do vocábulo grego “syneidesis”, que equivale ao conhecimento
da culpa própria, quer dizer, a dimensão introspectiva da consciência moral. Mais
tarde também assimilará a significação da ética de uma espécie de estrela guia para a
conduta futura.
“Syneidesis” como “cum-scientia” tem o significado de uma “relação
cognitiva com”, especialmente com a culpa do próprio sujeito. “O conhecimento
ordenado e claro do próprio saber é o dado definidor da consciência”. Porém, esse
saber próprio não tem porque excluir a culpa própria.
O conceito de consciência psicológica aparece muito mais tarde que o
consciência moral e representa uma extensão de todas as classes do saber. A
consciência psicológica, no sentido atual, é uma “pan-syneidesis”, quer dizer, uma
consciência moral secularizada e desacralizada, com o que toma um âmbito global.
Para Brentano a marca distintiva dos fenômenos psíquicos é a intencionalidade,
a relação que a consciência mantêm com algo que se oferece a título de objeto. Esse
objeto nào necessita ser existente em si mesmo. Um centauro é tão objeto da minha
consciência como um livro que se encontra na minha frente. Quando Brentano afiram
que toda consciência é consciência de um objeto, ele está não emitindo um juízo de
existência sobre esse objeto e sim afirmando a necessidade de um correlato objetal
para o ato da consciência.
Rosenfeld define “que a consciência é a totalidade da vida psíquica
momentânea”. Esta definição exclui a existência do inconsciente, já que toda a vida
psíquica é circunscrita na consciência. Tem o inconveniente de oferecer só uma
imagem instantânea.

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Apoiando-se em Rosenfeld, Jaspers definiu a consciência “como a totalidade


da experiência momentânea inserida na corrente contínua da vida psíquica”. A
vida psíquica, em determinado momento, já que cada momento do tempo (em que
agimos, pensamos, refletimos ou mesmo sonhamos), corresponde a uma experiência
vivenciada correlativamente, a uma certa ordem ou a uma certa desordem, a uma
certa diferenciação ativa ou a um relaxamento da consciência.
Jaspers parte do pressuposto que a personalidade é algo que evolui e que pode
Ter anomalias no desenvolvimento.
As anomalias na constituição da personalidade seriam do ponto de vista
quantitativo e não qualitativo, ou seja, haveria graus em que a personalidade altera.
A alteração de grau teria origem nas disposições do indivíduo, que vai alterando
quantitativamente. A interação com o meio é importante no sentido de acentuar essas
disposições do indivíduo.
O desenvolvimento da personalidade é a conexão da totalidade da vida psíquica
ao longo do tempo, enquanto continuidade compreensível.
A “consciência” é para Jaspers:
1) a “interioridade real da vivência (em oposição à exterioridade do evento
biológico pesquisável);
2) a circunstância da consciência dirigir-se, intencionalmente, para objetos
que percebe, imagina e pensa;
3) o conhecimento da consciência de si mesmo.
Portanto, para Jaspers, a consciência pode ser conceituada como a capacidade de dar
conta de si mesmo (interioridade real da vivência) e do mundo externo (a
circunstância de o sujeito dirigir-se intencionalmente para objetos que percebe,
imagina e pensa)”.1 (pag. 187 Psicopatologia I Jaspers)
A consciência e o inconsciente integram o mundo psíquico, o mundo interior,
que, em certo sentido, se contrapõe ao mundo exterior, o objetivo. “Inconsciente,
correspondendo ao que aqui se diz é, antes de mais nada, aquilo que de modo algum
se sente como existindo interiormente, que não se vivencia em absoluto; e é também
aquilo que não se conhece como objeto, que não se nota ( que, por isso, no entanto,

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Jaspers, Karl. Psicopatologia I, pag. 187.

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vem a ser, mais tarde, percebido ou recordado); finalmente, é aquilo que não se veio a
saber”. (pag. 187 Psicopat. I Jaspers)
Para haver consciência clara, é necessário que eu tenha, nitidamente diante de
mim aquilo que penso; é necessário que saiba e queira o que faço; que o vivencio,
minha vivência, esteja ligada ao meu eu; e que eu me mantenha relacionado com a
memória. Se quisermos falar em fenômenos psíquicos como fenômenos conscientes, é
preciso que sejam, num instante ou noutro, acessíveis à nossa observação, o que lhes
permitira subir à consciência clara.
Podemos comparar a consciência a uma luz incidindo no palco: sua intensidade
seria o nível da consciência ou lucidez; a área iluminada o campo da consciência; “os
atores” iluminados seria o campo da consciência ( o pensamento, afetos,
representações) dos quais se toma conhecimento, neste determinado momento. A
penumbra, próxima ao campo iluminado, seria o pré-consciente, reunindo atores que
poderão entrar em cena a qualquer momento (lembranças). A área mais distante, na
obscuridade, seria o inconsciente; atividade psíquica da qual não nos damos conta mas
é capaz de influenciar nossa atividade psíquica consciente.
Podemos dizer contudo que, no campo da consciência não há uma claridade
uniforme. Sobre sua porção central se projeta a atenção, voluntária ou
involuntária. Os elementos psíquicos enfocados pela atenção aparecem nítidos, claros
e ordenados. A faculdade da atenção vem a ser uma espécie de raio luminoso
constitutivo da consciência. A claridade de uma vivência está condicionada ao
desdobramento da atenção. A atenção se encontra em conecção com a consciência; o
objeto da atenção é sem exceção um conteúdo da consciência. A atenção está
dirigida sempre sobre algo consciente. Neste “dirigir-se” sobre algo existe ainda uma
qualidade de impulso, um componente de ação que está contido na consciência.

Estados da consciência
O estado da consciência, no todo, ou seja, nossa vida psíquica momentâneo
total ainda pode apresentar graus diversos, passando pelos estádios de nitidez,
obnubilação, turvação, sono, coma. Figuradamente, podemos considerar a consciência
uma onda, cuja crista é a consciência clara, nítida, crista que vai baixando, à medida

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que a consciência diminui, até que a onda completamente se aplaina com a perda
daquela.
Nitidez e clareza sensorial - O que chamamos lucidez é o estado em que,
apesar de faltar um afeto mais intenso, os conteúdos conscientes possuem claridade e
nitidez médias e em que o curso da vida psíquica se apresenta ordenado e vinculado a
imagens-alvo. São sinais objetivos da lucidez a orientação, bem como a capacidade de
responder a perguntas e de prestar atenção. Se progredir a alteração do estado psíquico
total, mais difícil é entrar em contato como o paciente.

A) Alterações do nível da consciência


a) Obnubilação - Primeiro nível de rebaixamento da consciência (parecido com
a fase de transição entre a vigília e o sono). Caracteriza-se, essencialmente, pela
diminuição do grau de clareza da consciência, com lentidão da compreensão,
dificuldade da percepção e da elaboração das impressões sensoriais.
Promove alterações, apenas quantitativa, de várias funções psíquicas.
Parcialmente orientado no tempo e espaço; Atenção diminuída; perda da vivacidade;
pensamento lentificado com dificuldade de associação de idéias; perturbação da
fixação e evocação; o paciente revela-se indiferente, apático, sem iniciativa e sem
espontaneidade. Em muitos casos, a obnubilação da consciência pode representar o
primeiro grau de uma confusão mental ou pode constituir a fase inicial de instalação
do coma. Tal quadro é freqüente em lesões encefálicas de várias etiologias, nas
disfunções por enfermidades corporais extra-cerebrais. Delírio Oniróide - É uma
síndrome observada no curso das doenças febris, intoxicações crônicas e enfermidades
cerebrais orgânicas. Caracteriza-se por sintomas fundamentais: obnubilação da
consciência, desorientação e alucinações. Na maior parte dos casos, no quadro do
delírio oniróide dominam as visões oníricas, acompanhadas algumas vezes de
alucinações auditivas, cinestésicas e idéias deliróides A percepção do mundo exterior
está completamente deformada pelas ilusões. O paciente participa ativamente das
cenas produzidas pela imaginação, as quais geralmente são terroríficas.
c)Turvação, ou Confuso-onírico ou Amência - Maior rebaixamento do nível
da consciência gerando não só alterações quantitativas presentes na obnubilação,
como também, alterações qualitativas das funções psíquicas. Aparecem ilusões
(formação de imagens); intensa desorientação têmporo-espacial; dificuldade de

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apreender a situação, lentidão nas respostas, alucinações (distúrbios da senso-


percepção); as idéias delirantes (pensamento desconexo, incoerente, frases que não se
ligam); amnésia lacunar (após turvação o paciente não se lembra do que aconteceu),
ocorre nos afogamentos; Pode ocorrer agitação psicomotora ou estupor ou uma
síndrome hipomotora; presente nas psicoses orgânicas e alcoólicas - Delirium tremens
seu representante mais típico.
d) Sono - maior rebaixamento do nível da consciência. Quando se adormece as
coisas se tornam vagas, imprecisas, desestruturadas; o que se pensa, se sente, se
percebe, se representa esvai-se, funde-se, confunde-se podendo experimentar ao
mesmo tempo, vivências inauditas. A atividade própria cede lugar à passividade, e por
fim, embora a consciência se conserve una, dissolve-se a consciência do eu.
e) coma - alteração neurológica, ausência completa de atividade psíquica, de
vivência e do mundo.

B) Alteração do Campo da consciência


Não há entretanto, no estado da consciência, simples gradatividade e sim
multiplicidade de alterações a saber: estreitamento do campo da consciência,
diferenciação falha quanto ao sujeito e objeto, além da dificuldade em trazer a simples
percepção emocional da realidade circundante à consciência clara.
a) Estreitamento do campo da consciência ou Estados Crepusculares
Entende-se por estado crepuscular um estreitamento do campo da consciência,
com a conservação de uma atividade mais ou menos coordenada. Redução do campo
da consciência, de duração variada com ou sem modificação do nível da consciência.
a área inconsciente se torna maior e o indivíduo ficaria à mercê de tendências,
inclinações e impulsos inconscientes, agindo de modo automático, sem determinação
de si mesmo e sem recordação posterior dos fatos ocorridos durante tal período.
Estado crepuscular orientado - não há rebaixamento do nível da consciência;
ocorre na histeria, quando são retirados do campo da consciência - por estreitamento -
conteúdos desagradáveis ou chocantes - a lembrança de acidente com vítimas. O
paciente pode executar uma série de atos coordenados e com certa finalidade, embora
inconscientes, tais como: andar sem destino, enfrentar situações complexas como
sistema de transporte. Geralmente costumam desaparecer rapidamente, mas em alguns

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casos, podem durar muitos dias. Apresentam-se e terminam de modo súbito,


acompanhando-se de amnénia em relação as vivências acessuais.
Estado crepuscular desorientado - há rebaixamento do nível da consciência; A
orientação está perturbada tanto no tempo quanto no espaço e nas realções do paicente
com o ambiente. Ocorre na epilepsia, antes da crise convulsiva; adquire importância
médico legal, pela possibilidade dos pacientes praticarem crimes, como homicídios
brutais, maquinalmente, crimes dos quais não se recordam e pelos quais são
inimputáveis.
b) Consciência de Aura - Redução do campo e elevação do nível da
consciência. Na aura, o mundo exterior desaparece, predominam as vivências
interiores, a consciência estreita-se, embora possa, estreitada atingir certo momento de
máxima luminosidade;
Ocorre imediatamente antes de ocorrer a perda total da consciência, nos ataques
epilépticos do tipo grande mal. Sua duração é breve. Pode ocorrer alterações sensitivas
(cheiros, sabores desagradáveis); motoras (movimentos automáticos); psíquicas
(pensamentos, recordações), às vezes toda a vida do indivíduo é projetada a grande
velocidade - hipermnésia.

TEMPORALIDADE - ESPACIALIDADE - ORIENTAÇÃO

Para Jaspers o espaço e o tempo são qualidades primordiais da estrutura da


vivência. A consciência do mundo objetivo tem como contexto vivências que não
podem deixar de fora, as experiências vividas do espaço e tempo; em torno das
coordenadas espaciais e temporais se agrupam as percepções, as representações e os
conceitos.
A orientação surge à medida em que o eu se estrutura, a partir de estímulos
ambientais, necessidades internas, percepções, recordações, representações, afetos, e
juízos. O indivíduo atinge, então condições de vivenciar o que é “eu” e o que é
“não-eu”, de ter noção do tempo vivido e de sua espacialidade.
A vivência do espaço tem não somente uma gênese mais precoce que a do
tempo mas uma construção mais sólida frente aos embates das enfermidades
psíquicas. Por esta razão e pelo fato da existência estar referida ao tempo este adquire

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mais importância psicopatológica que o espaço. Não é raro entretanto que ambas as
vivências se alterem.
1) Os êxtases - O êxtases comporta a alteração de ambas as vivências. Existe
um êxtases não patológico que se subdivide em êxtases místico ou transcendente e
êxtases cósmico ou telúrico.
1.a) O êxtases místico, cujo modelo mais representativo está encarnado em
distintos momentos de São João da Cruz e Santa Teresa d’Avila, a alma se desentende
do mundo e em virtude de uma ascensão espiritual, se instala na presença da
Divindade. O êxtases é precisamente a saída de um fora de si mesmo. “Na experiência
mística a alma queda frente à Divindade”.
1.b) O êxtases cósmico, o sujeito se sente fundido com o mundo exterior.
Podemos dizer que o êxtases é um estado emotivo em que o sujeito se põe fora de si,
em um sentido figurado, a vivência mais íntima dele, a vivência de seu próprio eu, sai
de si. A estrutura do êxtases figura outro momento: a vivência da detenção do tempo.
1.c) A vertente psicopatológica do êxtases figuram certos estados
esquizofrênicos e epilépticos e a mania endógena. O traço comum dos êxtases
psicopatológicos consiste em que o eu se desprega de si mesmo para fundir-se com
certas experiências delirantes e alucinatórias, de iluminação e revelação, que
integram o mundo psicopatológico.

2) Orientação têmporo-espacial
A orientação no espaço e tempo é um rendimento psíquico de grande
complexidade que exige colocá-los em relação com vários dados psíquicos. Só se
pode estar bem orientado se funcionam bem os seguintes dispositivos psíquicos: a
memória (a capacidade de fixação e evocação), a atenção, o pensamento racional e
a compreensão.
A desorientação têmporo-espacial é característica da confusão mental. O
confuso perdeu, mais ou menos a completamente, a capacidade de se situar nos
lugares e na ordem cronológica (datas, calendario, horas). Está desorientado como
nos acontece ao despertar, quando não sabemos mais onde estamos e como nos
encontramos. Esta desorientação comporta ao mesmo tempo uma perda da orientação
temporal, da orientação espacial e também do que chamamos a orientação

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alopsíquica (impossibilidade de identificar os outros) ou autopsíquica (


impossibilidade de identificar a si mesmo, de coordenar seu esquema corporal).
A orientação é perdida na seguinte ordem:
1) Em relação ao tempo;
2) em relação ao tempo e espaço;
3) em relação à própria pessoa
2.a) Orientação Auto-psíquica
Uma pessoa que é capaz de dar corretamente sua filiação e data do nascimento é
considerada bem orientada autopsiquicamente.
É a capacidade de estar orientado quanto à própria pessoa. Saber o meu nome
idade, onde nasci, quem sou, etc.
A perda da orientação, quanto à própria pessoa acontece nos quadros demenciais
graves, nas confusões mentais e nos casos de dupla orientação (psicótica) quando o
enfermo se julga outra pessoa ou se sente mais de uma pessoa; por exemplo, o
esquizofrênico que tem a vivência de ser homem e mulher a um só tempo.
2.b) Orientação alopsíquica - Implica em saber de si e da localização do corpo
no espaço/tempo em relação ao mundo exterior.
O significativo é o tempo vivido, marcado pelo relógio interno e que se altera na
confusão mental, na mania, nos estados depressivos, nas crises ansiosas, nas
esquizofrenias e nas demências.
Pode ocorrer devido a distúrbios afetivos - por exemplo: um deprimido estará
voltado para os seus pensamentos, vivendo o tempo de modo lento e moroso; ou
distúrbios da consciência e da memória; nestes dois casos deve-se realizar avaliação
clínica e neurológica, antes de afirmar a desorientação de natureza psíquica. Deve-se
averiguar a possibilidade da desinformação.
As classes mais representativas de desorientação têmporo-espacial (tanto auto-
psíquica quanto alopsíquica) são:
a) apática : o paciente tem lucidez de consciência ( tem clareza sensorial) mas
há uma perda do interesse em relação ao mundo externo e a si mesmo. O paciente
fica melancólico e há um desinvestimento objetal. Não há uma alteração do equilíbrio
da consciência.
b) Amnéstica: ocorre uma alteração na memória - hipomnésia (redução da
memória) ou amnésia (perda da memória)

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c) Delirante - perda da orientação por estar delirando. Dupla orientação - o


paciente tem uma orientação normal e outra delirante;
d) Amencial - rebaixamento do nível da consciência nas psicoses sintomáticas,
por intoxicação de psicodislépticos (cocaína, maconha, ópio, etc.)

ATENÇÃO
A atenção é uma função psíquica diretamente relacionada com a consciência. É
a atenção que condiciona a claridade da vivência. Quando há um distúrbio primário do
campo ou do nível da consciência vamos encontrar necessariamente uma alteração na
atenção. Entretanto um distúrbio primário da atenção não implica necessariamente em
um distúrbio da consciência. É a capacidade da consciência de focalizar, destacar,
realçar acontecimentos ou representação dentre vários da realidade consciente.
Há dois tipos de atenção:
1) Atenção espontânea, ou vigilância - consiste em destacar sons, atos, fatos
etc. que tenha importância por si mesmos ou que ameacem o indivíduo. É reflexa e
corresponde a um sinal disparado pelo próprio fenômeno interno ou externo. Os
distúrbios da vigilância podem ser:
a) Hipervigilância - o indivíduo está em estado de alerta, atento a todos os
estímulos, o que acarreta uma falta de concentração em detrimento do excesso de
vigilância ou seja uma hipotenaciadade. Ocorre nos quadros maníacos e em pessoas
que fazem uso de drogas euforizantes.
b) Hipovigilância - menor capacidade de estar atento ao mundo circundante;
Ocorre em todos os quadros de rebaixamento da consciência, obnubilação; no
deprimido e pacientes com fadiga intensa.
2) Atenção Voluntária ou tenacidade- Está condicionada à vontade de dirigir a
atenção para algo específico. É concentrar-se.Os distúrbios podem ser:
a) Hipertenacidade - consiste na concentração intensa de forma duradoura em
relação a uma determinada situação em detrimento de outras. Ocorre nas pessoas
normais que conseguem concentrar-se em um estudo e nos deprimidos que têm uma
hipertenacidade dirigida para os seus pensamentos de ruína, culpa e morte - há aqui
portanto uma hipovigilância.

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b)Hipotencidade - Baixa concentração numa determinada situação. Ocorre


também nos deprimidos por não conseguirem dirigir a atenção para algo que não seja
seus próprios sentimentos. Apresenta-se nos casos de rebaixamento do nível da
consciência e nos portadores de deficiência intelectual.
3) Aprosexia - Falta total de atenção. Ocorre nas oligrofrenias, nos estados
demenciais avançados, nos distúrbios intensos do nível da consciência (coma).
MEMÓRIA

A qualidade fundamental de toda vivência é a de inserir-se na trama das


recordações, constituída por dados vividos e dados aprendidos. Memória é a função
psíquica que permite conservar os dados vividos e os aprendidos. É a capacidade de
Fixar, Armazenar (ou conservar), recordar (ou evocar), reconhecer e localizar no
tempo e no espaço vivências e conhecimentos.
A memória está diretamente ligada à lucidez e atenção.

Fixar Armazenar
Memória de Fixação (anterógrada - fatos recentes)

Recordar Localizar no Tempo e Espaço Reconhecer


Memória de Evocação ( Evocar)

1) Alterações Quantitativas:

a) Hipomnésia de Fixação: Dificuldade de fixar e armazenar fatos novos - na


fadiga, nas depressões e sintoma precoce de todas as patologias orgânicas cerebrais
(tumores, arteriosclerose, etc.)
Nos casos de hipomnésia da arteriosclerose aplica-se a Lei de Ribot: esquece-se
primeiro o que se aprendeu por último e esquece-se o mais complexo antes do mais
simples
b) Amnésia de Fixação: É o agravamento do quadro anterior ou seja a
incapacidade de fixar e armazenar dados novos vividos e aprendidos, permanecendo

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somente o estoque de antigas recordações. A Síndrome de Korsakov caracterizada por


amnésia de fixação; Confabulações (preenchimento de lacunas da memória com
fantasias; e Falsos reconhecimentos (o paciente apesar de estar diariamente com seu
médico, o identifica erroneamente).
c) Hipomnésia de Evocação: Diminuição da capacidade de recordar; É
consequência da hipomnésia de fixação e da amnésia de fixação
d) Amnésia de Evocação: Incapacidade de recordar; É um agravamento da
amnésia de fixação. São raros os casos de amnésia de evocação não acompanhada da
de fixação: desmemoriados que afirmam nada saber do seu passado, na maioria das
vezes sofrem não de distúrbios da memória mas de bloqueios emocionais.
Hipomnésia de fixação e evocação ou hipomnésia retro-anterógrada: encontrada
em traumatismos de crânio que esquecem dos fatos que se deram nos dias ou horas
antes do traumatismo; como consequência surge a amnésia lacunar.
e) Amnésia lacunar: Perda a memória por um determinado período; também se
instala como consequência de quadros confusionais, de períodos de total inconsciência
(coma, crises convulsivas) e de estados crepusculares.
f) Hipermnésia de fixação e evocação;
Exacerbação da capacidade mnésica; A capacidade de fixar fatos novos, é
valorizado como algo positivo. A hipermnésia de evocação é encontrada nos quadros
maníacos, nas fases iniciais de intoxicações com euforizantes, na vivência de aura dos
epilépticos, e em certos portadores de deficiência intelectual, capazes de reter grande
número de dados, sem qualquer aplicação prática.

2) Alterações Qualitativas
Paramnésias, são perturbações no reconhecimento; o fato recordado não
corresponde ao objeto real de fixação.

a) Criptomnésia (cripto = escondido) um fato é recordado mas não é


reconhecido no tempo e no espaço, surge como algo novo. Se dá no plágio musical
involuntário: a músico foi ouvida na infância, foi fixada e armazenada; mas, ao ser
recordada, não foi reconhecida nem localizada no tempo, ressurgindo como criação
nova.

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b) Ecmnésia: um fato passado, remoto, é recordado e vivenciado com


características de presente e atual; é recordado mas não é reconhecido como do
passado.; pode ocorrer nos deprimidos - presentificação do passado - , nas
desestruturações epilépticas da consciência e nas demências já constituídas (delírio
ecmnético)
c) “Deja-vu” - Se caracteriza pelo reconhecimento de um acontecimento ou
local que não foi anteriormente vivido ou conhecido. Reconhece o presente como se
fizesse parte do passado. Ir a um lugar novo e ter a sensação que já esteve lá. Acontece
em pacientes neuróticos, em esquizofrênicos mas particularmente, nos portadores de
tumor do lobo temporal
d) “Jamais-vu”: consiste no oposto: a pessoa não reconhece, como própria a
lembrança de fato efetivamente vivido; por exemplo: entrar na própria casa, sente
como se nunca lá estivera. Ocorre nos mesmos quadros clínicos do “deja-vu”.
Obs: Ler “Um Distúrbio de Memória na Acrópole” Sigmund Freud. Vol. XVII,
pag. 293.

A CONSCIÊNCIA DO EU PSÍQUICO

O modo como o eu é consciente de mesmo. A consciência do eu tem 4(quatro)


características formais: 1) Atividade do eu - uma consciência de ação; 2) consciência
da unidade do eu: sou um no mesmo momento; 3) consciência da identidade: sou o
mesmo que antes; 4) consciência do eu em oposição ao mundo exterior

a) Consciência da Atividade do Eu
A consciência do eu está presente em todos os processos psíquicos: o “eu
penso” acompanha todas as percepções idéias. Em toda a vida psíquica em que há o
aspecto de ação “minha”, do “eu”, do “pessoal”, ocorre o que se denomina
personalização: é meu pensamento, motricidade. Tudo o que a pessoa faz é ela ou é
dela.
Se ao contrário, esses elementos psíquicos aparecem com a consciência de não
me pertencerem, de serem estranhos a mim, de serem automáticos, de surgirem de
outra parte, chamam-se fenômenos de despersonalização: não sou dono das coisas
que realizo.

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Alterações da atividade do eu:


1) Alteração da Consciência do Existir
Trata-se da falta do “dar-se conta” da própria ação, do alheamento do mundo da
percepção, da ausência da sensação normal do próprio corpo. “Não sou mais que uma
simples máquina, um autômato”. “Não sou eu quem sofre, não sou eu quem dorme”;
“já não existo”; “estou morto”. Este é o fenômeno singular em que o existente não
pode mais sentir o seu existir.
2) Alteração da Consciência de Execução
O desaparecimento do sentimento da existência do “eu” pode se configurar pela
ausência da consciência de execução, que, normalmente, está presente em todo
processo psíquico. É natural que, quando pensamos é nosso pensamento e que as
idéias que nos ocorrem são, sem dúvida, simultaneamente pensamentos nossos e
realizados por nós mesmos. Nos pacientes com alterações de execução(do ‘eu”),
ocorrem fenômenos por eles relatados como pensamentos a eles impostos desde fora -
pensamento imposto, por outra pessoa que os pensou. Esses pensamentos (vindos de
fora) diferem dos pensamentos do obsessivos, que emanam do próprio eu e são
reconhecidos, pelo paciente, como sendo algo dele mesmo e não de fora dele. “É idéia
que colocaram na minha cabeça”. “Tudo fala na minha cuca”
A convicção de que algo alheio ao “eu” está acontecendo, atinge todo tipo de
atividade, não só os pensamentos; também o andar, o fazer etc. como se os pacientes
não atuassem de modo próprio, sentindo inibidos ou impelidos, por influência externa.
“As mãos se inclinam para cá e para lá, eu não as dirijo e não posso contê-las.
Roubo do Pensamento - Os pensamentos do paciente estão sendo removidos de
sua mente. Eu penso e simultaneamente este pensamento é tirado pelo exterior para
fora.
Compulsão a Pensar - Bleuler designa com esta expressão o distúrbio do
pensamento que consiste no paciente sentir-se forçado a pensar. O fenômeno pode vir
acompanhado de um sentimento desagradável de coação. Alguma vezes, o paciente
tem a impressão de que pensam dentro dele ou que os pensamentos são fabricados e
impostos à sua mente.
b) Consciência da Unidade do Eu

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O dar-se conta da unidade do “eu” implica em saber-se que sou um, num mesmo
momento. A alteração da consciência da unidade do “eu” leva a vivência do seu
desdobramento, de ser dois a um só tempo - ser homem e ser mulher, ser João e José,
simultaneamente.
As Dissociações: vivência de cisão de si mesmo, o eu se vivencia dividido e no
entanto, é um só. Vive em dois contextos de sentimento, tem conhecimento de ambos.
“Porque eu sou cordeiro, sou Abel e Caim naquele livro amarelo”
c) Consciência de Identidade
Consciência de ser o mesmo na sucessão do tempo. Reconhecer-se no passado,
presente e futuro. Nas alterações da consciência de identidade o paciente sente que
continua sendo “um” mas não o mesmo um de antes; agora é outro.
d) Consciência do Eu em Oposição ao Mundo Externo
É a diferenciação ou a noção de limites entre o que é “eu” e o que não-eu.
1) No Transitivismo o indivíduo sente-se algo do mundo exterior passando a
fazer parte do “eu”; Parece que os pacientes se identificam com os objetos do mundo
externo. Sofrem sob as maquinações dos outros; “Senti o latido de um cão como um
contato doloroso no meu corpo; o cão estava ali latindo, meu eu sofria de dor”.
“Agora mesmo eu era um rodela de laranja”.
2) Sonorização ou Divulgação do Pensamento - vivências em que é sentida a
clara supressão dos limites entre o “eu” e o “não-eu” ou seja, algo que, até então, era
só do “eu” passa a ser do mundo dos outros, independente da vontade do “eu” não
mais se encontram barreiras (do “eu) para impedi-lo.
“ O senhor ouviu a minha voz, minha voz..., isto tudo estava saindo pelo rádio”.
“Você já sabe a resposta do que está me perguntando” - eu penso e
simultaneamente todos sabem o que eu penso”.
Da mesma forma que algo do “eu” pode “sair”, também coisas externas podem
“entrar”, impor-se ao “eu” por não encontrar barreiras: ocorrem então os pensamentos
impostos (já referidos no tópico anterior), ou idéias de influência, quando os pacientes
afirmam estar influenciados e dirigidos por pensamentos de outras pessoas, ação de
aparelhos, etc.
Estes sintomas ocorre nas seguintes patologias:
Psicoses esquizofrênicas
Intoxicações por psicodislépticos (heroina, morfina)

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Psicoses sintomáticas onde sintomas psíquicos são decorrentes de enfermidades


orgânicas.
Psicoses Orgânicas (encefalite, tumor cerebral).
3) Consciência do Eu Corporal
Está ligada à consciência do eu em oposição ao mundo externo. É a
representação mental do corpo.
a) Elementos Extras
O corpo para o paciente se apresenta alterado, não há limite para o corpo; o
corpo se apresenta não como um todo, mas um corpo fragmentado, despedaçado.
Poderíamos dizer que na psicose o corpo não é unificado, não há uma gestalt.
(Em termos psicanalíticos, o psicótico não entra na fase do espelho e portanto
ele não se reconhece no espelho, não reconhece sua imagem)
b) Perda de Elementos - Também ocorre pela vivência de corpo despedaçado (antes da fase do
espelho as pulsões ainda são parciais e predomina o auto erotismo.

Senso-percepção
1 - Conceituação
Quando um estímulo gera uma excitação nervosa, suficientemente intensa para
atingir a consciência, dá-se uma sensação. Nem todas as excitações das terminações
nervosas chegam à consciência - por exemplo, aquelas que provocam mecanismos
reflexos.
A sensação não se apresenta de modo puro, não é apenas um fato físico, mas
também um fato psíquico. Uma sensação luminosa vermelha contém duas qualidades
- uma frente aos outros órgãos do sentido (é luz e não som); e uma qualidade dentro
do próprio setor sensorial - é cor e não é apenas luz.
Percepção é a sensação elaborada; é a apreensão de situações objetivas baseadas
nas sensações, sendo esta apreensão acrescida de representações, juízos, significados e
qualidades - tudo isso em um ato único. A percepção é uma apreensão psíquica total
que contém em si a sensação, a recordação e a elaboração intelectual ver a cor branca
é sensação; ver uma folha de papel branco é percepção; e quando se realiza a
identificação de um grupo de sensações e percepções, mutuamente relacionadas entre
si com outras anteriormente adquiridas, tem-se a apercepção. Em um pintura, por

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exemplo, a sensação corresponde às manchas coloridas, a percepção aos animais,


pessoas e árvores e a apercepção revela que se trata de uma cena de caçada.
Assim quando vejo - percebo - um cachorro, ele está diante de mim, no mundo
externo; em objetividade, tem massa e tem corpo: corporeidade; não está na
dependência de minha vontade perceber um cão ou um gato. O cachorro tem nitidez e
formas definidas e como ele está presente a sensação é nova há, então, o frescor
sensorial. Já quando eu imagino - represento um cachorro, ele está dentro de mim, no
meu mundo interno, é algo subjetivo, não tem massa e nem corpo concreto, não há
portanto, corporeidade. Posso imaginá-lo de acordo com a minha vontade. A imagem
pode ser nítida de formas definidas, ou não. Poderá ou não haver frescor sensorial, se
a percepção original do cachorro é, ou não recente.
Portanto, para que haja percepção será necessário que o objeto esteja presente,
que seja, pois, antes de tudo, uma experiência sensível, pertencente à ordem espacial;
isto quer dizer que a matéria prima do ato perceptivo é, de fato, a sensação, que pode
ser externa ou interna.
As sensações, determinadas pela excitação periférica de uma terminação
sensitiva ou sensorial chegam às estruturas cerebrais onde são elaboradas sob a forma
de sensação vindo por fim a serem identificadas, reconhecidas, discriminadas como
percepção.
A percepção é entretanto algo mais do que a simples reunião e superposição de
sensações elementares. Toda percepção, ou compreensão de um objeto, contém um
fato intelectual fundamental e pressupõe um significado, um conceito, que não seria
possível obter pela simples adição de sensações isoladas.
Definida como todo ato de conhecimento que requer a presença de estímulos
exteriores específicos, a percepção distingue-se da representação – ato de
conhecimento determinado pela reativação de um recordação, ou imagem mnêmica,
sem a presença real do objeto a que corresponde.
As diferenças que separam normalmente as percepções das representações
referem-se à clareza sensorial, à vivacidade, ou a corporeidade (Jaspers), que é menor
nas representações. A projeção no exterior ocorre nas percepções e falta nas
representações, que se projetam mo espaço subjetivo. As primeiras são independentes
da vontade, enquanto as segundas podem ser controladas pelo indivíduo.

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O caráter de corporeidade constitui, para Jaspers, o elemento diferencial


mais importante entre percepções e representações.
Imagem preceptiva real ou imagem sensorial:
Resulta essa imagem da contemplação direta de um objeto do mundo exterior. A
imagem perceptiva é dotada das seguintes características:
a) Existência de um estímulo sensorial;
b) Nitidez – a imagem é clara e bem definida;
c) Corporeidade – a imagem é viva e corpórea;
d) Estabilidade - a imagem é fixa;
e) Extrojeção – o objeto percebido está projetado no espaço natural, fora dos
limites do Eu;
f) Ininfluenciabilidade voluntária – a imagem não é modificável pela nossa
vontade consciente.
O conjunto dessas qualidades dá a imagem perceptiva uma irresistível força de
convicção da realidade a que corresponde.
2 - Alterações quantitativas da senso-percepção
2.1 - Abolição das percepções:
Ocorre: no sono, no coma profundo e na incapacidade funcional por lesão de
órgãos sensoriais periféricos ou dos nervos sensitivos correspondentes como também
certas afecções orgânicas do S.N.C. Nos indivíduos normais encontramos a abolição
da percepção decorrente do mecanismo de recalque e conversão. Podemos ter tal
alteração por influências psicogênicas como no caso de pacientes neuróticos, onde
temos a amaurose histérica (perda total da visão), a surdez psíquica, anestesias e
analgesia totais ou parciais, Algias (dor), Parestesisas (caimbras, formigamento,
dormência). Se as algias são decorrentes de problemas neurológicos, ela seguirá a
inervação anatômica do nervo - abrangerá somente o nervo lesado; Na histeria as
algias não seguem a inervação anatômica.
2.2 - Aumento da intensidade perceptiva:
De um modo geral o aumento global da intensidade preceptiva se manifesta
profundamente em estados de excitação psíquica ou exaltação emocional, como por
exemplo, nos quadros maníacos, nos pródromos de certas formas de epilepsia, no

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hipertireoidismo e nas intoxicações agudas sobretudo com a cocaína, a mescalina e


LSD.
Tal fenômeno é bem visível na agitação maníaca, em que o exagero dos
processos perceptivos coincide com rapidez anormal das associações, que realiza a
fuga de idéias, com humor particularmente alegre ou colérico, e aumento da
gesticulação.
2.3 – Diminuição ou redução da intensidade preceptiva:
Ocorre nos estados de depressão da personalidade: nos quadros melancólicos,
confusionais, estuporosos, as síndromes depressivas pós-traumáticos, e certos estados
neuróticos. As vezes, esse sintoma acompanha-se de sentimento penoso de irrealidade
nos processo neuróticos. Também podemos encontrar tal sintoma no início da
esquizofrenia, acompanhada de sentimento de estranheza e de metamorfose e de
antecipação ansiosa de catástrofe.
3 - Alterações qualitativas da percepção
3.1 – Imagem pós-sensorial ou eco sensorial:
Quando a excitação sensorial produzida por um estímulo é demasiado intensa,
há a persistência da imagem mesmo após desaparecido o objeto que impressionou o
sensório.
Embora seja clara e bem delimitada, ainda que possua forma e se localize no
exterior, como a imagem sensorial, a imagem pós-sensorial revela-se menos estável,
pois muda e se acentua constantemente, e deixa-se influenciar pela vontade, sendo
reavivada pela atenção a ela dirigida.
Constitui um fenômeno normal, temos como exemplos, a persistência do som
após o final de um grito de carnaval, ou a sensação persistente de balanceio referida
por indivíduos que estiveram muitos dias a bordo, depois de desembarcados.
3.2 - Imagem representativa ou mnêmica:
À base das percepções, formamos as imagens dos objetos percebidos, que
podem ser evocadas sob a forma de representações. É a revivescência, na memória, de
uma imagem sensorial determinada, sem que esteja presente o objeto que a produziu.
Não apresentando, porém, os caracteres das imagens sensoriais reais. São imagens
imprecisas, isto é, não possui limites nítidos e perfeita clareza; é incorpórea, sua forma
é mal definida; é instável, seguindo as oscilações da atenção; não se projeta no espaço

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exterior, e normalmente sofre a influência da vontade, podendo ser provocada ou


inibida pelo indivíduo.
3.3 - Imagem onírica:
Constituída de elementos da imagem mnêmica e fantástica, conteúdo habitual
dos sonhos. Durante o sono, devido à turvação da consciência essa imagem é
momentaneamente aceita pelo juízo de realidade e considerada como correspondente a
objetos presentes.
São características da imagem onírica: não tem nitidez sensorial mas são
dotadas de grande plasticidade; a mobilidade (transforma-se a cada instante); a
introjeção (espaço virtual intrapsíquico é confundido com o espaço objetivo); o
ilogismo, absurdas; a intemporalidade.
3.4 - Imagem fantástica ou fabulatória:
É um tipo de imagem quer não corresponde a nenhuma experiência sensorial
concreta, sendo resultado da união arbitrária de elementos de várias representações
Resulta da criação da livre atividade imaginativa, representando algo novo, uma
criação livre da fantasia. Suas características gerais são as mesmas das mnêmicas, com
a diferença de que não é aceita pelo juízo de realidade em condições normais.
3.5 - Imagem pareidólica ou pareidolia: É uma imagem fantástica à base de
elementos sensoriais, por exemplo: nuvens – a visão de figuras;
3.6 - Imagem ilusória ou ilusão:
Simples falsificação da percepção de um objeto real, aceita momentaneamente
pelo juízo de realidade. A ilusão pode ser tanto uma percepção errônea das qualidades
sensoriais como as ilusões óticas, de movimento e tamanho dos objetos, como de
percepção errôneas da identificação ou do sentido das figuras perceptivas por
exemplo, quando ser crer ouvir uma melodia no ruído de um trem.
Pode-se distinguir as ilusões em:
a) Ilusões por falta de atenção ou inatenção, quando lemos um texto e não nos
damos conta de que falta uma letra em determinada palavra e a lemos como se
estivesse impressa corretamente;
b) Ilusões Catatímicas decorrem por deformações afetivas da realidade, por
exemplo: deformação causada pelo medo em que um ruído à noite é ouvido como o
pisar de um ladrão, quando na realidade é um simples estalido do assoalho;

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c) Pareidolias são ilusões que ocorrem quando, sobre uma percepção que não
tem significado e que é incompleta, se constróem ilusoriamente, figuras definidas.
Exemplo: Lâminas de Rocharchd.

3.8 - Imagem alucinatória ou alucinação:


3.8.1 – Conceito: Vamos recorrer a algumas definições conceituais da
alucinação oferecidas por diferentes autores:
A) Ball – define a alucinação como uma percepção sem objeto. Entretanto, tal
conceituação incorre em duas questões:
É incorreta e contraditória porque se falamos em percepção supomos sempre a
presença de um objeto capaz de afetar os sentidos e também porque ainda que o
enfermo perceba com toda a claridade estas falsas imagens, estas tem características
singulares das percepções reais e em outras vezes não são referidas pelo enfermo a
nada exterior.
É incompleta por não se referir a qual alteração da Consciência que seria capaz
de alterar o juízo de realidade que faz com que o alucinado descarte a irrealidade do
fenômeno, aceitando-a como real.
B) Jaspers – define a alucinação como “falsas percepções corpóreas que não
são originadas de percepções reais por meio de transformações, mas de modo
inteiramente novo, e que se apresentam paralelas e juntamente com percepções
reais”. A alucinação representa um fenômeno inteiramente novo, que não faz parte da
experiência do homem normal.
Jaspers, marca já uma diferença em relação ao conceito de Ball, entretanto, se
deixa aprisionar pelo dilema percepção/representação, ou a existência real do objeto e
sua relação com o percebido ou com sua imagem; por conseguinte, estabelecendo uma
oposição entre o verdadeiro (existência real do objeto) e o falso (alucinação); o falso
adquire o valor de patológico. Entretanto, o falso aparece ao enfermo como realidade,
através de uma crença inabalável, imputando-se à consciência um déficit capaz de
tornar o que é qualitativamente distinto como portador de uma percepção real.
Jaspers se mantém assim na oposição percepção/representação, que se desdobra
numa série de outras como: mundo externo/ mundo interno; objetivo/subjetivo;
fora/dentro; objeto/eu; dualidades em oposição que a fenomenologia da consciência
abarca, na tentativa de resolver os paradoxos perceptivos recorrendo à separação entre

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consciência e mundo, e reduzindo o real à dicotomia sujeito-objeto. Consciência aqui


definida pela interioridade absoluta e pela identidade absoluta consigo mesma e, a
coisa ou objeto definida pela exterioridade absoluta.
A percepção implica assim em:
Sujeito da percepção – percipiens - a sua percepção é regulada por um
perceptum, ou seja, um objeto percebido, que é equivalente a realidade que vejo.
Perceptum - Aquilo que é percebido pelo sujeito. Tanto o percipiens como o
perceptum se sustentam a partir de uma referência que é a realidade. Por exemplo;
“Eu sou aquela que percebe e a caneta é o percebido”.
Percepiens se mantém ao nível de uma objetivação, de uma objetividade, e que a
sua percepção é regulada por um perceptum, ou seja, por um objeto percebido que é
equivalente à realidade que vejo. Se o percebido é a realidade, o sujeito da percepção
deve então perceber esta realidade com objetividade.
Assim, na fenomenologia os aspectos da consciência, a atenção e o juízo fazem
parte do fenômeno da percepção.

3.8.2 - Alucinações Psicosensoriais


Classicamente a alucinação é definida como um distúrbio psicosensorial
diferente da ilusão e da interpretação delirante; consiste na sua forma mais
característica em uma percepção sem objeto.
Enquanto falsa percepção, a alucinação no próprio sentido do termo implica que
o distúrbio psicosensorial seja um fenômeno sensorial, isto é, que deva ter todos os
atributos da sensorialidade e da objetividade pelos quais a percepção se distingue da
imaginação. Enquanto percepção sem objeto, deve ser produzida sem os estímulos que
normalmente desencadeiam a percepção.
Características das Alucinações psicosensoriais:
a) Falsa percepção, entremeada com percepções reais, cuja falsidade se deve a
não corresponder-se com nenhum objeto real.
b) Fenômeno novo para o paciente, com caráter de percepção, que se apresenta
como um fato estranho para a personalidade do enfermo.
c) Possui irresistível força de convencimento para o paciente que a sofre.
d) Tem seu conteúdo caráter de corporeidade e de poder deslocado ao espaço
externo, ou seja, é extrajetado.

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e) É a expressão de uma experiência psicológica interna como manifestação de


uma alteração psicosensorial.
f) Presença de um transtorno da atividade psíquica que se expressa,
fundamentalmente, por uma perda do juízo de realidade para que possa ser aceito tal
fenômeno pelo enfermo como uma senso-percepção normal.
3.8.3 - Causas da Alucinação psicosensorial:
a) Ausência de estímulos, donde sua maior freqüência à noite;
b) Estímulos da realidade, também podem atuar como agentes desencadeantes;
c) Estados de irritação cerebral: epilepsias focais; intoxicações exógenas (por
exemplo: mescalina, LSD) intoxicações endógenas (por exemplo a uremia, a
eclampsia);
d) Processos cerebrais degenerativos;
e) Psicógenas: são representações que se transformam em percepções e que a
maioria das vezes supõem um sobrecarga afetiva. Ocorre nos estados de emoção
intensa como nos estados dissociativos histéricos;
f) Rebaixamento do nível da consciência: hipnagógicas (próximo do sono),
oníricas (obnubilação da consciência);
g) Alucinações esquizofrênicas são de índole diferente. Constituem expressão da
deficiente coerência da personalidade e se acham estreitamente relacionadas com a
desagregação, desarmonia, a incoerência afetiva e o sentimento subjetivo de
estranheza frente às próprias vivências. Ao esquizofrênico se lhe vão fazendo seus
pensamentos cada vez mais estranhos; ao princípio considerados como forçados ou
impostos (vivências de interferência externa), depois como sonorização dos próprios
pensamentos e finalmente em forma de vozes alheias ao Eu, extrojetadas.

3.8.4 - Classificação das Alucinações:


1) Alucinação visual: São falsas percepções visuais (visões) que podem ser
elementares como a fotopsia (clarões, chamas)e complexas (figuras, cenas de forma
estática ou em movimento, desenhos). A alucinação visual pode ocorrer com alteração
no tamanho dos objetos - tamanho diminuído (alucinação liliputiente) ou tamanho
aumentado (alucinação guliveriana). Observamos o grande valor semiológico das
zoopsias (delírios alcoolícos)

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2) Alucinação auditiva: São, às vezes, sons mais ou menos agudos ou intensos


(assobios, campainhas) ou melodias musicais.
Porém, mais frequentemente, trata-se de pseudoalucinações auditivo-
verbais: o paciente ouve vozes. Estas vozes podem falar na segunda pessoa. Podem
conversar entre si, considerando o indivíduo a terceira pessoa (delírio alcoólico). As
vozes podem proferir injúrias, comunicar informações delirantes ou repetir o
pensamento (eco do pensamento) ou descrever tudo aquilo que o alucinado faz
(comentário dos atos). As atitudes de escuta, os métodos de proteção (algodão destro
dos ouvidos etc), as conversações quando está sozinho.
3) Alucinação olfativa e gustativa: As alucinações olfativas (odores ruins,,
odores estranhos ou inefáveis e as alucinações gustativas (gostos insólitos) tem
principalmente um caráter de tonalidade afetiva e um caráter representativo. São
encontradas nos estados confusionais ou crepusculares da consciência. Podem ocorrer,
mais raramente no curso de delírios de perseguição com uma tonalidade afetiva
desagradável.
É raro apresentarem isoladamente, em geral estão associadas às alucinações
cenestésicas.
4) Alucinação tátil: Relacionam-se com o tato, temos as alucinações
epidérmicas como sensação de queimaduras, sensação de frio ou umidade, sensações
de movimento. As alucinações hipodérmicas provocam sensação de formigamento, de
movimento de parasitas cutâneos, etc. Frequentemente estão associadas às alucinações
visuais. Ocorrem no delirium tremens, e com o uso de cocaína.
5) Alucinação cenestésica e do esquema corporal: São alucinações da
sensibilidade geral e interna Trata-se de alucinações que formam uma síndrome de
despersonalização (transformações corporais) ou percepções de possessões
diabólicas; outras vezes são parciais como alucinações genitais com sensação de
orgasmo, de manuseio, violações diretas ou a distância. Temos alucinações mais
sistematizadas ou localizadas que fazem parte da patologia do esquema corporal como
as distorções dos membros, metamorfose segmentar, membro fantasma e
deslocamento dos membros.
6) Alucinação motora ou cinestésica: ocorre na esfera da sensibilidade
muscular que se apresentam as alucinações de movimentos ativos ou passivos. Foi

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estudada por Seglás, principalmente nos delírios persecutórios e de influência que


apresentam uma variedade particular de tais alucinações. Podem ser:
a) comuns: sensação de movimento dos membros, ativo ou passivo, de
movimento do corpo inteiro ( transporte pelo ar, por exemplo), impulsões e inibições
motoras;
b) verbais exterioriza-se na movimentação dos lábios e do aparelho fonador ou
até emissão em voz alta (impulsão verbal). Uma das características das alucinações
verbo-motoras é o modo de defesa empregados pelos paciente: mantêm a língua
apertada entre os dentes, prendem a respiração, enchem a boca de pedras.

3.9 Pseudo-alucinações ou alucinação psíquica:


Podemos notar na rápida descrição das alucinações psicosensoriais que algumas
alucinações não têm atributos completos da percepção dos sentido, pois elas
comportam um forte componente representativo ou psíquico.
São alucinações internas, não são sentidas pelo órgão sensorial correspondente.
Tal atividade alucinatória pode ser vivida pelo paciente em sua imaginação ou em seu
pensamento, as experimentando como fenômenos psíquicos raros ou estranhos.
Caracterizam por sua objetividade psíquica pois lhe falta sua objetividade espacial.
Como lhes faltam as características de sensorialidade que definem a alucinação
psicosensorial, estes fenômenos foram chamados de pseudo alucinações. São mais
imagens ou representações do que percepções.
Podemos distinguir na clínica:
a) Alucinações psíquicas visuais: podem consistir em imagens mentais
involuntárias; ou representações mentais cênicas (espécies de sonhos); ou imaginações
intensas e extraordinariamente vivas ou podem ser idéias ou conteúdos de consciência
automática. Tais pseudo-alucinações dão ao paciente a impressão de viver de um
modo representativo cenas imaginárias, recordações, visões interiores e artificiais.
b) Pseudo-alucinação acústico-verbal: São estas as verdadeiras alucinações
psíquicas na medida em que é o próprio pensamento do paciente que toma um caráter
alucinatório e o pensamento é essencialmente ideoverbal. Trata-se de vozes interiores,
de murmúrios, de transmissão de pensamentos, de eco do pensamento ou da leitura. O
alucinado escuta seus pensamentos no espaço imaginário imaginário de sua
consciência como se procedessem de outro, o que dá a impressão de roubo de

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pensamento, de divulgação do segredo do pensamento, de adivinhação do


pensamento.
c) Alucinações psicomotoras verbais: são pseudo-alucinações da linguagem
interior, ou seja, alucinações que se formam na fala mesma do alucinado – nascem da
articulação mesma das palavras, ou acompanham a formulação nascente das palavras
no pensamento. Tais alucinações estão localizadas as vezes nos órgãos fonadores
(Língua, laringe, tórax) e dão a impressão ao sujeito de que se fala nestes órgãos e por
eles.

3.10. - Importância Psicopatológica:


As alucinações auditivas são sintomas diagnósticos de primeira ordem nas
esquizofrenias segundo Kurt Schneider, por sua forma, sonorização do pensamento e
por seu conteúdo: os diálogos a base de argumentos e contra argumentos, as vezes que
contém observações sobre os atos do próprio enfermo.
Nas epilepsias encontramos as alucinações visuais e olfativas elementares.
Nas psicoses sintomáticas as alucinações visuais cenográficas e alucinações
táteis móveis.
As alucinações auditivas, acústico-verbais com frase longas e coerente na
Alucinose alcóolica.
As alucinações cinestésicas são próprias das esquizofrenias paranóides graves e
das parafrenias.
As alucinações cenestésicas ocorre principalmente na catatonia e nas psicoses
tóxicas agudas (ex. delirium tremens).

3.11 - Alucinose:
A alucinose foi descrita por Claude e Henri Ey, se produz como procedente de
fora do sujeito sem no entanto haver a crença objetivante. O indivíduo que
experimenta uma alucinose tem uma percepção por um estímulo patológico que não
corresponde com nenhum objeto ou coisa real externa, atual ou presente; porém, a
diferença com a alucinação é o fato do paciente conservar seu juízo de realidade,
sendo capaz de criticar e de reconhecer a falsidade e a irrealidade da mesma,
considerando-a como algo anormal. Tal transtorno no sentido puro se apresenta

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geralmente em enfermidades neurológicas ou em lesões circunscritas, manifestando-se


especialmente na esfera visual, auditiva e cenestésica.
Não podemos confundir este fenômeno com o termo Alucinose empregado na
clínica psiquiátrica, utilizado na descrição de uma síndrome, por exemplo, Alucinose
Alcóolica. Wernicke introduz tal termo para designar os delírios alucinatórios agudos
e crônicos, ou seja, se utiliza tal qualificativo para aqueles estados psíquicos mórbidos
com alucinações verdadeiras, porém sem que exista um delírio concreto nem
sistematizado, limitando ao homem enfermo a comprovar e a registrar suas
alucinações.
C) Síndrome de Automatismo Mental de Clerambault:
Todas as variedades de alucinações psicosensoriais e alucinações psíquicas
(pseudoalucinações) que acabamos de descrever foram englobadas por Clerambault
que as denominou síndrome de automatismo mental.
A utilidade clínica desse agrupamento tem o mérito de haver englobado em uma
mesma síndrome um conjunto de transtornos psíquicos caracterizados por sua
incoercível estranheza.
Desta forma, a síndrome de automatismo mental está centrada na produção
espontânea involuntária e em qualquer espécie mecânica de impressões, de idéias de
recordações que se impõem à consciência do indivíduo apesar de sua vontade. Tais
fenômenos são portanto, vividos pelos pacientes como involuntários e estranhos à
personalidade. A partir da alucinação teríamos o delírio, pois, para Clerambault a
alucinação mantém com o delírio uma anterioridade lógica e cronológica.
Sob o nome de automatismo mental, Clerambault descreveu:.
1) Automatismo ideoverbal
O triplo automatismo motor, idéico e ideoverbal (fenômenos de elocução, de
ideação e de formulação ideoverbal espontânea. Neste grupo de fenômenos, ele
observou especialmente os jogos silábicos, os cortes verbais, as palavras jaculatórias
fortuitas, o desvio do pensamento.
Exprime-se clinicamente pelas vozes (alucinações psicosensoriais objetivadas no
espaço, alucinações psíquicas sentidas como vozes interiores ou transmissão de
pensamentos). Estas vozes geralmente ameaçadoras, raramente benévolas, às vezes
dotadas de um tom de neutralidade ou banalidade absurda (frases fora de propósito).

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A enunciação, o comentário dos atos e do pensamento acompanham de um


modo alucinatório os gestos e a atividade mental do indivíduo.
O eco do pensamento e da leitura (às vezes sob a forma paradoxalmente
antecipada) repete e divulga as operações idéicas em curso.
O roubo e a adivinhação do pensamento são sentidos como uma intrusão do
pensamento de outro na intimidade do pensamento do indivíduo.
As repetições verbais, os jogos verbais, as palavras jaculatórias fortuitas,
constituem os sintomas mais típicos deste automatismo ideoverbal.
Às vezes os fenômenos mais sutis constituem o que Clerambault chamou de
Pequeno automatismo mental (ou a síndrome de passividade ou ainda síndrome de
interferência, síndrome de parasitismo ou de coação): fenômenos e ilusões de
estranheza do pensamento, de ideação imposta, de telepatia.
O paciente tem a sensação de que seu cérebro acha-se alterado por influências
alheias; ocorre a invasão de idéias estranhas; tudo é vivido como algo alheio dele, não
vivenciando tais fenômenos como seus, como emanados de seu próprio Eu,
produzindo uma cisão do Eu;
O pensamento ou linguagem interna se repete, vivenciando seus atos e suas
idéias como impostas ou mandadas, e inclusive comentadas; o pensamento é assim,
repetido (eco pensamento) anunciando todos os atos que vai realizar, com diálogos
internos de caráter contraditório; vive essa cisão do Eu como algo que lhe dá
perplexidade, o irrita e se vê obrigado a fazer contra a sua própria vontade. Surge a
partir daí a alucinação auditiva, verbal, objetiva, individualizada e temática que carece
de sensorialidade; o pensamento é vivenciado como alheio.
2) Automatismo Sensorial e Sensitivo
É constituído por todas as variedades das alucinações visuais, cenestésicas,
táteis, gustativas. Trata-se de falsas sensações que constituem um verdadeiro
parasitismo de percepções anormais que irrompem como fenômenos sensoriais puros
e simples ( visões, imagens colorias, odores nauseantes ou inefáveis, gostos bizarros,
sensações táteis de formigamentos, de irritação, de prurido, distúrbios cenestésicos
(algias, parestesias, espasmos etc. impressões voluptuosas ou dolorosas na esfera
anogenitourinária)

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Observamos no automatismo sensitivo manifestações da sensibilidade em geral


como correntes elétricas, pressão, sensações viscerais interpretadas como possessão
ou destruição de órgãos internos, sensações genitais estranhas e intempestivas
3) Automatismo Psicomotor
Exprime-se pelas impressões cinestésicas, ou nos órgãos da articulação verbal
(língua, laringe, tórax) ou na musculatura da face, do pescoço, dos membros
(movimentos forçados, estremecimentos. Trata-se de sensações de movimentos
impostos, de articulação verbal forçada (alucinações psicomotoras).
O automatismo mental de Clerambault é uma categoria retomada por Lacan
para formular os fenômenos elementares que são fenômenos psicóticos que podem
existir bem antes de um delírio, antes de um desencadeamento de uma psicose.
O automatismo mental é um conceito que permite agrupar tudo o que provêm de
influência externa sobre o sujeito. É também o que se costuma chamar de xenopatia
ou sentimento de que as coisas nos vêem de fora, ou seja, as palavras são escutadas, e
o pensamento também. Antes de serem formulados são comentados ou mesmo, em
certos casos impostos, e que sem mediação se faz ouvir em seu interior, já que se
imagina assim, a voz do Outro.
No automatismo mental os loucos demonstram a exterioridade do inconsciente.
É justamente esta lição do automatismo mental, segundo a qual o inconsciente
funciona fora, domina o sujeito, o domina de fora como bem o diz quem é vítima do
automatismo mental. Lacan isolou a alucinação verbal como sendo um dos fenômenos
mais eloqüentes que dizem de um grave desarranjo da função da linguagem.

DISCUSSÕES SOBRE A PATOGENIA DAS ALUCINAÇÕES E DOS DELÍRIOS


Para Clérambault, F. Morel, etc., as alucinações são fenômenos elementares de
excitação dos centros psicossensoriais e, portanto, a alucinação, sendo independente
do delírio, pode ser sua causa.
Para outros autores, a alucinação é essencialmente uma ilusão, na qual se
projeta, mais ou menos simbolicamente, a dinâmica afetiva (Freud); é uma pseudo-
alucinação, no sentido de que não se trata de um fenômeno "verdadeiramente"
sensorial.
Portanto, a alucinação e o próprio delírio são apenas uma ilusão de origem
afetiva (Claude, Ceillier).

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Segundo alguns autores (Schroder, Janet, Henri Ey), devemos distinguir a


alucinose enquanto desintegração isolada das percepções (aliás irredutível a uma
simples excitação sensorial como mostra Mourgue) e as alucinações das psicoses.
Estas — como no caso da psicose alucinatória crônica — são a expressão clínica
delirante de um distúrbio da consciência e da personalidade.
Para as teorias mecanicistas e mais particularmente para G. de Clérambault, a
alucinação é um fenômeno mecânico que constitui o "pedestal" sobre o qual se erige e
se constrói a estátua do delírio. Assim sendo, essas psicoses alucinatórias crônicas,
com base de automatismo mental, devem ser consideradas como causadas diretamente
por um processo cerebral "serpiginoso" que provoca sensações anormais, estas
também geradoras do Delírio.
Para as concepções psicogenéticas (Claude), o automatismo mental deve ser
considerado não como primitivo, mas como secundário a uma exigência afetiva que o
delírio satisfaz ou compensa. Trata-se de uma "síndrome de ação exterior" em que se
projetam os desejos.
Para a concepção psicanalítica — vizinha e inspiradora da precedente —, a
estrutura alucinatória do delírio manifesta ao mesmo tempo a força de pulsão do
inconsciente e o controle do Ego que a projeta como no sonho e em uma ficção
simbólica.
Enfim, uma concepção organodinâmica deste tipo de delírio é enfatizada pelos
clássicos como J.-P. Falret e Moreau (de Tours), e por P. Janet e Henri Ey:
1º As condições negativas da experiência delirante que inicialmente, por
intermitência ou de maneira durável, constituem um "estado primordial do delírio"
(desestruturação da consciência que, como já vimos, constitui as experiências
delirantes e alucinatórias das psicoses delirantes agudas);
2º A construção delirante positiva que constitui o trabalho alucinatório noético-
afetivo da projeção. Esta exprime simbolicamente as exigências inconscientes do
delirante; e ela estará tanto mais enquistada quanto mais o Ego for capaz de resistir na
constituição de seu Mundo real às forças do inconsciente.
Assim sendo, esta estrutura dinâmica da psicose alucinatória se aparenta, por um
lado, com as psicoses delirantes sistematizadas e, por outro, com as psicoses
esquizofrênicas. Ela é, entre ambas, como que uma forma transitória. (Conf. Henri
pág. 521 - 522)

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Pensamento

O Pensamento se estende a toda atividade psíquica, desde o ato da percepção até


o da linguagem. As operações intelectuais se classificam em conceitos, juízos e
raciocínios.
I) O Pensamento Mágico
No pensamento mágico as relações de diversos dados imediatos do
conhecimento não se fazem mediante aos seus atributos essenciais, mas atendendo aos
incidentes da sua existência e a coincidências espaciais, temporais e de aspecto
exterior.
Na mentalidade mágica, dois objetos semelhantes são considerados como
possuidores de propriedades idênticas. E dois objetos que estão em próximo contato
se influenciam mutuamente, acabando por adquirir as mesmas propriedades. É mais
subjetivo que objetivo.
Nesse mundo de integrações por aparência e coincidências, predominam as
referências simbólicas, e cada objeto acumula propriedades dos seus semelhantes e
dos seus vizinhos, embora múltiplos e contraditórios, sem qualquer respeito às leis da
lógica. Do mesmo modo, os símbolos verbais são usados para designar conteúdos
conceituais distintos, às vezes opostas, adquirindo mais de um significado.
Falta ao Pensamento Mágico o conhecimento do Princípio de Contradição,
que estabelece que se um objeto possui uma qualidade essencial é impossível que
goze, ao mesmo tempo, do atributo oposto.
O pensamento mágico não é necessariamente patológico. A atividade mágica
contínua a imperar nos sonhos, contos de fadas, construções delirante dos psicóticos
como resquícios da mentalidade primitiva, que representa a realidade de modo
subjetivo, de acordo com a fórmula emocional de seu autor.
II) Pensamento Lógico
O conceito é o elemento estrutural do pensamento. Em lógica, considera-se o
conceito como uma forma de pensamento mediante a qual se exprimem os caracteres
essenciais do objeto. Por intermédio dos conceitos apreendemos o significado das
coisas.

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Juízo - O processo que faculta o estabelecimento dessas relações significativas


denomina-se juízo. Das relações entre idéias, ou conceitos, surgem os juízos que
permitem afirmar ou negar algo e com que se pode avalizar se alguma coisa é
verdadeira ou falsa.
Raciocínio - A função que concentra os juízos recebe o nome de raciocínio. É o
encadeamento de juízos, uns aos outros, de maneira tal que o último elo da cadeia se
imponha como conclusão necessária, e inevitável, dos anteriores.
Juízo e raciocínio – A função essencial do pensamento lógico consiste em
selecionar e orientar os dados do conhecimento, segundo as leis do processo
associativo, tendo em vista a obtenção de uma série de integrações significativas,
concatenadas de acordo com os princípios da lógica, com a finalidade última de
permitir uma atitude reacional ante a necessidade do momento.
O Princípio de Contradição, que redunda do descobrimento do que há de
essencial nos dados do conhecimento, introduz ordem racional na compreensão e
interpretação do mundo. Instituído o pensamento lógico, desagregam-se as unidades
objetivas monstruosas e arbitrárias, feitas nas bases de atributos superficiais, que
mudam constantemente de significação e de valor. O descobrimento das propriedades
essenciais a cada ser ou objeto, fazem com que os dados do conhecimento adquirem
individualidade e organizem-se em unidades coerentes, objetivas, eternas, imutáveis.
O pensamento lógico se rege por três princípios fundamentais:
1) Princípio de Identidade
Se A é A; e B é B; A não pode ser B.
2) Princípio de Causalidade
O indivíduo sabe, na base de experiências anteriores, que toda ação decorre de
uma causa e se acompanha um efeito. O mundo adquire ordem causal e temporal
irreversível.
a) S A é causa de B, não pode ser ao mesmo tempo efeito de B;
b) As mesmas causas produzem os mesmos efeitos;
c) Eliminando-se as causas eliminam-se os efeitos.
d) Causa e Efeito tem relação temporal irreversível de antecedência -
consequência. Entretanto a recíproca nem sempre é verdadeira. Nem tudo que vem
depois de ... é por causa de...
3) Princípio da Relação entre o Todo e a Parte

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Estabelece ordem espacial no cosmos. Tudo que existe é parte de um todo e ao


mesmo tempo composto de partes menores.
Se A é parte de B, B não pode ser parte de A
O Princípio de Contradição estende sua ação da consideração do essencial ao
plano da realidade têmporo-espacial, estabelecendo que o que está em determinado
lugar, como um todo não pode ao mesmo tempo e em idênticas circunstâncias,
desempenhar o papel de parte, pois o todo é sempre maior que as partes que o
integram.

A - Conceito
Os conceitos representam o conteúdo significativo de determinadas palavras, as
palavras não são os conceitos, mas unicamente signos, os símbolos das significações.
O conceito implica sempre em uma representação e é estabelecido a partir de quatro
funções:
1) Percepção: a percepção é a matéria prima para o pensar; os sentido percebem
um objeto particular. Implica a função psíquica da atenção, pois é necessário lucidez
para uma gestalt para a percepção;
2) Abstração: separam-se os atributos do objeto. Implica em inteligência
(analisar coisas diferentes e encontrar coisas em comum);
3) Comparação: Comparam-se os atributos do objeto percebido com os de
outro objeto;
4) Generalização: a partir dos atributos comuns forma-se uma nova
representação.
A psicologia clássica empregou o termo ideação para designar o processo de
formação de idéias e conceitos. Corresponde à passagem dos dados concretos
particulares da experiência fornecidos pelas sensações, para a noção mais abstrata e
geral, graças aos processos de abstração e generalização.

Alterações Conceituais:
Desintegração e condensação dos conceitos. Só encontramos a ampla
desintegração dos conceitos na vida psíquica esquizofrênica. Nesses casos, não é raro
que a palavra se desprenda, por completo, de sua significação propriamente dita;

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simultaneamente podem corresponder-lhe as significações mais heterogêneas. Até os


próprios conceitos se modificam; formam-se conceitos menos rígidos, totalmente
incompreensíveis; ou acontece que os conceitos se desfazem e uma palavra tem o
significado cada vez mais diverso. O neologismo é a forma mais expressa da
condensação: “duas idéias se juntam casualmente São fundidas numa só, e partes das
idéias se unem também, de forma incorreta, para formar uma outra idéia inteiramente
absurda” (Bleuler).

B) Associação de Idéias:
Chamamos de associação de idéias à função psíquica encarregada do
estabelecimento da relação entre diversas representações e dados do conhecimento.
Associação de idéias e curso do pensamento gozam de tal sinergia, e relação
recíprocas, que sua separação não é fácil. A Associação de Idéias engloba dois fatos
distintos:
a) União Associativa – simples conexão passiva que se estabelece entre dois
ou mais dados do conhecimento, que tenham sido simultaneamente objeto da nossa
consciência, integrando uma vivência ou experiência subjetiva. Processo inconsciente
e mecânico que resulta sucessão elementar de representações.
b) Integração Significativa – estabelece união entre dados do conhecimento
que possuem atributos comuns; daí resultam novas unidades ou elementos de
conhecimento, que facilitam a integração das experiências concretas, em conceitos
abstratos e universais. Constitui processo consciente, que obedece à lógica e conduz à
formação de um novo e complexo elemento psíquico. São as integrações significativas
que permitem o conhecimento do objeto, o descobrimento do que há de essencial nele.
A elaboração da idéia do objeto, estabelece ordem na vida psíquica, que povoada de
conceitos adquire atributos de Lógica.
São Quatro Leis que regulam o processo associativo (Aristóteles):
1) Lei de associação por continuidade temporal ou contemporaneidade:
conteúdos representativos correspondentes a estímulos simultâneos tendem a ser
evocados conjuntamente. Ex.: associa-se raio a trovão.

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2) Lei de associação por continuidade espacial: conteúdos representativos


pertencentes a estímulos próximos do espaço ambiental tendem a ser evocados
simultaneamente.
3) Lei de associação por semelhança externa: conteúdos representativos, cujas
imagens sensoriais se parecem, tendem a evocar-se conjuntamente. Ex:
4) Lei de associação por semelhança interna: representações feitas de
conteúdo de significações idênticas evocam-se ou tendem a evocar-se conjuntamente.
Ex.: Faca, lembra punhal, revólver: atribuo destrutivo comum.

Alterações da Associação de Idéias do Pensamento


1) Inibição do Curso do Pensamento – (Bradipsiquismo) - A inibição do
Pensamento é um sintoma que manifesta geralmente unido à lentificação de todos os
processos psíquicos. O essencial nesse tipo de transtorno reside na diminuição do
número de representações evocáveis na unidade do tempo, e a lentificação no curso
associativo. O Pensamento é tão lento que diminui o conteúdo do pensamento. A voz
é monotemática. Aparenta uma dificuldade de “começar a pensar”, manifestada pela
grande demora em responder questões simples. No início dos processos
esquizofrênicos pode-se encontrar a inibição do pensamento percebido
conscientemente pelo indivíduo, que se queixa de dificuldade no curso mental. O
Bradipsiquismo é o sistema característico das síndromes depressivas. Seus atributos
são precisamente contrários aos referidos para a fuga de idéias. Exemplo: “Perdi de
todo a memória, já não sou capaz de acompanhar uma conversa. Sinto-me como que
paralisado, não entendo mais nada, estou completamente abobado. Não consigo
dizer, de modo algum, qual é o conteúdo do leio e do que ouço. Já não tenho vontade,
não me resta um resquício de energia, nem de força para agir. Não consigo me
decidir por coisa alguma. Fazer um movimento, apenas isso custa-me grande
resolução.”

2) Aceleração do Curso do Pensamento -


Nos quadros maníacos ( exaltação o humor com Taquipsiquismo).
Caracteriza-se pela rapidez do pensamento e pela fuga de idéias. Fuga de Idéias: É
consequência da aceleração do pensamento. O pensamento é tão acelerado que a

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linguagem não acompanha o que ele pensa. A diminuição do tempo psíquico, que
caracteriza os estados de excitação maníaca, acompanha-se frequentemente da
chamada Fuga de Idéias, variam continuamente o tema do discurso, que perde a
coerência e a ordem do pensamento normal.
Aparecem frases sem nexo, dando a impressão de que as idéias “fugiram” antes
de serem comunicadas: é como se ocorresse uma enxurrada de associações e o
indivíduo não tivesse o tempo físico de verbalizá-las.
Essas associações automáticas dão-se por:
a) Assonância - o paciente fala rimando; morte, sorte, norte, etc.
b) Semelhança ou contemporaneidade entre temas ou por contiguidade.
Exemplo: “Boa tarde! Sim, boa tarde, se a vida é tão doce como mel. Gosta
também de açúcar? - fábrica de açúcar - a cana e a corda - não que enforcar-se?
Você assassino - pai do assassino - o colarinho - o colarinho da camisa - branca
como a neve é a inocência - Ah, a ingênua inocência! - moela - pata, pata de
cachorro, pata de gato - língua de gato - que tem gosto de chocolate de hospício -
onde estão os loucos.”
Na Fuga de Idéias as relações entre um e outro termo da cadeia associativa
conservam-se, mas são tão superficiais que o conjunto se mostra aparentemente
incompreensível e disparatado.
Esse caráter distingue o fenômeno em questão da Desagregação do
Pensamento, em que há um verdadeiro despedaçamento ou fragmentação dos cursos
associativos, sem qualquer coerência lógica, não só no conjunto, como nos próprios
termos.
Mutismo - Quando a aceleração do pensamento é muito grande pode ocorrer o
mutismo - percebe-se pela aceleração do humor exaltado.

3) Desagregação do pensamento – Quebra dos laços associativos. O


pensamento desagregado mostra-se despedaçado e desorganizado. Estão destruídas as
ligações associativas normais como também a estrutura das próprias idéias, donde o
aparecimento de concepções híbridas, isto é, feitas das combinações de dois elementos
ideológicos diferentes. Assim, o pensamento desagregado perde toda a coerência
lógica, não só no conjunto, como em seus termos ou idéias. O pensamento mostra-se
discordante e sem nexo; no grau máximo do distúrbio o paciente não consegue formar

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uma simples frase: caracteriza-se então, o que se rotula como “salada de palavras”.
Convém distinguir a desagregação da atividade simbólica, pela qual se traduz o
pensamento mágico; nessa última incoerência é apenas aparente, pois decifrada a
linguagem simbólica, o pensamento torna-se inteligível. Na verdadeira desagregação,
não só desaparece a síntese e coerência lógica como se rompe a estrutura de cada
idéia. Ocorre na esquizofrenia com lucidez da consciência e é uma das características
básicas (esquiso, dividido; frenus, pensamento).
Exemplo: Eu tenho sabe o que? Aquele ... problema de ... quando tinha 14 anos,
aquele problema ... e ... primeiro hospital que internei foi Galba Velloso. Depois foi
André Luiz. Já fiz uma canção com ... André Luiz e fui para casa e com a idade de 14
anos eu ... tinha ... aquela .... necessidade de pegar mulher e fui tarado, e agora ...
hoje ... eu quero perguntar ... mas ... 50 dúzias de amendoim e uma mulher, tem de
dividir no meio ... dá 10 torradas de amendoim sabe?

4) Bloqueio ou Interceptação do Pensamento – consiste numa súbita parada


do curso associativo, de tal modo que o pensamento se interrompe, ou muda
abruptamente de direção. O Paciente queixa que não pensa com continuidade, ou
acusa uma sensação subjetiva na seqüência das suas idéias. É freqüente na
esquizofrenia. Por vezes, o paciente interpreta como sendo conseqüência da ação de
alguém que interferir “roubou seu pensamento”. ( é uma atribuição do paciente pois o
Roubo do Pensamento e o Pensamento Imposto é uma alteração da atividade do eu
psíquico e não um distúrbio do pensamento).
Exemplo: “Eu sonhei com meu pai. Ele dizia: aqui se faz aqui se paga. Ele era
um homem enérgico”. Parada súbita, com duração de 45 segundos. “Hoje pela
manhã me veia a lembrança do cara que abalroou o carro do meu irmão. Fiquei
triste e tive raiva”. Parada de um minuto. Meu irmão era espírita. Em casa eu me
sentia muito bem, me sentia melhor, me lembrando das coisas”. Parada de três
minutos. “Quando esta internado meu irmão foi me visitar. Eu previ a sua morte”.
Parada de quatro minutos. À medida que a entrevista prosseguia, as pausas
intermediárias ia aumentando.

5) Perseveração – repetição automática e involuntária, passiva de temas,


palavras e sons. Freqüente de representações predominantemente verbais e motoras,

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que são introduzidas como material de recheio, para preencher as falhas na evocação
de novos elementos ideológicos. Pode ocorrer nos estado de inibição do pensamento,
na esquizofrenia catatônica e nos débeis mentais; como recurso para esconder a
pobreza dos conceitos ideológicos. Exemplo:
“Todos se sentam para comer, homens e mulheres. É um lugar bem grande. A
quantidade que me dão para comer, não poderia comer. Tentei ser apresentável,
exemplar. O que me deram para comer, eu me sentava e comia devidamente,
procurava fazer certo. O material da comida que dão, parecia estar bem depois do
tempo; era velho. Todas as outras mulheres receberam muita comida ou comidas e
comeram tudo. Então pensei que talvez alguma coisa estivesse errada com vocês”.

6) Prolixidade – Consiste na incapacidade para selecionar as representações


essenciais das assessórias. Perde-se a todo instante numa série de pormenores
desnecessários, há uma minuciosidade excessiva do pensamento, detalismo, apego às
insignificâncias levando ao abandono do essencial do tema, pelo supérfluo, pelo
acessório. Ao contrário da fuga de idéias, o pensamento prolixo pouco muda de tema,
exibindo uma espécie de aderência viscosa aos assuntos. Distingue-se a perseveração
porque na prolixidade o conteúdo dos pensamentos mudam, mesmo que persista o
assunto. A prolixidade é típico da epilepsia e da debilidade mental.
Exemplo:
“Hoje fazem oito dias que me encontro aqui e digo ao senhor que não posso
encontrar palavras de louvor suficientes para dizer, sem exagero, quanto tem feito
por mim, especialmente no curto espaço de tempo que aqui me encontro. Porque,
quando vim me encontrava de tal modo que me parecia impossível, em tão pouco
tempo, melhorar deste modo. É possível que para isso tenha contribuído em grande
parte a minha extraordinária força de vontade e também os seus excelentes métodos
de cura. Porém, de qualquer modo, sua conduta para comigo é tão digna de apreço,
que não posso encontrar palavras suficientes para louvá-la, e por isso desejo dar-lhe
os meus mais expressivos agradecimentos.

7) Incoerência – É a quebra dos laços associativos entre uma idéia e outra, que
destróem a ordem e o curso normal do pensamento lógico. Ocorre em pacientes com
turvação da consciência - confusão mental - é um distúrbio secundário ao da

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consciência. Verifica-se que os conceitos estão representados por símbolos, como no


sonho, e o raciocínio não leva em conta as leis da lógica, razão pela qual manifesta
franca discordância com a realidade objetiva.
(- Em que mês estamos?) Nesta casa eu caí, e que eu saiba, gritei muito. (- E o
mês?) Não sei, então dormia, não estava consciente, quando fui ao automóvel senti
muitas dores (- Sente alguma dor?) Não, porém estou muito feia. Precisamente ontem
falamos e tínhamos dito: aí vem o soldadinho, é o espírito mau que anda aí fora. (-
Como passou desde que lhe deram alta a última vez? ) Me vestia bem, porque queria
estar bonita. Com certeza aí fora está um espírito mau. Procuro o dinheiro, isto quer
dizer agora mesmo”.

8) Pensamento Obsessivo – caracteriza-se pela presença de idéias ou


representações que apesar de seu conteúdo logicamente falso, se impõe à consciência
pessoal de um modo súbito e persistente; cria-se um estado de incompatibilidade entre
o elemento obsessivo e as tendências habitualmente adotados pelo pensamento; esse
conflito mental acompanha-se, no plano emocional, por ansiedade maior ou menor.
Caracteriza-se ainda por ser repetitivo e reconhecido pelo paciente como seu,
que emana dele próprio, ao mesmo temo que considera absurdo e luta contra ele. Ele
tenta desvencilhar-se desse pensamento e se angustia por não conseguir parar de
pensar. É típico das neuroses, obsessivo-compulsivos, casos em que surgem os atos
compulsivos, com características rituais e mágicas. Na Idéia Obsessiva o sujeito luta
contra a idéia; na idéia delirante o sujeito lida por ela e para ela.

Psicopatologia da Atividade Delirante

Vivências delirantes primárias

1) Percepção delirante:
Representa a forma fundamental do delírio esquizofrênico. Define-a deste
modo: quando há uma percepção real e normal é atribuído um novo e absurdo
significado, na maioria das vezes auto-referencial; a significação delirante é
experimentado pelo paciente como imposta; a significação não é só estranha, como

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incompreensível a significação emprestada à percepção delirante tem características


transcendentais, implicando sempre uma alusão pessoal é como um “aviso” ou
“sinal” ou mensagem procedente de outro mundo. A percepção delirante é um
fenômeno psíquico ligado ao mesmo tempo à senso-percepção e ao pensamento, mas
não resulta de uma alteração da senso-percepção, nem do pensamento. Trata-se de
uma vivência nova, original, que não encontra similar na vida psíquica normal. A
percepção delirante difere das idéias delirantes primárias em que, nessas nem sempre
há uma percepção imediata e nem existe o significado de aviso ou sinal.
Exemplo: quando uma pessoa passa diante de uma casa e vê parado um carro de
mudanças, numa percepção delirante, ele pensaria não na simples mudança, ao
contrário, veria naquele fato algo extraordinário, relacionado com sua pessoa, com
uma significação delirante absurda. “Quando vi o carro de mudanças, senti um medo
terrível e compreendi que se havia decidido o destino do Brasil”.
2) Humor delirante ou trema: estado atormentador de inquietação interna,
caracterizado por sensações angustiosas, perplexiadade, insegurança e estranheza de si
mesmo. Pode ocorrer na fase que antecede a eclosão do surto em que há a alteração da
consciência da atividade do eu - despersonalização.
3) Intuição ou Ocorrência delirante: idéia que surge sozinha sem elementos
sensoriais; a pessoa delira sem que haja um percepto. Exemplo: independentemente de
uma vivência ou de uma recordação, subitamente passa, a se julgar Jesus Cristo.
4) Interpretação delirante: Quando o paciente interpreta um grupo de pessoas
reunidas numa esquina, como se ali estivessem, não para conversar mas para falarem
mal dele ou tramarem contra ele.
5) Recordação delirante: Lembrança de alguma coisa que aconteceu e que no
ato foi dado um significado normal, mas no surto é dado outro significado. Exemplo:
lembrando-se de haver ganho uma Bíblia no Natal, atribui ao fato, agora o significado
de uma mensagem de Deus, designando-o como salvador do mundo.

Delírio
Conceito de Delírio
A palavra delírio foi criada para designar os desvios mórbidos do juízo (do
grego de-fora, liros-sulco).

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Na atualidade, o termo se emprega para significar uma atividade progressiva,


mórbida, do pensamento, em virtude da qual o indivíduo se afasta cada vez mais da
realidade objetiva sem que seja possível convencê-lo dos seus erros fundamentais. O
que seja delírios exige-se três condições fundamentais: o conceito errôneo, a
icognicibilidade, e a falta de consciência do transtorno.
O delírio aparece como conseqüência de um processo que ataca diretamente a
estrutura funcional do pensamento, destruindo as conexões lógicas, prejudicando a
elaboração dos juízos, e substituindo a atividade intelectual unitária e coerente,
racional, ordenada e compreensiva por um pensamento fragmentário, incoerente,
desordenado, ilógico, automático, de difícil compreensão, Ocorre nos estados de
demências orgânicos e nos processos esquizofrênicos acentuados.
As Idéias Delirantes são alterações do pensamento que aparecem como
modificações de seu conteúdo. São interpretações nova, e anômalas, da realidade que
surgem, de modo incompreensível, quanto à sua gênese e que não são derivadas de
distúrbios de outras funções psíquicas.
Jaspers distingue duas modalidades fundamentais de delírios: idéias delirantes
verdadeiras e idéias deliróides. “Chamam-se idéias delirantes todos os juízos falsos
que possuem as seguintes características:
Conteúdo irreal - juízo falso, ilógico ou impossível ou irracional (o que o
paciente afirma não é apenas improvável, mas impossível e irreal.
Certeza Subjetiva, convicção que não se abala apesar das mais claras e
evidentes demonstrações da irrealidade de seu pensamento. Exemplo: você não
consegue demovê-lo de que ele não é Napoleão.
Irredutibilidade pela argumentação lógica.
Nos delírios de interpretação, pela acusações que o indivíduo faz de seus
perseguidores, pelas intrusões que atribui aos outros, pelas críticas que põe na boca de
terceiros, é possível compreender o pensamento do próprio indivíduo.
Podemos dividir as idéias delirantes em duas categorias:
a) Idéias Delirantes primárias
Muitas idéias delirantes - persecutórias, místicas, eróticas, de grandeza, etc. -
oferecem certa plausibilidade quando sistematizadas: o que continua incompreensível
é porque e como surgiu o delírio; e constituem, por conseguinte - qualquer coisa de
primário.

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b) Idéias delirantes secundárias - São interpretações anômalas da realidade,


mas surgidas secundariamente a uma disfunção de outra atividade do campo psíquico.
Ou seja, se deduzem de fenômenos afetivos ou de outras experiências - Percepção
falsa, estranheza do mundo exterior acompanhada de alteração da consciência - de tal
maneira que nos é compreensível.
Exemplo: No deprimido primário, abaixamento do humor - surgem idéias
secundárias ou deliróides de culpa, ruína e morte; no maníaco - distúrbio primário,
exaltação do humor - manifestam-se idéias secundárias de grandeza e onipotência.
c) Delirium
Na confusão mental da arterioesclerose cerebral, nos quadros de turvação de
consciência encontra-se outras idéias delirantes secundárias, com temas variados e
polimorfos: de perseguição, grandeza e místicas.

B) Classificação dos Delírios


a) De acordo com a natureza do conteúdo, podem-se distinguir os delírios
conforme seus elementos integrantes em:
1) sensoriais - Predominantemente alucinatório;
2) imaginativos - Quando é constituído de fabulações;
3) interpretativos - Delírio sensitivo de auto-referência;
4) delírio onírico ou crepuscular - confuso-oníricos com turvação da consciência
- Delirium;
5) Intuitivo- Quando se instaura a partir de ocorrência delirantes ou cognições.
b) Quanto a estrutura distinguimos os delírios em:
1) Delírios não-sistematizados - caracterizados pela ausência de uma
interpretação global dos conteúdos delirantes, de tal modo que o todo se apresenta
como formado de pequenos fragmentos, sem associação muito precisa.
2) Delírios sistematizados - existe interpretação global, a tal modo, que em
muitos casos, todos os novos dados do conhecimento são elaborados pelo prisma
delirante.
c) Com relação a evolução - é clássico distinguir em agudos e crônicos.
1) Agudo – delirium tremens e em geral delírio infecciosos, que desaparecem
como um sonho.

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2) Crônico – delírios paranóides, concepções delirantes dos parafrênicos e dos


esquizofrênicos.
d) Quanto a forma:
1) Delírio de prejuízo –
A sua base é o estado emocional patológico de medo, desconfiança e insegurança
pessoal. Imagina que os outros não o atendem como aos demais, que não está
recebendo o trato devido como aos demais. Essa forma pode constituir trânsito para
um delírio de perseguição, com maior ou menor sistematização. Ocorre na senilidade,
debilidade mental.
2) Delírio de perseguição
`As vezes representa uma fase mais avançada das idéias de prejuízo, quando a
suposta hostilidade ambiental se exagera e se converte em franca agressividade que ao
mesmo tempo se concretiza e sistematiza. Outras vezes constitui desde o início
perseguição em si mesma, que a princípio é apenas esboçada e depois se acentua e se
define. Pode ainda aparecer de modo abrupto pelo menos na sua aparência, com todos
os seus elementos já constituídos.
Existe a forma de perseguição psíquica e física:
Perseguição psíquica: o paciente se queixa, por exemplo de que determinado
seita decidiu incomodá-lo por todos os modos, desprestigiando-o, difamando-o e
ameaçando-o clara ou veladamente.
Perseguição física: esses inimigos imaginários não se satisfazem com
campanhas psicológicas e propõem-se a exterminar o indivíduo, e às vezes toda sua
família, seja de modo violento e rápido, seja lentamente provocando sofrimentos
físicos, como dores, queimaduras, etc.
Comumente há uma coincidência das duas formas, que ainda podem se associar
a idéias delirante de grandeza.
3) Delírio de Influência
O indivíduo sente a modificação do eu mas atribui à influência de forças
naturais ou sobrenaturais situadas fora dele, tais forças lhe impõe pensamentos,
orientam suas ações, modificam o estado das suas vísceras e podem chegar até a
alterar a aparência física. O que caracteriza essa forma delirante é que ela exige, para
seu aparecimento, a desagregação lógica do pensamento e o predomínio de

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concepções mágicas do universo. Maior freqüência e intensidade na esquizofrenia,


principalmente na forma paranóide.
4) Delírio Hipocondríaco
Caracteriza-se pela presença de doenças e preocupações injustificadas e
irredutíveis, em relação ao estado de saúde corporal.
5) Delírio Niilista ou de Negação
Em casos graves de delírio hipocondríaco, como na depressão melancólica bem
acentuada, o paciente pode chegar a negar a própria existência física, ou a realidade de
alguns de seus órgãos. O delírio de negação faz parte da Síndrome de Cotard, que se
caracteriza por um quadro de intensa depressão acompanhada de delírio de auto-
acusação e de expiação, de idéias hipocondríacas e de preocupações suicidas.
6) Delírio Melancólico
Arquiteta-se sobre o fundo emocional de tristeza e pessimismo. O tema
delirante, relaciona-se à vida presente e futura, que aparece com as cores mais escuras
possíveis. Todos os acontecimentos mudam de sinal, são vistos por lentes negras e até
os sucessos e alegrias constituem motivo de preocupação e tristeza para o doente. No
delírio melancólico não se trata de inimigos, nem de expiação; o paciente é vítima da
fatalidade do destino.
7) Delírio de Auto-acusação
O paciente se arvora em juiz inflexível e severo de suas próprias ações e
pensamento, passados e presentes e até suas intenções futuras, acentuando o lado mau
sobre o bom, como verdadeiro inimigo de si mesmo. Memórias falsas procuram
convencer o indivíduo de que ele é responsável por delitos, que na realidade não
foram cometidos. O “culpado” , isto é o auto-acusador necessita de castigo para
apaziguar a própria consciência e é capaz de procurar a morte, realizando um suicido
planejado ou deixar-se morrer.
8) Delírio de Transformação Cósmica
Exprime que a realidade exterior, vista através do prisma da doença, já não se
afigura mais ao indivíduo como anteriormente, quando sua personalidade não estava
comprometida. Pressupõe uma certa primitivação do indivíduo, ou seja, uma
desorganização da atividade psicológica que se torna pobre, restrita a área limitadas de
interesse e cada vez menos realista. Reaparecem os modos mágicos do pensamento, e
acentuam-se a atividade “simbólica” individual. Perplexos ante a nova realidade,

43
44

procuram descobrir significados, que decifrem o enigma, que afinal está dentro deles
mesmos. Tudo passa a ter sentido oculto, que é pressentido pelo doente, não chega a
ser definido de modo claro, o que aumenta cada vez mais a confusão.
9) Delírio Místico
Embora caracterize na superfície por idéias de natureza religiosa, que podem ser
tão intensas que levam a um estado de êxtase, esse delírio não raro encobre
preocupações de natureza erótica acompanhando-se de sensações cenestésicas e táteis,
cujo caráter sexual é evidente. Podem aparecer nos estado crepusculares epilépticos,
nas psicoses tóxicas, na esquizofrenia, na histeria.
10) Delírios de Grandeza
Caracteriza-se por aumento subjetivo de todos os valores relativos a sua
personalidade: acredita-se poderoso, rico, forte, belo, amado. A megalomania pode ir
a tal ponto que o indivíduo declare ser capaz de modificar os próprios seres vivos, dar
vida e a morte, influenciar o próprio Deus. A personalidade se expande, orientada para
uma atitude dominadora e rebelde.
11) Delírio Reformador
Preocupações relativas a modificação da realidade ambiental. Planos de reforma
da humanidade. Não se limita a fantasiar planos idealistas, ou vazá-los no papel, mas
trata de propagar as suas idéias por todos os meios ao seu alcance. As idéias são mais
ou menos sistematizadas e apresentadas misturadas com citações e dados selecionados
em fontes filosóficas, religiosas (Bíblia).
12) Delírio de Invenção
Na base dos princípios corretos extraídos de livros científicos, o inventor
delirante chega a obtenção de resultados falsos, que são refugados. Na maioria trata-se
de invento com escassa finalidade prática, cujo importância teórica é acentuada pelo
seu autor.
13) Delírio Querelante ou Reivindicador
A partir de determinado acontecimento, ligado a frustração de desejos pessoais,
o querelante desenvolve atividade intelectual mórbida, que absorve a atenção, toma-
lhe o tempo e o afasta cada vez mais da realidade, com objetivo de reparar a injustiça
que lhe foi feita – Paranóia, esquizofrenia paranóide e nas síndromes paranóides em
geral.
14) Delírio de Ciúmes

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45

O simples receio de infidelidade em grau mais avançado transforma-se em


suspeitas que se acentuam progressivamente, até a condição inabalável da traição;
embora não haja base real no passado ou presente. É observado nos alcoólatras
crônicos, psicopatas e no transcurso de vários estados psicóticos de tonalidade
depressivas.

NOTAS SOBRE A PSICOPATOLOGIA DO DELÍRIO


Para o organadinamismo defendido por Henri Ey o problema do delírio é tão
considerável e tão obscuro que podemos apenas indicar seu sentido. Às vezes o
Delírio é tomado no sentido da palavra latina delirium, que implica um distúrbio, um
transtorno negativo, e às vezes ele é tomado no sentido de idéia delirante, o que
corresponde ao sentido positivo (delírio e convicção) da palavra alemã "Wahn".
Os que têm tendência em considerar o delírio como secundário a um distúrbio
psíquico e, no fim das contas, a um processo orgânico, associam-no a um estado
primordial (Moreau de Tours), de transtorno da vida psíquica ou a distúrbios da
consciência, apoiando-se sobre os argumentos da patologia cerebral ou das psicoses
experimentais.
Todos os que consideram o delírio como uma idéia delirante por assim dizer
pura ou primária, associam-na à intuição errônea ou à projeção de fenômenos afetivos
conscientes ou inconscientes.
Henri Ey não acredita que seja possível reduzir o fenômeno geral do Delírio
englobando o sentido duplo do delirium (experiência delirante) e do Wahn (Delírio) a
uma teoria puramente mecânica ou puramente psicogenética. Para ele, parece mais
razoável que, no próprio centro de todos os problemas psicopatológicos, apenas uma
concepção organodinâmica da psiquiatria e sua distinção entre a patologia da
consciência e da patologia da personalidade podem permitir que se capte a articulação
profunda que liga o estado de sonho à existência delirante.
As discussões acerca da natureza "processual" ou puramente psicogênica do
Delírio (J. Lacan, R. Laing, Esterson, D. Cooper, A. de Waelhens, 1965-1972) é um
problema central para toda a psicopatologia 2. Este problema só pode ser naturalmente
clarificado ou então resolvido, se pretendemos inicialmente separar o conceito de

2
Sobre este ponto fundamental devem-se consultar as discussões de Bonneval sobre a psicogênese das
neuroses e das psicoses, 1947 (C.R., Desclée de Brouwer, Paris, 1950).

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46

Delírio e o de erro ou de ilusão, fenômenos admitidos na vida cotidiana em função das


crenças ou dos conhecimentos do grupo cultural ou dos indivíduos que dele fazem
parte.
O que define o Delírio, de fato, é que ele consiste em uma alienação da pessoa
relativamente ao sistema de valores do grupo (realidade, ética.etc.), e uma alienação
tão singular que o Delirante, por mais sistemático que seja, por mais racional que seja,
manifesta através de suas crenças sua subordinação absoluta aos processos primários
do Inconsciente.
Concebe-se então que o sonhador ofereça a mais surpreendente imagem do
Delírio (no sentido de Delirium). E não há dúvidas a este respeito (nem mesmo para
Freud, nem para os psicofisiologistas-psicanalistas contemporâneos a propósito do
sonho paradoxal, cf. mais adiante) quanto a não considerar que o sonho do indivíduo
que dorme, embora o proteja em algumas das fases do sono, não o faz
primordialmente seu prisioneiro. De tal modo que, baseando-se nesse modelo, pode
ser proposta a hipótese tradicional em psiquiatria (Moreau de Tours) de uma analogia,
ou então de uma identidade, entre a patogenia do sonho e a patogenia das experiências
delirantes e alucinatórias.
Porém, é difícil de aplicar este mesmo modelo às psicoses delirantes crônicas.
Se, de fato, um grande número de casos, de fases ou de formas de esquizofrenias a isto
se presta, o próprio gênero dos Delírios crônicos, à medida que comportem Delírios
sistematizados, psicoses alucinatórias crônicas, paranóias mais ou menos
interpretativas ou alucinatórias etc., não se encaixa no modelo. Esta contradição só
pode ser resolvida se passarmos para os conceitos arquitetônicos de organização do
"corpo psíquico", isto é, da subordinação do Inconsciente ao ser consciente (em sua
trajetória existencial diacrônica como em seu campo de consciência sincrônica).
Então, pode surgir claramente que "alguma coisa", semelhante ao que representa o
sono que condiciona o sonho, se produz também para engendrar esta forma de
alienação da pessoa no Delírio crônico3 .
Esta alguma coisa, este "processus" (em terceira pessoa, diz-se às vezes) é o que
está em questão. Alguns o contestam e, devido a isto, dissolvem este problema dos
delírios, ao invés de resolvê-lo, assimilando-o ao jogo normal do simbólico, do

3
Relatório de Henri Ey ao IV Congresso Mundial de Psiquiatria, l%d (lr»tii unil rm: Eviil. Psychiat.,
1970, 1-37).

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47

imaginário, do "puro jogo" do inconsciente. Outros, pelo contrário (Henri Ey),


retornam à tradição organodinâmica da gênese negativa do Delírio, retomando (após
havê-los revisado) os estudos de J.-P. Falret, de Moreau de Tours, de H. Jackson, de
Jaspers, de Freud, de Bleuler e de P. Janet. sobre o processo deliriogênico.
Moreau de Tours, J.-P. Falret e H. lackson abriram o caminho para uma
interpretação dinâmica da produção delirante considerada ao mesmo tempo sob seu
aspecto negativo (a desorganização ontológica) e sob seu aspecto positivo (os delírios
e as alucinações dos alienados são suas idéias, isto é, manifestam o inconsciente
através do plano do sintoma).
Jaspers distinguiu muito bem o desenvolvimento compreensível e a continuidade
histórica da personalidade normal, o que denominou o processo delirante, do qual
distinguiu dois tipos: o processo físico-psicótico (o dos estados oníricos, oníróides ou
demenciais) ë o "processo psíquico", o qual caracteriza precisamente o Delírio
crônico. Porém muitos autores - o próprio Jaspers - esqueceram estas distinções
essenciais confundindo o "processo psíquico" (que é um transtorno, o mesmo que a
Daseinsanalyse de Binswanger4 colocou em evidência com muita profundidade) com
o desenvolvimento da personalidade. O que Jaspers chama, de fato, "processo
psíquico", é uma transformação heterogênea (heterogene Umwandlung), uma
metamorfose da personalidade.
No fundo, é o que também diz Freud (neurose e psicose) quando fala do caráter
"aloplástico" do desenvolvimento psíquico da psicose.
Quanto a P. Janet, toda sua psicopatologia dinâmica do delírio e das alucinações
é constantemente sustentada pela idéia da diminuição da tensão psíquica, ou, mais

4
As principais obras de L. BINSWANGER, em alemão, são principalmente Grundformen und
Erkentniss menschleschen Dasein e os famosos casos de esquizofrenia reunidos na obra
"Schizophrenies" (1957). Alguns (o caso Suzan Urban) foram traduzidos para o francês (Kuhn, ed.
Desclée de Brouwer, Paris, 1957) e na coleção de textos reunidos e traduzidos por J. VERDEAUX e R.
KUHN (ed. de Minuit, Paris, 1971). Por exemplo, quando ele escreve (Trad. Verdeaux-Kuhn, págs.
259-260), em 1958, referindo-se a HABERLIN, que na neurose como na psicose "a doença se
exterioriza necessariamente no plano psíquico e físico... No segundo caso, a relação normal entre o
corpo e o espírito (kornonia) está perturbada... (sendo este distúrbio) o fracionamento da unidade das
possibilidades do ser da presença... A análise existencial não pretende nem pode ser tomada sob a
concepção psiquiátrica da realidade, nem colocar em dúvida as relações 'psicofísicas' baseando-se
empiricamente nela" (págs. 260-261). Falando de uma maneira mais geral, ele acrescenta e conclui: "O
ser psiquiatra" não pode ser compreendido sem a compreensão da transcendência, enquanto liberdade
para o fundamento. Se nós citamos assim algumas frases, de fato fundamentais, de L. Binswanger, foi
para mostrar de maneira clara que quando o "ser psiquiatra" só acontece verdadeiramente frente ao
delírio, a antropologia existencial não exclui, porém exige, a totalidade organodinâmica da existência
delirante, visada e sob os cuidados da consciência do psiquiatra

47
48

exatamente, da queda das funções psíquicas que asseguram a hierarquia das funções
do real. ( Henri Ey , 1980, pág. 528 - 530)

Afetividade

A palavra afeto implica numa situação de ser afetado, ou seja, o ser afetado
implicaria numa qualidade de prazer ou desprazer.
A Afetividade compreende o estado de humor, os sentimentos, a emoções e as
paixões.
A afetividade penetra todos os demais aspectos da atividade psíquica,
influenciando decisivamente a percepção, a memória e o pensamento, a vontade e as
ações. É artificial a divisão da vida psíquica em processos afetivos e intelectuais: todo
processo intelectual evoca sentimentos, os sentimentos despertam recordações e
regem o modo de pensar. Na realidade, nunca se reage com apenas um determinado
afeto, a um fato-vivência isolado ou a uma representação: um afeto corresponderá,
sempre, ao psiquismo atual e à sua totalidade.

A) Emoções Primárias
São complexas manifestações psicológicas caracterizadas por súbitas e
profundas rupturas do equilíbrio afetivo, com repercussões concomitantes ou
consecutivas, leves ou intensas, mas sempre de curta duração, sobre a
individualidade da consciência e sobre a atividade funcional de diversos órgãos e
aparelhos do indivíduo. Há sempre um correlato fisiológico da emoção (motora,
secretora, viceral, vasomotora, etc).
A Emoção de Choque, Emoção colérica são consideradas primárias, integrantes
do nosso patrimônio afetivo básico ou original. Encontram-se a serviço da
sobrevivência individual, portanto ligadas ao instinto de conservação.

B) Paixão
A paixão é a tendência predominante e geralmente exclusiva, que exerce, de
maneira mais ou menos constante, uma ação diretriz sobre a conduta e o

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pensamento, dirigindo os juízos de valor e impedindo o exercício de uma lógica


imparcial. A paixão para Ribot, é a emoção em permanência.

C) Os sentimentos
O sentimento é um estado afetivo atenuado, estável, duradouro.
Kurt Scheneider considera os sentimentos “estados do eu”, que não podem ser
controlados pela vontade e que são provocados por nossas representações. Os
estados afetivos são geralmente revestidos de ricas e nobres tonalidades intelectuais
e morais, nem sempre acompanhados de sintomas somáticos concomitantes.
Para compreender bem isto, imagine se contrapor um sentimento puro a uma
percepção visual. A percepção permite a descrição daquilo que a pessoa tem diante de
si: paisagem ou casa. Isto ocorre em razão de se estar experimentando algo que é
reação a um estímulo externo e objetivo. Os sentimentos, ao contrário, quando alguém
diz que está alegre, que está triste, que está colérico, descreve não uma paisagem
exterior mas uma paisagem interior: vale dizer, está designando a maneira de estar
consigo mesmo e é o que se denomina de estados do “eu” ou sentimentos.
Portanto, em contraposição às percepções e ao pensamento, que estão dirigidos à
captação do mundo exterior, o sentimentos revelam estados do “eu”. Raramente são
acompanhados por alterações fisiológicas.
Uma classificação dos sentimentos com base em sua estratificação foi
estabelecida por Max Scheler, que os diferencia em quatro grupos:

C- 1) Sentimentos ou Estados Afetivos Sensoriais


Se encontram muito próximos da corporalidade, estão localizdaos em
determinadas partes do corpo e constituem os primeiros elementos tímicos
adquiridos, vistos que estão intimamente relacionados às sensações de prazer e dor.
Têm como ponto de partida a sensibilidade corporal, ou seja, estão sempre
localizados em certos pontos do organismo - o seu exemplo típico é a dor - uma
sensação que, quando qualificada, constitui sentimento sensorial.
Falta aos sentimentos sensoriais o caráter de intencionalidade, de dirigir-se ou
referir-se a algo. Os sentimentos sensoriais são ligados a uma parte do corpo, cujo
estado expressam constituindo-se em fenômenos atuais, localizáveis, sem
continuidade de sentido, sem recordação sentimental autêntica - recordar uma dor não

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é o mesmo que sentir uma dor. Enfim, trata-se de como está o meu “eu” diante de
uma sensação corporal localizada. É uma sensação qualitativa - agradável ou
desagradável.
Esses sentimentos não devem ser confundidos com as sensações pois os
sentimentos têm uma referência vivida ao eu que os distingue do ato de representar,
querer, pensar.

C- 2)Sentimentos ou Estados Afetivos Vitais


Os sentimentos vitais, tais como o bem-estar e o mal-estar, o sentimento de
saúde ou de enfermidade, os sentimentos de vida ascendente ou descendente, a calma,
a tensão pertencem ao organismo como tonalidade. É o sentimento vital do corpo
como um todo e que se permite sentir a vida, de forma a saber da saúde, da
doença, do bem-estar e do mal-estar.
Ao contrário dos anteriores, os sentimentos vitais não são localizados como
uma dor ou um sabor. Para esses sentimentos há uma recordação sentimental, ao
contrário dos sentimentos sensoriais (localizados): eu não posso viver de novo uma
dor física que sofri, posso apenas recordar-me de como foi; nos estados afetivos vitais
posso reviver um estado de alegria.

C- 3) Sentimentos Anímicos ou Psíquicos


São sentimentos dirigidos, formas reativas sentimentais diante do mundo
exterior. Alguém fica alegre, ou triste, com determinada notícia o que demonstra,
nesse caso, a participação ativa do eu. Por isso, esses sentimentos são chamados
de “sentimentos do eu”.
Os sentimentos anímicos não estão ligados diretamente à percepção, mas ao
sentido, ao significado percebido. Os sentimentos anímicos são concebidos como
qualidades do eu e, portanto inerentes à estruturação dos valores individuais.
Os sentimentos anímicos não são função do “eu” mas modalidade do “eu”, por
exemplo, uma tristeza motivada, como reação a algo externo. O caráter intencional
dos sentimentos anímicos determina que, quando correspondem a algum
acontecimento externo, o fazem valorizando-o, situando-o na trama das perspectivas
pessoais.

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C- 4) Sentimentos Espirituais
Estão subordinados aos conteúdos das vivências. São modos de ser e não
modos de estar (“eu sou feliz”; não, eu “estou feliz”). Entre os sentimentos espirituais
se incluem os religiosos, estéticos, morais e metafísicos. Para o nosso objetivo,
descrição de realidade clínicas, não se revestem de importância significativa.
A estratificação dos sentimentos não implica em seu isolamento estanque:
mas comporta a possibilidade de relacionamento entre vários níveis. Assim, por
exemplo, num estado de bem-estar vital, é possível sentir-se uma dor (sentimento
corporal localizado ou sensorial). É, do mesmo modo inegável a coexistência de uma
tristeza vital com uma tristeza motivada (sentimento psíquico ou anímico): por
exemplo, um melancólico (vital) diante da morte de um ente querido (psíquico) - o
enfermo poderá distinguir claramente os dois modos de vivenciar ou experimentar
tristeza. Pelo estudo da fome pode-se verificar como há uma zona de transição entre
os sentimentos sensoriais (corporais localizados) e os sentimentos vitais (corporais
difusos): a fome, de início, se experimenta como um estado geral de corporalidade; à
medida em que se acentua, a referida sensação tende a fixar-se no epigástrio,
acompanhada de sentimento de desconforto ou incômodo (sentimento corporal
localizado).

D) Humor
Para Bleuler, o humor consiste na “soma total dos sentimentos presentes nas
consciência em um dado momento”. É a tonalidade afetiva que acompanha os
processos intelectuais (percepções, representações, conceitos) em determinado
momento, e que varia de acordo com as circunstâncias.
No estado de ânimo há a confluência de uma vertente somática e de uma
vertente psíquica, que se unem de maneira indissolúvel para dar como
conseqüência um colorido especial à vida psíquica momentânea.
O tom afetivo denuncia o humor ou estado de ânimo do indivíduo, como
disposição consciente, ambos passíveis de freqüentes transformações e variações, por
efeito de influências somáticas e psíquicas.
Segundo Kurt Schneider, um dos componentes principais do estado de ânimo
básico é o sentimento geral de maior ou menor vitalidade que se encontra ligado a
múltiplas sensações subliminares procedentes de diferentes órgãos ou regiões do

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corpo. O humor é vivido corporalmente: o paciente maníaco sente o seu próprio


corpo como flutuante, infatigável e cheio de vigor, enquanto o depressivo sente-o
apagado, pesado, decaído e murcho.
O estado de ânimo básico depende consideravelmente das condições
vegetativas do organismo e de modo especial de uma função que tem seu centro no
diencéfalo, à qual se dá o nome de função tímica.

E) Alterações da Afetividade
1) Hipertimias: correspondem ao aumento em intensidade e duração, dos
afetos, geralmente associados à aceleração da atividade psíquica a à irritabilidade.
Distinguem-se a euforia e a exaltação afetiva patológica.
a) A euforia simples se traduz por um estado de completa satisfação e
felicidade. Verificam-se elevação do estado de ânimo, aceleração do curso
do pensamento, loquacidade, vivacidade da mímica facial, aumento da
gesticulação, riso fácil e logorréia. A euforia simples é observado na fase
maníaca, nos estados hipomaníacos, na embriaguez alcoólica, na demência
senil, na paralisia geral.
b) Na exaltação patológica há não só a euforia simples, mas, também,
aumento da convicção do próprio valor e das aspirações. Há uma
exaltação do sentimento vital, com vivências de alegria intensa (“euforia”),
hipervigilância, excitabilidade afetiva, por isso irritabilidade, acompanhada
de aceleração do curso do pensamento, que pode chegar à fuga de idéias, e
ocorrer idéias delirantes secundárias, principalmente de grandeza. e certa
facilidade para passar rapidamente do pensamento à ação
Na excitabilidade hipertímica, observa-se uma resposta afetiva (“emocional”)
intensa a estímulos pequenos e banais: o ruído de um telefone parece ter uma grande
intensidade - “como se estivesse dentro da cabeça da pessoa”- além de despertar
reação intensa de repulsa ao ruído, podendo levar à ação, no caso citado, de destruição
do telefone.
Nos estados maníacos, em todo e qualquer outro quadro de excitação e de
agitação, aí se incluindo os de esquizofrênicos, se encontra o exagero em intensidade
da irritabilidade espontânea, ou reativa, dos afetos.

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2) Hipotimias - Na hipotimia ou depressão patológica verifica-se o aumento da


reatividade para os sentimentos desagradáveis, podendo variar desde o simples mal-
estar até o estupor melancólico. Caracteriza-se por uma tristeza profunda e imotivada,
que se acompanha de lentidão e inibição de todos os processos psíquicos.
Ao contrário do distúrbio anteriormente descrito, evidenciam-se por diminuição
da excitabilidade e na intensidade dos afetos, como nos quadros depressivos e
melancólicos, de regra com persistente aumento da duração de certos sentimento de
tonalidade sombria e desagradável, acompanhados de pensamentos correspondentes
de culpa, ruína, hipocondria, morte, etc.

3) Atimia - Em casos mais graves, pode se instalar a “atimia”, configurada pela


queixa do paciente de “sentir que nada sente”, é o denominado “sentimento de falta de
sentimento” , designação paradoxal que denota a improcedência das queixas.

4) Estupor Emocional - é geralmente de curta duração, instala-se


abruptamente, em seguida a acontecimento externo fortemente traumatizante
(acidentes, catástrofe, morte de pessoas queridas) e acompanha-se de certo grau de
ofuscação da claridade de consciência, ou seja, acontece estreitamente do campo de
consciência, com oscilação discreta de nível - é o estado crepuscular, acompanhado de
estupor emocional: incapacidade momentânea, e passageira, de responder aos
estímulos.

5) Apatia - Perda da capacidade de experimentar sentimentos e emoções que


eram outrora acalentados e cultivados com vivacidade e interesse. Pode-se suceder ao
estupor, costuma ser mais prolongada e instala-se insidiosamente, acompanhado-se de
abulia (ausência de vontade). Pode ocorrer passageiramente em psicoses (agudas), e
com caráter irreversível, em estados deficitários, oligofrênicos e demenciais.
Apresenta-se também, com freqüência, sob a forma de um progressivo esvaziamento
afetivo, nas esquizofrenias de tipo hebefrênico.

6) Embotamento, ou indiferença afetiva, é a finalização do paulatino


empalidecer dos sentimentos caracterizado, principalmente, pelo enfraquecimento dos

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sentimentos que geram e consolidam os laços e nexos afetivos e familiares. Ocorre


nos processos esquizofrênicos avançados.

7) Distimias - São assim denominadas súbitas rupturas do equilíbrio afetivo


que ora se manifestam para o lado da tristeza doentia (distimia depressiva), ora para o
lado da euforia e da alegria mórbidas (distimia expansiva) ; e, outras vezes para o da
cólera (distimia colérica). É o distúrbio da regulação dos afetos, condicionando o
desvio patológico do humor. São encontradas nas melancolias e nas manias,
aparecem nas epilepsias, por vezes como pródromos de grandes ataques epilépticos.
Também, surgem, - principalmente as distimias coléricas -, nos distúrbios vasculares
cerebrais como se constata pelas explosões afetivas súbitas de arteriosclereóticos
cerebrais, nas personalidades psicopáticas irritáveis e nos casos de seqüelas de
traumatismos crânio-encefálicos.

8) Labilidade afetiva - instabilidade e constante mutabilidade das reações


afetivas, o que atribuímos à insuficiência da regulação interna dos afetos. É
relativamente comum na adolescência e, mais tarde, nos neuróticos histéricos, nos
alcoólatras, nas personalidades psicopáticas do tipo “instável” e em idosos.

9) Incontinência afetiva - é a incapacidade de regular e controlar as


emoções que surgem sob a forma de pranto convulsivo ou riso incontido. Na
labilidade, há mudança freqüente de afetos; na incontinência, incapacidade de conter
os afetos. A incontinência afetiva é, quase sempre, demonstrada por neuróticos,
alcoólatras, portadores de enfermidades somáticas crônicas e, principalmente, aparece
como sintoma precoce da arteriosclerose cerebral.

10) Paratimias - são sentimentos paradoxais, e inadequados; exibidos, por


exemplo, por esquizofrênicos, totalmente indiferentes a uma notícia desagradável, ou
alarmante, referente a seus familiares; em contra-partida, apegam-se, obstinadamente,
a um cão ou a um gato. Outra modalidade de paratimia é a “discordância afetiva”:
inadequação entre sentimentos e pensamentos - o que é falado ou expressado, não
está afinado com a tonalidade das reações afetivas.

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11) Neotimias - é o aparecimento de sentimentos novos, inusitados e


extravagantes - sentimentos de estranheza, de transformação corporal, de
transformação cósmica, etc. vividos com apreensão angústia e perplexidade e
integrando a síndrome de despersonalização (alteração da atividade do eu),
principalmente de natureza esquizofrênica:

12) Ambivalência afetiva - Caracteriza-se pela coincidência, no tempo e na


intensidade, de sentimentos opostos e inconciliáveis: a um só passo, por exemplo, a
capacidade de amar e odiar os filhos, coma mesma profundidade. É um sintoma
tipicamente esquizofrênico, tem origem em uma ruptura da unidade vivencial.
Usualmente, emprega-se o termo ambivalência para se caracterizarem vivências
que não passam de dúvidas. Assim, o desejo e o temor, simultâneos ou sucessivos,
que se experimenta na expectativa de uma aventura amorosa, de uma grande viagem
ou de decisões importantes. A coexistência, ou a alternância, de amor ou ódio em
relação à mesma pessoa, as atitudes de vacilação, indecisão, irresolução, frente a
problemas ou situações de interesse vital; o conflito íntimo em que se debate o
indivíduo, vítima do entrechoque entre um impulso e uma fobia, são fenômenos que
traduzem estados de dúvida, insegurança, timidez, passionalidade e compulsão
passíveis de sobreviverem, tanto em pessoas normais como em neuróticos (Nobre de
Melo) - o que é bem diferente da verdadeira ambivalência afetiva, onde o paciente
vivência, a um só tempo, “querer e não querer sair do hospital”, não há uma dúvida:
há dois sentimentos ou duas vontades (ambitendência) opostas, inconciliáveis e
simultâneas. Um paciente ria apenas pela metade do rosto e chorava pela outra
metade, isso mostra que a ambivalência não é uma mera ambigüidade de sentimentos
contrastantes e coexistentes mas é próprio sentimento em si, que perde a sua unidade.

Impulso - Instinto - Vontade

A) Impulso
Chama-se impulso a uma tendência ou força incontrolável, para agir ou atuar
que não está ligada, diretamente, a qualquer estímulo demonstrável. As ações
impulsivas surgem sem escolha e decisão, e são descargas motoras sem direção,

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sem conteúdo e sem censura. Assim, o impulso agressivo, por exemplo, poderá
desencadear-se de uma tendência em doente que encontrou seu alvo em qualquer
pessoa ou objeto que por acaso, se encontrassem em sua proximidade - tal pessoa ou
objeto, não foram, previamente, escolhidos para serem agredidos - apenas, ali se
achavam, no momento da descarga impulsiva.
Dentre as manifestações impulsivas encontram-se:
- a piromania - impulso a atear incêndios (em epilépticos, psicopatas e
oligofrênicos);
- impulsos hetero e auto agressivos, levando ao homicídio ou ao suicídio;
- a dromamania (tendência a fugas e andar sem destino, em epilépticos,
histéricos e nos portadores de sífilis cerebral);
- a dipsomania - paroxismo irresistível para ingerir líquidos (epilépticos,
melancólicos, esquizofrênicos na fase inicial e em casos de lesão
hipofisária);
- a cleptomania - impulso a se apropriar de objetos alheios (mais freqüentes
no sexo feminino e em personalidades imaturas);
- e as toxicomanias - tendências ao uso de substâncias que alteram o
funcionamento do SNC, (em personalidades imaturas e instáveis, em
manifestações neuróticas nas alterações patológicas do humor).

B) Instinto
As ações instintivas têm origem inconsciente, não sofrem controles conscientes
(ou censura) e têm sempre uma finalidade. O instinto é uma força inata, e
inconsciente, impelindo à adaptação de meios a um fim. É um ato natural que se
cumpre pela ação de solicitações, internas ou externas, ou uma série de atos,
preestabelecidos, para que se atinjam fins úteis, ao indivíduo ou à espécie.

Perturbações dos instintos

As anormalidades dos instintos podem se evidenciar por manifestações de sua


maior ou menor intensidade; ou por desvio quanto à sua finalidade.

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a) Quanto ao instinto da alimentação, poderá haver sua diminuição


(anorexia), aumento (bulimia) ou perversões - por exemplo, comer fezes
(coprofagia), animais repugnantes ou putrefatos, terra e cacos de vidro, etc.
b)Quanto ao sono, hipersonia em histéricos, em infecções e hipertensos
intracranianos; insônia (na ansiedade e na depressão principalmente); sonambulismo
e terror noturno, nos epilépticos e em vários tipos de neuroses.
c) O instinto de auto-conservação poderá alterar-se nas depressões e suas
psicoses de toda ordem, originando tendência ao suicídio ou à auto-mutilação
(comum nos oligofrênicos), esquizofrênicos, dementes e delirantes místicos.

C) Vontade:
A maneira prática e objetiva, poderemos admitir que vontade é a faculdade de
agir racionalmente. A atividade voluntária é reflexiva, por agir com conhecimentos
de causa; livre, por supor alternativas de escolha, e eficaz, por poder efetivar
decisões.
O ato voluntário compreende três fases:
1- Discussão: ato preparatório, ligado à razão durante o qual se concebem
soluções e são comparados e, avaliados, motivos ou móveis;
2- Decisão (escolha), ato formal da vontade, pelo qual se resolve por uma das
alternativas; e, finalmente;
3- Execução, que é a realização, ou não, externamente, da decisão.
(O impulso encontra um objetivo: o instinto busca seu objetivo; a vontade
impõe o objetivo que escolheu).

Distúrbios da vontade

a) Abulia - ausência da vontade seja quanto à decisão, seja quanto à


execução. Manifesta-se em quadros depressivos, em intoxicações e esquizofrenias
(principalmente do tipo catatônico), etc.
b) Hipobulia: diminuição da vontade com queda da livre determinação e
conseqüente predomínio do automatismo das ações. Há insuficiência de aspirações e

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determinações. Ocorre em neuróticos deprimidos que, freqüentemente, a ela se


referem como “perda de coragem” ou “fraqueza física e mental”.
c) Estupor: Perda de toda a atividade espontânea, que atinge
simultaneamente a mímica, a fala, a gesticulação, a marcha, etc. podem levar à
imobilidade da flexibilidade cérea (o doente permanece na mesma posição, mesmo
que é colocado, por lhe faltarem a decisão e a execução da vontade sobre seus
próprios movimentos). Instala-se e desaparece com ou sem crise de agitação
psicomotora. O modelo é dado pelo estupor catatônico, o paciente pode ficar
completamente insensível a estímulos exteriores. Pode ocorrer na esquizofrenia, na
melancolia. Ou ainda o tipo tônico que não permite que ao paciente manter-se em pé
(histeria)
d) Estereotipia: iteração ou repetição anormal de ações motoras, frase,
palavras (verbigeração), na fixação perseverativa de posições e atitudes, ou na
busca insistente e reiterada de determinados lugares ou recantos.
e) Negativismo: resistência às solicitações externas e internas. Será
considerado ativo quando o paciente contraria às solicitações: por exemplo, abre a
boca quando se lhe pede que a feche; ou passivo, quando nada diz permanece imóvel,
mudo, recusando alimentação, retendo urina, etc. O negativismo é a manifestação
habitual nas síndromes catatônicas e deverá ser diferenciado da oposição de histéricos
e melancólicos passível de ser vencida por sugestão.
g) Ataxia volitiva: tendência do paciente a agir de modo diferente do que sente.
h) Tic: movimento ou movimentos involuntários bruscos e repetidos,
limitados a um grupo de músculos. É observado, com maior freqüência, em
neuróticos.

Alterações da Linguagem

I – Conceituação
A LINGUAGEM é a “expressão do pensamento por meio de palavras”. A
palavra pode ser falada ou escrita. Estas duas formas de manifestação do pensamento
constituem o último elo da cadeia de processos psíquicos que, iniciando-se a
percepção, terminam com a expressão da palavra falada ou escrita.

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Já em 1924, Pavlov considerava a palavra como um estímulo condicionado,


comparável a todos os estímulos porém advertia que a palavra tem um caráter
próprio, especificamente um caráter humano, que a distingue de todo os outros
estímulos condicionados comuns ao homem e ao animal.
Segundo Sven Folin, sistema de sinais “permite não somente a transmissão dos
conhecimentos adquiridos ao longo do processo histórico pelo qual o homem se torna
progressivamente o senhor da natureza, mas dá-lhe também um meio conhecimento, a
possibilidade de abstrair dos primeiros sinais da realidade seu aspecto profundo e as
leis que regem os objetos e fenômenos da natureza”.
Considerando a linguagem como o elo final da cadeia de processos psíquicos que se
iniciam com a percepção e termina com a palavra falada ou escrita, é impossível
admitir a separação entre linguagem e pensamento. Pode-se afirmar que a todo
pensamento corresponde uma expressão verbal, ou melhor, não existem
pensamentos que não sejam formulados por palavras.

Patologia e o Valor Semiológico


Analisando as alterações da linguagem falada de um ponto de vista estritamente
prático, podem-se dividir essas alterações em dois grupos principais: 1ª) alterações da
linguagem oral devidas a causas orgânicas; 2ª) alterações da linguagem oral devidas a
causas psíquicas.

II - ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ORAL DEVIDAS A CAUSAS ORGÂNICAS

Nesse grupo, incluem-se todas as perturbações que resultam de uma lesão ao nível
de qualquer das partes que intervêm na elaboração e na emissão dos sons, de cujas
articulação resulta a palavra falada. As principais alterações deste grupo são as
seguintes:

a) DISARTRIA
Consiste na dificuldade de articular as palavras, é mais acentuada quando se trata de
pronunciar consoantes labiais e linguais, as quais são omitidas ao dizer as palavras,
ou o enfermo titubeia antes de pronunciá-las.

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A disartria é observada mais freqüentemente na paralisia geral, nos traumatismos


crâneo-encefálicos, nos tumores benignos e malignos de cérebro, cerebelo ou tronco
encefálico.

b) DISLALIAS
Constituem um grupo numeroso de perturbações orgânicas ou funcionais da palavra
que resultam de malformações da língua, da abóbada palatina e de qualquer outro
órgão de fonação, ou de imperfeita intervenção desses órgãos.
Os sintomas consistem em omissão, substituição ou deformação dos fonemas.

c) AFASIA
É a perda parcial ou total da faculdade de exprimir os pensamentos por sinais e
de compreender esses sinais. Uma perturbação da linguagem caracterizada pela perda
da memória dos sinais por meio dos quais o homem civilizado troca idéias com seus
semelhantes.
Na afasia, embora o enfermo não apresente sintomas de demência acentuada, nem
manifestações de paralisia, nem cegueira ou surdez, acha-se no entanto incapacitado
para expressar o pensamento por meio da palavra oral ou gráfica e de
compreender a palavra falada ou escrita.

d) AFASIA MOTORA OU ANARTRIA


O doente conserva a linguagem, porém não pode falar embora não apresente
distúrbio da musculatura que intervém na articulação das palavras. O paciente
compreende o que ouve, no entanto não pode falar. A leitura e a escrita estão
conservadas.

e) AFASIA DE WERNICKE
É uma afasia ligada essencialmente à compreensão. Nesse tipo de afasia, observam-
se cegueira verbal, surdez verbal, perturbação da palavra espontânea, da leitura e da
escrita. O afásico do tipo Wernicke consegue falar, mas geralmente, fala numa
linguagem destituída de sentido lógico e pronuncia as palavras de maneira

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defeituosa, ou emite uma série de palavras sem ordem gramatical, o que torna a sua
linguagem inteiramente incompreensível.

f) AFASIA DE BROCA
Todas as modalidades da linguagem estão perturbadas em maior ou menor grau,
mas há sempre predominância da perturbação da palavra articulada, da leitura e da
escrita. O afásico desse tipo não articula nenhuma palavra ou apenas poucas
palavras, não compreende bem, não lê nem escreve bem. Não é apenas um afásico
da expressão, mas também, da compreensão. É do tipo mais comum de afasia.

g)AFASIA GLOBAL
Trata-se de uma forma de afasia que se caracteriza pela perda completa da
articulação da palavra e surdez verbal. Nos casos típicos a dissolução da linguagem
é de tal magnitude que chega a comprometer os automatismos mais elementares. O
déficit atinge de igual modo as funções da compreensão e de expressão da palavra.
Esta forma de afasia é conseqüência de extensas lesões cerebrais. Podem-se observar
afasias transitórias no curso da unemia, diabete, intoxicaçòes, na epilepsia e na
exaqueca:

1) Disfemias - São perturbações na emissão das palavras, de tipo intermitente, sem


que existam alterações dos órgãos da expressão. Nesse grupo, o distúrbio mais
importante é a gagueira. Caracteriza-se por hesitação, silabação, precedida ou
intercalada dos fonemas Qui, que, ga, gue.

2) Disfonias - Não se trata, na realidade, de alterações da linguagem, mas de defeitos


da voz, devidos a perturbações orgânicas ou funcionais das cordas vocais ou em
conseqüência de respiração defeituosa.

III - ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ORAL DEVIDAS A CAUSAS PSÍQUICA

Aqui se incluem todas as alterações da linguagem oral resultantes de distúrbios


mentais, coexistindo a integridade dos centros e das vias de condução da linguagem.

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As principais alterações desse tipo são:

a) LOGORRÉIA
Trata-se de um fluxo incessante e incoercível de palavras emitidas sem coesão
lógica, que se acompanha de aceleração do ritmo psíquico e de elevação do estado
de ânimo. É comum em todas as excitações psicomotoras, principalmente nos estados
maníacos e hipomaníacos, e na embriaguez alcoólica.
b) BRADILALIA
Consiste numa diminuição da velocidade de expressão como resultado da lentidão
dos processos psíquicos e do curso do pensamento. Observa-se nas melancolias, no
parkinsonismo pós-encefálico em casos de epilepsia traumática.
c) VERBIGERAÇÃO
Repetição incessante durante dias, semanas e até meses, de palavras e frases
pronunciadas em tom de voz monótono, declamatório ou patético. É observado
nos estados demenciais, em psicoses confusionais e na esquizofrenia, especialmente
na forma catatônica. Bumke registrou este exemplo de verbigeração: “A toda força
para Verdun, a toda força para Verdum. Onde está a porta, onde está a porta, onde
está a porta? Olha o homem, olha o homem. Onde há céu? Filho meu, onde estás?
Vem aqui. Ovelhas e porcos, ovelhas e porcos, vacas e cavalos, vacas e cavalos,
porcos, porcos, vacas. Destruí a má erva. Destruí a má erva. Homens e tudo o que há
no mundo. O que há no mundo. Grande Deus, cuida do teu filho.”
d) MUTISMO
Ausência de linguagem oral. O mutismo tem origem e mecanismos os mais
variados. Nas doenças mentais, é observado nos estados de estupor: estupor da
confusão mental, da melancolia e da catatonia; nos estados demenciais avançados:
paralisia geral e demência senil.
Na esquizofrenia, o mutismo adquire uma importante significação. Pode decorrer,
nesse caso, de interceptação do pensamento, de perda de contato com a realidade,
de alucinações imperativas ou de idéias delirantes de culpabilidade. Com muita
freqüência, os catatônicos não falam nem respondem ao interrogatório, dando-nos a
impressão de que se encerram voluntariamente no mais completo mutismo.
e) MUSSITAÇÃO

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É a expressão da linguagem de voz muito baixa; o enfermo movimenta os lábios


de maneira automática, produzindo um murmúrio ou som confuso. É um sintoma
próprio da esquizofrenia.
f ) ECOLALIA
É a repetição, como um eco, das ultimas palavras que chegam ao ouvido do
paciente. Em condições patológicas, observa-se nos enfermos catatônicos. O
fenômeno tem muita semelhança com a perseveração do pensamento, observada nos
epilépticos, desde que existe como elemento comum, nos dois casos, a repetição.
Os Enfermos não só repetem como um eco as palavras que lhe são dirigidas,
como partes de uma frase que escuta ao acaso. Nesse sentido é bem expressivo o
exemplo citado por Freeman: ao justificar o atraso, dirigi-se às pessoas que o esperam,
dizendo: “As estradas estão perigosas depois da nevada de ontem” um paciente repetiu
como um eco a parte da frase: “nevada de ontem.”
Não se pode fazer distinção alguma entre a ecolalia manifestada por um
esquizofrênico crônico e um enfermo portador de um transtorno cerebral orgânico. O
elemento comum entre ambos os pacientes é a notável alteração dos processos
intelectuais e da intencionalidade.
g) JARGONOFASIA
É uma alteração da linguagem que consiste na produção contínua de palavras sem
ordem lógica, tornando a linguagem completamente incoerente e incompreensível.
(Conseqüência da logorreira)
h) ESQUISOFASIA
Expressão criada por Kraepelin para designar uma profunda alteração da
expressão verbal, observada em alguns esquizofrênicos paranóides, em resultado da
qual a linguagem se torna confusa e incoerente, sem que existam alterações graves
do pensamento. Em sua forma bem acentuada, a linguagem se apresenta como uma
“salada de palavras”, em que o enfermo emprega neologismos e palavras
conhecidas com sentido desfigurado, tornado o seu discurso inteiramente
incompreensível.
i) NEOLOGISMOS
Os neologismos esquizofrênicos são palavras criadas pelos doentes, ou palavras já
existentes empregadas com sentido desfigurado. É um sintoma comum na
esquizofrenia paranóide.

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Em um trabalho sobre esquizofasia, Eurico Sampaio teve oportunidade de registrar


uma série de interessantes neologismos: “Ressalta às primeiras perguntas a enorme
quantidade de neologismos que cria ora sem nenhuma significação, ora por simples
assonância verbal. Não é solteiro nem casado, é sindorá; seu pai não está vivo, é
simprizatos e sua mãe chama-se Maria do Silenciale. Sabe escrever, tendo
aprendido no cangaiero do Albuquerque; tem 955 silinidades de idade, tendo sido
trabalhador de roça em Santa Rita de Cassia, em Minas Gerais. A casa em que se
encontra no momento é craionalia, sendo antigamente Palácio do Rei; veio para aqui
porque ‘lá em cima’ estava chovendo muito e ele foi obrigado a tomar um carro todo
fechado e vir até aqui a fim de enrequerer o nosso coração. Entre nós se acha bem,
está no meio dos encompostales; entre os doentes do Hospital tem vários amigos, os
paldieus, com quem vive bem e daqui preferirá sair se for para um lugar onde puder
entrar e sair. À noite, no entanto, não passa muito bem, pois se acha tabulado com
uma mansidão no coração”.

j) ESTEREOTIPIA VERBAL
Consiste na repetição automática de uma palavra, sílaba ou som, que se intercala
entre as frases. É comum nos esquizofrênicos e nos oligofrênicos.

IV - ALTERAÇÕES DA LINGUAGEM ESCRITA

Nos escritos dos enfermos é possível encontrar quase todas as alterações estudadas na
linguagem oral, modificações das letras, modificações da maneira de escrever e
alterações da sintaxe.

V - ALTERAÇÕES DOS MOVIMENTOS DE EXPRESSÃO

Alterações da mímica, movimentos expressivos da face, que servem para manifestar


estados afetivos, e a gesticulações, os movimentos e atitudes do tronco, da cabeça e
dos membros.

a) Na hipermimia, observam-se aumento da energia, rapidez e duração dos


movimentos mímicos, e também uma certa facilidade na produção dos movimentos

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expressivos. Observa-se nos estados de excitação da psicose maníaco-depressiva, na


forma expansiva da paralisia geral, na embriaguez leve e em todos os estados em que
se verifique elevação do estado de ânimo.

b) Na hipomimia, verificam-se debilidade dos movimentos expressivos e lentidão na


mutação das expressões mímicas. Acompanha-se de gesticulação diminuída. É
encontrada nos estados depressivos, nos estados confusionais, na obnubilação da
consciência, nas demências avançadas, nos estados de estupor, no parkinsoismo e na
esquizofrenia.

c) Na amimia, observa-se a resolução completa tos traços fisionômicos, com


ausência de expressão emocional. É observada nos estados de estupor, na amência,
nos estados demenciais profundos. Alguns doentes catatônicos apresentam
imobilidade de máscara na face.

d) A paramimia consiste numa perversão da mímica, é sinônimo de mímica


paradoxal, sendo esta o resultado da falta de harmonia entre a mímica e as palavras
e os atos. Há uma falta de adequação entre as exteriorização afetivas e os sentimentos.
Nos Hebefrênios, observa-se algumas vezes a discordância entre o estado
emocional e a mímica.

Inteligência

A inteligência pode ser definida como a aptidão geral do indivíduo para colocar,
conscientemente, seu pensamento de acordo com novas necessidades. Vale dizer, a
capacidade geral de adaptar-se a novas situações, mediante o emprego adequado dos
meios ideativos. Segundo maior ou menor tendência a se adaptar a esta ou aquela
situação, pode-se conceituar, definir, uma inteligência como mecânica, verbal,
abstrata, etc.
Sob o ângulo desta conceituação, depreende-se que a inteligência lança mão do
pensamento, da capacidade de abstração e generalização (veja-se item Pensamento),
da memória, da senso-percepção, etc., como condições prévias para o seu bom

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desempenho. Portanto, distúrbio de outra faculdade psíquica poderá prejudicar,


secundariamente, o rendimento da capacidade intelectual como acontece na turvação
da consciência. Além de tais condições, o ato intelectivo pressupõe, visando a melhor
solução pata uma situação nova, a participação do juízo e do raciocínio (veja-se item
“Pensamento”).

Disturbios da inteligência
Os distúrbios da inteligência assumem importância clínica quando se
caracterizam por desenvolvimento intelectual insuficiente - congênito ou adquirido -
ou por perda da capacidade intelectual já atingida.
No primeiro caso fala-se em oligofrenia; o segundo, em demência.
As oligofrenias podem ser devidas a distrofias ou lesões do sistema nervoso
central (de origem genética, bioquímica, hormonal, tóxica, infecciosa, traumática,
etc.), que se dão ao tempo da concepção, formação embrionária e fetal, à época do
nascimento ou da infância, acarretando falta, ou parada, do desenvolvimento da
inteligência. Diz-se que o oligofrênico é aquele que nasceu e viverá pobre
intelectualmente. Há casos de oligofrenia sem lesões do SNC conseqüentes da
insuficiência de estímulos ambientais - por exemplo, em crianças internadas, por
longo tempo, em hospitais (hospitalismo). As oligofrenias devem ser distinguidas da
falta de escolaridade e da formação rude, peculiar a certos meios sociais: pouca
informação não significa déficit intelectual - assim como o oposto não permite afirmar
inteligência de nível elevado.
Clinicamente, dividem-se as oligofrenias em três tipos: debilidade mental,
imbecilidade e idiotia. Esta terminologia é aqui empregada por ser usada na prática
médica diária além de ser extremamente difícil, clinicamente, diferençar-se um caso
de déficit-intelectual grave de um severo - como são hoje chamados os casos de
idiotia, distinção a ser deita apenas com o auxílio de testes psicométricos.
O portador de idiotia é incapaz de aprender a falar, emite sons ininteligíveis,
não é educável e não aprende a se defender dos perigos naturais, depende de terceiros
para se alimentar; apresenta lesões graves do SNC (anencefalia, etc.) por vezes
acompanhadas de mal-formações de outros órgãos (lesões cardíacas, etc.).
O imbecil é capaz de aprender a falar, de se defender dos perigos naturais, de se
alimentar; mas, não aprende a ler e escrever; é treinável mas não educável, ou

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seja, é capaz de aprender a resposta a um sinal; mas, é incapaz de aprender a noção


abstrata de um símbolo, necessária à alfabetização. Poderá apresentar lesões
encefálicas graves acompanhadas, ou não, de manifestações epilépticas (crises
convulsivas tipo grande-mal) e mal-formações de outros órgãos.
Débeis-mentais são portadores de deficiências intelectuais leves: aprendem a
falar, ler e escrever, são treináveis e educáveis, mas apresentam dificuldades em
abstrações mais complexas - que acabam por levar a fracassos escolares e na
adaptação social.
A perda da capacidade intelectual adquirida é chamada demência, que poderá
ser progressiva, lenta e fisiológica; ou dar-se como consequência de uma enfermidade
lesar o cérebro até então íntegro (TCE, tumores, arteriosclerose cerebral, etc.).
Prosseguindo na analogia, define-se o demente como indivíduo que era rico e se
tornou pobre, intelectualmente.

BIBLIOGRAFIA utilizada:
Introdução à Medicina Psicológica – Iracy Douyle
Semiologia do Estado Mental - Sylvio Magalhães Velloso
Fundamentos de La Psiquiatria Actual – F. Alonso Fernandez
Psiquiatria – A.L. Nobre de Melo
Tratado de Psiquiatria – E. Bleuler
Tratado de Psiquiatria – Henri Ey
Manual de Psiquiateia - Henri Ey
Introduccion a la Psiquiatria – Vallejo Nagera
Curso de Psiquiatria – H.Delgado
Lecciones de Psicologia Médica – Lopes Ibor
Os fundamentos da clínica – Paul Bercherie
Introdução à Medicina Psicológica – I. Doyle
Temas Psiquiátricos – Cabaleiro Goas
Psicopatologia Geral – Karl Jaspers
Fenomenologia e Psicanálise, in Psicose entre nós - Antônio Quinet

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